"A prece - define Kardec - é uma invocação, mediante a qual o homem entra em comunicação com o ser a quem se dirige."
Deve
ser feita diretamente a Deus, que é o Senhor da Vida, mas pode, também,
ser-Lhe endereçada, por intermédio dos bons Espíritos (Santos), que são
os Seus mensageiros e os executores de Sua vontade.
Três podem ser os objetivos da prece: louvar, pedir e agradecer.
A
louvação consiste em exaltar os atributos da Divindade, não,
evidentemente, com o propósito de ser-Lhe agradável, visto que Deus é
inacessível à lisonja. Há de traduzir-se por um sentimento espontâneo e
puro de admiração por Aquele que, em todas as Suas manifestações, se
revela detentor da perfeição absoluta.
As petições
visam a algo que se deseje obter, em benefício próprio ou de outrem. Que
é o que se pode pedir? Tudo, desde que não contrarie a Lei de Amor que
rege e sustenta a Harmonia Universal. Exemplos: perdão de faltas
cometidas, forças para resistir às tentações e aos maus pendores,
proteção contra os inimigos, saúde para os enfermos, iluminação para os
Espíritos conturbados e paz para os sofredores (encarnados ou
desencarnados), amparo diante de um perigo iminente, coragem para vencer
as contingências terrenas, paciência e resignação nos transes aflitivos
e dolorosos, inspiração sobre como resolver uma situação difícil, seja
ela de ordem material ou moral, etc.
Os agradecimentos
obviamente por todas as bênçãos com que Deus nos felicita a existência,
pelos favores recebidos, pelas graças alcançadas, pelas vitórias
conseguidas e outras coisas semelhantes.
O veículo que
conduz a prece até ao seu destinatário é o pensamento o qual se irradia
pelo Infinito, através de ondulações mentais, à feição das transmissões
radiofônicas ou de televisão, que, por meio das ondas eletromagnéticas,
cortam o espaço a uma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo.
A
eficácia da prece não depende da postura que se adote, das palavras
mais ou menos bonitas com que seja formulada, do lugar onde se esteja,
nem de horas convencionais. Decorre, isto sim, da humildade e da fé
daquele que a emite, a par da sinceridade e veemência que lhe imprima.
Não
se creia, entretanto, que basta orar, mesmo bem, para que os efeitos
desejados se façam sentir de imediato e em qualquer circunstância.
Tal crença seria enganosa.
A
prece não pode, por exemplo, anular a Lei de Causa e Efeito, segundo a
qual cada um deve colher os resultados do que faz ou deixa de fazer.
Tão
pouco dispensa quem quer que seja do uso das faculdades que possui, nem
do trabalho que lhe compete, na busca ou na realização do objetivo
pretendido.
Por outro lado, nem sempre aquilo que o homem
implora corresponde ao que realmente lhe convém, com vistas à sua
felicidade futura. Deus, então, em Sua onisciência e suprema bondade,
deixa de atender ao que lhe seria prejudicial, "como procede um pai
criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses.
Apesar
dessas restrições, longe de ser inútil, a prece é recurso de grande
valia, desde que feita com discernimento, revista-se das qualidades a
que nos referimos linhas acima e seja complementada por nós com os
movimentos de alma ou com os esforços exigidos pela vicissitude que
no-la tenha inspirado.
Destarte, quando oramos a Deus,
rogando-lhe que nos perdoe uma ação má, é preciso que estejamos
efetivamente arrependidos de havê-la praticado e alimentemos o firme
propósito de não repeti-la; quando Lhe exoramos que nos livre da sanha
de nossos adversários, é indispensável que tomemos a iniciativa de uma
reconciliação com eles, ou que, pelo menos, a facilitemos, quando Lhe
suplicamos ajuda para sair de uma dificuldade, é necessário que, em
recebendo do Alto uma ideia salvadora, nos empenhemos em sua execução da
melhor forma possível; quando Lhe pedimos ânimo para vencer
determinadas fraquezas, é imperioso que façamos a nossa parte, alijando
de nossa mente as cogitações e as lembranças que com elas se relacionem
dando, também, os devidos passos no sentido de desenvolver as Virtudes
que lhes sejam opostas, e assim por diante.
Agindo de
conformidade com a máxima: "Ajuda-te, que o céu te ajudará", estejamos
certos, haveremos de contar, sempre, com a assistência e o socorro dos
prepostos de Deus, de modo a que, mesmo sem derrogar-Lhe as leis, nem
frustrar-Lhe os desígnios, sejamos providos daquilo que mais carecemos,
quer se trate de remover obstáculos, superar necessidades ou minorar
tribulações.
(Livro dos Espíritos - Capítulo 2º, questão 658 e seguintes)
por Rodolfo Calligaris, obra: As Leis Morais
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