VONTADE: FERRAMENTA DA EVOLUÇÃO
Há,
porém, muitas outras coisas que Jesus fez;
e se cada uma das quais
fosse escrita, cuido que
nem ainda o mundo todo poderia conter os livros
que se escrevessem. Amém. (João, 21:25)
Jesus
não perdia a menor oportunidade para ensinar; qualquer situação,
qualquer momento, aparentemente insignificante, suscitava para Ele
lições de extremada importância para a Humanidade. O tempo urgia, não
podia tergiversar. Cada momento tinha o seu valor.
Uma dentre tantas lições de profundeza moral merece destaque especial (Marcos, 11:12 a 14; 19 a 26):
"E
no dia seguinte, quando saíram de Betânia teve fome. E vendo de longe
numa figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa: e
chegando a ela não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.
E Jesus falando, disse à figueira: nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto. (...)
E
sendo já tarde saiu fora da cidade. E eles, passando pela manhã, viram
que a figueira se tinha secado desde as raízes. E Pedro, lembrando-se,
disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que tu amaldiçoaste secou. E
Jesus, respondendo, disse-lhe: Tende fé em Deus; Porque, em verdade vos
digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar; e
não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o
que disser lhes será feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes,
orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis; E, quando estiverdes orando,
perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai que
está nos céus vos perdoe as vossas ofensas; Mas, se vós não perdoardes,
também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas
ofensas."
É
interessante observar que, nessa belíssima passagem evangélica, de
profunda significação, Pedro não compreendeu de imediato a lição do
Mestre, ele sentiu apenas o que seus sentidos registraram, e assim
entendeu a atitude de Jesus como se fosse uma maldição.
O
divino Amigo, todavia, não tinha tempo a perder, não tentou sequer
justificar-se. Ele, a personificação do Amor, jamais prejudicaria quem
quer que fosse; quanto mais uma inofensiva árvore, por não ter frutos
fora de época. Ele tinha conhecimento de todas as leis da Natureza e em
instante algum as transgrediria.
A
atitude de Jesus descortinou, como em tantos outros momentos, a
sabedoria do Grande Mestre: demonstrar na prática o poder que o homem
carrega dentro de si; poder esse que, usado à revelia, pode causar
malefícios irreversíveis não só contra a Natureza, mas também contra si e
os semelhantes.
(Sabe-se
hoje, através de estudos e também pela revelação dos Espíritos, o poder
que o pensamento armazena e se expressa pelas palavras. E, de acordo
com a emoção, o vigor veiculado, emite jatos de energia magnética na
direção do sujeito ou objeto focalizado.)
Primeiro
a lição prática: Jesus usou a vontade, através das palavras, para secar
a figueira. Deu um tempo suficiente e retornou para completar a lição
por meio da teoria.
É então que ressalta o poder da palavra quando pronunciada com fé somada ao poder da oração: "Tende fé em Deus (...), tudo que pedirdes orando crede que o recebereis e tê-lo-eis..."
Mas não deixa de alertar sobre a importância do perdão: "(...)
e quando estiverdes orando perdoai se tendes alguma coisa contra
alguém, para que vosso Pai que está nos céus vos perdoe as vossas
ofensas."
Neste
alerta está nitidamente expressa a força poderosa da Vontade. Jesus
usou-a. Os homens podem também usá-la. A tarefa que aguardava os Seus
discípulos exigia um grande esforço interior, muita vontade, e bem
dirigida, para prosseguirem até o fim.
Logo em seguida, completando o alerta, o Mestre conclui: (...) mas se vós não perdoardes, também vosso Pai que está nos céus vos não perdoará as vossas ofensas."
Nessa
conclusão, Jesus esclarece que os atos oriundos de qualquer ofensa não
serão perdoados. Portanto, cada ação é da responsabilidade de seu autor
perante as divinas leis.
O
Homem encarnado, em sua tríplice composição - corpo, perispírito,
Espírito -, ainda desconhece o potente manancial fluídico que possui.
Assim sendo, usa-o às cegas, como a criança que não avalia o perigo que
representam certos elementos e objetos nas próprias mãos.
O
perispírito, corpo fluídico do Espírito, está intimamente ligado ao
corpo físico e ao Espírito; assim sendo, conduz o pensamento que se
exterioriza sob o comando poderoso e autoritário da vontade.
A
atividade constante, dinâmica, ininterrupta do pensamento, sob esse
comando, age vigorosamente sobre a atmosfera do ambiente em que atua;
sobre as pessoas com as quais convive; sobre o próprio corpo espiritual,
que, por sua vez, reflete no corpo físico e no Espírito. A reação se
apresenta de acordo com a qualidade da emissão - boa ou má, superior ou
inferior, construtiva ou destrutiva, viciosa ou edificante - que será
multiplicada pelo tipo de companhia espiritual que possa atrair.
Assim, pensamentos, palavras de amor, ternura, piedade projetam energias salutares que impregnam a atmosfera em que se respira:
Deus
te abençoe! Tenha um bom dia! Tudo vai dar certo! Esse procedimento
atrai os bons Espíritos que, por sua vez, colaboram na emissão de
energias enriquecedoras.
Todavia, pensamentos e palavras de ódio, raiva, deboche, revolta, projetam energias deletérias:
Maldição!
Vá pro inferno! Nada dá certo comigo! Todo tipo de obscenidade e
palavrões. E os Espíritos infelizes são atraídos pelo magnetismo
emitido, aproximam-se e colaboram na ampliação dos fluidos saturados,
bem como na concretização dos pensamentos infelizes.
Por
isso, frases otimistas, cheias de fé, de esperança, reanimam. Frases
pessimistas abatem o ânimo. Portanto, o estado de ânimo depende da vontade, do querer.
Existe
um axioma popular que diz: "Querer é poder!" Realmente, o querer, a
vontade, são poderosos. Quando se quer com vigor, consegue-se, pois a
emissão das energias é impulsionada pela vontade e dá força para
reverter qualquer estado negativo, depressivo em que se encontra. Com
fé, se atraem amigos espirituais e, através da oração, estabelece-se
sintonia com os Planos Superiores. Por isso, Jesus afirmou: (...)
qualquer que disser a este monte ergue-te e lança-te ao mar, e não
duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que
disser lhe será feito."
A
vontade se manifesta através dos pensamentos, palavras, gestos, atos,
nos momentos mais simples da vida, quando se quer, ou não se quer:
falar, andar, comer, sorrir, chorar... até os atos mais complexos:
pensar, refletir, progredir, amar, obedecer, estudar, criar, prejudicar,
mentir, acusar, e assim por diante.
A
vontade pode ser direcionada a favor do próprio indivíduo ou contra
ele, os semelhantes, a Natureza, um ideal. Para o bem, para o mal. Para
construir, para destruir.
Léon Denis define muito bem a vontade: "A
Vontade é força suprema; é a própria alma que exerce o seu império
sobre as potências inferiores: o uso que dela façamos determinará nosso
adiantamento preparando o nosso futuro, fortificando-nos ou
deprimindo-nos." ("Depois da Morte", pág. 212).
Num outro momento, o grande estudioso da Doutrina dos Espíritos afirma:
O
poder da vontade sobre os fluidos é ilimitado e aumenta com a elevação
do Espírito. No ambiente terrestre, seu poder sobre a matéria é
limitado, visto que o homem não se conhece e não sabe utilizar as forças
que estão nele..." (Idem, pág. 209).
O
poder da vontade se compara ao da água e do fogo: Quando bem
direcionados, controlados, são os maiores indutores do progresso; porém,
sem controle, sem limites, causam tragédias e destruições.
No
episódio da figueira, Jesus demonstrou o poder de destruição da
vontade, e a necessidade de usá-la para o bem. Para tanto, acrescentou a
fé, a oração e o perdão, para que seus efeitos se ampliassem.
Na
breve existência sobre a Terra, Seus feitos exaltaram não apenas o
poder da vontade, mas também os seus benefícios: curou cegos,
paralíticos, leprosos, obsidiados, acalmou tempestades, caminhou sobre
as águas, suportou dores físicas e morais superlativas. Jesus manipulava
os fluidos com conhecimento de causa. Assim, usou a figueira para que
Seus discípulos testemunhassem a força, o manancial de energia que cada
um possuía e, ao mesmo tempo, aprendessem a manipular corretamente essas
energias. É preciso conhecer a ferramenta para utilizá-la com proveito.
O
mal não é criação divina. É o produto da inferioridade do homem. Deus
deu-lhe as ferramentas para serem bem usadas. Quando mal utilizadas,
produzem malefícios, tanto para si quanto para os semelhantes, afetando a
ambiência em que vive. Assim, ao observar detalhadamente as múltiplas
utilidades que uma lâmina apresenta, em suas diferentes versões,
perceber-se-á que abre caminhos ásperos; facilita a vida doméstica;
salva vidas e as prolonga em salas de cirurgia. Tornou-se, portanto,
instrumento de sobrevivência da Humanidade. No entanto, nem sempre se
imagina quanto mal, quanta desgraça acarreta quando mal empregada.
Todavia, nos bastidores de toda essa dinâmica progressiva ou destrutiva a
vontade se faz presente.
A
vontade, mal direcionada pelo homem, é hoje a principal causadora dos
despautérios em que a Terra se debate. É necessário reverter o
direcionamento de seus desejos para o bem comum, para o amor, para a
fraternidade. Ninguém vive feliz projetando destruição... Pois,
destruindo a seara alheia se destrói as próprias fontes de vida em que
se respira.
A demonstração do Divino Amigo para Seus discípulos foi também para a Humanidade de todos os tempos: "Nunca mais coma alguém fruto de ti."
Nessa breve demonstração, iluminou consciências inexperientes: tudo que se destrói no presente, com certeza faltará no futuro.
Sem
vontade não se constrói, não se evolui. A vida se compõe de desafios
constantes. A cada desafio vencido, uma vitória alcançada. Se a cada
desafio forem somados a força da fé, o poder da oração e a plenitude do
perdão, não há o que temer. A vontade bem direcionada conduzirá a alma
pelos caminhos do Amor.
Nos momentos cruciais em que as asperezas das provas enfraquecerem a vontade, é importante recordar:
Num
momento de ira, Moisés destruiu as tábuas da lei; mas, de vontade
firme, armou-se de humildade, retornou à áspera tarefa e recuperou os
Dez Mandamentos.
Num momento de inferioridade, Judas traiu Jesus.
Num instante de medo, a vontade de Pedro vacilou, e ele negou Jesus.
Num momento de autoridade, Paulo perseguiu Jesus; todavia, num arroubo de coragem, abandonou tudo e seguiu Jesus.
Com a vontade centrada no Divino Mestre Jesus, todos se redimiram.
A. Merci Spada Borges - "O Reformador" - Novembro/2000 - Págs. 336/337.
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