ESE,
Capítulo IV, 25 e 26
24
de maio de 2005
Introdução
No
item 25 do Capítulo IV de O
Evangelho Segundo o Espiritismo,
Kardec pergunta aos Espíritos sobre a necessidade da
encarnação e, no item 26, comenta sobre
a resposta que eles dão. É o assunto tratado
nestes itens que iremos hoje estudar.
No
trecho em questão, veremos que Kardec perguntou sobre a
encarnação e os
Espíritos responderam como se ele tivesse perguntado sobre a
reencarnação, uma
vez que se prenderam à intenção e
não à letra da pergunta. Para o nosso
objetivo, no entanto, acreditamos ser necessário fazer clara
a distinção entre
o que seja a necessidade da encarnação
e a da
reencarnação,
posto que ambas são
necessárias e por diferentes razões.
Encarnar
é viver em um corpo físico, não
implicando em nenhuma conotação adicional com
respeito à quantidade de vezes em que isso é
possível a um único Espírito.
Quando queremos saber porque necessitamos encarnar, nossa
dúvida
é quanto ao ser ou
não ser possível evoluir o tempo todo na
espiritualidade, sem jamais interagir
com a matéria bruta. Já, quando falamos em
reencarnar, estamos falando sobre a
necessidade do Espírito encarnar ou não mais de
uma vez. Tal questão está
relacionada ao percurso necessário para que possamos evoluir
e a verificarmos
se uma única vida é tempo bastante para tal
intento. Sabendo, agora, do que
vamos tratar, vamos, inicialmente, falar da necessidade da
encarnação para,
somente depois, tratarmos da necessidade da
reencarnação.
A
Necessidade da
Encarnação
Não
poucas vezes algum irmão nos pergunta sobre o porque de
precisarmos encarnar,
uma vez que, segundo afirma, com base no relato dos autores
espirituais, tudo o
que se encontra na Terra também se encontra no plano
espiritual. Lembram os
irmãos que assim pensam que, no plano espiritual, existem
lares, famílias,
cidades e comunidades várias, amigos e inimigos, trabalho e
repouso, veículos,
tudo, enfim, de que alguém necessita para ter uma vida igual
àquela que se
passa na Terra, sendo possível lá, como
cá, praticar a reforma íntima e evoluir
pelo estudo sério e pelo trabalho caritativo dedicado e
amoroso.
A
resposta a tal questionamento é justamente o tema da
primeira parte deste
estudo, isto é, saber qual a
real necessidade da
encarnação, qual a real
necessidade de vivermos em um corpo material e de interagirmos com a
matéria
bruta para podermos evoluir até a
perfeição.
Se
lermos com atenção a resposta que São
Luiz deu a Kardec no Item 25 de O
Evangelho Segundo o Espiritismo,
vermos que ela não satisfaz a curiosidade
de tais irmãos.
25.
É um
castigo a encarnação e somente os
Espíritos
culpados estão sujeitos a sofrê-la?
A
passagem dos Espíritos pela vida corporal é
necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma
ação material, os
desígnios cuja execução Deus lhes
confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto
que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o
desenvolvimento da
inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de
distribuir tudo igualmente
por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos
o mesmo ponto de
partida, a mesma aptidão, as mesmas
obrigações a cumprir e a mesma liberdade de
proceder. Qualquer privilégio seria uma
preferência, uma injustiça. Mas, a
encarnação para todos os Espíritos,
é apenas um estado transitório. É uma
tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como
primeira experiência do
uso que farão do livre arbítrio. Os que
desempenham com zelo essa tarefa
transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus
da iniciação e
mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao
contrário, usam mal da
liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a
obstinação
que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da
reencarnação e
é quando se torna um castigo. - S. Luís. (Paris,
1859.)
Ora,
por que – perguntariam eles, provavelmente insatisfeitos com
a resposta de São
Luís – os desígnios de Deus
hão de requerer ação no plano
material? Se, tanto a
inteligência quanto a bondade, podem ser desenvolvidos na
espiritualidade, qual
a necessidade de se encarnar, qual a necessidade de se agir no plano
material?
Na espiritualidade – continuariam eles - não
estaríamos, também, exercendo, a
todo instante, o livre-arbítrio e nos sujeitando todo tempo
à lei da
causalidade e às demais leis de Deus? Não nos
é possível, lá, tanto quanto
cá –
concluiriam - fazermos uso de nosso livre-arbítrio e de
nossa força de vontade
tanto para o bem quanto para o mal?
Tentando
encaminhar essa questão, vejamos o que Kardec perguntou aos
Espíritos, no
desdobramento “a” da Questão 175 de O
Livro dos Espíritos:
175.
Haverá
alguma
vantagem em voltar-se a habitar a Terra?
“Nenhuma
vantagem particular, a menos que seja em
missão, caso em que se progride aí como em
qualquer planeta.”
a)
Não se seria
mais feliz
permanecendo na condição de Espírito?
“Não,
não; estacionar-se-ia
e o que se quer é
caminhar para Deus.”
Está
aí uma afirmação que nos interessa.
Que estarão querendo dizer os Espíritos, ao
afirmarem, de modo tão peremptório, que
permanecer na espiritualidade é o mesmo
que estacionar? O raciocínio de nossos irmãos nos
estava conduzindo à conclusão
contrária, não é mesmo?
Mais
adiante, ainda em O Livro dos
Espíritos, Kardec continua:
196.
Não
podendo os
Espíritos aperfeiçoar-se, a
não ser por meio das tribulações da
existência corpórea,
segue-se que a
vida material seja uma espécie de crisol ou de depurador,
por onde têm que
passar todos os seres do mundo espírita para
alcançarem a perfeição?
“Sim,
é exatamente isso. Eles se melhoram nessas
provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao
cabo de mais ou
menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem;
somente após muitas
encarnações ou depurações
sucessivas, atingem a finalidade para que tendem.”
Está
mais que claro, pela Codificação, tanto em O
Evangelho Segundo o Espiritismo
quanto em O Livro dos
Espíritos, que os
Espíritos só podem evoluir encarnados.
Foi o que disseram os Espíritos e o que Kardec entendeu e
aceitou. Mas, por que?
A
vasta obra de André Luiz, que nos veio pela
abençoada mediunidade de nosso
saudoso Chico, trouxe-nos preciosos ensinamentos de como as coisas se
passam no
mundo espiritual, ensinamentos esses, mais tarde, corroborados por
diversos
outros Espíritos, através de outros
médiuns. Vejamos se desse farto material,
aliado às lições que obtemos da
Codificação, tiramos algum elemento que falta
ao nosso raciocínio.
O
estudioso atento e que aprendeu que a
Doutrina é evolutiva,
aprende, por
exemplo, que nossa real identidade no mundo espiritual é
transparente, podendo
nossos inimigos de outras eras reconhecer-nos sem grande dificuldade,
ao
contrário do que ocorre quando estamos encarnados, onde uma
nova personalidade
nos esconde dos desafetos que nos queiram prejudicar. Fica sabendo,
também, que
não há dissimulação no
plano espiritual, sendo nossos pensamentos e
emoções
facilmente percebíveis por quem esteja em nossa faixa de
sintonia.
Qualquer
tentativa de nos reconciliarmos com alguém a quem tenhamos
prejudicado no
passado incorrerá em fracasso se estivermos no plano
espiritual, uma vez que
nosso medo da reação de nossos desafetos ou nossa
postura defensiva contra sua
possível vingança estarão sempre a nos
denunciar. Do mesmo modo que o cão
percebe se a pessoa perto dele está serena ou com medo,
amorosa ou agressiva,
reagindo conforme tal percepção, os
Espíritos desencarnados percebem as
emoções
e pensamentos uns dos outros e reagem de acordo com eles, de nada
valendo o
autocontrole com que qualquer um deles tente esconder o que sente ou o
que
pensa dos demais.
Impossibilitados
de nos reconciliar com nossos desafetos do passado e fazendo novos
desafetos a
todo instante pela impossibilidade de escondermos dos outros nossos
pensamentos
e emoções a respeito deles, já
não nos parece mais difícil entender porque
ficaríamos praticamente estacionados se
permanecêssemos indefinidamente no
plano espiritual. Podermos evoluir envolvidos em atividades caridosas
com o
apoio de Espíritos mais evoluídos, sem
dúvida. No entanto, somente
conseguiríamos ajudar os Espíritos sofredores
caso esses não nos conhecessem ou
caso, apesar de nos conhecerem, nada de mal tivesse jamais ocorrido
entre eles
e nós.
Por
outro lado, ao encarnarmos, nos é dada uma oportunidade toda
nova de recomeço.
Temos uma nova aparência, nada lembramos de nossas
vivências pretéritas e
possuímos domínio sobre o que falamos e sobre a
expressão que estampamos em
nosso rosto, sendo-nos possível dissimular pensamentos e
emoções. Nossos
Espíritos Protetores utilizam tal
situação para juntar, nas mesmas
famílias,
nas mesmas comunidades, Espíritos que necessitam de
reconciliação. Protegidos
uns dos outros pelo “disfarce” do corpo
físico, temos a oportunidade de travar
novas relações com todos. Se soubermos fazer uso
dessa possibilidade, com
sabedoria, não só não mais faremos
desafetos como iremos, pouco a pouco,
reparando nossos erros do passado e sublimando, em
relações de família equilibradas
e amorosas, o ódio dos inimigos figadais de outrora.
A
encarnação é, portanto, mais uma
benção que
recebemos da bondade divina. Toda
vida existente no universo deve ser respeitada como tal.
Porém, sabermos amar a
vida onde quer que ela se encontre pressupõe que saibamos
amar a nossa própria.
Aprendamos,
portanto, a amar e respeitar nosso corpo, tratando-o com cuidado e
atenção,
para que, saudável, ele seja o instrumento de nosso
progresso e dos demais
seres com quem nos relacionamos na vida. Afinal, o corpo
físico que ganhamos a
cada encarnação é
o templo onde, com
estudo e trabalho no bem, construiremos
o
reino dos céus que Jesus ensinou estar dentro de
nós.
A
Necessidade da Reencarnação
Agora que já
sabemos que é
necessário encarnar, viver em um corpo físico,
para evoluir, resta estudarmos o
porque de necessitarmos viver em um corpo físico mais de uma
vez. A pergunta
que ora se coloca, portanto, é: Qual
a Necessidade da Reencarnação?
Uma vez que acreditamos
serem as leis de Deus soberanamente
justas, somos forçados a
admitir que fomos
todos, sem exceção, criados no mesmo
estágio inicial, isto é, simples e
ignorantes, e dotados do mesmo potencial evolutivo, que nos
levará à perfeição.
Imaginar que um de
nós possa
ter sido criado sábio, belo e saudável e um
outro, deficiente mental, feio e
doente, que um possa ter sido criado caridoso e gentil e outro,
perverso e
violento, admitir tais possibilidades é negar
justiça nas leis divinas, o que
equivale a negar a própria divindade.
Dizemos isso com
segurança,
pois não pode Deus ser menos justo que o homem. Se, mesmo a
humanidade, ainda
tão atrasada, sabe ser justa nas
competições esportivas, separando cada
desporto em classes e categorias, de acordo com as habilidades
atingidas pelos
participantes, como poderíamos esperar de Deus menor
justiça, privilegiando a
uns e prejudicando a outros em uma disputa desigual?
Desse modo,
não há como
negar que somos todos criados iguais e temos todos o mesmo destino.
Resta uma
questão: será possível a um de
nós evoluir do estado de simplicidade e
ignorância completas ao de perfeição
moral e intelectual em uma só existência?
As evidencias obtidas
até
hoje pelos paleontólogos nos revelam que a
espécie humana surgiu, há,
aproximadamente, dois milhões e meio de anos, provavelmente
na África. Mesmo se
admitirmos, o que não corresponde à realidade,
que iniciamos nossa jornada no
reino hominal, o bom-senso e um simples raciocínio nos levam
a concluir pela
total impossibilidade de um ser humano, no estágio desse
homem primitivo, que
sequer o fogo sabia fazer, poder passar ao de um moderno
gênio da ciência,
capaz de desvendar os segredos do átomo, em uma
única existência, fosse ela de
50, 70, 100 ou mesmo 1000 anos.
Supor que aquele Homo
Habilis
viveu uma única vida é negar a premissa de que
todo ser humano é fadado à
perfeição. Nem necessitamos ir tão
longe no passado. Olhemos para nós mesmos:
quanto tempo nos falta para chegarmos ao estágio de um
Ghandi, de um Chico
Xavier ou de uma Madre Tereza? Com sinceridade, pode algum de
nós ser tão
ingênuo para achar que consegue chegar lá ainda
nesta vida? Não, para
evoluirmos, mesmo do estágio em que estamos neste
século XXI até à
perfeição
faltam milênios e esses milênios requerem a
pluralidade de existências.
O que
está na
origem de
nossa necessidade de reencarnar, portanto, é a Lei da
Evolução. Somos todos
criados simples e ignorantes e temos todos o mesmo potencial de
evolução, tanto
em bondade quanto em sabedoria. E, ao fim da jornada seremos todos
perfeitos.
Não dizemos isso por pura especulação,
nem, tampouco, baseados na Codificação.
Quem nos disse que, um dia, seremos perfeitos foi Jesus, ao nos exortar:
“Portanto,
sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que
está
no céu". (Mt
5,48)
Perfeição,
a Nossa Meta Final
Tem-se
escutado, quando
em
vez, expositores falando em uma tal
“perfeição relativa”.
Isso
nos preocupa
porque pode levar alguém a conclusões erradas.
Desse modo, vamos refletir um
pouco sobre o relativo e o absoluto.
O
mecânico de
automóveis que
não erra nenhum diagnóstico e que repara
peças e sistemas defeituosos de modo a
que o veículo volte a funcionar como se novo fosse, pode ser
chamado de um
mecânico perfeito. O engenheiro civil que não erra
nenhum cálculo, não esquece
nenhuma especificação e tudo faz em conformidade
com os melhores critérios de
projeto, pode ser entendido como um engenheiro civil perfeito. O aluno
que
domina todas as matérias do Ensino Fundamental e ao qual se
pode fazer qualquer
pergunta desse ciclo acadêmico sem que ele erre a resposta,
pode ser chamado de
aluno perfeito do Ensino Fundamental. No entanto, se pedirmos ao
mecânico de
automóveis perfeito que ele conserte um avião, ao
engenheiro civil perfeito que
ele projete um circuito eletrônico ou ao aluno perfeito do
Ensino Fundamental
que nos responda uma questão do Ensino Médio,
todos eles fracassarão na
resposta à nossa solicitação. Fica
claro, portanto, que cada um deles é
perfeito em relação ao conhecimento que estudou.
Isso é o que se chama de
“perfeição relativa”.
Um Espírito
que tenha
aprendido tudo o que pode ser aprendido junto à humanidade
terrestre, pode ser
dito perfeito relativamente à humanidade terrestre. Se ele
tiver aprendido tudo
o que é possível aprender nos diversos mundos do
nosso sistema solar, ele
poderá ser dito perfeito relativamente ao sistema solar.
É assim que iremos
evoluir, superando cada o estágio associado a cada mundo
quando pensarmos e
agirmos com a perfeição relativa a cada um.
Não podemos
perder de vista,
no entanto, por mais que saibamos que, a cada estágio que
superarmos, nos
faremos perfeitos em relação a ele, que a nossa
meta final é a perfeição
absoluta. Atingiremos a perfeição absoluta quando
nada mais houver na criação
que não saibamos, quando tudo o que pensarmos ou fizermos em
qualquer parte de
qualquer universo esteja em exata concordância com as leis de
Deus. Nesse
estágio final, o relativo deixa de existir, posto que algo
que seja relativo a
tudo é absoluto para tudo.
Essa
perfeição absoluta
à qual um dia
chegaremos
é a perfeição
possível a uma criatura. Como Jesus nos
ensinou a ver Deus como Pai, de natureza, portanto, semelhante
à nossa, fica
claro o que o Mestre quis dizer quando nos exortou: “...sejam
perfeitos como é perfeito o Pai
de vocês que está no céu.”
Entendendo
Deus como a Inteligência
suprema, causa primária
de
todas as coisas, no entanto, facilmente deprenderemos que
não se pode comparar
uma criatura com Deus. O que podemos ler sobre os espíritos
puros na Escala
Espírita (LE, Pare 2a.
Cap. I, 113) diz exatamente o que acabamos de
inferir: “...
Tendo
alcançado a soma de perfeição de que
é
suscetível a criatura, ...”.
Seremos
perfeitos ao final da jornada. Não ‘perfeitos
relativos”, mas, simplesmente,
“perfeitos”. Como nos sabemos criaturas,
não há margem para confusão.
Como
Age a
Reencarnação
Para avançar
na senda
evolutiva, temos que aprender, para aprender, temos que vivenciar
experiências
variadas, para vivenciar experiências variadas, temos que nos
relacionar com a
diversidade de outras criaturas que povoam o universo.
Temos que nascer ricos
para
aprendermos a usar o dinheiro visando o progresso da humanidade e
não apenas o
nosso, pobres para aprendermos que nos é possível
ser úteis aos nossos irmãos,
mesmo sem dispormos de recursos materiais, bonitos para sabermos como
utilizar
a beleza para influenciar os outros para o bem, com nosso exemplo de
humildade
e trabalho, feios para que saibam que a feiúra
não é obstáculo às nobres
ações,
saudáveis para sermos motores das grandes
realizações, doentes para mostrarmos,
aos que se sentem fracos e incapazes, o quanto pode aquele que tem
força de
vontade. Se reencarnarmos em uma sociedade tranqüila, teremos
muito a aprender,
não mais nem menos, porém, que se nascermos em
uma sociedade em guerra ou em
outra situação calamitosa.
As
características de cada
reencarnação que temos, sejam elas raciais,
familiares, econômicas, sociais ou
religiosas, são sempre as mais
adequadas ao
estágio de evolução no qual nos
encontramos, tendo sido cuidadosamente escolhidas pelos nossos
protetores e
guias espirituais visando nosso melhor aproveitamento.
Os Espíritos
evoluem
através de sucessivas vidas na carne e, por força
da Lei da Causalidade, todas
as ações cometidas por eles contrárias
às Leis da Natureza farão com que
vivenciem, em momentos posteriores, situações
onde terão a oportunidade de
reparar seus erros. São as chamadas
expiações. Essas
oportunidades são
incontáveis, de modo a respeitar tanto a Lei da Causalidade
quanto o Livre
Arbítrio. Desse modo, se uma situação
de vida destinada a oferecer ao Espírito
uma oportunidade nova de reparar um erro não é
aproveitada, surgirá outra,
outra e outra mais, em sucessão interminável
até que a diretriz da Lei seja
cumprida e a harmonia seja estabelecida.
Outro
tipo de
experiência
que os Espíritos vivenciam durante sua
evolução são as chamadas provas, isto
é,
situações não antes vividas onde eles
terão que aplicar a sabedoria e a bondade
adquiridas até então para mostrar estarem em
condição de aproveitar as
lições
nelas contidas.
Sejam provas ou
expiações,
as experiências que vivemos são, antes de tudo,
lições que temos
que aprender.
Sempre que um método utilizado não funcionou,
novo método de ensino é aplicado
até que as lições sejam aprendidas.
Não existe pecado, não existe
punição. Tal
percepção das leis de Deus é um
resquício dos ensinamentos que tivemos quando
seguíamos outras religiões. O que existe
é aprendizado contínuo nos caminhos da
evolução incessante.
A
Rede Escolar de Deus
O
Mestre dos Mestres costumava utilizar-se de acontecimentos do
dia-a-dia,
comportamentos sociais e personagens conhecidos para, por meio de
paralelos ou
alegorias, tornar a realidade espiritual compreensível ao
povo.
Utilizando
o mesmo método que Jesus usava, vamos aprofundar nosso
entendimento da
necessidade da reencarnação, pensando na
instituição escolar humana, como fez o
Codificador.
Antes
de realizar nosso intento, porém, vamos, primeiramente,
pinçar algumas questões
de O Livro dos
Espíritos, que nos
ajudarão a montar nosso paralelo.
172.
As nossas diversas existências corporais se verificam todas
na Terra?
Não;
vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não
são as primeiras,
nem as
últimas; são, porém, das mais
materiais e das mais distantes da perfeição.
177.
Para chegar à perfeição e à
suprema felicidade, destino final de todos os
homens, tem o Espírito que passar pela fieira de todos os
mundos existentes no
Universo?
Não,
porquanto muitos são os mundos correspondentes a cada grau
da respectiva escala
e o Espírito, saindo de um deles, nenhuma coisa nova
aprenderia nos outros do
mesmo grau. a) Como se explica
então a
pluralidade de suas existências em um mesmo globo?
De
cada vez poderá ocupar posição
diferente das anteriores e nessas diversas
posições se lhe deparam outras tantas
ocasiões de adquirir experiência.
Vamos, então,
ao nosso
paralelo. Todos sabemos que, até a criança chegar
à Universidade há um longo
caminho a percorrer e que, ao longo desse caminho, ela pode passar por
diferentes instituições.
O
Universo pode ser visto, dessa forma, como uma imensa
rede escolar dirigida por Deus através de suas leis
sábias e imutáveis. O dono
dessa rede é infinitamente tolerante, justo e amoroso e
não aceita nenhum outro
resultado que não a formatura com louvor de todos os alunos
que nela ingressam,
dando a eles infinitas chances de recomeço. Se um deles
fracassar em uma série
por displicência, ele poderá repetir o ano quantas
vezes for necessário, cada
vez com alguns professores novos e outros antigos, com alguns colegas
novos e
outros repetentes com ele. Se algum não se adaptar ao
método de uma escola, lhe
será permitido mudar de escola, para alguma onde se aplique
metodologia
diferente daquela praticada na escola onde ele não conseguia
aprender, podendo
mudar de escola de novo e mais uma vez, até que se adapte e
consiga progredir.
Por mais que um aluno repita o ano e mude de escola, o dono da rede
nunca
desiste de vê-lo formado e sempre lhe oferece uma nova chance
de recomeço.
As
principais diferenças entre esse modelo e as
instituições humanas são o fato de
nenhum aluno ser jamais expulso da rede
escolar de Deus e a certeza de que todos, sem
exceção, serão levados da creche
à pós-graduação, do
estágio de simples e ignorantes ao da angelitude.
A
Escala Espírita
e a Reencarnação
Em O
Livro dos Espíritos,
Parte II, Capítulo 1, Allan Kardec apresenta a Escala
Espírita, uma
classificação geral para termos uma
idéia dos estágios pelos quais passa um
Espírito em evolução.
No
Capítulo III de O
Evangelho Segundo o Espiritismo,
Kardec classifica os
mundos habitados da seguinte forma:
·
Mundos Primitivos:
destinados
às primeiras encarnações e
experiências da alma humana.
· Mundos
de
Expiação e Provas:
Nesses mundos, o mal predomina. Os Espíritos aí
encarnam para prosseguir na sua
evolução, passando por provas e
expiações, decorrentes de seu processo de
aprendizado evolutivo. Dentre os Espíritos que encarnam em
um mundo de provas e
expiações há os que acabaram de sair
da infância evolutiva, vindos de um mundo
primitivo, os que se demoram no aprendizado, precisando de
inúmeras
reencarnações para aprender cada
lição evolutiva e os
“degredados” de outros
mundos, “de onde foram excluídos em
conseqüência da sua obstinação
no mal e por
se haverem constituído, em tais mundos, causa de
perturbação para os bons.”
· Mundos
de
Regeneração: Onde a
alma penitente encontra a calma e o repouso e acaba por depurar-se. O
Espírito
ainda se acha sujeito às leis que regem a
matéria; experimentando as mesmas
sensações e desejos, mas liberta das
paixões desordenadas e dos vícios. O amor
e o reconhecimento de Deus predominam e o
esforço evolutivo
é constante.
Ainda suportam provas, pois são essas não mais
que mecanismos de ensino
necessários à evolução.
Sendo o Espírito ainda falível, no entanto,
ocorre de
alguns recaírem no erro, fazendo com que voltem aos mundos
de provas e
expiações para aprenderem pelo método
mais árido aquilo que pelo bem recusaram
aprender no ambiente de amor e paz.
· Mundos
Ditosos ou
Felizes:
onde o bem sobrepuja o mal. A felicidade predomina.
· Mundos
Celestes ou
Divinos:
habitação dos Espíritos mais
evoluídos, onde reina exclusivamente o bem e o
conhecimento da verdade.
Em
um exercício de comparação, com base
na Escala Espírita
e na Classificação dos Mundos, podemos imaginar o
seguinte enquadramento para a
reencarnação dos Espíritos, durante o
estágio no Reino Hominal.
Categoria
de
Mundo
|
Progresso
Acadêmico
|
Classes
Predominantes de Espíritos
|
Primitivo
|
Educação
Infantil
|
Início
de Jornada e 7a
classe:
Espíritos
Simples e Ignorantes e Neutros.
|
Provas
e
Expiações
|
Ensino
Fundamental
|
9a,
8a,
7a,
6a,
5a
e 4a
classes:
Espíritos Perturbadores, Neutros, Pseudo-sábios,
Levianos, Impuros, Benévolos e Sábios.
|
Regeneradores
|
Ensino
Médio
|
7a,
5a,
4a,
3a
e 2a classes:
Espíritos Neutros, Benévolos,
Sábios, de Sabedoria e Superiores.
|
Ditosos
ou
Felizes
|
Curso
Superior
|
3a
e 2a
classes:
Espíritos
de Sabedoria e Superiores.
|
Celestes
ou
Divinos
|
Pós
Graduação
|
1a
classe:
Espíritos
Puros.
|
Em
nosso
enquadramento mostramos que Espíritos de ordem mais elevada
reencarnam em mundos menos evoluídos que os que lhes
correspondem. Tais Espíritos são
os gênios das
ciências, das artes e das demais áreas do saber
humano,
além dos ditos santos das diversas
tradições
religiosas.
Chamamos
particular
atenção para os nundos primitivos, destinados
às
primeiras encarnações das almas que ingressaram
no reino
hominal, tornando-se Espíritos, após a conquista
da
consciência moral. Nesses mundos, em nosso entendimento,
Espíritos neutros podem reencarnar para desenvolver a
tendência pelo bem. Dotados de mais conhecimento que os
simples e
ignorantes eles poderão ensinar àqueles o que
sabem,
tornando-se líderes de comunidades, seus sacerdotes ou
conselheiros.
A
Evolução do Princípio Inteligente
Até agora, por
simplicidade,
falamos da necessidade da reencarnação pensando
somente na fase em que
estagiamos no reino hominal. A realidade, no entanto, não se
limita desse modo.
Tudo
na Criação está em contínua
evolução. Evolui o Universo em sua
expansão
incessante, evoluem os astros, evoluem os seres animados e os
inanimados.
Diz Santo Agostinho em O
Evangelho Segundo o Espiritismo
Cap III, item 19:
“...
Ao mesmo
tempo em que todos os seres vivos
progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles
habitam.
Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o
instante em
que se aglomeraram os primeiros átomos destinados e
constituí-lo, vê-lo-ia a
percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus
imperceptíveis
para cada geração, e a oferecer aos seus
habitantes uma morada cada vez mais
agradável, à medida que eles próprios
avançam na senda do progresso. Marcham
assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus
auxiliares, o
dos vegetais e o da habitação, porquanto nada
na Natureza permanece
estacionário.
Quão grandiosa é essa idéia e digna da
majestade do Criador!
Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do
seu poder a que concentra a sua
solicitude e a sua providência no imperceptível
grão de areia, que é a Terra, e
restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!...”
Criado simples e
ignorante, mas destinado à Angelitude, o
princípio inteligente evolui em sua
longa jornada, estagiando nos diversos reinos, habitando em diversas
moradas,
tornando-se mais e mais complexo, individualizando-se, conquistando a
consciência, o livre arbítrio, adquirindo
sabedoria e bondade até o potencial
máximo de que foi dotado, tornando-se, finalmente,
Espírito Puro.
Quando falamos em
Necessidade da Reencarnação, não
podemos nos esquecer, portanto, que nossa
jornada se iniciou muito antes de ingressarmos no reino hominal. Tudo
na
natureza nasce, morre e renasce. A reencarnação
é uma lei divina e é através
dela que o princípio inteligente evolui das formas mais
simples da criação às
mais complexas.
Não dispomos
de tempo neste
estudo para explorar os mecanismos da evolução em
tempos anteriores ao ingresso
no reino hominal. Sabemos, no entanto, que os animais, plantas e
minerais são
todos tão mais evoluídos e sutis quando
evoluídos e sutis são os mundos em que
eles habitam. Não é difícil, portanto,
concluirmos que todos os seres vivos e
inanimados necessitam, de certa forma, reencarnar e o fazem do mesmo
modo que o
homem, migrando de um mundo para outro e permanecendo maior ou menor
tempo em
cada um, conforme sua necessidade de aprendizado e estágio
evolutivo.
Assim, por exemplo,
ninguém
deve esperar que aquele cãozinho, inteligente e
sensível, que nos faz
companhia, venha a ter uma de suas próximas
reencarnações aqui na Terra como
ser humano. Não, ele não terá.
Primeiro, sua alma terá de estagiar em diversos
outros mundos, adquirindo raciocínio mais elaborado e
desenvolvendo suas
emoções, até que sua
consciência desperte em plenitude e ele possa, dotado de
livre arbítrio e responsabilidade, interagir de igual para
igual com outros
seres do reino hominal. O ápice de sua
evolução como membro do reino animal se
dará, portanto, provavelmente, em um mundo ditoso e
não em nosso planeta de
provas e expiações. Do mesmo modo, seu ingresso
no reino hominal se dará em um
mundo primitivo, tampouco ocorrendo em nosso orbe.
Se aquela alma, hoje no
estágio de um cãozinho, um dia
alcançará seu hoje dono na jornada evolutiva,
isso não nos é possível saber. Cada
ser evolui de forma diferente do outro, uns
acertando mais e outros menos, uns mais rápido e, outros,
mais devagar. Aquele
que hoje aprende comigo poderá, amanhã, ser meu
professor.
Conclusão
Fomos criados simples e
ignorantes, mas destinados à
perfeição. A Lei da
Evolução rege todos os seres e
todas as coisas. Para que o princípio inteligente possa
evoluir, ele necessita
ingressar na matéria e interagir com ela. O percurso
evolutivo, do átomo ao
arcanjo, é imenso, impossível de ser percorrido
em uma única existência.
Estamos, talvez, a meio
caminho na senda evolutiva. Se, por um lado, nos sabemos ainda longe da
perfeição, muito longe também estamos
dos seres mais simples que habitam nosso
planeta. Conquistas importantes já fizemos e, tendo-as
feito, é mister que
saibamos fazer delas o melhor uso. Possuímos
consciência moral e raciocínio maduro,
sendo, também, dotados de
livre-arbítrio.
Empenhemo-nos, portanto,
tanto quanto nos seja possível, na reforma
íntima. Busquemos, a cada dia,
sermos uma pessoa melhor que no dia anterior. Ao final de cada dia, ao
término
de cada ação, ao concluirmos cada
comentário, saibamos nos calar e refletir
sobre o que dissemos, sobre o que pensamos, sobre o que fizemos.
Analisando
continuamente nossos pensamentos, palavras e obras, disciplinaremos
nossa
conduta para torná-la uma conduta verdadeiramente
espírita, uma conduta
verdadeiramente cristã.
A
evolução não é uma corrida
de obstáculos, sequer uma corrida é. No entanto,
que a constação de que temos a
eternidade para evoluir não sirva para nos amolecer o
ânimo, mas, antes, como
estímulo para acelerarmos a marcha, de modo a podermos
ajudar aqueles que
ficaram para trás, praticando, desse modo, a verdadeira
caridade cristã.
Fonte: http://www.ieja.org/portugues/Estudos/Artigos/p_necessdadedaencarnacao.htm