Eternidade

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Terra espera; Arai!


A Terra Espera; Arai!
José Carlos da Silva Silveira


Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!
Erasto



No capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec - Os Trabalhadores da Última Hora -, destacamos uma mensagem, assinada pelo Espírito Erasto, de alto significado para o Movimento Espírita. Trata-se do texto intitulado Missão dos espíritas, que trazemos a estas páginas, para reflexão.

A mensagem em referência traça o programa a ser desenvolvido pelos espíritas, com vistas à divulgação do Espiritismo, ressaltando o momento presente de transformação moral do Planeta como oportunidade inigualável para a realização dessa tarefa. Erasto sintetiza-o usando de magnífica imagem, que expressa vibrante convocação: Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!

Esse programa de ação se desdobra em três aspectos. O primeiro deles se patenteia na expressão o arado está pronto.

O arado é aparelho usado para arar a terra, a fim de prepará-la para receber a semente. Em nossa tarefa de divulgação da Doutrina Espírita, o arado pode ser entendido como os instrumentos que possuímos, ou detemos, para agir. São os nossos conhecimentos, as nossas experiências, as nossas disponibilidades, às nossas aquisições intelectuais e morais, as nossas possibilidades materiais e sociais, enfim, todos os talentos de que dispomos, convidando-nos, incessantemente a servir.

O arado está pronto. Assim é porque a Doutrina Espírita vem, ao longo do tempo, educando-nos para compreender a vida sob um novo prisma: o do espírito. Sob esse enfoque, possuímos já condições de usar os nossos talentos tendo em vista o bem geral e não apenas os nossos interesses pessoais, enquadrando-nos, assim, dentro dos parâmetros definidos por Karde para o verdadeiro espírita - aquele que se reconhece pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Dessa forma, para a ação que nos compete, falta-nos tão-somente um elemento: o exercício da nossa vontade. Daí apressar-se Erasto a concitar: Mãos à obra!, recordando Jesus, quando afirmou: Ni8nguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus. (Kycasm 9:62.)

Com efeito, é preciso pôr mãos à obra:

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.

Não vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. (Erasto, Missão dos Espíritas.)

O segundo aspecto do programa vem descrito pela expressão a terra espera.

De fato, a terra espera a semente, pois é nela que esta deve germinar. Consoante ensina Jesus, na Parábola do semeador, mesmo a terra improdutiva pode receber a semente. Compete, porém, ao agricultor, quando necessário, preparar previamente a terra, para que a semente aí lançada tenha condições de germinar e dar frutos. De igual sorte, a Humanidade anseia por ensinamentos que a despertem ou estimulem para o progresso moral. Principalmente nos dias atuais, em que o Planeta está prestes a entrar em novo estágio evolutivo, vê-se uma carência generalizada de espiritualidade. Os homens desejam novos rumos para a sua vida, embora muitas vezes não saibam o que fazer para descobri-los. Assemelham-se, em tudo, à terra, segundo descrito na Parábola do semeador, encontram-se na expectativa de algo novo que os possa guiar por caminhos menos íngremes na busca de horizontes espirituais mais amplos; entretanto, enfrentam dificuldades para a recepção dos ensinos superiores, por não serem, ainda, em grande parte, maduros para compreendê-los. Como proceder, então, para preparar a terra dos corações humanos de modo que se torne, de alguma forma, receptiva aos ensinos do Espiritismo? Erasto aponta o caminho a seguir, descerrando-nos o terceiro aspecto do seu programa de ação: "arai!". A propósito, explica:

Ide e pregai. (...) Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!


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A fé é a virtude que desloca montanhas (...). Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda (...).

Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé.

Assim, é preciso [i]ir e pregar,[/i] não medindo esforços para que a Doutrina Espírita seja devidamente compreendida por todos.

A tarefa não é fácil. Mas, se o arado está pronto, e se a terra espera, o que nos compete é arar, pois, só assim, colheremos:

Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no prato e celeiros guarnecidos. (Emmanuel, Pão Nosso, ed. FEB, cap. 3)

Torna-se necessário, contudo, tomarmos as devidas precauções, a fim de que o trabalho atinja dos resultados propostos pelos Espíritos Superiores. Nesse contexto, urge atentar para o real sentido das palavras de Erasto, quando comanda: Ide e pregai.

Em verdade, esse chamamento não se circunscreve à tarefa da divulgação do Espiritismo por meio da palavra, sob quaisquer das suas modalidades. Esse ponto Erasto apresenta, com extrema nitidez, na parte final da sua mensagem, in verbis:

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, o vosso caminho e segui a verdade.


Pergunta. - Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?

Resposta. - Reconhecê-lo-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-lo-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-lo-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-lo-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei, os que seguem Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição.


Vê-se, claramente, nas palavras acima reproduzidas, que a exemplificação dos ensinos espíritas é a real garantia da correta divulgação do Espiritismo. E isso se torna perfeitamente lógico quando se compreende o valor da força do exemplo no processo de atração dos Espíritos, em quaisquer graus evolutivos em que estagiem.

Isto posto, poderíamos, com base na mensagem sob estudo, relacionar algumas qualidades morais necessárias aos espíritas para o bom êxito do seu trabalho na divulgação do Espiritismo. São as seguintes: ter fé, ensinar e praticar a caridade; consolar os aflitos; amar o próximo; ter perseverança, abnegação e desinteresse pessoal; ser capaz de conquistar para o bem.

Evidentemente, a aquisição dessas qualidades não é trabalho de um dia, constituindo-se, de fato, em meta sublime a atingir, em nossas lutas evolutivas. Nada obstante, não se pode negar que, à medida que as vamos adquirindo, mais se nos enriquece a ação doutrinária, e mais se amplia a nossa convicção de que não estamos incluídos dentre aqueles que, chamados para o Espiritismo (...) se transviaram.

Por outro lado, a busca das qualidades em apreço fortalecerá a união dos espíritas, ampliando, pelos esforços de uma ação conjunta, as possibilidades de expansão do Espiritismo. É o que deflui das seguintes palavras do Espírito de Verdade, constantes na mensagem Os obreiros do Senhor, também inserida no capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo:


Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: "Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra", porquanto o Senhor lhes dirá: "Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra."


A precariedade, por ora, das nossas qualidades morais diante do grave compromisso assumido junto à Doutrina Espírita não afasta a possibilidade de sentirmos, desde já, a alegria e a paz advindas do cumprimento do nosso dever. Nesse sentido, encontramos belíssima página de Emmanuel - intitulada No Paraíso -, inserida na obra Pão Nosso, cap. 81. Na referida página, o abnegado benfeitor espiritual situa todo aquele que desperta para as verdades do espírito na posição do chamado bom ladrão, a quem Jesus promete a entrada imediata no paraíso. São dele as palavras seguintes:


Podemos apresentar-nos com volumosa bagagem de débitos do passado escuro, ante a verdade; mas desde o instante em que nos rendemos aos desígnios do Senhor, aceitando sinceramente o dever da própria regeneração, avançamos para região espiritual diferente, onde tudo jugo é suave e todo fardo é leve. Chegado a essa altura, o espírito endividado não permanecerá em falsa atitude beatífica, reconhecendo, acima de tudo, que, com Jesus, o sofrimento é retificação e as cruzes são claridades imortais.


Ainda, para finalizar esta reflexão em torno das considerações de Erasto, a respeito da missão dos espíritas, trazemos a lume outra instrução de Emmanuel bastante significativa para o entendimento deste assunto. Trata-se da mensagem Crê e Segue, contida também no livro Pão Nosso, cap. 180. Com toda a delicadeza do seu espírito de escol, leciona Emmanuel:


Se abraçaste, meu amigo, a tarefa espírita-cristã, em nome da fé sublimada, sedento de vida superior, recorda que o Mestre te enviou o coração renovado ao vasto campo do mundo para servi-Lo.

Não só ensinarás o bom caminho. Agirás de acordo com os princípios elevados que apregoas.

Ditarás diretrizes nobres para os outros, contudo, marcharás dentro delas, por tua vez.

Proclamarás a necessidade de bom ânimo, mas seguindo, estrada a fora, semeando alegrias e bênçãos, ainda mesmo quando incompreendido de todos.


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Ora e vigia.
Ama e espera.
Serve e renuncia.
Se não te dispões a aproveitar a lição do Mestre Divino, afeiçoando a própria vida aos seus ensinamentos a tua fé terá sido vã.

Ante o exposto, forçoso é convir na permanência do cumprimento do programa de ação delineado por Erasto, e que se alicerça na exemplificação da vivência espírita. Arai! - exorta o benfeitor espiritual -, porque a terra espera. Urge fazê-lo sem detença, porque o arado está pronto.

É pela perseverança no bem que atrairemos os nossos irmãos em humanidade para a excelência da proposta de vida que o Espiritismo descerra, preparando os seus corações para a germinação dos ensinos superiores, que frutificarão em alegria e paz, proporcionando, para eles e para nós, a colheita farta da felicidade sem mescla.


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Extraído da Revista Reformador   nº 2072, novembro/2001

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