No consultório modesto do Posto de Saúde, no Interior, entrou para uma consulta, amparada por duas pessoas, uma jovem senhora, muito franzina. Ansiosa, falava muito, contando sua história. Estava há dois anos sem sair de casa, exceto para consultas médicas, devido a uma tonteira que não abandonava. Os outros médicos diziam ser labirintite, mas os remédios prescritos por eles não surtiam efeito e a paciente se mantinha inválida até para os serviços de casa. Examinei-a e não encontrei alterações. Os vários exames que trouxe também estavam todos normais. Resolvi aprofundar a entrevista, apesar do pouco tempo de que dispunha, devido ao grande número de pessoas a atender no Posto.
Perguntei por preocupações, conflitos, traumas e ela respondeu que há dois anos a mãe havia falecido e que não eram muito ligdas. Desde então pedia sempre ajuda à genitora falecida e dormia com o seu retrato debaixo do travesseiro. Percebi haver uma ligação óbvia entre os fatos. Como não podia orientá-la adequadamente onde estava, mandei que me procurasse no consultório particular, sem qualquer ônus, pois seu caso me interessava bastante.
Já em Belo Horizonte, tirei uma foto Kirlian da paciente e confirmei o que suspeitara: havia uma "energia intrusa" na sua aura, manifestada por um borrão vermelho ligado ao seu físico, justamente numa área onde havia grande abertura ou falha no campo energético. Expliquei como pude à paciente o ocorrido e disse suspeitar ser sua mãe a responsável por aquela alteração. inda completei a orientação:
- Não se deve chamar os que partiram para outra vida e muito menos pedir-lhes favores. Na sua grande maioria não estão em condições de atender. Acabam ficando presos junto aos familiares, querendo ajudar, sem poder, e se desequilibram ainda mais. Por fim, influenciam todo o ambiente, trazendo desarmonia e conflitos para a família, mesmo que involuntariamente. No seu caso específico, a própria saúde foi afetada, pois está havendo uma parasitose entre você e sua mãe, uma sugando as energias da outra, tornando ambas doentes. Sua evolução e a dela foram interrompidas, até que o processo seja suspenso.
Ela bebia minhas palavras, com grande atenção e surpresa. Depois que me calei, fez a seguinte declaração:
- Doutor, compreendi alguma coisa do que o senhor falou. Acho que até desconfiava mais ou menos disso. Às vezes, eu a sinto mesmo do meu lado. Mas sempre fiquei contente com isso! Achava que ela estava ali para resolver o meu problema. Mas se o senhor diz que não pode, então não pode! O que eu preciso fazer para acabar com isso, basta mudar de atitude?
- Isso é o principal - respondi -, mas não é o suficiente. Em casos como o seu é necessário fazer-se um trabalho para afastar o Espírito implicado, pois geralmente ele está muito confuso e intensamente ligado à vítima. É preciso despertá-lo para a realidade e, com carinho, orientá-lo adequadamente, como eu estou fazendo com você, para que ele se retire e seja levado para onde já deveria estar.
- E onde isso é feito?
- Conheço umas pessoas que fazem este trabalho em um Centro Espírita.
- Mas doutor, eu sou evangélica!
- Neste caso, converse com o seu pastor e lhe repasse estas explicações e veja se ele pode resolver o problema. Ouvi dizer de excelentes curas espirituais realizadas nas igrejas evangélicas.
- Está bem.
No retorno, daí a duas semanas, a paciente trouxe notícias da conversa com o pastor. Ele demonstrou compreender a situação, mas objetou que só fazia exorcismos de diabos e depois os enviava para o inferno. Mas ela desejaria ver sua mãe enviada para o inferno? Como ela respondeu negativamente, ele sugeriu uma nova conversa comigo e disse que, se era por indicação médica, permitia o tratamento no Centro Espírita. Exigia somente ser informado de tuo; que o marido a acompanhasse durante todo o tratamento; e que eles retornassem para a sua igreja assim que tudo estivesse resolvido.
Assim foi feito. A paciente e sua família freqüentaram quatro "sessões" e seus problemas desapareceram. Não sentiu mais tonteiras e voltou a ser uma pessoa ativa.
Admirei-me da atitude aberta e despreconceituosa, tanto do pastor, quanto da paciente e familiares, permitindo-se um contato proveitoso com outra religião sem abandonar a sua própria. Fatos como este dão a mim esperanças em um mundo melhor, onde as diferenças serão respeitadas e os homens finalmente viverão em paz.
por Fábio Henrique Ramos
Fonte: Reformadornº 2.083 - outubro/2002
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