Eternidade
domingo, 31 de maio de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
O orgulho, riqueza e pobreza
De todos os vícios, o mais terrível é o orgulho, pois semeia, na sua passagem, os germens de quase todos os outros vícios. Desde que tenha penetrado numa alma, assim como numa praça conquistada, estabelece-se como senhor, instala-se, aí, à vontade, fortifica-se ao ponto de se tornar inexpugnável. É a hidra monstruosa, sempre a procriar e cujos rebentos são monstruosos como ela.
Infeliz do homem que se deixou apanhar pelo orgulho! Só poderá libertar-se ao preço de terríveis lutas, depois de dolorosas provações, de existências obscuras, de um futuro todo de rebaixamento e humilhação, pois aí está o único remédio eficaz para os males que o orgulho engendra.
Esse vício é o maior flagelo da Humanidade. Dele procedem todas as discórdias da vida social, as rivalidades de classes e de povos, as intrigas, o ódio e a guerra. Inspirador das loucas ambições, o orgulho tem coberto a Terra de sangue e de ruínas, e é ainda ele que causa nossos sofrimentos de além-túmulo, pois seus efeitos estendem-se além da morte, até sobre nossos destinos longínquos.
O orgulho desvia-nos não apenas do amor dos nossos semelhantes, mas torna qualquer aperfeiçoamento impossível, enganando-nos sobre nosso valor, cegando-nos sobre nossos defeitos. Apenas um exame rigoroso dos nossos atos e dos nossos pensamentos nos permitirá nos reformarmos. Mas como o orgulhoso submeter-se-ia a esse exame? De todos os homens é aquele que menos se conhece. Vaidoso de sua pessoa, nada pode desenganá-lo, pois afasta, com cuidado, o que poderia esclarece-lo, odeia a contradição e apenas se compraz no convívio dos aduladores.
Como o verme que corrói um belo fruto, o orgulho corrompe as obras mais meritórias. Às vezes, ele as torna mesmo prejudiciais àquele que as executa. O bem feito com ostentação, com o secreto desejo de ser aplaudido, glorificado, volta-se contra seu autor. Na vida espiritual, as intenções, os móveis ocultos que nos inspiram reaparecem como outras tantas testemunhas, oprimem o orgulhoso e reduzem a nada seus méritos ilusórios.
O orgulho esconde-nos toda verdade. Para estudar frutuosamente o Universo e suas leis, é preciso, antes de tudo, a simplicidade, a sinceridade, a equidade do coração e do espírito, virtudes desconhecidas do orgulhoso. O pensamento de que tantos seres e coisas nos dominam é-lhe insuportável e ele o repele. Seus julgamentos são para ele os limites do possível; dificilmente decide-se a admitir que seu saber e sua compreensão sejam limitados.
O homem simples, humilde de coração, rico em qualidades morais, chegará mais depressa à verdade, apesar da possível inferioridade de suas faculdades, do que o presunçoso, vaidoso de sua ciência terrestre, revoltado contra a lei que o rebaixa e destrói o seu prestígio.
O ensino dos espíritos nos mostra, sob sua verdadeira claridade, a situação dos orgulhosos na vida de além-túmulo. Os humildes e os pequenos desse mundo encontram-se aí elevados; os vaidosos e os poderosos são diminuídos, humilhados. Uns trouxeram com eles aquilo que faz a verdadeira superioridade: as virtudes, as qualidades adquiridas pelo sofrimento enquanto outros tiveram que abandonar, com a morte, títulos, fortuna; é inútil saber. Tudo o que constituía sua glória, sua felicidade, dissipou-se como fumaça. Chegam ao Espaço pobres, despojados, e essa privação súbita, contrastando com seu passado esplendor, aviva seus cuidados, seus pungentes remorsos. É com uma amargura profunda que veem acima deles, na luz, aqueles que menosprezaram, desprezaram na Terra. Acontece o mesmo para com as reencarnações futuras. O orgulho, a ambição ávida, não podem atenuar-se ou apagar-se senão por meio de vidas atormentadas, vidas de trabalho e de renúncia, no decorrer das quais a alma orgulhosa volta-se para si mesma, reconhece sua fraqueza, abre-se para os sentimentos melhores.
Um pouco de sabedoria e de reflexão nos preservaria desses males. Como podemos nos deixar invadir e dominar pelo orgulho, quando basta nos considerar para ver o pouco que nós somos? Será o nosso corpo, nossos encantos físicos que nos inspiram a vaidade? A beleza é passageira; uma só doença pode destruí-la. Cada dia, o tempo opera sua obra, ainda alguns passos na vida e todas essas vantagens estarão desbotadas, fenecidas, nosso corpo será apenas uma coisa repugnante - Será a nossa superioridade sobre a Natureza? Se o mais poderoso, o mais bem dotado de nós for transportado a um deserto onde deverá bastar-se, se afrontar os elementos desencadeados, se, isolado, expuser-se às cóleras do oceano, em meio aos furores do vento, das ondas ou dos fogos subterrâneos, sua fraqueza revelar-se-á!
Nas horas perigo, todas as distinções sociais, os títulos, as vantagens da fortuna, medem-se no seu justo valor. Somos todos iguais diante do perigo, do sofrimento e da morte. Todos os homens, do mais alto colocado ao mais miserável, são modelados com a mesma argila. Revestidos de farrapos ou de suntuosas vestimentas, seus corpos são animados por espíritos da mesma origem, e todos se reencontrarão confundidos na vida futura. Apenas seu valor moral os distinguirá. O maior nesse mundo pode se tornar um dos últimos no Espaço, e o mendigo pode revestir uma roupagem brilhante. Não desprezemos a ninguém. Não sejamos vaidosos pelos favores, pelas vantagens passageiras. Ninguém sabe o que o amanhã lhe reserva.
Se Jesus prometeu a entrada dos reinos celestes aos humildes e aos pequenos, é que a riqueza e o poder engendram muito frequentemente o orgulho, enquanto que uma vida laboriosa e obscura é o elemento mais seguro do progresso moral. No cumprimento de sua tarefa cotidiana, as tentações, os desejos, os apetites malsãos assediam menos o trabalhador; ele pode abandonar-se à meditação, desenvolver sua consciência; o homem mundano, ao contrário, é absorvido pelas ocupações frívolas, pela especulação ou pelo prazer.
A riqueza nos liga à Terra através de vínculos tão numerosos e tão íntimos, que a morte consegue raramente rompê-los, libertando-nos. Daí, as angústias do rico na vida futura. É, entretanto, fácil compreender que, na realidade, nada é nosso, nesse mundo. Esses bens, aos quais atribuímos tanto valor, pertencem-nos apenas na aparência. Centenas de outros depois de nós embalar-se-ão nas mesmas ilusões, e todos abandoná-los-ão cedo ou tarde. Nosso próprio corpo é um empréstimo da Natureza e ela sabe bem no-lo retomar, quando lhe convém. Nossas únicas aquisições duráveis são de ordem intelectual e moral.
Da paixão pelos bens materiais nascem, muitas vezes, a inveja e o ciúme. Quem traz em si esses vícios pode dizer adeus a qualquer repouso, a qualquer paz. Sua vida torna-se um tormento perpétuo. Os sucessos, a opulência do próximo nele despertam ardentes cobiças, uma febre de posse que o consome. O invejoso não pensa senão em eclipsar os outros, adquirir riquezas que não sabe nem mesmo desfrutar. Haverá uma existência mais lamentável! Perseguir incessantemente uma felicidade quimérica, colocar toda sua alma nessas vaidades, cuja perda nos desespera, não é criar para si um suplício a todo instante?
A riqueza não é, todavia, um mal em si mesma. É boa ou má, segundo o emprego que dela se faz. O importante é que ela não inspire nem orgulho nem dureza do coração. É preciso ser o senhor da sua fortuna e não seu escravo, mostrar-se superior a ela, desinteressado e generoso. Nessas condições, a prova perigosa da riqueza torna-se mais fácil de se suportar. Ela não amolece os caracteres, não desperta essa sensualidade quase inseparável do bem-estar.
A prosperidade é perigosa pelas tentações que proporciona, pela fascinação que exerce sobre os espíritos. Pode, entretanto, ser a fonte de um grande bem, quando regulada com sabedoria e moderação.
Pode-se, através da riqueza, contribuir para o progresso intelectual dos homens, para o aperfeiçoamento das sociedades, criando instituições de benemerência ou escolas, fazendo os deserdados participarem das descobertas da Ciência e ds revelações do Belo. Mas, acima de tudo, a riqueza deve se derramar sobre aqueles que lutam contra a necessidde, sob forma de trabalho e de socorro.
Em compensação, consagrar seus recursos à satisfação exclusiva da sua vaidade e dos seus sentidos é perder sua existência e criar para si penosos entraves. O rico deverá dar conta do depósito entregue nas suas mãos para o bem de todos. Quando a lei inexorável, quando o grito da sua consciência elevarem-se contra ele nesse mundo futuro onde o ouro não tem mais influência, o que responderá à acusação de ter desviado em proveito próprio o que deveria abrandar a fome e os sofrimentos dos outros?
Quando o espírito não se sente suficientemente armado contra as seduções da riqueza, deve afastar-se dessa prova perigosa, procurar, de preferência, uma vida simples, longe das vertigens da fortuna e da grandeza. Se, apesar de tudo, a sorte o destina a ocupar um lugar mais elevado nesse mundo, não deve se regozijar, pois sua responsabilidade e seus deveres serão muito mais extensos. Colocado nas fileiras inferiores da sociedade, não deve se ruborecer jamais. O papel dos humildes é o mais meritório, são eles que suportam todo o peso da civilização, é do seu trabalho que vive e se alimenta a Humanidade. O pobre deve ser sagrado para todos, pois foi pobre que Jesus quis nascer e morrer, foi a pobreza que escolheram Epiteto, Francisco de Assis, Miguel Angelo, Vicente de Paulo e tantos nobres espíritos que viveram nesse mundo. Eles sabem que o trabalho, as privações, o sofrimento desenvolvem as forças viris da alma, enquanto que a prosperidade as diminui. No desapego das coisas humanas, uns encontraram a santificação, outros a potência que faz o gênio.
A pobreza nos ensina a nos compadecermos dos males dos outros, fazendo-nos melhor compreendê-los, ela nos une a todos aqueles que sofrem, valoriza mil coisas indiferentes para os que são felizes. Aqueles que não conheceram suas lições ignorarão sempre um dos lados mais comoventes da vida.
Não invejemos os ricos, cujo esplendor aparente esconde tantas misérias morais. Não nos esqueçamos de que, sob o cilício da pobreza escondem-se as virtudes mais sublimes, a abnegação, o espírito de sacrifício. Não nos esqueçamos também de que é pelos labores e o sangue, pela imolação contínua dos pequenos, que as sociedades vivem, defendem-se e renovam-se.
por Léon Denis
obra: Depois da Morte
quinta-feira, 28 de maio de 2015
terça-feira, 26 de maio de 2015
segunda-feira, 25 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Escola da Bênção
Sofres cansaço da vida, dissabores domésticos, deserção de amigos, falta de alguém...
Por isso, acordaste sem paciência, tentando esquecer.
Procuraste espetáculos públicos que te não distraíram e usaste comprimidos repousantes que não te anestesiaram o coração.
Entretanto, para teu reconforto, pelo menos uma vez por semana, sai de ti mesmo e busca na caridade a escola da bênção.
Em cada compartimento aprenderás diversas lições ao contacto daqueles que lêem na cartilha das dores que desconheces.
Surpreenderás o filme real da angústia no martírio silencioso dos que jazem num catre de espinhos, sem se queixarem, e a emocionante novela das mães sozinhas que ofertam, gemendo, aos filhos nascituros a concha do próprio seio como prato de lágrimas.
Fitarás homens tristes, suando penosamente por singela fatia de pão, como atletas perfeitos do sofrimento, e os que disputam valorosamente com os animais um lugar de repouso ao pé de ruínas em abandono.
Observarás, ainda mais, os paralíticos que sonham com a alegria de se arrastarem, os que se vestem de chagas esfogueantes, suplicando um momento de alivio, os que choram mutilações trazidas do berço e os que vacilam, desorientados, na noite total da loucura...
Ver-te-ás, então, consolado, estendendo consolo, e, ajustado a ti mesmo, volverás ao conforto da própria casa, murmurando, feliz:
— Obrigado, meu Deus!
pelo Espírito Meimei, psicografia de Chico Xavier
sábado, 23 de maio de 2015
O Jugo Leve
O
jugo leve
Ev.
Cap. VI – Item 7
Vinde
a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados
que eu vos aliviarei.
(Mateus, 11:28.)
Jesus humanizado é o
grande médico das almas, que as conhecendo em profundidade, apresenta a terapia
recuperadora, ao tempo que oferece a libertadora, que evita novos
comprometimentos.
Conhecendo a causalidade
que desencadearia as aflições, que são consequências funestas das ações
anteriores infelizes que as geraram, propõe como recurso melhor, para a total liberação
do seu contingente perturbador, a conquista da luz interna, superando toda a
sombra que campeia nas consciências.
Essa claridade
incomparável capaz de anular todos os prejuízos e evitar novas projeções de
sofrimentos é o cultivo do amor, sustentado pela oração que se converte em
canal de irrigação da energia que procede de Deus e vitaliza a criatura humana.
Com esse recurso
incomparável, a docilidade no trato com o semelhante permite que as Forças
espirituais que promanam das imarcescíveis regiões da plenitude alcancem a
intimidade daquele que ora, nele produzindo o milagre da harmonia e da
claridade interior permanentes.
O Homem-Jesus, absolutamente
lúcido e conhecedor do Self que lhe
mantinha a organização humana, era todo luz, não havendo qualquer espaço
sombra, o lado escuro que devesse ser penetrado, a fim de erradicar mazelas,
desde que o houvera superado em experiências multifárias nas Esferas Superiores
de onde provinha.
Encarnando-se na Terra,
não fugiu ao confronto com as imposições dominantes entre os Seus coevos,
mantendo-se imperturbável, mas não insensível aos seus desmandos e irreflexões,
loucuras e infantilidades evolutivas, razão por que procurava extirpar do cerne
das vidas que O buscavam os agentes geradores das aflições que as esmagavam, e
os levavam à hediondez, ao crime, à mentira, ao ódio, novos desencadeadores de
futuras inquietações.
O Seu fardo se fazia
leve, porque estruturado em claridade diamantina, sem qualquer contingente de
tormento, ensejando o alívio imediato ao penetrar na projeção do Seu pensamento
irradiante que cindia toda treva.
N’Ele estavam os
recursos valiosos para a saúde espiritual, consequentemente, de natureza moral,
emocional, física...
O ser humano é o
somatório das suas aspirações e necessidades, mas também o resultado de como
aplica esses recursos que o podem escravizar ou libertar.
A predominância da
sombra, ou do lado escuro, é efeito compreensível da ignorância ou do
acumpliciamento com o crime, derivado da preservação dos instintos primários em
predominância no seu comportamento.
Enquanto não seja
diluída essa sombra, facultando o entendimento das responsabilidades e dos
compromissos que favorecem o progresso, mais se aturde na escuridão aquele que
deseja encontrar rumos que não são visíveis.
A sua existência se
torna um pesado fardo para conduzir, um tormento mental e conflitivo na
consciência enenebrecida.
O amor, que significa
conquista emocional superior, rompe a densidade da ignorância, enquanto a
oração dilui as espessas ondas escuras que envolvem o discernimento.
Mediante o amor, o ser
descobre o sentido existencial, tornando-se humano, isto é, adquirindo
sentimento de humanidade com libertação da alta carga de animalidade nele
prevalecente, compreendendo a necessidade de compartir com o seu irmão o que
tenha, mas também de repartir quanto o enriquece.
Através da oração
identifica-se com outras ondas psíquicas e impregna-se de energias saturadoras
de paz, bem como enriquecedoras de alegria de viver e de crescer no rumo da
plenitude.
A soberba, filha dileta
do egoísmo, que lhe faculta atribuir-se um valor que ainda não possui, cede
lugar à humildade, que o ajuda a visualizar a grandeza da Vida e a pequenez em
que ainda se debate, incitando-o à coragem e à abnegação, como o devotamento às
causas de enobrecimento em que se engajará, buscando os objetivos reais agora
vislumbrados e fascinantes.
Toda a terapêutica
proposta por Jesus é libertadora, total e sem recuo. Ele não se detém à borda
do problema, mas identifica-o, despertando o problematizado para que não
reincida no erro, no comprometimento moral com a consciência, a fim de que não
lhe aconteça algo pior, quais sejam a amargura sem consolo, a expiação sem
alternativa, o impositivo do resgate compulsório.
Esse Homem singular
sempre foi peremptório na proposta da decisão de cada um, respeitando o livre-arbítrio,
o direito de escolha que é inalienável, definindo rumos da felicidade terrena,
que prosseguiriam no Reino dos Céus, ou demonstrando que através do sofrimento
resignado, bem-vivido, já se devassavam as fronteiras do Reino, embora ainda no
mundo físico.
Essa visão de
profundidade define o Messias nazareno como a Luz que veio ao mundo e o mundo a
recusou, preferindo a densidade do nevoeiro envolvente e alucinante.
Sóbrio e austero, sem
dureza ou crueldade, sempre compassivo, mas não conivente, demonstrou pelo
exemplo como viver-se em equilíbrio e
morrer-se em serenidade, mesmo que através de qualquer flagício imposto.
Ninguém houve que
mantivesse tanta serenidade na alegria da pregação da Boa-Nova, sem a exaltação
que tisna a beleza do conteúdo da Mensagem ou receio de que ela demorasse a se
implantar no coração da Humanidade, não importando o tempo que fosse
necessário, o que, realmente, é de significado secundário.
O Espírito é eterno, e a
relatividade temporal é sempre sucedida pela sua perenidade.
Feliz aquele que opta
por experimentar o bem-estar no momento em que respira e entende; desditoso
aquele que, conhecendo a forma para tornar-se pleno, posterga a oportunidade,
aguardando os impositivos inevitáveis da sujeição e do sofrimento para resolver-se
pelo adquirir o que rejeitara anteriormente.
Sob outro aspecto, Ele
nunca se apresentou como solucionador de problemas, antes invitou todos a
fazerem a sua parte, a se responsabilizarem pelos próprios deveres, tornando-se
o Educador que sempre se fez compreender, nunca transferindo responsabilidades
que a cada qual pertencem, como mecanismos falsos para atrair ou gerar
proselitismo em torno da Sua pessoa.
Diferindo de todos os
demais homens, não se revestiu de aspecto excêntrico ou tomou atitudes
aberrantes para chamar a atenção, mantendo-se sempre o mesmo, preservando o
critério da seleção natural pelo mérito de cada discípulo que se Lhe associasse
ao Ministério.
Era compreensível,
portanto, que a comunidade judaica do Seu tempo e a sociedade quase em geral de
todos os tempos não aceitassem o Seu método. Acostumados que se encontram os
homens ao vazio do comportamento moral, às concessões da mentira e da
bajulação, aos esconsos compromissos seletivos, viam-no e ainda O veem alguns
indivíduos como um violador dos costumes – infelizes, é certo – que predominam
nas consciências ensombradas de governantes insensatos e das massas
desgovernadas.
Não obstante, Ele
permaneceu fiel ao Seu compromisso, sem o alterar para iludir ou arrebanhar
simpatizantes.
Sua austeridade e
misericórdia conquistavam naturalmente sem promessas mentirosas nem concessões
inúteis, dando o primeiro sinal para o despertar para a Verdade, passo
indispensável para futuras revoluções internas que seriam operadas no cerne de
cada qual.
É incomparável Jesus, o
responsável pelo fardo leve, em razão da Sua autoridade moral, ainda não
totalmente reconhecida pela Psicologia Profunda como o Homem de palavras
claras, de ensinamentos sem dubiedades, de vivência sem recalques ou fugas.
Veio instruir e consolar
mediante o exemplo de dedicação, jamais se acomodando ao modus vivendi e
operandi, abrindo sulcos novos no solo dos corações para neles ensementar as
palavras seguras e medicamentosas para a preservação da saúde e da vida.
Ante os desafios mais
vigorosos e as situações mais inclementes, não desistir dos ideais de beleza,
não ceder espaço ao mal, não negociar com as sombras, permanecendo-se
verdadeiro, luminoso, de consciência reta, decidido – eis a Sua proposta,
conforme Ele próprio a viveu.
Sendo o Caminho, único,
aliás, para chegar-se a Deus, não teve outra alternativa senão afirmar:
- Vinde a mim, todos que
estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Por Joanna de Ângelis e
Divaldo Franco
Obra: Jesus e o
Evangelho à Luz da Psicologia Profunda
Palestra de Jesus
Raphael,"A TRANSFIGURAÇÃO",1518-1520,óleo sobre tela,279.4 x 403.8 cm
“Depois
de alguns dias de emoções suaves e carinhosas, todos os Espíritos
reunidos naquela paisagem luminosa, se prepararam para receber a visita
do Senhor, como quando da sua divina presença na bucólica moldura da
Galiléia. Num dia de rara e indefinível beleza, em que uma claridade de
cambiantes divinos entornava saboroso mel de alegria em todos os
corações, descia o Cordeiro de Deus da esfera superior de suas glórias
sublimes e, tomando a palavra naquele cenáculo de maravilhas, recordava
as suas inesquecíveis pregações junto às águas tranqüilas do pequeno
"mar” da Galileia. De modo algum se poderia traduzir fielmente, na
Terra, a beleza nova da sua palavra eterna, substância de todo o amor,
de toda a verdade e de toda a vida, mas constitui para nós um dever,
neste escorço, lembrar a sua ilimitada sabedoria, ousando reproduzir,
imperfeitamente e de leve, a essência de sua lição divina naquele
momento inesquecível.
Figurava-se, a todos os presentes, a cópia fiel dos quadros graciosos e claros do Tiberíades. A palavra do Mestre derramava-se no ádito das almas, com sonoridades profundas e misteriosas, enquanto de seus olhos vinha a mesma vibração de misericórdia e de serena majestade.
- 'Vinde a mim, vós todos que semeastes, com lágrimas e sangue, na vinha celeste do meu reino de amor e verdade!…
Figurava-se, a todos os presentes, a cópia fiel dos quadros graciosos e claros do Tiberíades. A palavra do Mestre derramava-se no ádito das almas, com sonoridades profundas e misteriosas, enquanto de seus olhos vinha a mesma vibração de misericórdia e de serena majestade.
- 'Vinde a mim, vós todos que semeastes, com lágrimas e sangue, na vinha celeste do meu reino de amor e verdade!…
Nas moradas infinitas do Pai, há luz bastante para dissipar todas as trevas, consolar todas as dores, redimir todas as iniquidades…
Glorificai-vos, pois, na sabedoria e no amor de Deus Todo-Poderoso, vós que já sacudistes o pó das sandálias miseráveis da carne, nos sacrifícios purificadores da Terra! Uma paz soberana vos aguarda, para sempre, no reino dilatado e sem fim, prometido pelas divinas aleluias da Boa Nova, porque não alimentastes outra aspiração no mundo, senão a de procurar o reino de Deus e de sua justiça.
Entre a Manjedoura e o Calvário, tracei para as minhas ovelhas o eterno e luminoso caminho… O Evangelho floresce, agora, como a seara imortal e inesgotável das bênçãos divinas. Não descansemos, contudo, meus amados, porque tempo virá na Terra, em que todas as suas lições hão de ser espezinhadas e esquecidas… Depois de longa era de sacrifícios para consolidar-se nas almas, a doutrina da redenção será chamada a esclarecer o governo transitório dos povos; mas o orgulho e a ambição, o despotismo e a crueldade hão de reviver os abusos nefandos de sua liberdade! O culto antigo, com as suas ruínas pomposas, buscará restaurar os templos abomináveis do bezerro de ouro. Os preconceitos religiosos, as castas clericais e os falsos sacerdotes restabelecerão novamente o mercado das coisas sagradas, ofendendo o amor e a sabedoria de Nosso Pai, que acalma a onda minúscula no deserto do mar, como enxuga a mais recôndita lágrima da criatura, vertida no silêncio de suas orações ou na dolorosa serenidade de sua amargura indizível!…
Soterrando o Evangelho na abominação dos lugares santos, os abusos religiosos não poderão, todavia, sepultar o clarão de minhas verdades, roubando-as ao coração dos homens de boa vontade!…
Quando se verificar este eclipse da evolução de meus ensinamentos, nem por isso deixarei de amar intensamente o rebanho das minhas ovelhas tresmalhadas do aprisco!…
Das esferas de luz que dominam todos os círculos das atividades terrestres, caminharei com os meus rebeldes tutelados, como outrora entre os corações impiedosos e empedernidos de Israel, que escolhi, um dia, para mensageiro das verdades divinas entre as tribos desgarradas da imensa família humana!…
Em nome de Deus Todo-Poderoso, meu Pai e vosso Pai, regozijo-me aqui convosco, pelos galardões espirituais que conquistastes no meu reino de paz, com os vossos sacrifícios abençoados e com as vossas renúncias purificadoras! Numerosos missionários de minha doutrina ainda tombarão, exânimes, na arena da impiedade, mas hão-de constituir convosco a caravana apostólica, que nunca mais se dissolverá, amparando todos os trabalhadores que perseverarem até ao fim, no longo caminho da salvação das almas!…
Quando a escuridão se fizer mais profunda nos corações da Terra, determinando a utilização de todos os progressos humanos para o extermínio, para a miséria e para a morte,d erramarei minha luz sobre toda a carne e todos os que vibrarem com o meu reino e confiarem nas minhas promessas, ouvirão as nossas vozes e apelos santificadores!…
Pela sabedoria e pela verdade, dentro das suaves revelações do Consolador, meu verbo se manifestará novamente no mundo, para as criaturas desnorteadas no caminho escabroso, através de vossas lições, que se perpetuarão nas páginas imensas dos séculos do porvir!…
Sim! amados meus, porque o dia chegará no qual todas as mentiras humanas hão de ser confundidas pela claridade das revelações do céu. Um sopro poderoso de verdade e vida varrerá toda a Terra, que pagará, então, à evolução dos seus institutos, os mais pesados tributos de sofrimentos e de sangue… Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos. .. As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: Ó Jerusalém, Jerusalém?…
Mas Nosso Pai, que é a sagrada expressão de todo o amor e sabedoria, não quer se perca uma só de suas criaturas, transviadas nas tenebrosas sendas da impiedade!…
Trabalharemos com amor, na oficina dos séculos porvindouros, reorganizaremos todos os elementos destruídos, examinaremos detidamente todas as ruínas buscando o material passível de novo aproveitamento e, quando as instituições terrestres reajustarem a sua vida na fraternidade e no bem, na paz e na justiça, depois da seleção natural dos Espíritos e dentro das convulsões renovadoras da vida planetária, organizaremos para o mundo um novo ciclo evolutivo, consolidando, com as divinas verdades do Consolador, os progressos definitivos do homem espiritual’.
A voz do Mestre parecia encher os âmbitos do próprio Infinito, como se Ele a lançasse, qual baliza divina do seu amor, no ilimitado do espaço e do tempo, no seio radioso da Eternidade. Terminando a exposição de suas profecias augustas, sua figura sublimada elevava-se às Alturas, enquanto um oceano de luz azulada, de mistura aos sons de melodias divinas e incomparáveis, invadia aqueles domínios espirituais, com as tonalidades cariciosas das safiras terrestres. Todos os presentes, genuflexos na sua doce emoção, choravam de reconhecimento e alegria, enchendo-se de santificada coragem para as elevadas tarefas que lhes competia levar a efeito, no curso incessante dos séculos. Flores de maravilhoso azul-celeste choviam do Alto sobre todas as frontes, desfazendo-se, todavia, ao tocarem nas delicadas substâncias que formavam o solo daquela paisagem; de soberana harmonia, como se fossem lírios fluidicos, de perfumada neblina”.
Emmanuel & Francisco C. Xavier
Obra: Há dois mil anos
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Diálogos inter-religiosos
Reformador: O que você entende por diálogo inter-religioso?
Haroldo: A experiência
nos tem demonstrado que o diálogo inter-religioso é o aprimoramento da
capacidade individual de escuta. Representa um incremento da nossa
habilidade de ouvir, já que possibilita a rara oportunidade de tomar
contato com as crenças de nossos semelhantes sem as deturpações
decorrentes de uma exposição crítica, tendenciosa ou maliciosa. Ao
estabelecermos uma relação de respeito, de acolhimento e de livre
expressão temos a chance de avaliar ideias, sistemas de crenças de
maneira mais imparcial, seguindo os ditames da fé raciocinada e do bom
senso preconizados pelo Espiritismo.
O momento atual favorece tais diálogos?
Diríamos que o momento atual clama pelo
diálogo inter-religioso, tendo em vista as recentes manifestações de
fundamentalismo, com amplos prejuízos para a sociedade, inclusive
ceifando vidas inocentes. Acreditamos que o diálogo maduro, honesto e
respeitoso é a única via para mitigar o ódio, o sectarismo e a
intolerância.
Em recente Congresso da Federação
Espírita do Estado de Goiás (Feego) você coordenou um evento dessa
natureza. Poderia falar algo a respeito?
No último Congresso da Feego tivemos a
oportunidade de conduzir uma mesa de diálogo envolvendo um padre, uma
freira, um pastor evangélico, um espírita e o presidente da Federação
Espírita Brasileira. Foram momentos de profunda reflexão, interação
humana que nos reforçou a ideia da extrema urgência e necessidade de
iniciativas como esta. É significativo o fato de tais iniciativas
partirem de segmentos do Movimento Espírita, levando-se em conta que o
lema do Espiritismo é “Fora da Caridade não há Salvação”.
Você tem participado de eventos semelhantes?
Participamos de outro evento semelhante,
promovido pela Federação Espírita Paraibana, mas o primeiro evento do
gênero, de que participamos, foi organizado pelo Instituto SER,1
contando com a participação do pastor Enéas e da irmã Aíla, o qual
acabou se transformando em DVD.
Há algum preparo ou condição para tal atuação?
O diálogo deve ser pautado na mais
absoluta liberdade de expressão, todavia, sem perda do respeito mútuo,
do decoro, e da caridade. É preciso deixar claro aos participantes que
não se trata de uma arena, de uma esgrima intelectual, mas de um
encontro de seres humanos que buscam compreender melhor as crenças
alheias de modo a estabelecer vínculos de fraternidade legítima.
O estudo do Evangelho à luz do Espiritismo favorece este entendimento?
O estudo e a prática do Evangelho, à luz
do Espiritismo, nos auxiliam a compreender que Jesus não fazia
distinção de pessoas, nem jamais estabeleceu como pré-requisito a adoção
desta ou daquela crença, que servisse de parâmetro para sua
aproximação. Pelo contrário, buscou a todos indistintamente,
esclarecendo que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor que
devotassem uns aos outros.
Quais os cuidados que devem ser considerados?
É preciso compreender, inicialmente, que
o diálogo inter-religioso exige de quem dele participa um conhecimento
sólido das suas próprias crenças, alicerçado na prática dos valores
morais. No caso do espírita, é necessário que conheça e estude em
profundidade a Doutrina Espírita, esforçando-se para colocar em prática
seus postulados morais, além de estar engajado em atividades no grupo
espírita, a fim de que possa dialogar com conhecimento de causa. Por
outro lado, é necessário que estude, com senso crítico, outras
filosofias, teologias e sistemas de crenças, para que o seu diálogo não
seja pautado pela ingenuidade, dando mostras de ignorância. Não basta a
boa vontade, o diálogo inter-religioso exige preparo, estudo, bom senso.
É indispensável, também, precaver-se do atavismo, ou seja, daquela
tendência que todos trazemos de repetir práticas que já não condizem com
nosso grau de percepção atual. Finalmente, é preciso estar imbuído do
amor ao próximo e da caridade genuína, sem os quais o diálogo se
transforma em exibicionismo e disputa tola, comprometendo os padrões da
fraternidade legítima que devem nortear nossas ações.
Referências:
1 N. R.: SER – Sócio Organização de
Espiritualidade e Religiosidade. Acesso pelo link:
<http://www.portalser.org/o-ser/quemsomos/>.
Fonte: Revista Reformador
quarta-feira, 20 de maio de 2015
terça-feira, 19 de maio de 2015
Licantropia
Licantropia
Compilado do livro Libertação de
André Luiz (espírito) e Francisco Xavier
A
frente de vasta tribuna vazia e sob as galerias laterais abarrotadas de
povo, compacta multidão se amontoava, irreverente. Alguns minutos
decorreram, desagradáveis e pesados, quando absorvente vozerio se fez
ouvido: Os magistrados! Os magistrados! Lugar! Lugar para os sacerdotes
da justiça!
Procurei a paisagem exterior, curiosamente, tanto quanto me era possível, e vi que funcionários rigorosamente trajados à moda dos lictores da Roma antiga, carregando a simbólica machadinha (fasces) ao ombro, avançavam, ladeados por servidores que sobraçavam grandes tochas a lhes clarearem o caminho.
Penetraram o átrio em passos rítmicos e, depois deles, sete andores, sustentados por dignitários diversos daquela corte brutalizada, traziam os juízes, esquisitamente ataviados. Que solenidade religiosa era aquela? As poltronas suspensas eram, em tudo, idênticas à sédia gestatória das cerimônias papalinas.
Varando, agora, o recinto, os lictores passaram o instrumento simbólico às mãos e alinharam-se, corretos, perante a tribuna espaçosa, sobre a qual resplandecia alarmante facho de luz. Os julgadores, por sua vez, desceram, pomposos, dos tronos içados e tomaram assento numa espécie de nicho a salientar-se de cima, inspirando silêncio e temor, porque a turba inconsciente, em redor, calou-se de súbito.
Tambores variados rufaram, como se estivéssemos numa parada militar em grande estilo, e uma composição musical semi-selvagem acompanhou-lhes o ritmo, torturando-nos a sensibilidade. Terminado aquele ruído, um dos julgadores se levantou e dirigiu-se à massa, aproximadamente nestes termos: “Nem lágrimas, nem lamentos. Nem sentença condenatória, nem absolvição gratuita. Esta casa não pune, nem recompensa. A morte é caminho para a justiça. Escusado qualquer recurso à compaixão, entre criminosos. Não somos distribuidores de sofrimento, e, sim, mordomos do Governo do Mundo”.
Nossa função é a de selecionar delinqüentes, a fim de que as penas lavradas pela vontade de cada um sejam devidamente aplicadas em lugar e tempo justos. Quem abriu a boca para vilipendiar e ferir, prepare-se a receber, de retorno, as forças tremendas que desencadeou através da palavra envenenada.
Quem abrigou a calúnia, suportará os gênios infelizes aos quais confiou os ouvidos. Quem desviou a visão para o ódio e para a desordem, descubra novas energias para contemplar os resultados do desequilíbrio a que se consagrou. Quem utilizou as mãos em sementeiras de malícia, discórdia, inveja, ciúme e perturbação deliberada, organize resistência para a colheita de espinhos.
Quem centralizou os sentidos no abuso de faculdades sagradas espere, doravante, necessidades enlouquecedoras, porque as paixões envilecentes, mantidas pela alma no corpo físico, explodem aqui, dolorosas e arrasadoras. A represa por longo tempo guarda micróbios e monstros, segregados a distância do curso tranquilo das águas; todavia, chega um momento em que a tempestade ou a decadência surpreendem a obra vigorosa de alvenaria e as formas repelentes, libertadas, se espalhem e crescem em toda a extensão da corrente.
Seguidores do vício e do crime, tremei! Condenados por vós mesmos, conservais a mente prisioneira das mais baixas forças da vida, à maneira do batráquio encarcerado no visco do pântano, ao qual se habituou no transcurso dos séculos! Nesse ponto, o orador fez pausa e reparei os circunstantes. Olhos esgazeados pelo pavor jaziam abertos em todas as máscaras fisionômicas.
O juiz, por sua vez, não parecia respeitar o menor resquício de misericórdia. Mostrava-se interessado em criar ambiente negativo a qualquer espécie de soerguimento moral, estabelecendo nos ouvintes angustioso temor. Prolongando-se o intervalo, enderecei com o olhar silenciosa interrogação ao nosso orientador, que me falou quase em segredo:
Procurei a paisagem exterior, curiosamente, tanto quanto me era possível, e vi que funcionários rigorosamente trajados à moda dos lictores da Roma antiga, carregando a simbólica machadinha (fasces) ao ombro, avançavam, ladeados por servidores que sobraçavam grandes tochas a lhes clarearem o caminho.
Penetraram o átrio em passos rítmicos e, depois deles, sete andores, sustentados por dignitários diversos daquela corte brutalizada, traziam os juízes, esquisitamente ataviados. Que solenidade religiosa era aquela? As poltronas suspensas eram, em tudo, idênticas à sédia gestatória das cerimônias papalinas.
Varando, agora, o recinto, os lictores passaram o instrumento simbólico às mãos e alinharam-se, corretos, perante a tribuna espaçosa, sobre a qual resplandecia alarmante facho de luz. Os julgadores, por sua vez, desceram, pomposos, dos tronos içados e tomaram assento numa espécie de nicho a salientar-se de cima, inspirando silêncio e temor, porque a turba inconsciente, em redor, calou-se de súbito.
Tambores variados rufaram, como se estivéssemos numa parada militar em grande estilo, e uma composição musical semi-selvagem acompanhou-lhes o ritmo, torturando-nos a sensibilidade. Terminado aquele ruído, um dos julgadores se levantou e dirigiu-se à massa, aproximadamente nestes termos: “Nem lágrimas, nem lamentos. Nem sentença condenatória, nem absolvição gratuita. Esta casa não pune, nem recompensa. A morte é caminho para a justiça. Escusado qualquer recurso à compaixão, entre criminosos. Não somos distribuidores de sofrimento, e, sim, mordomos do Governo do Mundo”.
Nossa função é a de selecionar delinqüentes, a fim de que as penas lavradas pela vontade de cada um sejam devidamente aplicadas em lugar e tempo justos. Quem abriu a boca para vilipendiar e ferir, prepare-se a receber, de retorno, as forças tremendas que desencadeou através da palavra envenenada.
Quem abrigou a calúnia, suportará os gênios infelizes aos quais confiou os ouvidos. Quem desviou a visão para o ódio e para a desordem, descubra novas energias para contemplar os resultados do desequilíbrio a que se consagrou. Quem utilizou as mãos em sementeiras de malícia, discórdia, inveja, ciúme e perturbação deliberada, organize resistência para a colheita de espinhos.
Quem centralizou os sentidos no abuso de faculdades sagradas espere, doravante, necessidades enlouquecedoras, porque as paixões envilecentes, mantidas pela alma no corpo físico, explodem aqui, dolorosas e arrasadoras. A represa por longo tempo guarda micróbios e monstros, segregados a distância do curso tranquilo das águas; todavia, chega um momento em que a tempestade ou a decadência surpreendem a obra vigorosa de alvenaria e as formas repelentes, libertadas, se espalhem e crescem em toda a extensão da corrente.
Seguidores do vício e do crime, tremei! Condenados por vós mesmos, conservais a mente prisioneira das mais baixas forças da vida, à maneira do batráquio encarcerado no visco do pântano, ao qual se habituou no transcurso dos séculos! Nesse ponto, o orador fez pausa e reparei os circunstantes. Olhos esgazeados pelo pavor jaziam abertos em todas as máscaras fisionômicas.
O juiz, por sua vez, não parecia respeitar o menor resquício de misericórdia. Mostrava-se interessado em criar ambiente negativo a qualquer espécie de soerguimento moral, estabelecendo nos ouvintes angustioso temor. Prolongando-se o intervalo, enderecei com o olhar silenciosa interrogação ao nosso orientador, que me falou quase em segredo:
—
O julgador conhece à saciedade as leis magnéticas, nas esferas
inferiores, e procura hipnotizar as vítimas em sentido destrutivo, não
obstante usar, como vemos, a verdade contundente. Não vale acusar a
edilidade desta colônia — prosseguiu a voz trovejante —, porque ninguém
escapará aos resultados das próprias obras, quanto o fruto não foge às
propriedades da árvore que o produziu.
Amaldiçoados sejam pelo Governo do Mundo quem nos desrespeite as deliberações, baseadas, aliás, nos arquivos mentais de cada um. Assinalando, intuitivamente, a queixa mental dos ouvintes, bradou, terrificante: Quem nos acusa de crueldade? Não será benfeitor do espírito coletivo o homem que se consagra à vigilância de uma penitenciária? e quem sois vós, senão rebotalho humano? Não viestes, até aqui, conduzidos pelos próprios ídolos que adorastes?
Nesse momento, convulsivo choro invadiu a muitos. Gritos atormentados, rogativas de compaixão se fizeram ouvir. Muitos se prosternaram de joelhos. Imensa dor generalizara-se. Gúbio trazia a destra sobre o peito, como se contivesse o coração, mas, vendo por minha vez aquele grande grupo de espíritos rebelados e humilhados, orgulhosos e vencidos, lastimando amargamente as oportunidades perdidas, recordei meus velhos caminhos de ilusão e, porque não dizer? Ajoelhei-me também, compungido, implorando piedade em silêncio.
Exasperado, o julgador bradou, colérico: Perdão? Quando desculpastes sinceramente os companheiros da estrada? Onde está o juiz reto que possa exercer, impune, a misericórdia? E incidindo toda a força magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna: Venha! Venha!
Com expressão de sonâmbula, a infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da multidão e colocando-se, em baixo, sob os raios positivos da atenção dele. — Confesse! Confesse! Determinou o desapiedado julgador, conhecendo a organização frágil e passiva a que se dirigia. A desventurada senhora bateu no peito, dando-nos a impressão de que rezava o “confiteor” e gritou, lacrimosa: Perdoai-me! Perdoai-me, ó Deus meu!
E como se estivesse sob a ação de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar o íntimo, diante de nós, falou, em voz alta e pausada: “Matei quatro filhinhos inocentes e tenros e combinei o assassínio de meu intolerável esposo. O crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto me demorei no corpo. Tentei fugir-lhe através de todos os recursos, em vão e por mais buscasse afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me chafurdei no charco de mim mesma.
Amaldiçoados sejam pelo Governo do Mundo quem nos desrespeite as deliberações, baseadas, aliás, nos arquivos mentais de cada um. Assinalando, intuitivamente, a queixa mental dos ouvintes, bradou, terrificante: Quem nos acusa de crueldade? Não será benfeitor do espírito coletivo o homem que se consagra à vigilância de uma penitenciária? e quem sois vós, senão rebotalho humano? Não viestes, até aqui, conduzidos pelos próprios ídolos que adorastes?
Nesse momento, convulsivo choro invadiu a muitos. Gritos atormentados, rogativas de compaixão se fizeram ouvir. Muitos se prosternaram de joelhos. Imensa dor generalizara-se. Gúbio trazia a destra sobre o peito, como se contivesse o coração, mas, vendo por minha vez aquele grande grupo de espíritos rebelados e humilhados, orgulhosos e vencidos, lastimando amargamente as oportunidades perdidas, recordei meus velhos caminhos de ilusão e, porque não dizer? Ajoelhei-me também, compungido, implorando piedade em silêncio.
Exasperado, o julgador bradou, colérico: Perdão? Quando desculpastes sinceramente os companheiros da estrada? Onde está o juiz reto que possa exercer, impune, a misericórdia? E incidindo toda a força magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna: Venha! Venha!
Com expressão de sonâmbula, a infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da multidão e colocando-se, em baixo, sob os raios positivos da atenção dele. — Confesse! Confesse! Determinou o desapiedado julgador, conhecendo a organização frágil e passiva a que se dirigia. A desventurada senhora bateu no peito, dando-nos a impressão de que rezava o “confiteor” e gritou, lacrimosa: Perdoai-me! Perdoai-me, ó Deus meu!
E como se estivesse sob a ação de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar o íntimo, diante de nós, falou, em voz alta e pausada: “Matei quatro filhinhos inocentes e tenros e combinei o assassínio de meu intolerável esposo. O crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto me demorei no corpo. Tentei fugir-lhe através de todos os recursos, em vão e por mais buscasse afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me chafurdei no charco de mim mesma.
De
repente, parecendo sofrer a interferência de lembranças menos dignas,
clamou: “Quero vinho! Vinho! Prazer! Em vigorosa demonstração de poder,
afirmou, triunfante, o magistrado: “Como libertar semelhante fera
humana ao preço de rogativas e lágrimas? Em seguida, fixando sobre ela
as irradiações que lhe emanavam do temível olhar, asseverou,
peremptório: “A sentença foi lavrada por si mesma! Não passa de uma
loba, de uma loba...
A medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a expressão fisionômica. Entortou-se lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea, para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão revestiu-lhe o rosto. Via-se, patente, naquela exibição de poder, o efeito do hipnotismo sobre o corpo perispirítico.
Em voz baixa, procurei recolher o ensinamento de Gúbio, que me esclareceu num cicio: “O remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também é uma brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento. A dureza coagula-nos a sensibilidade durante certo tempo; todavia, sempre chega um minuto em que o remorso nos descerra a vida mental aos choques de retorno das nossas próprias emissões.
A medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a expressão fisionômica. Entortou-se lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea, para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão revestiu-lhe o rosto. Via-se, patente, naquela exibição de poder, o efeito do hipnotismo sobre o corpo perispirítico.
Em voz baixa, procurei recolher o ensinamento de Gúbio, que me esclareceu num cicio: “O remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também é uma brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento. A dureza coagula-nos a sensibilidade durante certo tempo; todavia, sempre chega um minuto em que o remorso nos descerra a vida mental aos choques de retorno das nossas próprias emissões.
E
acentuando, de modo singular, a voz quase imperceptível, acrescentou:
“Temos aqui a gênese dos fenômenos de “licantropia”, inexplicáveis,
ainda, para a investigação dos médicos encarnados. Lembras-te de
Nabucodonosor, o rei poderoso, a que se refere a Bíblia? Conta-nos o
Livro Sagrado que ele viveu, sentindo-se animal, durante sete anos. O
hipnotismo é tão velho quanto o mundo e é recurso empregado pelos bons e
pelos maus, tomando-se por base, acima de tudo, os “elementos plásticos
do perispírito”.
Notando, porém, que a mulher infeliz prosseguia guardando estranhos caracteres no semblante perguntei: “Esta irmã infortunada permanecerá doravante em tal aviltamento da forma? Finda longa pausa, o Instrutor informou, com tristeza: “Ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse”.
Além disso, se se adaptou às energias positivas do juiz cruel, em cujas mãos veio a cair, pode também esforçar-se intimamente, renovar a vida mental para o bem supremo e afeiçoar-se à influenciação de benfeitores que nunca escasseiam na senda redentora. Tudo, André, em casos como este, se resume à problema de sintonia. Onde colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida.
Notando, porém, que a mulher infeliz prosseguia guardando estranhos caracteres no semblante perguntei: “Esta irmã infortunada permanecerá doravante em tal aviltamento da forma? Finda longa pausa, o Instrutor informou, com tristeza: “Ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse”.
Além disso, se se adaptou às energias positivas do juiz cruel, em cujas mãos veio a cair, pode também esforçar-se intimamente, renovar a vida mental para o bem supremo e afeiçoar-se à influenciação de benfeitores que nunca escasseiam na senda redentora. Tudo, André, em casos como este, se resume à problema de sintonia. Onde colocamos o pensamento, aí se nos desenvolverá a própria vida.
Fonte: Harmonia espiritual
segunda-feira, 18 de maio de 2015
domingo, 17 de maio de 2015
Instrumento Divino
Instrumento Divino
O violino é instrumento delicado, rico de melodias aguardando execução.
Deixado à umidade, perde a ressonância.
Manipulado com rispidez, desafina-se.
Largado ao abandono, sofre a invasão de insetos que o destroem.
Utilizado com brutalidade, arrebenta-se.
Esquecido em temperaturas elevadas, estala e rompe a caixa acústica.
Em mãos inábeis, perde a finalidade e o valor.
Em museu, é peça morta.
Atirado ao lixo, torna-se inutilidade.
No entanto, cuidado, recebendo afinação, conduzido com carinho, reflete as melodias divinas ao contato com o arco que lhas arranca, vibrando harmonias incomparáveis que lhe saem das cordas distendidas e equilibradas.
O médium, de certa forma, pode ser comparado ao violino.
Afinado com os dons da vida e colocado em mãos treinadas, acostumadas às músicas divinas, traz, à Terra, as gloriosas mensagens da Imortalidade.
Posto em comunhão com o bem, esparze harmonias que facultam paz e estimulam ao amor.
Estando em ação correta, participa da orquestração da Vida, expressando a glória da Criação em concertos de indefiníveis estesias.
Sob a ardência das paixões primitivas, porém, arrebenta os centros de comunicação e perverte a finalidade a que se destina.
Cultivando os instintos primários e dando-lhes expressão, tomba nos depósitos de lixo das obsessões penosas.
Absorvendo a queixa e o pessimismo, perde a afinidade com os instrumentistas superiores.
Relegando-se ao marasmo, desconecta os centros de registro elevado.
Utilizado para o mercantilismo e as frivolidades, gasta-se nos prejuízos destruidores.
Compulsado por Entidades perversas, morrem-lhe os ideais de enobrecimento, e embrustece-se, caindo depois na alucinação auto-aniquiladora.
O violino e o médium têm muita semelhança.
São, em si mesmos, neutros, dependendo de como se deixam utilizar.
O violino, porque não possui razão nem inteligência, depende totalmente do seu possuidor, quanto o médium resulta da conduta moral que imprimir à sua faculdade.
Deixa-te tanger pelas mãos dos artistas espirituais de elevado porte, a fim de que possas transmitir as melodias da Vida Maior para felicitar as criaturas.
Em qualquer situação, permanece cauteloso, zelando pelos teus equipamentos, de modo a responder em harmonia a todas as emissões dos artistas divinos, como instrumento sintonizado com a sublime orquestra do amor de Nosso Pai.
Deixado à umidade, perde a ressonância.
Manipulado com rispidez, desafina-se.
Largado ao abandono, sofre a invasão de insetos que o destroem.
Utilizado com brutalidade, arrebenta-se.
Esquecido em temperaturas elevadas, estala e rompe a caixa acústica.
Em mãos inábeis, perde a finalidade e o valor.
Em museu, é peça morta.
Atirado ao lixo, torna-se inutilidade.
No entanto, cuidado, recebendo afinação, conduzido com carinho, reflete as melodias divinas ao contato com o arco que lhas arranca, vibrando harmonias incomparáveis que lhe saem das cordas distendidas e equilibradas.
O médium, de certa forma, pode ser comparado ao violino.
Afinado com os dons da vida e colocado em mãos treinadas, acostumadas às músicas divinas, traz, à Terra, as gloriosas mensagens da Imortalidade.
Posto em comunhão com o bem, esparze harmonias que facultam paz e estimulam ao amor.
Estando em ação correta, participa da orquestração da Vida, expressando a glória da Criação em concertos de indefiníveis estesias.
Sob a ardência das paixões primitivas, porém, arrebenta os centros de comunicação e perverte a finalidade a que se destina.
Cultivando os instintos primários e dando-lhes expressão, tomba nos depósitos de lixo das obsessões penosas.
Absorvendo a queixa e o pessimismo, perde a afinidade com os instrumentistas superiores.
Relegando-se ao marasmo, desconecta os centros de registro elevado.
Utilizado para o mercantilismo e as frivolidades, gasta-se nos prejuízos destruidores.
Compulsado por Entidades perversas, morrem-lhe os ideais de enobrecimento, e embrustece-se, caindo depois na alucinação auto-aniquiladora.
O violino e o médium têm muita semelhança.
São, em si mesmos, neutros, dependendo de como se deixam utilizar.
O violino, porque não possui razão nem inteligência, depende totalmente do seu possuidor, quanto o médium resulta da conduta moral que imprimir à sua faculdade.
Deixa-te tanger pelas mãos dos artistas espirituais de elevado porte, a fim de que possas transmitir as melodias da Vida Maior para felicitar as criaturas.
Em qualquer situação, permanece cauteloso, zelando pelos teus equipamentos, de modo a responder em harmonia a todas as emissões dos artistas divinos, como instrumento sintonizado com a sublime orquestra do amor de Nosso Pai.
Joanna de Ângelis e Divaldo Franco
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