Telefone Mediúnico
Livro: Diálogo dos Vivos
J. Herculano Pires & Francisco Cândido Xavier
Uns não acreditam nas comunicações dos espíritos, outros acreditam demais e querem obtê-las com a facilidade de uma ligação telefônica. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra! Se as comunicações entre as criaturas terrenas nem sempre são fáceis, que dizer das que se processam entre os espíritos e os homens? Muita gente procura o médium como se ele fosse uma espécie de cabina telefônica. Mas nem sempre o circuito está livre e muitas vezes o espírito chamado não pode atender.
Não há dúvida que estamos na época profetizada por Joel, em que as
manifestações se intensificam por toda parte. Nem todos os espíritos,
porém, estão em condições de comunicar-se com facilidade. Além disso, a
manifestação solicitada pode ser inconveniente no momento, tanto para o
espírito quanto para o encarnado.
A morte é um fenômeno psicobiológico que ocorre de várias maneiras, de
acordo com as condições ideo-emotivas de cada caso, envolvendo o que
parte e os que ficam. A questão 155 de O Livro dos Espíritos explica de
maneira clara a complexidade do processo de desencarnação. Alguns
espíritos se libertam rapidamente do corpo, outros demoram a fazê-lo e
isso retarda a sua possibilidade de comunicar-se.
Devemos lembrar ainda que os espíritos são criaturas livres e
conscientes. Não estão ao sabor dos nossos caprichos e nenhum médium ou
diretor de sessões tem o poder de fazê-los atender aos nossos chamados.
Quando querem manifestar-se, eles o fazem espontaneamente, e não raro de
maneira inesperada. Enganam-se os que pensam que podem dominá-los. Já
ensinava Jesus, como vemos nos Evangelhos: o espírito sopra onde quer e
ninguém sabe de onde vem nem para onde vai.
É natural que os familiares aflitos procurem obter a comunicação de um
ente querido. Mas convém que se lembrem da necessidade de respeitar as
leis que regem as condições do espírito na vida e na morte. O
intercâmbio mediúnico é um ato de amor que só deve realizar-se quando
conveniente para os dois lados. O Espiritismo nos ensina a respeitar a
morte como respeitamos a vida, confiando nos desígnios de Deus. Só a
misericórdia divina pode regular o diálogo entre os vivos da Terra e os
vivos do Além. Façamos nossas preces em favor dos que partiram e
esperemos em Deus a graça do reencontro que só Ele nos pode conceder.
Muitos religiosos condenam as comunicações mediúnicas, alegando que elas
violam o mistério da morte e perturbam o repouso dos mortos.
Esquecem-se de que os próprios espíritos de pessoas falecidas procuram
comunicar-se com os vivos. Foi dessa procura de comunicação dos mortos,
tão insistente no mundo inteiro, que se iniciaram de maneira natural as
relações mediúnicas entre o mundo visível e o invisível. O conceito
errôneo da morte, como aniquilamento ou transformação total da criatura
humana, gera e sustenta essas formas de superstição. O Espiritismo,
revivendo os fundamentos esquecidos do Cristianismo puro, mostra-nos que
a comunicação mediúnica é lei da vida a nos libertar de erros e temores
supersticiosos do passado.
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