Eternidade

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sábado, 8 de setembro de 2012

INICIAÇÃO



Arregaçando as mangas

A decisão e o momento de se iniciar nas tarefas espíritas


Em Lucas, capítulo 5, temos a parábola em que Pedro não enfrentava um bom dia como pescador, até que o Cristo pede-lhe que lance as redes, novamente. Tendo passado a noite toda pescando, sem sucesso, Pedro lança as redes ao mar muito mais por consideração ao Cristo do que por acreditar em algum ganho nessa tentativa; cumpria, desse modo, apenas uma formalidade, afinal, era um pedido do Mestre. Bem, o resultado todos sabemos: foram necessários mais pescadores para puxar as redes abarrotadas de peixe, e Pedro, mais uma vez, surpreendeu-se, sem, no entanto, compreender as façanhas do Mestre.

Como Pedro, todos temos os nossos momentos, o nosso tempo. Existe o período em que adentramos a casa espírita, para sermos assistidos e tomarmos as primeiras informações acerca da Doutrina. Passamos, então, de assistidos para admiradores dos conceitos e filosofia da Doutrina Espírita, com os quais nos encantamos com as possibilidades, atualidade e a forma de abordagem direta e certeira dos problemas íntimos e sociais. Imaginamos as possibilidades de aplicação da "Ciência Espírita", dentro das diversas profissões, tais como a medicina, pedagogia, psiquiatria, filosofia, psicologia, etc. Enfim, nos sentimos equilibrados, motivados e seguros para nos iniciarmos nos grupos de estudo, oferecidos pela casa. Deixamos de ser unicamente atendidos, para sermos também estudantes; cruzamos as portas do "hospital", para adentrarmos na "escola". Iniciamos a nossa segunda fase. Nesta, a informação deve ser passada de forma a instruir e, principalmente, aplicar em nós mesmos. É a hora de espiritualizar-se, adquirir maior ciência de valores éticos, conhecer-se e trilhar, de forma mais reta, os caminhos da reeducação dos sentimentos. Com o alvorecer dos estudos, despertam-se, em nós, novas possibilidades e visão do mundo; passamos a levar o espiritismo para fora das portas do centro, dentro de nós mesmos, e o cenário da vida ganha novas cores e matizes. Chegamos ao momento "Pedro". Já estamos prontos para nos iniciarmos nos trabalhos da seara, mas não sabemos, pois ainda não nos descobrimos. Já temos os recursos e os conhecimentos necessários, para nos iniciarmos nos trbalhos de atendimento, bastando-nos apenas a confiança e o ânimo. Na parábola acima, o Cristo precisou dar um "empurrãozinho" para que Pedro se movimentasse, e este, meio que a contragosto, aceitou, por pura convenção, sem estar lá muito a fim... Assim funciona conosco, uma vez que o "empurrãozinho" aparece na forma de um aviso da necessidade de novos trabalhadores para algumas atividades, tais como a escala da biblioteca, um curso de atendimento inicial e, às vezes, um convite pessoal do coordenador de estudos. "Torcemos o nariz" é natural, bem como não aceitarmo a ideia, de primeira; afinal, as atividades acontecem justamente no horário da novela ou no período de descanso. Foi assim com Pedro: ele estava cansado, indisposto, havia trabalhado a noite toda... Realmente, não é fácil ceder aos impulsos da mudança de hábito, pois somos tão avessos quanto necessitados da mudança. Toda mudança gera o desconforto da readaptação. Mas, o que teria acontecido, se Pedro se negasse a jogar as redes? O mesmo serve para nós. Devemos identificar e nos motivar para o nosso momento de "jogar as redes". Ou temos a ilusão de que apenas seremos frequentadores de grupos de estudo pelo resto da vida? Cabe a nós buscarmos o nosso espaço, nos conscientizarmos da responsabilidade adquirida e aceita, antes mesmo de nascermos. É hora de nos identificarmos e nos prepararmos para a tarefa. Qual a surpresa, ao nos depararmos com os frutos da nossa colheita pessoal... Uma pessoa atendida, uma lágrima consolada, uma palavra de conforto aplicada. Será que nos lembramos de alguém, quando vemos uma pessoa atendida, chegando, pela primeira vez, ao centro espírita, oprimida pelo sofrimento do cotidiano, angustiada por respostas e ávida por reencontrar a paz interior e o sentido da vida? Finalmente, o ciclo se fecha... A alegria e a surpresa nos tomam; afinal, chega a descoberta de que somos capazes de "apascentar as ovelhas" e "pescar homens". Mal sabemos que tal surpresa é nossa, apenas; se pudéssemos vislumbrar o plano espiritual, não seria supresa o amigo espiritual levantar um desses cartazes muito usados nos campos de futebol, com a frase: "Eu já sabia". Pedro também se surpreendeu, ao ver os frutos do trabalho; pôs-se aos pés do Cristo, num misto de surpresa e agradecimento; afinal, sem o tal "empurrãozinho", ele ainda estaria sem peixes e cansado, e nós, sem adentrarmos na "terceira fase", quando, após passarmos pelo "hospital", para sermos unicamente atendidos; nos determos, nos estudos, para adquirirmos cultura espírita e autoconhecimento, finalmente, nos encontrarmos na "oficina", para darmos curso ao trabalho, na seara, e em nós mesmos. É o amor que vence a barreira das preocupações íntimas e busca confortar lágrimas, assim como nos foi feito no passado. Vence-se o desconforto da mudança de hábito; conforma-se, de forma prazerosa, com a perda do programa ou descanso habitual, e se lança, de coração aberto, ao atendimento fraterno, à leitura edificante, nas oportunidades de trabalho nas bibliotecas e livrarias espíritas. As primeiras tarefas são a base dos trabalhos futuros mais complexos.

Muitos acreditam que algumas atividades da casa são de pouca importância, como o atendimento inicial, a entrevista fraterna e as funções nas bibliotecas e livrarias; poré, a cultura advinda do hábito de ler forma, juntamente com a prática, os futuros expositores e palestrantes. O atendimento consolador e fraterno do irmão angustiado, revoltado, repleto das mazelas físicas e morais nos dará a prática necessária ao consolo e assitência no diálogo mediúnico. Aqueles que se candidatam a dar o suporte e amparo nas visitas aos hospitais são igualmente os candidatos às atividades do passe, da doação de amor, em form de fluidos. Uma escada é vencida aos degraus e não aos lances. Todo o trabalho é importante. No entanto, o mais importante é começar, sentir-se útil, na seara do Cristo, e termos a motivação interior e própria daqueles que querem vencer-se e descobrirem-se, servindo ao Cristo, voluntariamente, independe da idade, grau de instrução, porém, através da capacidade e possibilidades individuais de amar.

Tenhamos a ciência de que temos as nossas limitações, somos eternos aprendizes. Certa vez, atendi um espírito o qual não era revoltado, apenas ansioso, impaciente, e que já iniciou o diálogo, referindo-se a mim como "novato". Confessoo que não entendi, de início, pois já exercia aquela função, havia alguns anos. No entanto, agora percebo a importância de ser um novato, disposto ao aprendizado, aberto a novas descobertas. Devemos ponderar que novos conhecimentos sempre surgirão; a Doutrina Espírita é um mundo novo, e devemos ter a humildade de sempre considerar fatos novo nunca nos considerando "formados" e com ideias imutáveis. Ao mesmo tempo, cabe-nos a lucidez necessária par aque não aceitemos tudo que nos é oferecido em relação a novas ideias. A pesquisa, os livros e as nossas experiências serão nossas aliadas no processo de amadurecimento pelo qual passaremos, por longas datas, digo, séculos. Portanto, tenhamos a consciência de novatos; não somos "super-heróis" e não estamos aqui para mudar o mundo e, sim, a nós mesmos, através da prática do amor, da caridade, da assistência, do exemplo e da divulgação da nossa doutrina.

Ainda, aos que se acham "indignos" de servirem nas fileiras do Cristo, não nos coloquemos na retaguarda das ações de trabalho, na seara, por conta de "culpismos" desnecessários; todos nós temos os nossos erros, dificuldades e arrependimentos. Onde está o limite da dignidade para servir ao Cristo? O pensamento deve ser contrário; se nos consideramos culpáveis, devemos trabalhar e ressarcir os erros, eis a única ação a nos devolver a paz da consciência. Pedro também se achou indigno. Disse ele: "Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador." Mal sabia ele que já era tarde, poi o "bichinho" do amor já o havia mordido, e o Cristo já sabia disso, respondendo: "Não temas; de agora em diante serás pescador de homens." Em outras palavras:Pedro já estava "fisgado".

Coragem e fé em nós mesmos, e nos deixemos "fisgar" pela tarefa e abraçar a redenção das nossas almas, através do servir ao Cristo. Amemos aos nossos irmãos necessitados, pois o que quer que façamos a eles estaremos igualmente fazendo ao Cristo.

Mateus 25:40.


(autoria de Pedro Valiati, Coordenador de grupos de estudos, preletor e palestrante espírita)
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo nº 11 - dezembro/2010

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