Quase sempre quando nos sentimos injuriados, nossa tendência é aumentar o fato que nos desagradou. Se fomos ofendidos por esse ou aquele motivo, quase sempre encapsulamos o desejo de desforra e mantemos o "link" mental com as forças poderosas das trevas, que somadas a outras tantas potencializam as sombras de nossos desagravos.
Diante
disto , predominam os núcleos formados pelo egoísmo e pelas paixões
primitivas, porque nossos corações são duros e cremos que estamos sempre
com razão. E quanto mais arraigados nesta certeza, mais esforço será
necessário para que despertemos para a real necessidade do perdão.
Mister tentemos entender o que ocasionou a ofensa. Por vezes, fomos nós
mesmos os promotores dela, por algo que tenhamos dito ou feito.
Há
casos e casos. A indignação é sentimento que, às vezes, se torna
necessário diante da atitude descabida de alguém. Tal atitude não deve
assumir, porém, o caráter da agressão nem do revide, devendo , sem
dúvida, ser manifestada para que o outro perceba as consequências de
seus atos. Contudo, em várias ocasiões , por gostar muito de alguém ,
relevamos suas atitudes inadequadas para conosco e com outros,
confundindo os sentimentos e perdoando quando caberia a repreensão e
advertência obrigatória.
Até
porque perdão não significa conivência com o erro. O bom senso sussurra
que atitudes como essas, isto é, perdoar e desculpar sem limites,
incita o outro à prática do mesmo ato reprovável. Isto não é amor, mas,
subserviência ou omissão.
Perdoar
coisas leves contra nós mesmos é relativamente fácil, porém quando se
trata de algo mais sério como um assassinato, um estupro, uma
infidelidade conjugal por exemplo, a dificuldade de superação da mágoa
aumenta consideravelmente. Por isso que a Doutrina Espírita leva
refletir, que o perdão será sempre o sentimento que nas superações
pessoais transcendem ao próprio ser.
Devemos
dar o direito de a pessoa ser agressiva, mas não nos dar o direito de
revidar a agressão. A raiva é semelhante a um raio. Pode provocar danos
graves. É inesperada. Mas o rancor é calculado. É necessário que
aprendamos a colocar um para-raio e evitemos os tóxicos deste sentimento
negativo. No entanto, esquecer ofensa depende da nossa memória. Muita
coisa queremos esquecer e simplesmente não esquecemos. Sentimos o
impacto e não temos como evitar a raiva, é fisiológico, reagimos no
momento. Mas conservar a mágoa é da minha vontade. Se eu conservar a
mágoa tenho um transtorno psicológico, sou masoquista, gosto de sofrer.
Como seres emocionais sentimos o impacto da agressão, mas não devemos
nos revoltarmos, e trabalhemos para esquecer. (1)
Perdoar
não é esquecer por esquecer. É compreender e colocar-nos no lugar do
outro. O esquecimento somente vem quando a memória se encarrega de
diluir a impressão negativa, o que demanda tempo, reflexão e
auto-superação. São claras as palavras de Jesus no evangelho de Mateus:
"Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos
perseguem e caluniam; (2)". Jesus trata de uma das mais complexas
dificuldades do ser humano: perdoar a quem nos ofende.
Desenvolvemos
muitas doenças por que não conseguimos perdoar, isto é, cristalizamos
nas mágoas os processos de vindita através das ideias obsessivas, cujas
causas deslocam-se do campo íntimo em desarmonia exteriorizando-se no
somático. Em verdade os estados mentais enfermos serão invariavelmente
refletidos no corpo físico através de variada sintomatologia seja no
ódio, no rancor, resultando, por via de consequência, em nossa prisão a
influências inferiores, engendrando uma cadeia mórbida de patologias
devastadoras.
O
espírito de Manoel P. Miranda diz que "(3) o ódio é fruto do egoísmo, do
personalismo magoado, e Kardec comenta no Evangelho segundo o
Espiritismo que "O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação e sem
grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que
paira acima do mal que lhes quiseram fazer. (4)"
Pesquisas
modernas indicam que o ato de perdoar pode aplacar a tensão, reduzir a
pressão sanguínea e diminuir a taxa de batimentos cardíacos. Perdoar,
portanto, não é somente uma questão de conquista emocional e espiritual,
é também uma questão de saúde. O Evangelista Mateus narra a passagem em que Jesus
disse: "Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta
em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso
irmão. Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro: 'Senhor, quantas
vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete
vezes?' - Respondeu-lhe Jesus: 'Não vos digo que perdoeis até sete
vezes, mas até setenta vezes sete vezes". (5)
Não
resta dúvida que aprendendo a perdoar, estaremos promovendo nosso
crescimento espiritual. A condição do verdadeiro perdão é o
esquecimento. Mas não podemos deixar-nos encharcar de hipocrisia ao
ponto de dizermos que já conseguimos isso com todos os que nos ofendem.
É
certo que para nossas aparências sociais "o perdão significa renunciar à
vingança, sem que o ofendido precise olvidar plenamente a falta do seu
irmão; entretanto, para o Espírito Evangelizado, perdão e esquecimento
devem caminhar juntos embora prevaleça para todos os instantes da
existência a necessidade de oração e vigilância. Aliás, a própria lei da
reencarnação nos ensina que só o esquecimento do passado pode preparar a
alvorada de redenção". (6)
O
Evangelho Segundo o Espiritismo no capítulo X dá a dimensão do perdão,
na sua forma mais simples e mais agradável a Deus, levando-nos a
refletir nas palavras do Mestre registradas por Mateus entre as
Bem-Aventuranças: (7) "Se perdoares aos homens as faltas que cometeram
contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, si
não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai
celestial também não vos perdoará os pecados". (8) Jesus, aconselhou
amar os nossos inimigos no enfoque de não devolver com a mesma moeda
aquilo que nos foi desferido. Oferecendo, porém, a outra face, a face do
bem, pois assim cortar-se-ia pela raiz os sentimentos de vingança.
Cabe
aqui um registro de grande importância é o exercício do perdão na
intimidade familiar. Não podemos perder de vista a suprema necessidade
do perdão em família. Precisamos
muito mais do perdão, dentro de casa, que na ribalta social, e muito
mais de apoio recíproco no ambiente em que somos chamados a servir, que
nas veredas ruidosa do mundo. E se Jesus nos ensinou perdoar setenta
vezes sete aos nossos inimigos, quantas vezes deveremos perdoar aos
amigos (familiares) que nos entretecem a alegria de viver dentro do
ambiente doméstico?
Portanto,
aconteça-nos o que acontecer, não cedamos, nunca, a pensamentos de
rancor e de vingança; isto poria em ação forças destrutivas que, mais
cedo ou mais tarde, reagiriam contra nós mesmos. Certamente, os agravos
que nos façam não ficarão impunes, mas deixemos a cargo do Criador a
justa correção.
BIBLIOGRAFIA
1- Jornal Verdade e Luz Nº 170 - Março/2000
2- (Mateus, 5: 43 e 44)
3- FRANCO, Divaldo Pereira. Nas fronteiras da loucura, Ditada pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador: LEAL, 1982.
4- KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo - Perdoai para que Deus vos perdoe, Cap. X. Edição EME
5- (MATEUS, cap. VIII, vv. 15-22.)
6- Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmnauel, RJ: Ed FEB, 2001, questão 340
7- Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 1999, Cap. X
8- (MATEUS, cap. VI, vv. 14 e 15.)
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