O mais hábil músico sempre conseguirá a melodia que execute, conforme as possibilidades do instrumento de que se utilize. Quanto melhor afinado seja, mais perfeitos resultados serão obtidos.
No campo mediúnico o efeito é semelhante. Sempre a mensagem transmitida apresentará os recursos psíquicos e culturais do médium. Por tal razão, quanto mais sensível e esclarecido o medianeiro, mais fiéis se farão as comunicações espirituais. Igualmente, o exercício sistemático e os valores morais constituirão valioso contributo para o êxito da atividade mediúnica. Sempre haverá, no entanto, a presença do médium, mesmo que em parcela mínima, como é compreensível, por ser através dele que o fenômeno ocorre. Emprestando os órgãos físicos para o intercâmbio, este se dará através das potencialidades que serão colocadas à disposição do comunicante, que delas dependerá para alcançar a fidelidade desejada.
O animismo, desse modo, constitui um fantasma perturbador, na área mediúnica intelectual.
Quando o médium não possui a faculdade ostensiva, e a mensagem lhe é inspirada através de processo consciente para a psicografia como para a psicofonia, estabelecem-se conflitos na mente, que terminam por alterar o conteúdo da comunicação.
Tornam-se indispensáveis, para melhor captação do pensamento dos Espíritos, concentração profunda, silêncio interior e neutralidade emocional.
Fenômeno telepático a princípio, torna-se, mente a mente, desencarnado com encarnado, um intercâmbio sutil que se faz mais profundo, automatizando-se graças à predominância do psiquismo do agente sobre o sujet. Com o tempo e a constância do fenômeno, este se torna perfeitamente autêntico, caracterizado pela fidelidade de captação e transmissão.
É natural que haja anímicos nas comunicações mediúnicas, que não devem merecer crítica ou preocupação, porquanto, no exercício correto, a educação do sensitivo modificá-los-á, diminuindo-os até o máximo que lhe seja possível.
O excessivo preconceito contra o animismo deve ceder lugar à tolerância e à paciência, a fim de que o mesmo seja eliminado.
Na primeira fase das comunicações mediúnicas, o inconsciente encontra-se sobrecarregado de informações e conflitos arquivado, que são liberados no momento da concentração, a prejuízo do fenômeno.
À medida que o indivíduo libera as fixações mentais, a insegurança, os complexos perturbadores, as antenas psíquicas passam a captar melhor as vibrações mentais dos desencarnados, sem as próprias turbulências e oscilações íntimas.
A simpatia despertada pelo médium, nos Bons Espíritos, permitirá que eles mais se lhe acerquem e insistam na inspiração com o amigo encarnado, facultando-lhe uma filtragem mais cuidadosa, que se vai tornando natural e propiciadora do fenômeno correto.
Certamente, deve-se exercer vigilância em relação às manifestações mediúnicas, entretanto, o excesso de exigências torna-se tão prejudicial quanto a sua falta. O equilíbrio é sempre a medida saudável, ideal, e está na forma edificante com que se cuide de selecionar o mediunismo do animismo.
Podemos afirmar que, no fenômeno mediúnico, a vigência do animismo é ocorrência natural, tanto quanto no último faz-se presente o primeiro, em se considerando a constante presença e assistência dos Espíritos aos homens. Um encontro puro, sem qualquer interferência, somente ocorrerá no infinito...
Não seja de recear-se o animismo apenas nas experiências da mediunidade, porquanto ambos encontram-se tão associados, que fica difícil estbelecer-se uma linha demarcatória onde um começa e o outro termina.
Merecem reproche, pelo prejuízo que produzem, as mistificações dos Espíritos zombeteiros e mentirosos, como as produzidas pelos indivíduos inescrupulosos, que se apresentam como médiuns para enganarem pessoas ingênuas, incautas e de boa fé, retirando proveito dessa artimanha.
Os indivíduos sérios e de seguros princípios morais, afeiçoados aos deveres, ao bem e à caridade, sempre serão credores de confiança, pela facilidade de sintonização com os Espíritos que os assistem, captando-lhes facilmente os pensamentos. Em face da sua ductibilidade emocional e comportamental, são mais seguramente telementalizados pelos desencarnados, traduzindo-os com serena segurança.
As pessoas desestruturadas psicologicamente, tumultuadas, instáveis, ansiosas ou receosas tornam-se mais propícias aos animismos, por uma necessidade inconsciente de liberação dos arquivos mentais de conteúdo perturbador.
Toda atividade exige disciplina, treinamento, perseverança, abnegação, e a mediunidade não constitui exceção, especialmente tendo-se em vista os mecanismos intrincados, orgânicos, emocionais e psíquicos de que se reveste o fenômeno que propicia.
Examine-se, desse modo, a comunicação, e o bom senso estabelecerá quando a ocorrência da mesma é anímica ou mediúnica.
Quando a mensagem vier firmada por personalidade célebre, por entidade de nome exótico, apresentada em siglas de significado duvidoso, afirmando-se de outro planeta ou de longínqua galáxia, por precaução cuide-se de examinar se não se trata de mistificação, zombaria ou de animismo, por necessidade inconsciente de chamar a atenção ou de ser original, especial, diferente...
As comunicações mediúnicas autênticas e elevadas são desvestidas de extremidade, de superstições e quaisquer outras características do exotismo, do terror, sempre do agrado das mentes perversas e ociosas da erraticidade inferior.
Considerando-se a predisposição orgânica de quase todos os indivíduos para os fenômenos mediúnicos e parapsicológicos, o animismo se apresenta em diversos casos como paranormalidade em desenvolvimento - vidência, desdobramento, precognição, retrocognição, magnetização e outros - a caminho de faculdades mediúnicas, que surgirão mais tarde ou em próxima reencarnação.
De bom alvitre que um como outro fenômeno sejam colocados a serviço da fraternidade, da solidariedade, do progresso e do bem.
É muito comum, pessoas procurarem as casas espíritas com o
intento exclusivo de obter contato com parentes e amigos que desencarnaram,
quase sempre há pouco tempo. Esse procedimento é muito comum entre
aquelas criaturas que não possuem conhecimento sobre o Espiritismo.
Mas também acontece com pessoas que já deveriam ter uma noção
maior da realidade espiritual. Muitas além do desejo de entrar em contato com
seus desencarnados, o fazem por curiosidade, saudade, inconformidade, e
muitos outros motivos. Uma pessoa me interpelou perguntando: “Perdi” meu pai há
poucos meses. Seria possível me indicar um centro espírita onde eu tivesse a
oportunidade de ver ou de falar com ele?
Esta pessoa não gostou muito da resposta quando eu disse que,
embora não fosse impossível, isso seria muito difícil. Embora condenada por
alguns, a evocação dos espíritos é possível, porém, está sujeita a uma
série de circunstâncias que poderão impedi-la. Na questão 282 do “Livro
dos Médiuns” estão enumeradas várias possibilidades de uma evocação não ser
atendida. Esta é uma boa sugestão de leitura para maiores esclarecimentos
sobre o assunto. Vejamos alguns obstáculos:
Nenhum espírito pode ser obrigado a satisfazer nossa vontade. Há quem
pareça julgar que os espíritos são nossos serviçais, que devem atender
prontamente ao nosso chamado. O espírito liberto da matéria é mais livre
do que nunca, só se comunica se assim o desejar. Somente os sofredores e
obsessores são algumas vezes, compelidos a comunicar-se, por misericórdia do
Pai, para serem socorridos ou doutrinados.
Há ocasiões em que o espírito evocado já se
encontra reencarnado (nesse caso, só poderia se comunicar através do sono) ou, pode
também estar executando tarefas que não podem ser interrompidas. O local
onde se encontra o espírito evocado, pode ser outro obstáculo ao atendimento do
chamado. Estando em instituição espiritual, (como “Nosso Lar”),
dificilmente será deslocado até a crosta terrestre apenas para atender a um
pedido. O mesmo ocorre com aqueles que necessitam expiar suas faltas no umbral
ou em região com fim semelhante.
Na novela recentemente apresentada em uma emissora de TV, o
obsessor entrava e saía do umbral, à vontade, como se fosse uma hospedaria. É
um equívoco pensar que na Espiritualidade não existe ordem e subordinação. A
permissão da Espiritualidade Superior para a comunicação, também se faz
necessária.
Embora muitos dirigentes materiais tomem atitudes de comando
supremo, nós encarnados, não dirigimos os trabalhos espirituais, somos meros participantes. Se o
trabalho é sério e organizado, tem um dirigente espiritual designado para a
tarefa por altos mentores espirituais, que toma todas as atitudes referentes a
seu campo, assim como compete ao dirigente material manter a ordem e as
condições de trabalho no campo material. Os espíritos elevados não
recebem ordens dos encarnados.
Assim a comunicação não depende só de nossa vontade ou a do
evocado. O impedimento pode ser até uma espécie de punição, seja para o
espírito, seja para quem o evoca. Outro fator a considerar é a
finalidade com que é feita a evocação. É necessário motivo relevante e um
ambiente saturado de bondade e simpatia. Espírito esclarecido só se comunica
quando constata a utilidade da comunicação, jamais ocupa o tempo para
satisfazer curiosidades ou manter diálogo sobre banalidades. Isso porque as
reuniões mediúnicas devem ser destinadas ao aprendizado e a caridade junto aos
espíritos necessitados.
Também há fatores emocionais que podem impedir o intercâmbio.
Deve ser profundamente emocionante para o desencarnado falar com os entes
queridos que ficaram. Todo desencarne provoca uma certa perturbação, mesmo que
seja por poucos momentos. Poderá gerar um desequilíbrio no espírito
desencarnado caso ele não se encontre em condições emocionais para a
comunicação.
O Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, na questão 380 nos
ensina que não é justo provocar a comunicação com os desencarnados. Que o
espírita sincero busca conforto moral na própria fé. Acrescenta que o homem
pode desejar isto ou aquilo, mas há uma Providência e mérito a ser analisado,
além da utilidade da permissão. A comunicação deve ser
espontânea, que devemos colocar a fé acima do egoísmo e considerar a
necessidade de repouso daqueles a quem amamos.
A melhor maneira de auxiliarmos um espírito
desencarnado, é através da prece feita com sentimento, rogando aos espíritos
amigos que prestem o devido socorro àqueles que já se foram, para
que sejam orientados, amparados e guiados à pátria espiritual.
Compilado por Harmonia Espiritual da
Revista Visão Espirita nº 19 – artigo de Hélio Pinto
Máquina sofisticada e completa, que se vem aprimorando através dos séculos, gasta-se o corpo à medida que funciona, emperrando sob as ações e condições variadas, desajustando-se por interferência de agentes perturbadores e enfermiços, por fim, transformando-se pela morte.
Essa é uma fatalidade irrecorrível, por mais se pretenda escapar-se.
Como a vida, porém, não são apenas os implementos admiráveis da constituição células, e o ser que a vitaliza seja-lhe pré-existente, compreende-se que, morrer não é extinguir-se, antes é libertar-se da temporária prisão onde se esteve, sobrevivendo-lhe à argamassa material.
Em razão da impregnação da energia espiritual pelas vibrações do campo físico, o seu apega-se ao corpo e teme perdê-lo. O adormecido da consciência profunda, na maquinaria cerebral, faz que ele esqueça com as sensações, nesse período, da sua procedência, iludindo-se mais com as sensações a que se encontra acostumado do que com as emoções transcendentes do seu estado real.
A morte assemelha-se-lhe, então, a uma interrupção definitiva da vida, ao seu aniquilamento, o que se lhe torna terrível e devastador.
Surgem, em razão disso, reações de rebeldia, de pavor ou de desinteresse, de desprezo pelo fenômeno transformador.
A expressiva massa humana, todavia, apegada às experiências fisiológicas, não se dispõe a meditar a respeito da morte, a preparar-se para ela, a entender-lhe a ocorrência.
Vivendo em uma espécie de sonho, não se propõe a despertar, transferindo mentalmente essa reflexão para um momento que, talvez, não alcance.
Vive-se no corpo, acompanhando-se-lhe a incessante, a automática transformação molecular. Morrem células aos bilhões com frequência, que são substituídas por outras; os órgãos sofrem alterações contínuas, que não são percebidas imediatamente, e somente quando o desgaste se acentua é que se notam as mudanças, a insuficiência de forças, o enfraquecimento da visão, da audição, da memória, da bomba cardíaca e de outros equipamentos vitais...
A inexorabilidade da morte está, portanto, presente na vida, e torna-se medida saudável e racional pensar-se sempre nela, no momento terminal. Equipando-se de energias morais para o enfrentamento, a liberação.
A morte não produz dor, por ser um suave deslindamento de vínculos, quando o fenômeno é natural.
Cada morte é decorrência de cada experiência de vida, sendo, então, especial e particular para cada indivíduo.
No processo biológico final, normal, morrer é uma forma de adormecer, para um consequente despertar com as mesmas características e disposições anteriores ao processo terminal fisiológico.
Ao acordar, nem coro de anjos, nem presenças satânicas aguardando, exceto para aqueles que vinculados ao que viveram, aqueles que assim se comportaram, com os Espíritos perversos e obsessores. Aqueles outros, que se iluminaram pelo bem e ascenderam aos paramos do amor, defrontam os seus amigos diletos, que os precederam e ali estão para recebe-los de volta ao lar.
Cada qual desperta com a posse da bagagem que acumulou na Terra e conduziu na mente como no sentimento. Ela dispensa os objetos, os recursos amoedados e títulos, os valores materiais que ficaram e agora se tornam motivos de lutas e usuras, de animosidade e rixas cruéis.
A verdadeira posse permanece com o seu cultivador, que deixa de ser aquele que tem para tornar-se o que é. Nesse momento, dá-se conta do que é verdadeiro ao lado daquilo que é falso; do que tem permanência e do que sofre transitoriedade; do que se transforma em asas de libertação, em detrimento do que sucumbe ao peso das paixões primitivas...
Essa avaliação é automática, rápida ou prolongada, conforme os comprometimentos morais de cada ser.
A consciência, sem anestesia, passa a comandar a razão com vigor, não mais podendo ser camuflada a verdade, ou postergado o momento de auto-análise, de autodescobrimento.
Muitas vezes, a memória, desatrelando-se dos neurônios cerebrais, recorda toda a existência, em forma regressiva, desde a desencarnação ao nascimento, fixando as lembranças infelizes, que se fazem acompanhar de dolorosos arrependimentos e mágoas, ou alegrias inefáveis, quando são ditosas essas recordações. Nesse instante, o que está feito não pode ser alterado até que se renovem os compromissos de reparação, quando negativos, ou prolongando as emoções de felicidade, quando ditoso.
A reencarnação tem como objetivo imediato facultar o desenvolvimento intelecto moral do espírito, e, ao ser ela concluída, a imediata avaliação de resultados estabelecerá os futuros empreendimentos, ficando esse período intermediário, entre o túmulo atual e o futuro berço, como preparatórios, em esfera de paz ou campo de luta.
É necessário pensar-se na morte enquanto se está no corpo; fazer-se uma análise de como se encontra e qual seria o seu estado emocional ao despertar, caso a mesma lhe chegasse nesse momento.
Valeriam a pena os apegos exorbitantes a pessoas e a coisas; as disputas por heranças perturbadoras e complicadas que ficarão; por terras e propriedades que passarão de mãos? E o cultivo do amor-próprio ferido, das vaidades enganosas, dos ódios angustiantes, dos caprichos pessoais, das exigências extravagantes, das dores desnecessárias que o egoísmo e o orgulho ocasionam?
Ver-se-á, com essas reflexões, que há muito acúmulo de entulho a que se dá valor descabido nos depósitos dos interesses pessoais da existência terrestre.
Quanto maior for a soma das paixões, das fixações fortes, dos jogos dominadores nos painéis mentais e nas emoções, mais largo será o período de aflição ante a morte e de perturbação íntima, que leva a estados infelizes de obsessão os que ficaram no corpo como legatários, os adversários, os amores desequilibrados, os disputadores das coisas e posses.
É necessário um treino moral para libertar-se do que não se pode conduzir, doando-se, transferindo-se com alegria para outrem, ou deixando-se sem saudades nem amarguras todas as coisas.
Uma reflexão diária sobre a morte ajuda a partida de todos que, inevitavelmente, viajarão para o país de sua origem, de onde volverão de retorno ao mundo, no futuro, em algemas ou inteiramente livres para a preparação de sua plenitude.
13. É possível ao médium distinguir as alterações psíquicas e orgânicas que lhe são próprias das que estão procedendo dos espíritos desencarnados?
Divaldo - Um dos comportamentos iniciais do médium deve ser o de estudar-se. Daí ser necessário estudar a mediunidade. Eu, por exemplo, quando comecei o exercício da mediunidade, ia a uma festa e assimilava de tal forma o psiquismo do ambiente, que me tornava a pessoa mais contente dali. Se ia a um casamento eu ficava mais feliz que o noivo. Se ia a um enterro ficava mais choroso que a viúva, porque me contaminava psíquicamente, e ficava muito difícil saber como era a minha personalidade. Pois, de acordo com o local, havia como que um mimetismo, isto é, eu assimilava o efeito do ambiente.
Lentamente, estudando a minha personalidade, as minhas dificuldades e comportamentos, logrei traçar o meu perfil pessoal, e estabelecer uma conduta medial para que aqueles que vivem comigo saibam como eu sou, e daí possam avaliar os meus estados mediúnicos.
De início, o médium terá algumas dificuldades, porque o fenômeno produz uma interposição de personalidades estranhas a sua própria personalidade. Somando-se velhas dificuldades à sensibilidade mediúnica, o sensitivo passa a ter muito aguçadas as reminiscências das vidas pretéritas, não o caráter da consciência, mas o somatório das experiências.
Recordo-me que, em determinada época da minha vida, terminada uma palestra ou reunião mediúnica, eu tinha uma necessidade imperiosa de caminhar. Caminhar até a exaustão física. Naquele período claro-escuro da mediunidade, sem saber exatamente como encontrar a paz, os espíritos me receitaram trabalho físico, para que, cansado, fosse obrigado ao repouso físico, porque tinha dificuldades de dormir. A vida física era-me muito ativa e, mesmo quando o corpo caía no colapso, a mente continuava excitada, e eu me levantava no dia seguinte pior do que havia deitado. Então, às vezes, eu preferia não deitar.
Com o tempo fui formando meu perfil de comportamento, de personalidade, aprendendo a assumir a responsabilidade dos insucessos e a transferir para os Mentores os resultados das ações positivas que são sempre de Deus, enquanto os erros são sempre nossos. Estaremos sempre em sintonia com espíritos de comportamento idêntico ao nosso. Daí, o médium vai medindo as suas reações, suas mágoas, ciúmes, invejas, e irá identificando as reações positivas, a beleza, o desejo de servir. Por fim, aprende a selecionar quando é ele e quando são os espíritos que estão agindo por seu intermédio.
14. O que determinará a qualidade dos espíritos que, pela lei das afinidades, serão impelidos a se afinarem conosco nas práticas mediúnicas?
Raul - Compreendemos que todos nós nascemos com determinadas tarefas a realizar, e para esse entendimento, há aqueles que renascem com a tarefa da mediunidade. O chamamento da mediunidade na hora correta mostra aquele que porta o compromisso ajustado. Normalmente, as entidades que deverão trabalhar, que deverão atuar no campo mediúnico, dirigindo as lides entre os companheiros da Terra, já vêm ajustadas desde os seus contatos no mundo espiritual. Elas se posicionam como verdadeiros guardiães para que, em momento oportuno, o indivíduo se apresente diante do chamado.
Há outros espíritos que estão associados a essa programática reencarnatória e que se afinam com o encarnado fora do labor da mediunidade; e, à semelhança de alguém que se transfira de uma casa para outra, de um bairro para outro, vai surgindo a vizinhança nova e vão mostrando os espíritos que se unem por afinidades, por sintonia de gosto com aqueles que são os médiuns.
O médium, desejoso que a sua vizinhança espiritual seja do melhor naipe, deverá preparar-se para ser também de bom teor a sua vida. Como nos ensina Emmanuel, deverá ligr-se aos que estão na faixa do Cristo¹. E, mesmo quando se manifestem entidades enfermas, o médium estará servindo à enfermagem espiritual, da mesma forma que um enfermeiro num hospital da comunidade, embora atenda a diversos doentes, a vários pacientes de múltiplas características, nem por isso assimilará as mazelas do doente. Um médico que trabalhe com doenças contagiosas, nem por isso contrairá as moléstias das quais trata. Então, esses médiuns que estão laborando com os diversificados tipos espirituais procurarão ajustar-se aos Espíritos Benfeitores, unir-se pela vivência, pela prática do amor e da caridade, em suas várias dimensões.
Entendemos, com a Doutrina Espírita, que para nos ajustarmos aos Espíritos Nobres será necessário enquadrar nossa romagem, pensamentos e hábitos ao bem e ao trabalho da caridade.
¹ XAVIER, F. C. Seara dos médiuns, Emmanuel, capítulo 38, 2ª edição, FEB, Rio de Janeiro - RJ, 1973
15 - Que utilidade tem a mediunidade de vidência?
Divaldo - A utilidade é a de desvelar os painéis do mundo espiritual, sabendo observá-los, e, melhor ainda, mantendo discrição no traduzi-los, para não a transformar num informativo de leviandades.
16 - Qual a colaboração que um médium vidente pode dar no transcurso de uma sessão mediúnica?
Divaldo - Fazendo observações, anotando pontos capitais e colaborando com o médium doutrinador, para que ele esteja informado da qualidade dos espíritos que ali se comunicam.
17 - É sempre segura e permanente essa faculdade?
Divaldo - Como toda faculdade mediúnica, ela é transitória e oscilante, dependendo muito do estado moral do médium.
18 - Por que dois médiuns enxergam, ao mesmo tempo, quadros diferentes?
Divaldo - Porque as percepções visuais são em faixas vibratórias, que oscilam de acordo com o grau de adiantamento do espírito do médium.
Um registra uma faixa, na qual se manifestam os espíritos, e outro registra um tipo de faixa diversa.
Ocorre, também, que a maioria dos médiuns videntes é clarividente, e, nesse caso, a imaginação, quando indisciplinada, elabora construções e imagens que ele não sabe traduzir, perturbando-se com aquilo que capta.
19 - Podem, simultaneamente dois médiuns, em se referindo a mesma entidade, fazer descrições diferentes e serem verídicas, ambas?
Divaldo - Seria o mesmo que duas pessoas de graus de cultura diversos descrevendo uma tela. Cada uma informará os detalhes que lhe chamem a atenção, com as possibilidades da sua capacidade descritiva. Mas o conjunto geral será o mesmo.
20 - Deverá ser?
Divaldo - Deve ser.
Fonte: Franco, Divaldo P. Teixeira, Raul J. Diretrizes de Segurança. Págs. 17-19. Frates, 2002. Págs. 24 a 31.
1. A alma só tem um corpo, e sem órgãos. Há,
no corpo físico, diversas formas de compactação da matéria: líquida,
gasosa, gelatinosa, sólida. Mas disso se conclui que haja corpo ósseo,
corpo sanguíneo? Existem partes de um todo; este, sim, o corpo. Por
idêntica razão, Kardec se reportou tão só ao 'perispírito, substância
semi-material que serve de primeiro envoltório ao espírito', [1] o qual,
porque 'possui certas propriedades da matéria, se une molécula por
molécula com o corpo', [2] a ponto de ser o próprio espírito, no curso
de sua evolução, que 'modela', 'aperfeiçoa', 'desenvolve', 'completa' e
'talha' o corpo humano. [3]
O conceito kardeciano da
semi-materialidade traz em si, pois, o vislumbre da coexistência de
formas distintas de compactação fluídica no corpo espiritual. A porção
mais densa do perispírito viabiliza sua união intra-molecular com a
matéria e sofre mais de perto a compressão imposta pela carne. A porção
menos grosseira conserva mais flexibilidade e, decerto, justifica os
seguintes fatos:
((1.º) o perispírito, apesar de sua união
intra-molecular com este, 'não é circunscrito pelo corpo, mas irradia em
torno dele e o envolve como em uma atmosfera fluídica'; [4] 2.º) na
emancipação da alma, essa porção menos grosseira é justo aquela 'parte
do seu perispírito' com a qual se afasta do corpo. [5] Se uma parte do
perispírito segue com a alma, é que outra necessariamente não o faz, e
isso porque só a morte restitui ao espírito sua plena liberdade, sempre
parcial na emancipação, pois o princípio vital ainda existe na matéria
e, assim, mantém parte do perispírito preso ao corpo. [6]
Portanto,
não há corpos da alma, mas formas distintas de compactação fluídica no
corpo espiritual, o que levou Kardec a dizer que o perispírito 'contém
ao mesmo tempo eletricidade, fluido magnético e, até certo ponto, a
própria matéria inerte'. [7] Em Espiritismo, por efeito, não se fala de
'corpo causal', 'mental', 'emocional', etc. Inteligência, pensamento,
vontade, memória, sentimento, todos os nossos atributos, ou faculdades,
têm sede no espírito, no princípio inteligente, de quem o perispírito é
só 'o agente ou o instrumento de ação', 'o órgão sensitivo'. [8]
Ensinou
o mestre lionês que se trata de aptidões do ser por completo, 'e não
apenas de certos órgãos, como nos homens'. E esclareceu que mesmo o
espírito 'cujo perispírito é mais denso' percebe os sons e sente os
odores, 'mas não por uma parte determinada do seu organismo, como quando
vivo'. O perispírito, pois, não tem órgãos, até porque já constitui o
órgão sensitivo do espírito; donde Kardec afirmar que, 'destruído o
corpo, as sensações se tornam generalizadas', isto é, não mais 'se
localizam nos órgãos que lhes servem de canais'. [9]
Nada
obstante, os atributos do espírito se traduzem nos fluidos; a causa
puramente espiritual se torna efeito perispiritual, e até material. O
pensamento não é fluido, nem matéria, mas se expressa por eles e neles,
assim revelando sua natureza sã ou malsã, o que encontra resistência
menor no meio fluídico e maior no meio físico.
De qualquer forma,
o espírito realmente estende ao corpo sua influência mais ou menos
determinante, como Kardec bem o dissera: 'O perispírito representa um
papel tão importante no organismo, e em uma série de afecções, que ele
se liga à Fisiologia tão bem quanto à Psicologia'. [10]
Sendo um
dos elementos constitutivos do homem, o perispírito desempenha
importante papel em todos os fenômenos psicológicos e, até certo ponto,
nos fenômenos fisiológicos e patológicos. Quando as ciências médicas
tiverem na devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão
dado grande passo e horizontes inteiramente novos se lhes patentearão.
'As causas de muitas moléstias serão a esse tempo descobertas e
encontrados poderosos meios de combatê-las'. [11]
2. Pode o espírito perder seu perispírito?
Em
termos espíritas, o que se pode estabelecer com certeza é que a alma
jamais fica definitivamente sem perispírito. O Livro dos Espíritos, 186,
ensina que, sim, 'há mundos em que o espírito, deixando de viver num
corpo material, só tem por envoltório o perispírito'. E nos dizem mais
os guias da humanidade: '[...] e esse envoltório torna-se de tal maneira
etéreo que para vós é como se não existisse; eis então o estado dos
espíritos puros'. Estes, portanto, têm, sim, um envoltório fluídico.
De
fato, quanto ao fluido universal, ou matéria elementar primitiva, O
Livro dos Médiuns, 74, quinta pergunta, diz que, 'para encontrá-lo na
simplicidade absoluta seria preciso remontar aos espíritos puros'. E São
Luís afirma no Evangelho Segundo o Espiritismo, IV, 24: 'O perispírito
mesmo sofre transformações sucessivas. Eteriza-se mais e mais, até a
purificação completa, que constitui a natureza dos espíritos puros'. Até
aqui, tudo bem.
O Livro dos Espíritos, 187, registra que 'a
substância do perispírito não é a mesma em todos os globos; é mais
eterizada em uns do que em outros'. Mas completa: 'Ao passar de um para
outro mundo, o espírito se reveste da matéria própria de cada um, com
mais rapidez que o relâmpago'. E este é o ponto controverso. Trata-se do
espírito com perispírito, ou do espírito em si, desconsiderado seu
corpo fluídico? As formulações a seguir nos levam à segunda alternativa.
Se não, vejamos.
Tomado do meio ambiente, esse envoltório varia
segundo a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo para outro, os
espíritos mudam de envoltório, como mudamos de roupa ao passar do
inverno ao verão, ou do pólo ao equador.[12]
Abandonando a Terra, o espírito ali deixa o seu invólucro fluídico e reveste outro apropriado ao mundo onde deve habitar. [13]
Num
grau mais elevado, [o corpo] desmaterializa-se e acaba por se confundir
com o perispírito. De acordo com o mundo a que o espírito é chamado a
viver, ele se reveste do envoltório apropriado à natureza desse mundo.
[14]
Estes dizeres, tomados à letra, de fato levam à existência
de espírito sem perispírito, mas, ainda assim, tão só quando muda de
mundo; lá estando, logo reveste 'um outro', e em breve lapso temporal,
pois o espírito faz isso 'com mais rapidez que o relâmpago'. O espírito
sem perispírito é, pois, algo circunstancial, nunca definitivo. Não há,
no Espiritismo, um dizer pétreo de que ele possa vir a existir
permanentemente sem corpo fluídico. No máximo, verifica-se essa breve
perda momentânea e, ressalte-se, por força de ascensão evolutiva, jamais
por decesso da alma na maldade ou no crime, menos ainda na ignorância.
[15] Outra não pode ser a perspectiva deste escrito kardeciano,
publicado, é bom que se o diga vinte e um anos após a morte do mestre:
No
sentido de desorganização, de desagregação das partes, de dispersão dos
elementos, não há MORTE, senão para o invólucro material e o invólucro
fluídico; mas, quanto à alma, ou espírito, esse não pode morrer para
progredir; de outro modo, ele perderia a sua individualidade, o que
equivaleria ao nada. No sentido de transformação, REGENERAÇÃO, pode
dizer-se que o espírito morre a cada encarnação, para ressuscitar com
atributos novos, sem deixar de ser o eu que era. Tal, por exemplo, um
camponês que enriquece e se torna importante senhor. TROCARAM a choupana
por um palácio, as roupas modestas por vestuários de brocado. Todos os
seus hábitos MUDARAM seus gostos, sua linguagem, até o seu caráter. Numa
palavra, o camponês MORREU, enterrou as vestes de grosseiro estofo,
para RENASCER homem de sociedade, sendo sempre, no entanto, o mesmo
indivíduo, porém TRANSFORMADO. [16]
Kardec visa, aqui, o espírito
em si. É verdade. Mas nem por isso nos leva ao espírito permanentemente
sem perispírito. Aliás, de forma sintomática, Kardec não fala de
'morte' senão como 'regeneração'; não fala de 'troca', de 'mudança',
senão como 'transformação', e finda por incluir também aí o próprio
perispírito:
A cada novo estágio na erraticidade, novas
maravilhas do mundo invisível se desdobram diante do seu olhar, porque,
em cada um desses estágios, um véu se rasga. AO MESMO TEMPO, SEU ENVOLTÓRIO FLUÍDICO SE DEPURA; TORNA-SE MAIS LEVE, MAIS BRILHANTE E MAIS TARDE RESPLANDECERÁ. É quase um novo espírito; é o camponês DESBASTADO e TRANSFORMADO. Morreu o espírito velho, mas o eu é sempre o mesmo. É assim, cremos que convém se entenda a morte espiritual.
Ao
mencionar a mudança e mesmo, somente ali, a morte do perispírito,
Kardec apenas e tão só o faz em contexto que contempla necessariamente
as transformações ocasionadas pelo progresso da alma. Por esse motivo,
sou de parecer que, por evidente assimilação, em tais casos há sentido
figurado e não próprio.
Foi visto que o perispírito tem formas
distintas de compactação fluídica, porções com maior e menor densidade,
razão pela qual se liga molécula por molécula ao corpo e, ainda assim,
não se circunscreve a este, irradia a sua volta, bem como, na
emancipação, apenas parte dele segue a alma quando esta se afasta do
corpo.
Se o espírito passa a outro mundo, só as porções mais
identificadas com o mundo que está deixando se desagregam; somente seus
elementos mais grosseiros voltam ao fluido universal desse mundo.
Persistem integradas ao espírito as partes menos densas do seu invólucro
fluídico, agora, mais predispostas a se articularem ao fluido universal
do mundo mais adiantado a que já pode ir. É assim que 'o espírito
[sempre com perispírito] se reveste da matéria própria de cada mundo,
com mais rapidez que o relâmpago'.
Este princípio, aliás, como se
deduz da última citação kardeciana, é igualmente válido para as
encarnações do espírito num mesmo mundo.
Entre uma vida e outra,
pela gradativa depuração perispirítica, ele estará menos vinculado à
resistência de suas identidades corporais, sempre mais persistentes nos
estados de maior inferioridade. [17]
Não há, pois, para o
espírito, senão a progressiva purificação do seu perispírito. Tal ideia
vem confirmar estas proposições kardecianas de sentido bem mais próprio,
porque isenta, aqui, da possibilidade meramente contextual de os termos
assumirem qualquer figuração:
Já se disse que o espírito é uma
flama, uma centelha. Isto se aplica ao espírito propriamente dito, como
princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma
determinada. Mas, EM QUALQUER DE SEUS GRAUS, ELE ESTÁ
SEMPRE REVESTIDO DE UM INVÓLUCRO OU PERISPÍRITO, CUJA NATUREZA SE
ETERIZA À MEDIDA QUE ELE SE PURIFICA E SE ELEVA NA HIERARQUIA. Dessa maneira, a ideia de forma é, para nós, inseparável da ideia de espírito, a ponto de não concebermos este sem aquela. O PERISPÍRITO, portanto, FAZ PARTE INTEGRANTE DO ESPÍRITO, como o corpo faz parte integrante do homem.[18]
O
Espiritismo experimental estudou as propriedades dos fluidos
espirituais e a sua ação sobre a matéria. Demonstrou a existência do PERISPÍRITO, da qual já se suspeitava desde a Antiguidade, e que foi designado por [São] Paulo pelo nome de corpo espiritual, isto é, CORPO FLUÍDICO da alma após a destruição do corpo tangível. Sabe-se atualmente que ESSE INVÓLUCRO É INSEPARÁVEL DA ALMA,
que ele é um dos elementos que constituem o ser humano; que é o veículo
da transmissão do pensamento e que, durante a vida do corpo, serve de
elo entre o espírito e a matéria. [19]
Sergio Aleixo
[1] O Livro dos Espíritos, 134. [2] A Gênese, XI, 18. [3]
A Gênese, XI, 11. Obs.: '[...] c'est l'Esprit lui-même qui façonne son
enveloppe et l'approprie à ses nouveaux besoins [...]'; literalmente:
'[...] é o próprio espírito que conforma (configura, forma) seu
envoltório e o apropria a suas novas necessidades'. Tradutores
brasileiros optaram por fabrica ou modela, embora não constem do
original os verbos fabriquer ou modeler. Porém, há boa sinonímia entre
façonner e modeler: conformar, modelar. [4] A Gênese, XI, 17. [5] O
Livro dos Médiuns, 119, primeira pergunta. Obs.: 'Son Esprit, ou son
âme, comme vous voudrez l'appeler, abandonne alors son corps, suivie
d'une partie de son périsprit [...]'; literalmente: 'Seu espírito, ou
sua alma, como vós quiserdes chamá-lo, abandona então seu corpo, seguido
de uma parte de seu perispírito [...]'. [6] A Gênese, XI, 18: 'Por
um efeito contrário, essa união do perispírito com a matéria carnal, que
se efetuara sob a influência do princípio vital do embrião, quando este
princípio deixa de agir, em conseqüência da desorganização do corpo,
que conduz à morte, essa união, que era mantida apenas por uma força
atuante, se desfaz quando esta força deixa de agir. Então, da mesma
forma como havia se unido, o perispírito se desprende, molécula por
molécula, e o espírito é restituído à liberdade. 'Assim, não é a partida do espírito que causa a morte do corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do espírito'. [7]
O Livro dos Espíritos, 257. Obs.: Na sequência, o mestre chegou a
sustentar que seria o próprio perispírito 'o princípio da vida
orgânica'; entretanto, em A Gênese, XI, 18, Kardec deixa claro que a
união intramolecular entre perispírito e corpo só ocorre 'sob a
influência do princípio vital do embrião'. Kardec, aliás, já dissera que
o espírito, mediante seu perispírito, 'transmite aos órgãos, não a vida
vegetativa, mas os movimentos que exprimem a sua vontade'. (Revista
Espírita. Dez/1862. Estudos sobre os possessos de Morzine. 3.ª ed.,
F.E.B., 2007, p. 489.) [8] O Livro dos Médiuns, 55. A Gênese, XIV, 22. [9] O Livro dos Espíritos, 257. [10] A Gênese, I, 39. [11]
Obras Póstumas. Caráter e conseqüências religiosas das manifestações
dos espíritos. § I - O perispírito como princípio das manifestações; n.
12. [12] Kardec. O Livro dos Espíritos, 257. [13] Kardec. A Gênese, XIV, 8. [14] Espírito São Luís, O Evangelho Segundo o Espiritismo, IV, 24. [15] Cf. Sobre André Luiz. 3.10. Esferas Ovóides e Segunda Morte. [16] Obras Póstumas. A Morte Espiritual. 32.ª ed., F.E.B., 2002, p. 205. [17]
Ensinava o mestre: '[...] os caracteres materiais são tanto mais
persistentes quanto menos desmaterializados os espíritos, isto é, menos
elevados na hierarquia dos seres. Depurando-se, os traços da
materialidade desaparecem à medida que o pensamento se desprende da
matéria. Eis por que os espíritos inferiores, ainda presos a Terra, são,
no mundo invisível, mais ou menos o que eram em vida, com os mesmos
gostos e as mesmas inclinações'. (Revista Espírita. Jun/1863.
Considerações Sobre o Espírito Batedor de Carcassonne. 3.ª ed., F.E.B.,
2007, p. 261/62.) [18] O Livro dos Médiuns, 55. [19] A Gênese, I,
39. Léon Denis Gráfica e Editora 2008. Obs.: Se Kardec empregou o
tratamento católico romano 'saint Paul', não há razão para que seja
omitido por simples tradutores.
Retirado de Kardec Online - Fórum de Reunião Mundial sobre Temas Espíritas e Espiritualistas
(Sociedade Espírita de Paris. Médium, senhorita A. C.)
Publicado na Revista Espírita – Jornal de Estudos Psiclógicos –
7º ano – Nº 1 – Janeiro de 1864
1ª Edição – 1995 – Instituto de Difusão Espírita
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I – Limites da reencarnação.
A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito; mas
do momento em que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e
anular os efeitos de sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem
mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é
necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo
chegado a manejar esse instrumento à sua maneira, a lhe imprimir a sua
vontade, o trabalho está realizado. É-lhe preciso, então, um outro campo
para a sua caminhada, para o seu adiantamento no infinito; lhe é
preciso um outro círculo de estudos onde a matéria grosseira das esferas
inferiores seja desconhecida. Tendo sobre a Terra, ou em globos
análogos, depurado e experimentado suas sensações, está maduro para a
vida espiritual e seus estudos. Tendo se elevado acima de todas as
sensações corpóreas, não tem mais nenhum desses desejos ou necessidades
inerentes à corporeidade: ele é Espírito e vive pelas sensações
espirituais que são infinitamente mais deliciosas do que as mais
agradáveis sensações corpóreas.
II – A reencarnação e as aspirações do homem.
As aspirações da alma ocasionam a sua realização, e esta realização
se cumpre na reencarnação enquanto o Espírito está no trabalho material;
eu me explico. Tomemos o Espírito em seu início na carreira humana;
estúpido e bruto, sente, no entanto, a centelha divina nele, uma vez que
adora um Deus, que ele materializa segundo a sua materialidade. Nesse
ser, ainda vizinho do animal, há uma aspiração instintiva, quase
inconsciente, rumo a um estado menos inferior. Começa por desejar
satisfazer seus apetites materiais, e inveja aqueles que vê num estado
melhor do que o seu; também, numa encarnação seguinte, ele mesmo
escolhe, ou antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado; e sempre,
em cada uma de suas existências, deseja uma melhoria material; não se
achando jamais feliz, quer sempre subir, porque a aspiração à felicidade
é a grande alavanca do progresso.
À medida que suas sensações corpóreas se tornam maiores, mais
refinadas, suas sensações espirituais despertam e crescem também. Então o
trabalho moral começa, e a depuração da alma se une à aspiração do
corpo para chegar ao estado superior.
Esse estado de igualdade das aspirações materiais e espirituais não é
de longa duração; logo o Espírito se eleva acima da matéria, e suas
sensações não podem ser satisfeitas por ela; é-lhe preciso mais; lhe é
preciso o melhor; mas aí o corpo, tendo sido levado à sua perfeição
sensitiva, não pode seguir o Espírito, que então o domina e dele se
desliga cada vez mais, como um instrumento inútil. Volta todos os seus
desejos, todas as suas aspirações, para um estado superior; sente que as
necessidades corpóreas, que lhe eram um objeto de felicidade em suas
satisfações, não são mais do que uma tortura, um rebaixamento, do que
uma triste necessidade da qual aspira se libertar para gozar, sem
entraves, de todas as felicidades espirituais que ele pressente.
III – Ação dos fluidos na reencarnação.
Sendo os fluidos os agentes que colocam em movimento o nosso aparelho
corpóreo, são eles também que são os elementos de nossas aspirações,
porque há fluidos corpóreos e fluidos espirituais, que todos tendem a se
elevarem e se unirem aos fluidos da mesma natureza. Esses fluidos
compõem o corpo espiritual do Espírito que, no estado encarnado, age por
eles sobre a máquina humana que está encarregado de aperfeiçoar, porque
tudo é trabalho na criação, tudo concorre para o adiantamento geral.
O Espírito tem seu livre arbítrio, e procura sempre o que lhe é
agradável e o satisfaz. Se é um Espírito inferior e material, procura
suas satisfações na materialidade, e então dará um impulso aos seus
fluidos corpóreos que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e a se
elevar materialmente; portanto, as aspirações desse encarnado são
materiais, e, retornado ao estado de Espírito, procurará uma nova
encarnação onde satisfará as suas necessidades e seus desejos materiais;
porque, notai bem, a aspiração corpórea não pode pedir, como
realização, senão uma nova corporeidade, ao passo que a aspiração
espiritual não se prende senão às sensações do Espírito. Ela será
solicitada por seus fluidos que deixou se materializarem; e como no ato
da reencarnação os fluidos agem para atrair o Espírito ao corpo que foi
formado, houve, pois, atração e união dos fluidos, a reencarnação se
opera em condições que darão satisfação às aspirações de sua existência
precedente.
Ocorre o mesmo com os fluidos espirituais com os fluidos materiais,
se são eles que dominam; mas então, quando o espiritual se sobrepôs
sobre o material, o Espírito, que julga diferentemente, escolhe ou é
atraído por simpatias diferentes; como lhe é necessária a depuração, e
que não é senão pelo trabalho que a alcança, as encarnações escolhidas
são mais penosas para ele, porque, depois de haver dado a supremacia à
matéria e aos seus fluidos, lhe é necessário constrangê-la, lutar com
ela e dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas e que parecem,
frequentemente, tão injustas, infligidas a Espíritos bons e
inteligentes. Aqueles fazem sua última etapa corpórea e entram, saindo
deste mundo, nas esferas superiores onde suas aspirações superiores
acharão a sua realização.
IV – As afeições terrestres e a reencarnação.
O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do
encarnado que ama, porque em presença dessa infinidade de existências,
produzindo cada uma delas novos laços, pergunta-se com medo o que se
tornam as afeições particulares, e se elas não se fundem num único amor
geral, o que destruiria a persistência da afeição individual.
Pergunta-se se essa afeição individual não é somente um meio de
adiantamento, e então o desencorajamento se insinua em sua alma, porque a
verdadeira afeição sente a necessidade de um amor eterno, sentindo que
não se deixará jamais de amar. O pensamento de milhares dessas afeições
idênticas lhe parece uma impossibilidade, mesmo admitindo faculdades
maiores para o amor.
O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem tomar partido
por um sistema antes que por um outro, se encontra arrastado para a
reencarnação pela justiça que decorre do progresso e do adiantamento do
Espírito em cada nova existência; mas quando o estuda do ponto de vista
das afeições do coração, duvida e se atemoriza apesar dele. Não podendo
colocar de acordo esses dois sentimentos, se diz que ali ainda tem um
véu a levantar, e seu pensamento nesse trabalho atrai as luzes dos
Espíritos para concordar seu coração e sua razão.
Eu disse precedentemente: a encarnação se detém lá onde a
materialidade é anulada. Mostrei como o progresso material havia de
início refinado as sensações corpóreas do Espírito encarnado; como o
progresso espiritual, tendo vindo em seguida, havia contrabalançado a
influência da matéria, depois a havia, enfim, subordinado à sua vontade,
e, que chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não
tinha mais razão de ser, o trabalho estando realizado.
Examinemos agora a questão da afeição sob esses dois aspectos, material e espiritual.
De início, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica
atraindo dois seres um para o outro, e unindo-os num mesmo sentimento.
Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, uma vez que os
fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista
eternamente, é preciso que ela seja espiritual e desinteressada; é
preciso a abnegação, o devotamento, e que nenhum sentimento pessoal seja
o móvel desse arrastamento simpático. Do momento em que haja, nesse
sentimento, personalidade, há materialidade; ora, nenhuma afeição
material persiste nos domínios do Espírito. Portanto, toda afeição que
não seja senão o resultado do instinto animal ou do egoísmo, se destrói à
morte terrestre. Também, que seres supostamente amados são esquecidos
depois de pouco tempo de separação! Vós os haveis amado por vós e não
por eles, aqueles que não são mais, uma vez que os esquecestes e
substituístes; procurastes a consolação no esquecimento; eles se vos
tornam indiferentes, porque não tendes mais amor.
Contemplai a Humanidade, e vede o quanto há pouca afeição verdadeira
sobre a Terra! Também não se deve tanto se amedrontar com a
multiplicidade das afeições contraídas nesse mundo; elas são em minoria
relativa, mas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob
todas as formas, sobre a Terra, de início, depois continuam no estado de
Espírito numa amizade ou um amor inalterável, que não faz senão crescer
em se elevando mais.
Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.
A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual,
que, agindo sozinha, determina a simpatia. Quando ocorre assim, é a alma
que ama a alma, e essa afeição não toma força senão pela manifestação
dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se
procuram e tendem sempre a se aproximarem; seus fluidos são atrativos.
Que estejam num mesmo globo, serão levados um para o outro; que estejam
separados pela morte terrestre, seus pensamentos se unirão na lembrança,
e a união se fará na liberdade do sono; e quando a hora de uma nova
encarnação soar para um deles, procurará se aproximar de seu amigo
entrando nisso que é sua filiação material, e fá-lo-á com tanto mais
facilidade quanto seus fluidos perispirituais materiais encontrarem
afinidade na matéria corpórea dos encarnados que deram a luz ao novo
ser. Dai um novo aumento da afeição, uma nova manifestação do amor. Tal
Espírito amigo vos amou como pai, vos amará como filho, como irmão ou
como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em
encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, vosso
trabalho estando feito, vivereis da vida do Espírito.
Mas essa verdadeira afeição não é comum sobre a Terra, e a matéria
vem retardá-la, anulando-lhe os efeitos, segundo ela domine o Espírito. A
verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual, tudo o que se
relaciona com a matéria não é de sua natureza, nem concorre em nada para
a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica no estado
latente até que o fluido espiritual se sobrepondo, o progresso simpático
se efetue de novo. Para me resumir, a afeição espiritual é a única
resistência no domínio do Espírito; sobre a Terra e nas esferas de
trabalho corpóreo, ela concorre para o adiantamento moral do Espírito
encarnado que, sob a influência simpática, cumpre milagres de abnegação e
de devotamento pelos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a
satisfação completa de todas as aspirações, e a maior felicidade que o
Espírito possa sentir.
V – O progresso entravado pela reencarnação indefinida.
Até aqui a reencarnação foi admitida de um modo muito prolongado; não
se pensou senão nessa prolongação da corporeidade, embora cada vez
menos material, ocasionando, no entanto, necessidades que deviam
entravar o vôo do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da
geração nos mundos superiores, atribui-se ao Espírito encarnado
necessidades corpóreas, dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais que
constrangem e detêm o impulso dos estudos espirituais. Que necessidade
desses entraves? O Espírito não pode gozar as felicidades do amor sem
sofrer as enfermidades corpóreas? Sobre a própria Terra, esse sentimento
existe por si mesmo, independente da parte material de nosso ser; os
exemplos, embora sejam raros, estão aí, suficientes para provar que deve
ser sentido mais geralmente entre os seres mais espiritualizados.
A reencarnação ocasiona a união dos corpos, o amor puro somente a
união das almas. Os Espíritos se unem segundo suas afeições começadas
nos mundos inferiores, e trabalham juntos para o seu adiantamento
espiritual. Eles têm uma organização fluídica muito diferente daquela
que era a consequência de seu aparelho corpóreo, e seus trabalhos se
exercem sobre os fluidos e não sobre os objetos materiais. Vão em
esferas que, também elas, cumpriram seu período material, em esferas
cujo trabalho humano levou a desmaterialização, e que, chegados ao
apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação
superior, que os torna próprios para sofrer outras modificações, mas num
sentido todo fluídico.
Compreendeis, desde hoje a força imensa do fluido, força que não
podeis senão constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos
pesado do que aquele em que estais, teríeis outros meios de ver, de
tocar, de trabalhar esse fluido que é o grande agente da vida universal.
Porque, pois, o Espírito teria ainda necessidade de um corpo que está
fora das apreciações corpóreas? Dir-me-eis que esse corpo está em
relação com os novos trabalhos que o Espírito terá que cumprir; mas uma
vez que esses trabalhos serão todo fluídicos e espirituais nas esferas
superiores, por que dar-lhe o embaraço das necessidades corpóreas,
porque a reencarnação ocasiona sempre, como eu o disse, geração e
alimentação, quer dizer, necessidade da matéria a satisfazer, e, em
compensação, entraves para o Espírito. Compreendeis que o Espírito deve
ser livre em seu vôo para o infinito; compreendeis que tendo saído dos
cueiros da matéria, ele aspira, como a criança, a caminhar e correr sem
ser contido pelas andadeiras maternas, e que essas primeiras
necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a
criança crescida, e insuportáveis ao adolescente. Não desejeis, pois,
permanecer na infância; considerai-vos como alunos fazendo seus últimos
estudos escolares, e se dispondo a entrar no mundo, e a ter nele seu
lugar, e a começar os trabalhos de um outro gênero que seus estudos
preliminares terão facilitado.
O Espiritismo é a alavanca que levantará de um pulo ao estado
espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendê-lo e pô-lo em
prática, se ligará em dominar a matéria, a dela se tornar senhor, a
aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode se colocar em estado de
passar, deixando este mundo, ao estado espiritual sem retorno terrestre;
somente, lhe é preciso a fé ou vontade ativa. O Espiritismo a dá a
todos aqueles que querem compreendê-lo em seu sentido moralizador.
Um espírito protetor do médium.
Nota.
- Esta comunicação não leva outra assinatura senão esta acima, o que
prova que não há necessidade de haver tido um nome célebre sobre a Terra
para ditar boas coisas.
Resumo:
A vida do Espírito, considerada do ponto de vista do progresso, apresenta três períodos principais, a saber:
1º- O período material onde a influência da matéria domina a do
Espírito; é o estado dos homens dados às paixões brutais e carnais, à
sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrestres, que são
apegados aos bens temporais, ou refratários às ideias espiritualistas.
2º – O período de equilíbrio; aquele em que as influências da matéria
e do Espírito se exercem simultaneamente; onde o homem, embora
submetido às necessidades materiais, pressente e compreende o estado
espiritual; onde ele trabalha para sair do estado corpóreo.
Nesses dois períodos o Espírito está submetido à reencarnação, que se cumpre nos mundos inferiores e medianos.
3º – O período espiritual aquele em que o Espírito, tendo dominado
completamente a matéria, não tem mais necessidade da encarnação nem do
trabalho material, seu trabalho é todo espiritual; é o estado dos
Espíritos nos mundos superiores.
A facilidade com a qual certas pessoas aceitam as ideias espíritas,
das quais parecem ter a intuição, indica que pertencem ao segundo
período; mas entre estas e as outras há uma multidão de graus que o
Espírito atravessa tanto mais rapidamente quanto mais próximo estiver do
período espiritual; é assim que, de um mundo material como a Terra, ele
pode ir habitar um mundo superior, como Júpiter, por exemplo, se seu
adiantamento moral e espiritual for suficiente para dispensá-lo de
passar pelos graus intermediários. Depende, pois, do homem deixar a
Terra sem retorno, como mundo de expiação e de prova para ele, ou não
retornar a ela senão em missão.