O trabalho voluntário na Casa Espírita é um empreendimento de luz voltado para a edificação do amor na Humanidade, atendendo às recomendações de Jesus de que devemos nos amar uns aos outros como Ele nos amou. É tarefa que todo espírita de boa vontade deve realizar espontânea e naturalmente, com o coração cheio de alegria e felicidade.
Diante de uma realidade, onde o trabalho está associado a fontes de renda voltadas para as mais diversas necessidades do trabalhador, desenvolver atividades voluntárias em prol do bem-estar social e espiritual do semelhante, sem auferir nenhuma remuneração financeira por isso é, indubitavelmente, exemplo sublime de acolhimento ao chamado do Cristo para a construção de uma nova relação do trabalho com a felicidade, realização e segurança da criatura humana.
Razões que devem motivar os espíritas a participarem, com amor, do trabalho voluntário, na Casa Espírita.
a) O trabalho como testemunho da fé em Deus e em Jesus.
Ter fé em Deus e em Jesus não é, somente, acolher no íntimo seus ensinamentos, mas acima de tudo vivenciá-los. Demonstrá-la é dar a Deus o que é de Deus, é edificar o amor no coração, é expandir esse amor para as criaturas, é doar-se com dedicação para que a dor e o sofrimento sejam afugentados do nosso meio. Só isso bastaria para realizarmos nosso trabalho com alegria, sem falar da imensa felicidade de ter como companheiros de jornada os Voluntários de Jesus que habitam o plano espiritual da vida.
b) O trabalho como fonte de realização pessoal.
O conceito de realização pessoal, geralmente, está associado a ganhos financeiros, prestígio profissional, influência social, alcance do mais alto cargo no âmbito do trabalho, e às mais variadas conquistas particulares, para citar alguns aspectos que fundamentam tal conceito. Seus resultados, entretanto, visam, quase que unicamente, o bem-estar e o prazer de seu agente, ficando o semelhante numa posição secundária. Esse modelo, contudo, por ser individualista, não tem concorrido para a felicidade sustentável da criatura humana, uma vez que muitos dos seus adeptos não lograram êxito no seu propósito, pois a felicidade é uma conquista coletiva. Nesse contexto, a Doutrina Espírita nos dá um novo paradigma de realização pessoal, uma nova forma de sentir prazer e satisfação íntima. Esse novo modelo fundamenta-se em bem servir ao próximo, fazê-lo feliz, sem nenhuma recompensa exterior, pois estamos aqui para trabalhar na edificação do amor no coração das criaturas, único caminho capaz de nos fazer sentir a felicidade plena e a sensação íntima de realização.
Por atender plenamente a esse novo paradigma, o trabalho voluntário da Casa Espírita, nas suas mais variadas formas, deve ser vivenciado com muito desprendimento, dedicação, esmero e carinho, pois ao servirmos a tantos necessitados e aflitos dos dois lados da vida e também aos benfeitores espirituais que nos assistem, é como se ao Cristo estivéssemos servindo.
c) O trabalho como contribuição para um mundo futuro melhor.
É certo que não vivemos num mundo ideal, haja vista os quadros de violência, injustiça, ganância, fome e miséria, que ainda fazem parte da nossa realidade. Se, por si sós, tais flagelos são indesejáveis, imagine-os atuando como fontes geradoras do alimento necessário à fortificação de alguns encarnados e desencarnados comprometidos com a quebra da paz e da harmonia social. Este estado de coisas tem raízes, naturalmente, na ausência de fraternidade, solidariedade e amor entre as criaturas.
Sabemos também que esta não será a nossa última reencarnação na Terra, pois ainda temos que aqui retornar a fim de dar cumprimento a outros compromissos relacionados com o nosso programa evolutivo. Trabalhar hoje no voluntariado do bem com essa lucidez de consciência é plantar, na sociedade e nas almas de tantos aflitos e desencontrados na vida, sementes que com o tempo florescerão e darão os frutos apropriados à efetivação da paz e da concórdia entre os homens. Os efeitos desse labor, com toda certeza, sentiremos em nossas futuras reencarnações.
d) O trabalho como fator de reajuste espiritual e reconciliação
Sendo a Terra um mundo de expiações e provas, é de se esperar que seus habitantes, detentores dos mais variados graus evolutivos, guardem relativa ou acentuada sintonia com os padrões éticos e morais desta categoria de mundo, causa geradora da maioria dos desentendimentos humanos.
Quando do seu surgimento, entretanto, Deus, no infinito de sua sabedoria, encaminha as partes envolvidas para espaços de convivência que favoreçam a restauração da concórdia e do entendimento, então fragilizados. A Casa Espírita, pela natureza de seus propósitos na sociedade terrena, não poderia declinar do chamado divino para acolher alguns desses irmãos em litígio, no sentido de favorecer sua reconciliação.
Dependendo do grau de discórdia, podem surgir comportamentos de risco para o processo evolutivo das partes e para a funcionalidade da própria instituição, todavia a Espiritualidade benfeitora estará atenta para que dano algum atinja a Casa e a Causa espíritas, pois, no momento certo, agirá com eficiência no sentido de restaurar a paz e a funcionalidade da instituição.
Ante a possibilidade dessa ocorrência, reflitamos sobre duas situações delicadas: o confronto entre a dinâmica de trabalho do voluntário e aquela existente na instituição, e o conflito motivado por ciúme ou vaidade.
Em ambos os casos é indispensável que pelo menos uma das partes busque ampliar sua visão do que é servir com amor à causa do Cristo através do Espiritismo. Essa amplitude de vista, fatalmente, as levará ao diálogo fraterno, objetivando o reajuste imediato das relações, a compreensão de que nem sempre se pode alcançar tudo num só momento, e de que o avanço paulatino das ideias e empreendimentos guarda seus méritos. Não nos precipitemos assumindo posturas de embates, porque, se nossos propósitos forem corretos, mais adiante a Espiritualidade benfeitora os fará efetivar-se, sem dano algum à obra e à Casa. Nessas situações cabe-nos vigiar, renunciar à contenda, guardar sintonia com o plano espiritual superior, porque não interessam ao Espiritismo avanços que deixem no seu rastro desuniões, ódios, rancores ou coisas similares, pois nossa doutrina segue as pegadas do Cristo, que nos recomenda amarmo-nos uns aos outros e perdoarmo-nos, mutuamente, para que não venhamos a sofrer no futuro.
Nos casos em que uma das partes se mantenha irredutível, cabe à outra dar seu testemunho de entendimento da lei do amor, recuando temporariamente do seu intento, continuando a exercer seu trabalho com dedicação e empenho, orando pelos companheiros que não o compreendem e, acima de tudo, tratando-os como irmãos.
Ao optarmos pela não agressividade ou pelo não confronto, estaremos arando o terreno para, no futuro, germinar com sucesso a semente da reconciliação ora plantada. Um porvir que poderá ocorrer ainda na atual reencarnação.
e) O trabalho como recurso favorável a desobsessão
Sabemos que a obsessão se estabelece em decorrência das imperfeições humanas, nas relações entre semelhantes, nesta ou em outras existências reencarnatórias, e que sua intensidade está intimamente ligada aos procedimentos e ações sintonizados com o mal. O inimigo invisível, ao perceber que sua vítima, mesmo com outra vestimenta corpórea, tem comportamento similar ao de outrora, sente-se estimulado a continuar sua vingança, no intuito de causar-lhe desconfortos e dores desnecessárias. Se, ao contrário, depara-se com seu desafeto, comportando-se de maneira totalmente diferente da anterior, atuando, por exemplo, como agente da misericórdia divina no alívio às dores do semelhante, ou mesmo contribuindo, com seu trabalho, para a felicidade de criaturas deste ou do outro lado da vida, a energia negativa que venha liberar em direção à sua vítima será amortecida ou mesmo extinta, pois a força do bem, natural e espontânea, lhe é superior.
Dessa forma, e pelas inúmeras oportunidades de felicidade que o trabalho voluntário na Casa Espírita nos propicia, alistemo-nos nas suas fileiras e desenvolvamos nossas tarefas com muito amor, alegria, zelo e dedicação. Afinal, poucos são os que percebem que, trabalhando no voluntariado do bem, estão trabalhando ao lado de Jesus.
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Fonte: Reformador nº 2.178, setembro/2010
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