Autor : Espírito Humberto de Campos
Psicografada em : 28 de setembro de 1936
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Como
 as demais criaturas terrenas, o grande missionário de Lião, que se 
chamou Hippolyte Rivail, ou Allan Kardec, foi catalogado, em 3 de 
outubro de 1804, nas estatísticas humanas, retomando um organismo de 
carne para cumprimento de sua maravilhosa tarefa.
Cento
 e trinta e dois anos são passados sobre o acontecido e o apóstolo 
francês é lembrado, carinhosamente, na memória dos homens.
Professor
 dedicado ao seu grandioso ideal de edificar as almas, discípulo 
eminente de Pestalozzi, Allan Kardec trazia, desde o início de sua 
mocidade, a paixão pelas utilidades das coisas do espírito.
Suas obras didáticas estão cheias de amor a esse apostolado. 
Até
 depois de 50 anos, sua palavra confortadora e sábia dirigiu-se às 
escolas, seus fosfatos foram consumidos nos mais nobres labores do 
intelecto, em favor da formação da juventude; suas mãos de benfeitor 
edificaram o espírito da infância e da mocidade de sua pátria. 
Sua
 vida de homem está repleta de grandes renúncias e sublimes dedicações. 
Nunca os insultos e as ações dos traidores lhe entibiaram o ânimo de 
soldado do bem.
Os
 espíritos das estradas do mundo não lhe trucidaram o coração temperado 
no aço da energia espiritual e no ouro das convicções sadias que lhe 
povoaram toda a existência.
Recordando
 a beleza perfeita dos planos intangíveis, que vinha de deixar para 
cumprir na Terra a mais elevada das obrigações de um missionário, sob as
 vistas amoráveis de Jesus, Allan Kardec fez da sua vida um edifício 
de exemplos enobrecedores, esperando sempre a ordem do Mestre Divino 
para que suas mãos intrépidas tomassem a charrua das ações construtoras e
 edificantes.
Só
 depois de 50 anos sua personalidade adquiriu a precisa preponderância e
 sua atividade, o desdobramento necessário, prestigiando-se a sua tarefa
 na codificação do Espiritismo, que vinha trazer à humanidade uma nova 
luz para a solução do amargo problema do destino e da dor. 
Ninguém
 como ele compreendeu tanto a necessidade da intervenção das forças 
celestes para que as conquistas do pensamento humano, sintetizado no 
surto das civilizações, não se perdessem na noite dos materialismos dissolventes. 
Ele
 sentiu, refletindo as poderosas vibrações do Alto, que os seus 
contemporâneos preparavam a extinção de toda a crença e de toda a 
esperança que deveriam fortalecer o espírito humano, nas
dolorosas transições do século XX. 
As
 especulações filosóficas e científicas de Comte, Virchow, Büchner e 
Moleschot, aliadas ao sibaritismo dos religiosos, teriam eliminado 
fatalmente a fé da Humanidade no seu glorioso porvir espiritual, em 
todos os setores da
civilização do Ocidente, se o missionário de Lião não viesse trazer aos homens a cooperação da sua renúncia e dos seus abençoados sacrifícios.
Quando
 Jesus desceu um dia à Terra para oferecer às criaturas a dádiva da sua 
vida e do seu amor, seus passos foram precedidos pelos de João Batista, 
que aceitara a dolorosa
tarefa de precursor, experimentando todos os martírios no deserto.
O
 Consolador prometido à Terra pelo coração misericordioso do Divino 
Mestre, e que é o Espiritismo, teve o sacrifício de Allan Kardec – o 
precursor da sua gloriosa disseminação no peito atormentado das 
criaturas humanas.
Seu retiro não foi a terra brava e estéril da Judéia, mas o deserto de
sentimentos
 das cidades tumultuosas; no burburinho das atividades dos homens, no 
turbilhão das suas lutas, ele experimentou na alma, muitas vezes, o fel 
do apodo e do insulto dos malevolentes e dos ingratos. 
Mas, sua obra aí ficou como o roteiro maravilhoso do país abençoado da redenção. 
Espíritos eminentes foram ao mapa de suas atividades para conhecerem melhor o caminho.
Flammarion
 se embriaga no perfume ignorado dessas terras misteriosas do novo 
conhecimento, descobertas pela sua operosidade de instrumento do
Senhor,
 e apresenta ao mundo as suas novas teorias cosmológicas, enchendo a 
fria matemática astronômica de singular beleza e suave poesia. Sua obra –
 “Lês Forces Naturelles Inconnues” é um caminho aberto às indagações 
científicas que teriam mais tarde, com Reichet, amplos desenvolvimentos.
 Gabriel Delanne e Leon Denis se inflamam de entusiasmo diante das obras
 do mestre e ensaiam a filosofia espiritualista, inaugurando uma nova 
época para o pensamento religioso, alargando as perspectivas infinitas 
da ciência universal.
E, desde os meados do século que passou, a figura de Kardec se eleva cada vez mais no conceito dos homens.
O
 interesse do mundo pela sua obra pode ser conhecido pelo número de 
edições de seus livros, e, na hora que passa, cheia de nuvens nos 
horizontes da Terra e de amargas apreensões no seio de suas criaturas, 
nenhuma homenagem há, mais justa e mais merecida, do que essa que se 
prepara em todos os recantos onde a consoladora doutrina do Espiritismo 
plantou a sua bandeira, como preito de admiração ao ilustre e benemérito
 codificador.
O
 Brasil evangélico deve orgulhar-se das comemorações que levará a 
efeito, lembrando a personalidade inconfundível do grande missionário 
francês, porque a obra mais sublime de Allan Kardec foi a 
reedificação da esperança de todos os infortunados e de todos os 
infelizes do mundo, no amor de Jesus-Cristo.
Conta-se que logo após a sua desencarnação, quando o corpo ainda não havia baixado ao Père-Lachaise (1)
 para descansar à sombra do dólmen dos seus valorosos antepassados, uma 
multidão de Espíritos veio saldar o mestre no limiar do sepulcro. 
Eram
 antigos homens do povo, seres infelizes que ele havia consolado e 
redimido com suas ações prestigiosas, e, quando se entregavam às mais 
santas expansões afetivas, uma lâmpada maravilhosa caiu do céu sobre a 
grande assembléia dos humildes, iluminando-a com uma luz que, por sua
vez,
 era formada de expressões do seu “Evangelho segundo o Espiritismo”, ao 
mesmo tempo em que uma voz poderosa e suave dizia do Infinito:
-
 “Kardec, regozija-te com a tua obra! A luz que acendeste com os teus 
sacrifícios na estrada escura das descrenças humanas vem felicitar-te 
nos pórticos misteriosos da Imortalidade... 
O
 mel suave da esperança e da fé que derramaste nos corações sofredores 
da Terra, reconduzindo-os para a confiança da minha misericórdia, hoje 
se entorna em tua própria alma, fortificando-te para a claridade 
maravilhosa do futuro. No céu estão guardados todos os prantos que 
choraste e todos os sacrifícios que empreendeste...
Alegra-te no Senhor, pois teus labores não ficaram perdidos. 
Tua
 palavra será uma bênção para os infelizes e desafortunados do mundo, e 
ao influxo de tuas obras a Terra conhecerá o Evangelho no seu novo 
dia!...”
Acrescenta-se,
 então, que grandes legiões de Espíritos eleitos entoaram na Imensidade 
um hino de hosanas ao homem que organizara as primícias do Consolador 
para o planeta terreno e que, escoltado pelas multidões de seres 
agradecidos e felizes, foi o mestre, em demanda das esferas luminosas, 
receber a nova palavra de Jesus.
***
Kardec!
 eu não te conheci e nem te poderia entender na minha condição de homem 
perverso da Terra, mas recebe, no dia em que o mundo lembra, comovido, a
 tua presença entre os homens, o preito da minha amizade e da minha 
admiração.
Nota:
(1) Pequeno
 engano do cronista, pois que o corpo foi sepultado primeiramente no 
Cemitério de Montmartre. A trasladação dos despojos para o dólmen do 
Père-Lechaise fez-se um ano
depois. (Nota da Editora – FEB).
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Fonte: Extraído do livro Crônicas de além tumulo- Francisco C. Xavier/ Humberto de Campos – Editora FEB.
Matéria extraida do Blog de Luciano Dudu, História do Espiritismo - http://lucianodudu1974.blogspot.com.br 
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