As palavras amorosas do Mestre se alojaram em seu coração sensível 
como a boa semente quando encontra terra fértil
F. Altamir da Cunha
Jesus tem o poder de plantar na alma novos pensamentos; as 
facilidades e atrações mundanas, que antes proporcionavam prazer, 
transformam-se em acontecimentos entediantes. Alguns Espíritos se 
rebelam e relutam, tentando permanecer alheios ao compromisso com a 
mudança, porém, esta rebeldia nada mais é do que uma reação ao processo 
de transformação que se inicia em sua intimidade; outros, sem rebeldia, 
sentem-se vazios e melancólicos; os prazeres e a felicidade aparentes 
que antes lhes contagiavam perdem o sentido e são substituídos pelo 
desejo de conhecer o mundo novo e o amor diferente, aos quais Ele se 
referia.
Maria de Magdala, conforme relata Humberto de Campos, 
pela psicografia de F. Cândido Xavier em Boa Nova (FEB), foi um desses 
Espíritos; ouvira as pregações do Evangelho em local próximo à vila onde
 vivia entregue aos prazeres, e tomara-se de admiração pelo Mestre 
Jesus. Antes, porque dotada de juventude e formosura, imaginava-se feliz
 no mundo de fantasias, banhando-se com os melhores perfumes, 
embriagando-se com os melhores vinhos, vestindo-se com as melhores sedas
 e sendo desejada pelos homens mais ricos. Sentia-se, contudo, sequiosa e
 desalentada, mesmo usufruindo de todos esses prazeres.
O convite 
de Jesus à implantação do reino de Deus na terra e a uma forma diferente
 de amar despertara em Maria incomum curiosidade; desde então, fora 
possuída pelo desejo incontido de conhecer aquele carismático Galileu. 
Não entendia por que, mas as palavras amorosas do Mestre se alojaram em 
seu coração sensível como a boa semente quando encontra terra fértil.
Entretanto,
 como em todo processo de germinação, no qual a luta é imprescindível 
para vencer a resistência do solo, transformando a semente em planta 
tenra e depois árvore frondosa, Maria de Magdala a princípio lutou 
contra o medo e a insegurança. Tinha o coração sobrecarregado de culpa, 
porém não desistiu; lutou, venceu o medo, e sem mais considerar o 
preconceito de que era vítima, adentrou a casa de Simão Pedro; 
encorajada pelo sorriso do Mestre que parecia esperá-la, foi ao seu 
encontro. Nessa oportunidade aconteceu um dos mais belos diálogos, rico 
de espiritualidade e consolação, como relata Humberto de Campos:
– Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas, mas será que Deus me aceitaria?
–
 Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque 
escutaste a Boa Nova do reino e Deus te abençoou as alegrias! Acaso, 
poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado 
eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai?
Nunca viste a primavera 
dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas;
 porém, as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e 
desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e 
chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar-te o destino!
Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.
Para
 Maria, as palavras do Mestre foram verdadeiro refrigério para o seu 
coração sofrido; ela sentiu o imenso amor que irradiava daquele formoso 
Galileu, pois, somente quem ama de verdade pode manifestar tamanha 
compreensão. Entre os homens comuns observa-se, constantemente, a 
insensibilidade e a valorização do erro alheio, criando a oportunidade 
de punir e de fazer sofrer, como se ao impor a punição ao culpado se 
apagassem também suas próprias culpas. Com Jesus ela observou a imensa 
diferença: Ele não valorizou o erro, nem procurou um motivo para 
condená-la; valorizou, sim, seu arrependimento e o desejo sincero de 
transformar-se.
Ao dizer “Maria, levanta os olhos para o céu e 
regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do reino e Deus te 
abençoou as alegrias!”, o Mestre revelou-lhe que a sinceridade de seu 
propósito foi reconhecida por Deus; e a partir daquele momento o vazio 
interior causado pela fatuidade dos prazeres mundanos seria preenchido 
pela perene alegria que o amor verdadeiro proporciona.
Com certeza
 as palavras do Mestre elevaram a autoestima de Maria; ela agora 
compreendia que Deus é um Pai amoroso e que o amor é incompatível com a 
condenação ou o castigo.
Não só com Maria de Magdala, mas também 
com tantos outros Espíritos sofridos, Jesus demonstrou que o mais 
poderoso cinzel que utilizava para esculturar almas, sem sombra de 
dúvida, era seu imenso amor; jamais Ele falou de impossibilidade quanto 
ao trabalho maravilhoso de transformação do ser; sempre despertou a 
esperança aos que na condição de ruínas humanas o procuraram.
Maria
 de Magdala jamais esqueceria as palavras amorosas que acenderam em seu 
coração a sublime luz da esperança: “Nunca viste a primavera dar flores 
sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as 
flores são as esperanças em Deus.”
Sem dúvida, a esperança em Deus
 é a base indispensável aos que precisam renascer; não apenas através da
 reencarnação, mas, também, pela autotransformação (renovação íntima). 
No entanto, jamais acontecerá a autotransformação se não nos entregamos 
confiantes ao infinito amor de Deus. Tudo acontece como se fôssemos um 
recipiente cheio de impurezas, e o amor, tal como a água pura, à medida 
que ocupa lugar no recipiente vai eliminando as impurezas; chega o 
momento em que o recipiente não conterá mais impurezas; por isso, Jesus 
finalizou afirmando: “... o amor cobre a multidão dos pecados.”
Após
 esse inesquecível diálogo, Maria de Magdala se transformou e muito 
amou; não mais da forma que amou no passado, quando escravizada às 
ilusões do mundo, mas sim da forma que Jesus a amou. Tornou-se mãe dos 
filhos de outras mães; eram eles leprosos, abandonados, sofridos e 
estigmatizados no corpo e na alma.
Um dia, marcada pelas mesmas 
provações daqueles que ela cuidara, seu corpo extenuado, tombou no 
caminho que a conduziria à casa do caminho. Despertou no plano 
espiritual vendo Jesus a refletir uma beleza incomum, estendendo-lhe as 
mãos e dizendo: “Maria já passaste a porta estreita!... Amaste muito! 
Vem! Eu te espero aqui!”
A exemplo de Maria de Magdala, nós todos,
 Espíritos em luta rumo à perfeição espiritual, podemos olhar para trás e
 constatar comportamentos infelizes que muito contrariaram as leis de 
amor que regem o Universo. No entanto, se sinceramente nos transformamos
 e passamos a amar, não valorizamos os efeitos dos nossos equívocos mais
 do que a infinita misericórdia de Deus, pois, através de Jesus, Ele nos
 dirá: “Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”
- XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. FEB.
Fonte: Revista Internacional de Espíritismo - junho/2018. 
 

 
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