A ARCA DE NOÉ EXISTIU NO DILÚVIO BÍBLICO?
ALLAN KARDEC E AS CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS CONCERNENTES À CRIAÇÃO – OS PERÍODOS GEOLÓGICOS E O GÊNESE DE MOISÉS – O DILÚVIO GEOLÓGICO E O DILÚVIO BÍBLICO – NOTICIAS DA ARCA DE NOÉ
Allan Kardec, na questão 59 de O Livro dos Espíritos
, tece considerações sobre as concordâncias Bíblicas concernentes à
criação, dizendo que “os povos hão formado ideias muito divergentes
acerca da criação, segundo o grau de seus conhecimentos. A razão apoiada
na Ciência reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. A que os
Espíritos nos oferecem confirma a opinião há muito admitida pelos homens
mais esclarecidos.
A objeção que se pode fazer a essa teoria é a de
estar em contradição com os textos dos livros sagrados. Mas um exame
sério nos leva a reconhecer que essa contradição é mais aparente que
real, resultante da interpolação dada a passagens que, em geral, só
possuíam sentido alegórico.
A questão do primeiro homem, na pessoa de Adão,
como único tronco da Humanidade, não é a única sobre a qual as crenças
religiosas têm de modificar-se. O movimento da Terra parecia, em
determinada época, tão contrário aos textos sagrados que não há formas
da perseguição a que essa teoria não tenha dado pretexto. Não obstante, a
Terra gira, malgrado os anátemas, e ninguém hoje em dia poderia
contestá-lo sem ofender a sua própria razão.”
O MUNDO NÃO FOI CRIADO EM SEIS DIAS
Prossegue Kardec sobre o assunto na referida questão 59, dizendo que “a Bíblia
diz igualmente que o mundo foi criado em seis dias, e fixa a época da
criação em cerca de quatro mil anos antes da era cristã. Antes disso, a
Terra não existia; ela foi tirada do nada. O texto é formal. E eis que a
Ciência positiva a Ciência inexorável vem provar o contrário. A
formação do globo está gravada em caracteres indeléveis no mundo fóssil,
e está provado que os seis dias da criação representam outros tantos
períodos, cada um deles, talvez, de muitas centenas de milhares de anos.
E não se trata de um sistema, uma doutrina uma opinião isolada, mas de
um fato tão constante como o do movimento da Terra, e que a Teologia não
pode deixar de admitir prova evidente do erro em que se pode cair,
quando se tomam ao pé da letra as expressões de uma linguagem
frequentemente figurada.
Diante disso, devemos concluir, então, que a Bíblia é um erro? É claro que não, mas o que tem acontecido ao longo do tempo é que os homens se enganam na sua interpretação”.
SURGIMENTO DOS SERES VIVOS NO GÊNESE
Quanto ao surgimento dos seres vivos mencionados no Gênese do Velho Testamento
, Allan Kardec, na nota da questão 59, esclarece que “a Ciência,
escavando os arquivos da Terra, descobriu a ordem em que os diferentes
seres vivos apareceram na superfície, e essa ordem concorda com a
indicada no Gênese, com a diferença de que essa obra, em vez de ter
saído miraculosamente das mãos de Deus, em apenas algumas horas,
realizou-se sempre pela sua vontade, mas segundo a lei das forças
naturais, em alguns milhões de anos”.
A Ciência, de acordo neste ponto com Moisés,
coloca o homem por último na ordem da criação dos seres vivos. Moisés,
porém, coloca o dilúvio universal no ano 4654 da formação do mundo,
enquanto a Geologia nos mostra o grande cataclismo como anterior à
aparição do homem, tendo em vista que, até agora, não se encontra nas
camadas primitivas nenhum traço da sua presença, nem da presença dos
animais que, sob o ponto de vista físico, são da sua mesma categoria.
Mas nada prova que isso seja impossível; várias descobertas já lançaram
dúvidas a respeito, podendo acontecer, portanto, que de um momento para
outro se adquira a certeza material da anterioridade da raça humana. E
então se reconhecerá que, nesse ponto, como em outros, o texto bíblico é
figurado.”
DILÚVIO GEOLÓGICO NÃO É O MESMO DE NOÉ
Dando continuidade à análise das concordâncias
Bíblicas e a Criação, o Codificador do Espiritismo questiona se o
cataclismo geológico é o mesmo de Noé. Ora, a duração necessária à
formação das camadas fósseis não dá lugar a confusões, e no momento em
que se encontrarem os traços da existência do homem anteriores à grande
catástrofe, ficará provado que Adão não foi o primeiro homem, ou que a
sua criação se perde na noite dos tempos. Contra a evidência não há
raciocínios possíveis e será necessário aceitar o fato como se aceitou o
do movimento da Terra e o dos seis períodos da Criação.
A existência do homem antes do dilúvio geológico
é, não há dúvida, ainda hipotética, mas eis como nos parece menos.
Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra há
quatro mil anos antes do Cristo, se 1650 anos mais tarde toda a raça
humana foi destruída, com exceção apenas de uma família, conclui-se que o
povoamento da Terra data de Noé, ou seja, de 2350 anos antes da nossa
era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no décimo oitavo
século, encontraram esse país bastante povoado e já bem avançado em
civilização.
A História prova que, nessa época, a Índia e
outros países eram igualmente florescentes, mesmo sem levarmos em conta a
cronologia de certos povos, que remonta a uma época ainda mais recuada.
Teria sido então necessário que do vigésimo quarto ao décimo oitavo
século, quer dizer, num espaço de seiscentos anos, não somente a
posteridade de um único homem tivesse podido povoar todas as imensas
regiões então conhecidas, supondo-se que as outras não estivessem
povoadas, mas também que, nesse curto intervalo, a espécie humana
tivesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao
mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas
as leis antropológicas.
OS DIFERENTES PERÍODOS GEOLÓGICOS
No quadro comparativo a seguir, apresentado por Allan Kardec, no capítulo XII, da sua obra A Gênese,
se acham resumidos os fenômenos que caracterizam cada um dos seis
períodos. Permite que se considere o conjunto e se notem as relações e
as diferenças que existem entre os Períodos Geológicos e a Gênese
bíblica.
CIÊNCIA |
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I. PERÍODO ASTRONÔMICO - Aglomeração da matéria cósmica universal,
num ponto do espaço, em nebulosa que deu origem, pela condensação da
matéria em diversos pontos, às estrelas, ao Sol, à Terra, à Lua e a
todos os planetas. Estado primitivo, fluídico e incandescente da Terra. -
Atmosfera imensa carregada de toda a água em vapor e de todas as
matérias volatilizáveis. GÊNESE 1º DIA - O Céu e a Terra - A luz.
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II. PERÍODO PRIMÁRIO - Endurecimento da superfície da Terra, pelo
resfriamento; formação das camadas graníticas. -Atmosfera espessa e
ardente, impenetrável aos raios solares. - Precipitação gradual da água e
das matérias sólidas volatilizadas no ar. - Ausência completa de vida
orgânica. GÊNESE 2º DIA - O Firmamento - Separação das águas que estão acima do Firmamento das que lhe estão debaixo. *** CIÊNCIA |
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III. - PERÍODO DE TRANSIÇÃO - As águas cobrem toda a superfície do
globo. - Primeiros depósitos de sedimentos formados pelas águas. - Calor
úmido. - O Sol começa a atravessar a atmosfera brumosa. - Primeiros
seres organizados da mais rudimentar constituição. - Liquens, musgos,
fetos, licopódios, plantas herbáceas. Vegetação colossal. - Primeiros
animais marinhos: zoófitos, polipeiros, crustáceos. - Depósitos de
hulha. GÊNESE 3º DIA - As águas que estão debaixo do Firmamento se reúnem; aparece o elemento árido. - A terra e os mares. - As plantas. *** CIÊNCIA | |||
IV. PERÍODO SECUNDÁRIO - Superfície da Terra pouco acidentada; águas
pouco profundas e paludosas. Temperatura menos ardente; atmosfera mais
depurada. Consideráveis depósitos de calcário pelas águas. - Vegetação
menos colossal; novas espécies; plantas lenhosas; primeiras árvores. -
Peixes; cetáceos; animais aquáticos e anfíbios. GÊNESE 4º DIA - O Sol, a Lua e as estrelas. *** CIÊNCIA |
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V. PERÍODO TERCIÁRIO - Grandes intumescimentos da crosta sólida;
formação dos continentes. Retirada das águas para os lugares baixos;
formação dos mares. - Atmosfera depurada; temperatura atual produzida
pelo calor solar. - Gigantescos animais terrestres. Vegetais e animais
da atualidade. Pássaros. GÊNESE 5º DIA - Os peixes e os pássaros. *** CIÊNCIA |
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DILÚVIO UNIVERSAL - VI. PERÍODO QUATERNÁRIO OU PÓS-DILUVIANO -
Terrenos de aluvião. - Vegetais e animais da atualidade. - O homem. GÊNESE 6º DIA - Os animais terrestres - O homem. |
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DILÚVIO BÍBLICO FOI LOCAL E NÃO NA TERRA INTEIRA
Sobre o Dilúvio Bíblico, argumenta Kardec que:
“O dilúvio bíblico, também conhecido pela denominação de «grande dilúvio
asiático», é fato cuja realidade não se pode contestar. Deve tê-lo
ocasionado o levantamento de uma parte das montanhas daquela região,
como o do México. Corrobora esta opinião a existência de um mar
interior, que ia outrora do mar Negro ao oceano Boreal, comprovado pelas
observações geológicas. O mar de Azov, o mar Cáspio, cujas águas são
salgadas, embora nenhuma comunicação tenham com nenhum outro mar; o lago
Aral e os inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália
e as estepes da Rússia parecem restos daquele antigo mar.
Por ocasião do levantamento das montanhas do
Cáucaso, posterior ao dilúvio universal (ocorrido no 5º Período
Geológico – Diluviano), parte daquelas águas foi recalcada para o norte,
na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao
oceano Índico. Estas inundaram e devastaram precisamente a Mesopotâmia e
toda a região em que habitaram os antepassados do povo hebreu. Embora
esse dilúvio se tenha estendido por uma superfície muito grande, é
atualmente ponto averiguado que ele foi apenas local; que não pode ter
sido causado pela chuva, pois, por muito copiosa que esta fosse e ainda
que se prolongasse por quarenta dias, o cálculo prova que a quantidade
d’água caída das nuvens não podia bastar para cobrir toda a Terra, até
acima das mais altas montanhas.
Para os homens de então, que não conheciam mais
do que uma extensão muito limitada da superfície do globo e que nenhuma
ideia tinham da sua configuração, desde que a inundação invadiu os
países conhecidos, invadida fora, para eles, a Terra inteira. Se a essa
crença aditarmos a forma imaginosa e hiperbólica da descrição, forma
peculiar ao estilo oriental, já não nos surpreenderá o exagero da
narração bíblica.
O dilúvio asiático foi evidentemente posterior
ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se
conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os
quais o consagraram em suas teogonias.
A ARCA DE NOÉ EXISTIU?
Já ficou claro que o Dilúvio Bíblico se deu apenas na região onde residia Noé, e não na Terra inteira.
Quanto à Arca, a Bíblia a descreve como
uma enorme caixa flutuante, sem proa nem popa, pois se destinava apenas
a flutuar sobre as águas. Media 300 côvados de comprimento, 50 de
largura, e 30 de altura, o que corresponde, em metros, a aproximadamente
135m x 22,50m x 13,50m. Tão grande que só recentemente se construíram
navios maiores! A arca tinha três pisos - um inferior, um segundo e um
terceiro. Mesmo destinando 2.830 metros cúbicos de espaço para
armazenagem de víveres e alojamento de Noé e sua família, sobraram ainda
36.800 metros cúbicos de espaço útil, o que equivale à capacidade de
lotação de 480 vagões de gado, desses ainda hoje usados em nossas
estradas de ferro!
Informam os cientistas que, das aproximadamente
três mil espécies de animais classificadas pelos zoólogos, apenas cerca
de trezentas incluem algumas que são maiores que o cavalo. Umas duas mil
e duzentas espécies não são maiores que o coelho.
Assim, Noé teve que cuidar de poucos animais
grandes, uma vez que os animais marinhos ficaram fora da Arca. Por outro
lado, as espécies bíblicas introduzidas por Noé na Arca não são as
mesmas de hoje classificadas pelos cientistas, pois todos os tipos
cruzáveis da família canina, por exemplo, podiam descender de um único
par. Dentro desse critério, torna-se claro que a capacidade da Arca era
mais que suficiente para abrigar todos os números representativos de
cada "gênero" de animal terrestre. Pois bem, cada gênero das espécies
então existentes na região onde residia Noé, mas não todas as espécies
de animais existentes no planeta, tarefa essa da qual ele não teria
condições de realizar em tão pouco tempo.
CONCLUSÃO
No meu entender a arca existiu para abrigar a
família de Noé e de algumas espécies de animais para a sua sobrevivência
e de sua família, durante a permanência na Arca, até as águas baixarem.
Porém, se vestígios da Arca de Noé forem um dia encontrados, apenas
ficará provado que a narrativa bíblica não é uma ficção, tendo havido
apenas uma interpretação equivocada do episódio.
E quanto ao dilúvio na época, o raciocínio
Espírita é claro e lógico, isto é, ele foi parcial, localizado numa
região, e isso igualmente prova a ciência. Por esse motivo, os Espíritas
consideram importante, também, os estudos Bíblicos, mas aliados à
ciência e à realidade espiritual destacando, por mais importante, as
questões de ordem moral.
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Fonte: Correio Espírita
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