Reformador: O que você entende por diálogo inter-religioso?
Haroldo: A experiência
nos tem demonstrado que o diálogo inter-religioso é o aprimoramento da
capacidade individual de escuta. Representa um incremento da nossa
habilidade de ouvir, já que possibilita a rara oportunidade de tomar
contato com as crenças de nossos semelhantes sem as deturpações
decorrentes de uma exposição crítica, tendenciosa ou maliciosa. Ao
estabelecermos uma relação de respeito, de acolhimento e de livre
expressão temos a chance de avaliar ideias, sistemas de crenças de
maneira mais imparcial, seguindo os ditames da fé raciocinada e do bom
senso preconizados pelo Espiritismo.
O momento atual favorece tais diálogos?
Diríamos que o momento atual clama pelo
diálogo inter-religioso, tendo em vista as recentes manifestações de
fundamentalismo, com amplos prejuízos para a sociedade, inclusive
ceifando vidas inocentes. Acreditamos que o diálogo maduro, honesto e
respeitoso é a única via para mitigar o ódio, o sectarismo e a
intolerância.
Em recente Congresso da Federação
Espírita do Estado de Goiás (Feego) você coordenou um evento dessa
natureza. Poderia falar algo a respeito?
No último Congresso da Feego tivemos a
oportunidade de conduzir uma mesa de diálogo envolvendo um padre, uma
freira, um pastor evangélico, um espírita e o presidente da Federação
Espírita Brasileira. Foram momentos de profunda reflexão, interação
humana que nos reforçou a ideia da extrema urgência e necessidade de
iniciativas como esta. É significativo o fato de tais iniciativas
partirem de segmentos do Movimento Espírita, levando-se em conta que o
lema do Espiritismo é “Fora da Caridade não há Salvação”.
Você tem participado de eventos semelhantes?
Participamos de outro evento semelhante,
promovido pela Federação Espírita Paraibana, mas o primeiro evento do
gênero, de que participamos, foi organizado pelo Instituto SER,1
contando com a participação do pastor Enéas e da irmã Aíla, o qual
acabou se transformando em DVD.
Há algum preparo ou condição para tal atuação?
O diálogo deve ser pautado na mais
absoluta liberdade de expressão, todavia, sem perda do respeito mútuo,
do decoro, e da caridade. É preciso deixar claro aos participantes que
não se trata de uma arena, de uma esgrima intelectual, mas de um
encontro de seres humanos que buscam compreender melhor as crenças
alheias de modo a estabelecer vínculos de fraternidade legítima.
O estudo do Evangelho à luz do Espiritismo favorece este entendimento?
O estudo e a prática do Evangelho, à luz
do Espiritismo, nos auxiliam a compreender que Jesus não fazia
distinção de pessoas, nem jamais estabeleceu como pré-requisito a adoção
desta ou daquela crença, que servisse de parâmetro para sua
aproximação. Pelo contrário, buscou a todos indistintamente,
esclarecendo que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor que
devotassem uns aos outros.
Quais os cuidados que devem ser considerados?
É preciso compreender, inicialmente, que
o diálogo inter-religioso exige de quem dele participa um conhecimento
sólido das suas próprias crenças, alicerçado na prática dos valores
morais. No caso do espírita, é necessário que conheça e estude em
profundidade a Doutrina Espírita, esforçando-se para colocar em prática
seus postulados morais, além de estar engajado em atividades no grupo
espírita, a fim de que possa dialogar com conhecimento de causa. Por
outro lado, é necessário que estude, com senso crítico, outras
filosofias, teologias e sistemas de crenças, para que o seu diálogo não
seja pautado pela ingenuidade, dando mostras de ignorância. Não basta a
boa vontade, o diálogo inter-religioso exige preparo, estudo, bom senso.
É indispensável, também, precaver-se do atavismo, ou seja, daquela
tendência que todos trazemos de repetir práticas que já não condizem com
nosso grau de percepção atual. Finalmente, é preciso estar imbuído do
amor ao próximo e da caridade genuína, sem os quais o diálogo se
transforma em exibicionismo e disputa tola, comprometendo os padrões da
fraternidade legítima que devem nortear nossas ações.
Referências:
1 N. R.: SER – Sócio Organização de
Espiritualidade e Religiosidade. Acesso pelo link:
<http://www.portalser.org/o-ser/quemsomos/>.
Fonte: Revista Reformador
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