Eternidade

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A desencarnação de Kardec


A desencarnação de Kardec

"Continuai a derramar sobre os vossos discípulos o vosso concurso benigno e poderoso;
a obra se cumprirá!... e vosso nome, gravado no panteão da História, entre aqueles dos
benfeitores da Humanidade, se transmitirá de idade em idade cmo os dos profetas antigos."
Levent, 1870.
 
No dia em que Allan Kardec desencarnava, constituindo este fato dolorosa surpresa para todos os seus amigos e para os espíritas em geral, nesse mesmo dia o Sr. E. Muller, grande amigo do Codificador e de sua digna esposa, assim se expressava por carta ao Sr. Finet:

"Paris, 31 de Março de 7869.

"Amigo:
"Agora, que já estou um pouco mais calmo, eu vos escrevo. Enviando-vos meu aviso, como o fiz, talvez tenha agido um tanto brutalmente, mas me parecia que devíeis receber a comunicação imediata desse falecimento.
"Eis alguns pormenores:
"Ele morreu esta manhã, entre onze e doze horas, subitamente, ao entregar um número da Revue a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto.
"Sozinho em sua casa (rua de Sant'Ana), Kardec punha em ordem seus livros e papéis para a mudança que se vinha processando e que deveria terminar amanhã. Seu empregado, aos gritos da criada e do caixeiro, acorreu ao local, ergueu-o... nada, nada mais. Delanne acudiu com toda a presteza, friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado.
"Venho de vê-lo. Penetrando a casa, com móveis e utensílios diversos atravancando a entrada, pude ver, pela porta aberta da grande sala de sessões, a desordem que acompanha os preparativos para uma mudança de domicílio; introduzido numa pequena sala de visitas, que conheceis bem, com seu tapete encarnado e seus móveis antigos, encontrei a Sra. Kardec assentada no canapé, de face para a lareira; ao seu lado, o Sr. Delanne; diante deles, sobre dois colchões colocados no chão, junto à porta da pequena sala de jantar, jazia o corpo, restos inanimados daquele que todos amamos. Sua cabeça, envolta em parte por um lenço branco atado sob o queixo, deixava ver toda a face, que parecia repousar docemente e experimentar a suave e serena satisfação do dever cumprido.
"Nada de tétrico marcara a passagem de sua morte; se não fosse a parada da respiração, dir-se-ia que ele estava dormindo.
"Cobria-lhe o corpo uma coberta de lã branca, que, junto aos ombros dele, deixava perceber a gola do robe de chambre, a rouopa que ele vestia quando fora fulminado; a seus pés, como que abandonadas, suas chinelas e meias pareciam possuir ainda o calor do corpo dele. 
"Tudo isto era triste, e, entretanto, um sentimento de doce quietude penetrava-nos a alma; tudo na casa era desordem, caos, morte, mas tudo aí parecia calmo, risonho e doce, e, diante daqueles restos, forçosamente meditamos no futuro.
"Eu vos disse que na sexta-feira é que o enterraríamos, mas ainda não sabemos a que horas; esta noite seu corpo está sendo velado por Desliens e Tailleur; amanhã o será por Delanne e Morin.
"Procuram-se, entre os seus papéis, suas últimas vontades, se é que ele as escreveu; de qualquer forma, o enterro será puramente civil.
"Escrever-vos-ei dando-vos os pormenores da cerimônia.
"Amanhã, creio eu, cuidaremos em nomear uma comissão de espíritas mais ligados à Causa, aqueles que melhor conhecem as necessidades dela, a fim de aguardar e de saber o que se irá fazer.
"De todo o coração, vosso amigo,

(a) Muller."   

Fonte: Reformador, março de 1969. Centenário da desencarnação de Kardec.      

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