Já faz algum tempo que venho me questionando sobre a diferença entre uma e outra situação de que fala o título deste escrito. Muitos hão de pensar, mas não é a mesma coisa? Outros dirão, ser espírita é estar espírita!!! Mas eu acho não ser o mesmo e um exclui o outro estado.
Quem está espírita, com certeza não é espírita. Depois de estudar um pouco, vou tentar explicar a minha opinião.
Como não poderia deixar de ser, fui às obras básicas para rever o que Kardec nos fala sobre o que é ser espírita.
No Capítulo XVII Kardec nos leva a refletir sobre o que é ser espírita.
No
livro A Gênese, Introdução, 56, encontrei: “Com o auxílio das novas
luzes trazidas pelo espiritismo e pelos espíritos, o homem compreende a
solidariedade que une todos os seres; a caridade e a fraternidade
tornam-se uma necessidade social; ele faz por convicção o que não fazia
senão por dever, e o faz melhor.”
É sobejamente sabido que a Doutrina Espírita codificada por Kardec foi estruturada de acordo com os ensinamentos de Jesus.
Logo,
o espírita é o seguidor incondicional das revelações do Divino Mestre,
as lições que nos deixou pelos escritos dos seus Apóstolos e
Evangelistas. Dentro desse raciocínio vamos encontrar no Evangelho
Segundo o Espiritismo , capítulo XVII, “Sede perfeitos”, a explicação
por Kardec do Evangelho de Mateus, Cap.V, v. 44, 46, 47 e 48, “Amai os
vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos odeiam, e rezai por aqueles
que vos perseguem e caluniam. Pois se só amais os que vos amam, que
recompensa tereis com isso? Sede, pois, perfeitos como vosso Pai
celestial é perfeito”.
O que podemos entender?
Jesus
procura nos ensinar que não é para termos a pretensão de ser como o
Pai, mas que obedecendo as Leis Divinas, podemos nos tornar homens de
bem.
E como é o homem de bem?
O
item 3 do capítulo mencionado do Evangelho Kardequiano, vamos encontrar
que, por princípio é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de
caridade em sua maior pureza. Vive interrogando sua consciência para
sentir intimamente se seus atos não violaram esses preceitos, se não
praticou o mal mas sim o bem que podia e estava ao seu alcance.
Dentro
da sua prática de caridade não tem raiva, nem rancor, nem desejo de
vingança: segue o exemplo de Jesus perdoando e esquecendo as ofensas,
pois sabe que será perdoado na medida que souber perdoar.
Não
se envaidece por nada que o tornaria superior: por fortuna, por dotes
pessoais, por seu talento, não abusa dos bens materiais que lhe são
concedidos.
Não
procura conquistar postos e honrarias de qualquer espécie,
principalmente no seio da sua comunidade , aceitando com humildade e
respeitando os direitos dos seus semelhantes, como gostaria que fossem
respeitados os seus...
Se,
por qualquer razão, assume um posto de comando em qualquer tipo de
Instituição, deverá saber exercer o poder com moderação, sem ferir
outrem, tratando das coisas com lisura e competência, sem apego ao poder
que lhe foi concedido em caráter transitório.
Saber renunciar às vaidades do cargo que ocupa .e deixá-lo com dignidade quando vencer o tempo pré estabelecido.
O
item 4 , que tem como título Os bons espíritas, Kardec inicia com as
seguintes palavras: “O Espiritismo bem compreendido, mas sobretudo bem
sentido, forçosamente conduz aos resultados acima mencionados (o homem
de bem), que caracterizam o verdadeiro espírita como o verdadeiro
cristão, um e outro tornando-se o mesmo.”
E
mais: “Aquele a quem é possível, e com razão, qualificar de verdadeiro e
sincero espírita, está num grau superior de adiantamento moral. Seu
espírito, que domina a matéria de maneira mais completa, dá a ele uma
percepção mais clara do futuro. Reconhece-se o verdadeiro espírita por
sua formação moral, e pelos esforços que faz para dominar suas más
inclinações.”
O que me diz ao coração esses ensinamentos de Kardec?
Me
dizem que para me considerar bom espírita preciso, em primeiro lugar,
conhecer os ensinamentos do Mestre Jesus, e, na medida que puder me
esforçar, segui-los sem constrangimentos e sem arrependimentos.
Que
eu devo me desapegar de bens materiais, pensando em ter o que me é
concedido dentro do meu merecimento; não sentir orgulho ou vaidade de
ser visto como melhor do que qualquer outro Não me prender a poderes
fátuos, não pensar em me considerar único capaz de dirigir os destinos
da minha instituição.
Saber
que tudo na vida material é transitório, recebemos como se fosse um
empréstimo em início de viajem e que temos de prestar contas ao chegar
no nosso destino – o que Jesus nos acena, as bem aventuranças no plano
espiritual.
Será que é difícil assim pensar e assim agir?
Não
tenho dúvida que sim. Mas tenho que saber definir a minha passagem
terrena, se quero aproveitar a Providência Divina que me concede a
oportunidade de evolução espiritual, ou ficar marcando passo sem ter
como perspectiva a vida futura.
Fui encontrar no livro Obras Póstumas de Kardec, muitas afirmativas interessantes sobre o que é o Espiritismo.
No texto intitulado Breve resposta aos detratores do Espiritismo, separei os seguintes trechos:
-
“Se pois os livros da doutrina espírita condenam explícita e
formalmente um ato reprovável, se além disso não encerram senão
instruções para o bem, é evidente que os culpados de ruins ações não
beberam neles as suas inspirações, e talvez nem os tivessem visto”
-
“O Espiritismo não é mais solidário com os que se dizem espíritas do
que a medicina com os charlatães que a explora, ou a verdadeira religião
com os abusos e crimes praticados em nome dela. Só reconhece por
adeptos os que praticam os seus ensinos, Isto é, os que trabalham pelo
próprio melhoramento moral procurando vencer as suas más inclinações,
trabalhando por ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais
benevolentes, mais humildes, pacientes, caridosos para com o próximo,
mais moderados em tudo; pois são esses os sinais característicos do
verdadeiro espírita”.
- “Espírita é quem aceita os princípios da doutrina e conforma com eles a sua obra”.
Conclusão:
Procurei aqui sintetizar um pouco do material que consegui coletar, mas que creio ser suficiente para dizer da distinção entre ser espírita e estar espírita...
No
meu entendimento ser espírita é aquele que crê em todos os postulados
da doutrina, se fundamenta nos ensinos de Jesus, conhece-os e procura
com toda a força da sua intuição praticar atos que só podem constituir
na sua evolução espiritual.
É o praticante e, no dizer de Kardec, o verdadeiro espírita, espírita-cristão.
Nada teme, pelo contrário, procurar aproveitar da oportunidade que lhe foi concedida para reparar erros do passado.
Estar
espírita é aquele que conhece os postulados da doutrina, aceita-os
integralmente mas não os pratica, prefere continuar a usufruir dos
prazeres mundanos, se compraz com o poder, tem orgulho do que tem e do
que sabe.
Luta pelo poder temporal e esquece dos seus deveres mais comezinhos... amor... caridade... perdão.
Somos
imperfeitos, mas dentro dessa imperfeição podemos e devemos procurar a
perfeição, o aprimoramento do nosso espírito, ouvindo a voz do Mestre...
”Sede perfeitos....” ou seja, sermos homens de bem.
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