Isto é um erro. A mediunidade, para nos situarmos em sua
conceituação, é a faculdade que possuímos de entrar em contato com o
plano espiritual. É uma faculdade que todos possuímos, embora se
manifeste diversamente, em qualidade e intensidade, nas diferentes
pessoas. A mediunidade possui um forte componente orgânico. Sabemos que a
glândula pineal, localizada no cérebro, tem importante papel na
mediunidade. Além da glândula pineal, localizada no corpo físico, nosso
corpo espiritual, ou perispírito, tem importante papel na mediunidade.
Conforme a doutrina espírita, no homem há três coisas: o espírito, que é
o ser inteligente; o corpo físico que é o instrumento e o perispírito,
que é o intermediário entre o espírito e o corpo. O médium, portanto, a
depender das qualidades de sua glândula pineal, e de seu perispírito,
pode apresentar diferentes tipos de mediunidade, e manifestar estas
faculdades mais ou menos intensamente, ou ostensivamente, como se
costuma falar. Como estamos tratando dos diferentes tipos de
mediunidade, vamos primeiro enumerá-las, para depois entrar em detalhes
sobre cada uma delas.
Inicialmente é preciso considerar que a
mediunidade é a faculdade pela qual os espíritos se manifestam a nós, e
que estas manifestações podem ser divididas em dois grandes grupos:
manifestações físicas e manifestações inteligentes. Chamamos de
manifestações físicas aquelas que não contém mensagens ou comunicações,
como pancadas, ruídos, movimento de objetos, aparições mudas, etc.
Chamamos de manifestações inteligentes aquelas nas quais os espíritos de
alguma forma se comunicam conosco, expondo suas ideias ou respondendo
nossas perguntas. Por vezes estas manifestações podem ocorrer
concomitantemente, ou seja, podem ocorrer ruídos e pancadas seguidas da
aparição de um espírito que se faça ouvir e com quem se possa palestrar.
Mas é importante lembrarmos que nem todos os médiuns são capazes de
produzir todos os fenômenos. Há médiuns clarividentes, por exemplo, que
não são capazes de fazer mover objetos, ou que nunca experimentaram o
assédio de pancadas e ruídos. Há excelentes médiuns psicógrafos que não
são capazes de ouvir espíritos. Há médiuns clariaudientes, que dialogam
frequentemente com diversos espíritos, que não são capazes de ver
espírito algum.
Ao contrário do que muitos pensam, ver
espíritos não é a faculdade mais desejável, nem a que faz render os
melhores frutos para a humanidade. A faculdade de psicografia oferece
inúmeras vantagens. A primeira delas é a de possibilitar registros
escritos, duradouros. A segunda, é que permite uma análise demorada da
comunicação, que permita a identificação e a comprovação da identidade
do espírito comunicante. A terceira é que pode ser impressa e
multiplicada a fim de distribuir a mensagem dos espíritos superiores. A
psicografia possui algumas características que valem a pena ser
destacadas. O médium que psicografa pode captar a mensagem de diferentes
maneiras. Pode ouvir um ditado em sua audição espiritual, que só o
médium ouve, e então traçar de próprio punho as letras que se lhe
sugere. É a psicografia intuitiva. Pode ser tomado de um frêmito em seu
braço, ou seus braços, e tomar um lápis ou caneta, traçando movimentos
involuntários e frequentemente que perfazem caracteres que o médium
desconhece, percebendo seu conteúdo somente após a mensagem, ao lê-la. É
a psicografia mecânica. A forma mais comum é a psicografia
semimecânica, que é um misto das duas. A psicografia, em casos mais
raros, pode apresentar a caligrafia do espírito comunicante, ou
especialmente, a caligrafia do espírito em sua assinatura.
O nosso saudoso médium Francisco Cândido
Xavier possuía esta característica em boa parte das mensagens que
psicografava, e isto muito ajudou na comprovação dos fenômenos
espíritas, e na constituição de uma prova da sobrevivência da alma após a
morte. Existem outros tipos de mediunidade, mas, neste momento, vamos
falar sobre mediunidade e sonambulismo.
Quando ocorre a eclosão mediúnica?
Se você se refere à fase em que a
mediunidade eclode, ou desponta, o mais comum é na adolescência, embora
possa se dar desde a infância até a maturidade. Mas é bom lembrar que
até os sete anos de idade a criança ainda não completou sua reencarnação
como um todo. É passível de se comunicar com “amigos imaginários”, que
na verdade se tratam de espíritos. E pessoas muito idosas, no leito de
morte, já iniciam o processo de desligamento, sendo igualmente capazes
de entrar em contato mais facilmente com a espiritualidade. Experiências
de quase-morte e momentos de grave doença são capazes de proporcionar
momentos de contato com o plano espiritual.
O que é o sonambulismo? É um tipo de mediunidade? Não se pode confundir o sonambulismo com a mediunidade sonambúlica.
Para tanto, vamos lembrar do que se trata
o sonambulismo. No sonambulismo, o espírito, durante o sono, se
desprende parcialmente do corpo físico. Neste estado, o espírito passa a
controlar o corpo, sendo capaz de levantá-lo de seu repouso e
dirigir-se a outros lugares da casa, permanecendo o corpo em estado de
sono. O espírito é capaz de guiar o corpo, mesmo estando este de olhos
fechados, abrir e fechar portas, apanhar objetos etc. Entretanto, é
importante lembrar que o fenômeno não é mediúnico. Na mediunidade
sonambúlica, ocorre um fenômeno análogo. Só que não é o espírito do
médium que passa a controlar o corpo, mas sim, outro. Daí que o fenômeno
passa a ser mediúnico. Só que o que se obtém, via de regra, não é um
passeio do corpo, mas uma comunicação, num estado em que o médium se
encontra completamente inconsciente.
Aparelhos eletrônicos que ligam sozinhos. Isso é mediunidade?
É mediunidade, frequentemente. Assim como
os espíritos são capazes de mover objetos, são capazes de pressionar
botões ou teclas que iniciam os aparelhos. É preciso, entretanto,
certificar-se de que se trata de um fenômeno mediúnico. Por exemplo, se
ocorre sempre com a mesma pessoa, é um indício, pois o fenômeno depende
de um médium de efeitos físicos presente. Se tratando de mais de um
aparelho, a hipótese de defeito mecânico fica menos provável,e assim por
diante. É preciso que o médium que se reconhece a partir destes
fenômenos procure educação mediúnica, o que não significa, de maneira
alguma, trabalho mediúnico ou desenvolvimento mediúnico. O que importa, é
conhecer a mediunidade para se prevenir contra os problemas que a
ignorância pode acarretar.
Quais outros meios para se ter certeza de que se trata mesmo de um fenômeno mediúnico?
Dois meios eu já indiquei, que consiste
na verificação da ocorrência do fenômeno a partir da presença de uma
pessoa em específico. Outro é o da verificação da ocorrência em mais de
um aparelho, pois seria muita coincidência que mais de um aparelho
estivesse com este defeito em especial. Um terceiro seria a verificação
da ocorrência de outros fenômenos físicos que se lhe acompanham, como
movimentos de objetos, ruídos etc. É preciso fé em Deus e nos espíritos
em diversas ocasiões da vida, mas na comprovação de fenômenos mediúnicos
é preciso uma boa dose de ceticismo.
Como podemos definir transe mediúnico?
“O estado de transe é esse grau de sono
magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se
do corpo carnal, e a alma tornar a viver por um instante sua vida livre e
independente (...)” Léon Denis - No Invisível.
Deste modo, poderíamos caracterizar o
transe mediúnico como um estado em que o médium se encontra em
desdobramento parcial, inconsciente, possibilitando uma mais ampla
comunicação do espírito comunicante. Entretanto, não é em todas as
manifestações mediúnicas que o médium entra em transe. Em uma casa
“mal-assombrada”, por exemplo, o médium simplesmente doa fluidos para
que os ruídos, gritos e pancadas se produzam, sem ao menos se dar conta
de que é a causa do fenômeno, apavorando-se com o mesmo. Ou seja, não
entra em um estado inconsciente que caracteriza o transe.
Qual é a diferença da psicofonia e da mediunidade sonambúlica?
Na verdade, estando o médium sonâmbulo,
ele é capaz de produzir a psicofonia, assim como a psicografia, entre
outros fenômenos. Entretanto, não é preciso estar sonâmbulo para tanto.
Esta é a diferença.
Como o médium deve se comportar, frente ao trabalho mediúnico?
Bem, as exigências se dão em dois
sentidos, o intelectual e o moral. Do ponto de vista intelectual, o
médium deve se instruir, tanto em nível de conhecimentos gerais, como no
de conhecimentos espíritas, sem esquecer os temas específicos da
mediunidade. Do ponto de vista moral, deve buscar sempre a dignidade,
amparando-se no evangelho cristão.
Entrevista realizada pelo cana IRC-Espiritismo e publicada na edição 36 da Revista Cristã de Espiritismo.
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