O
jugo leve
Ev.
Cap. VI – Item 7
Vinde
a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados
que eu vos aliviarei.
(Mateus, 11:28.)
Jesus humanizado é o
grande médico das almas, que as conhecendo em profundidade, apresenta a terapia
recuperadora, ao tempo que oferece a libertadora, que evita novos
comprometimentos.
Conhecendo a causalidade
que desencadearia as aflições, que são consequências funestas das ações
anteriores infelizes que as geraram, propõe como recurso melhor, para a total liberação
do seu contingente perturbador, a conquista da luz interna, superando toda a
sombra que campeia nas consciências.
Essa claridade
incomparável capaz de anular todos os prejuízos e evitar novas projeções de
sofrimentos é o cultivo do amor, sustentado pela oração que se converte em
canal de irrigação da energia que procede de Deus e vitaliza a criatura humana.
Com esse recurso
incomparável, a docilidade no trato com o semelhante permite que as Forças
espirituais que promanam das imarcescíveis regiões da plenitude alcancem a
intimidade daquele que ora, nele produzindo o milagre da harmonia e da
claridade interior permanentes.
O Homem-Jesus, absolutamente
lúcido e conhecedor do Self que lhe
mantinha a organização humana, era todo luz, não havendo qualquer espaço
sombra, o lado escuro que devesse ser penetrado, a fim de erradicar mazelas,
desde que o houvera superado em experiências multifárias nas Esferas Superiores
de onde provinha.
Encarnando-se na Terra,
não fugiu ao confronto com as imposições dominantes entre os Seus coevos,
mantendo-se imperturbável, mas não insensível aos seus desmandos e irreflexões,
loucuras e infantilidades evolutivas, razão por que procurava extirpar do cerne
das vidas que O buscavam os agentes geradores das aflições que as esmagavam, e
os levavam à hediondez, ao crime, à mentira, ao ódio, novos desencadeadores de
futuras inquietações.
O Seu fardo se fazia
leve, porque estruturado em claridade diamantina, sem qualquer contingente de
tormento, ensejando o alívio imediato ao penetrar na projeção do Seu pensamento
irradiante que cindia toda treva.
N’Ele estavam os
recursos valiosos para a saúde espiritual, consequentemente, de natureza moral,
emocional, física...
O ser humano é o
somatório das suas aspirações e necessidades, mas também o resultado de como
aplica esses recursos que o podem escravizar ou libertar.
A predominância da
sombra, ou do lado escuro, é efeito compreensível da ignorância ou do
acumpliciamento com o crime, derivado da preservação dos instintos primários em
predominância no seu comportamento.
Enquanto não seja
diluída essa sombra, facultando o entendimento das responsabilidades e dos
compromissos que favorecem o progresso, mais se aturde na escuridão aquele que
deseja encontrar rumos que não são visíveis.
A sua existência se
torna um pesado fardo para conduzir, um tormento mental e conflitivo na
consciência enenebrecida.
O amor, que significa
conquista emocional superior, rompe a densidade da ignorância, enquanto a
oração dilui as espessas ondas escuras que envolvem o discernimento.
Mediante o amor, o ser
descobre o sentido existencial, tornando-se humano, isto é, adquirindo
sentimento de humanidade com libertação da alta carga de animalidade nele
prevalecente, compreendendo a necessidade de compartir com o seu irmão o que
tenha, mas também de repartir quanto o enriquece.
Através da oração
identifica-se com outras ondas psíquicas e impregna-se de energias saturadoras
de paz, bem como enriquecedoras de alegria de viver e de crescer no rumo da
plenitude.
A soberba, filha dileta
do egoísmo, que lhe faculta atribuir-se um valor que ainda não possui, cede
lugar à humildade, que o ajuda a visualizar a grandeza da Vida e a pequenez em
que ainda se debate, incitando-o à coragem e à abnegação, como o devotamento às
causas de enobrecimento em que se engajará, buscando os objetivos reais agora
vislumbrados e fascinantes.
Toda a terapêutica
proposta por Jesus é libertadora, total e sem recuo. Ele não se detém à borda
do problema, mas identifica-o, despertando o problematizado para que não
reincida no erro, no comprometimento moral com a consciência, a fim de que não
lhe aconteça algo pior, quais sejam a amargura sem consolo, a expiação sem
alternativa, o impositivo do resgate compulsório.
Esse Homem singular
sempre foi peremptório na proposta da decisão de cada um, respeitando o livre-arbítrio,
o direito de escolha que é inalienável, definindo rumos da felicidade terrena,
que prosseguiriam no Reino dos Céus, ou demonstrando que através do sofrimento
resignado, bem-vivido, já se devassavam as fronteiras do Reino, embora ainda no
mundo físico.
Essa visão de
profundidade define o Messias nazareno como a Luz que veio ao mundo e o mundo a
recusou, preferindo a densidade do nevoeiro envolvente e alucinante.
Sóbrio e austero, sem
dureza ou crueldade, sempre compassivo, mas não conivente, demonstrou pelo
exemplo como viver-se em equilíbrio e
morrer-se em serenidade, mesmo que através de qualquer flagício imposto.
Ninguém houve que
mantivesse tanta serenidade na alegria da pregação da Boa-Nova, sem a exaltação
que tisna a beleza do conteúdo da Mensagem ou receio de que ela demorasse a se
implantar no coração da Humanidade, não importando o tempo que fosse
necessário, o que, realmente, é de significado secundário.
O Espírito é eterno, e a
relatividade temporal é sempre sucedida pela sua perenidade.
Feliz aquele que opta
por experimentar o bem-estar no momento em que respira e entende; desditoso
aquele que, conhecendo a forma para tornar-se pleno, posterga a oportunidade,
aguardando os impositivos inevitáveis da sujeição e do sofrimento para resolver-se
pelo adquirir o que rejeitara anteriormente.
Sob outro aspecto, Ele
nunca se apresentou como solucionador de problemas, antes invitou todos a
fazerem a sua parte, a se responsabilizarem pelos próprios deveres, tornando-se
o Educador que sempre se fez compreender, nunca transferindo responsabilidades
que a cada qual pertencem, como mecanismos falsos para atrair ou gerar
proselitismo em torno da Sua pessoa.
Diferindo de todos os
demais homens, não se revestiu de aspecto excêntrico ou tomou atitudes
aberrantes para chamar a atenção, mantendo-se sempre o mesmo, preservando o
critério da seleção natural pelo mérito de cada discípulo que se Lhe associasse
ao Ministério.
Era compreensível,
portanto, que a comunidade judaica do Seu tempo e a sociedade quase em geral de
todos os tempos não aceitassem o Seu método. Acostumados que se encontram os
homens ao vazio do comportamento moral, às concessões da mentira e da
bajulação, aos esconsos compromissos seletivos, viam-no e ainda O veem alguns
indivíduos como um violador dos costumes – infelizes, é certo – que predominam
nas consciências ensombradas de governantes insensatos e das massas
desgovernadas.
Não obstante, Ele
permaneceu fiel ao Seu compromisso, sem o alterar para iludir ou arrebanhar
simpatizantes.
Sua austeridade e
misericórdia conquistavam naturalmente sem promessas mentirosas nem concessões
inúteis, dando o primeiro sinal para o despertar para a Verdade, passo
indispensável para futuras revoluções internas que seriam operadas no cerne de
cada qual.
É incomparável Jesus, o
responsável pelo fardo leve, em razão da Sua autoridade moral, ainda não
totalmente reconhecida pela Psicologia Profunda como o Homem de palavras
claras, de ensinamentos sem dubiedades, de vivência sem recalques ou fugas.
Veio instruir e consolar
mediante o exemplo de dedicação, jamais se acomodando ao modus vivendi e
operandi, abrindo sulcos novos no solo dos corações para neles ensementar as
palavras seguras e medicamentosas para a preservação da saúde e da vida.
Ante os desafios mais
vigorosos e as situações mais inclementes, não desistir dos ideais de beleza,
não ceder espaço ao mal, não negociar com as sombras, permanecendo-se
verdadeiro, luminoso, de consciência reta, decidido – eis a Sua proposta,
conforme Ele próprio a viveu.
Sendo o Caminho, único,
aliás, para chegar-se a Deus, não teve outra alternativa senão afirmar:
- Vinde a mim, todos que
estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei.
Por Joanna de Ângelis e
Divaldo Franco
Obra: Jesus e o
Evangelho à Luz da Psicologia Profunda
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