As notícias voavam céleres de bocas a ouvidos ansiosos, informando os acontecimentos que tinham lugar por toda a Galiléia.
Os viajantes, que atravessavam o Jordão na direção do Oriente, levavam as informações do que estava se sucedendo naquela região.
Ainda não havia sido silenciada a voz do Batista, e o Seu encanto atraía outras multidões esfaimadas de amor e de esperança, que Ele nutria com ternura como dantes jamais se vira igual.
Era Profeta, porém se situava acima dos profetas do passado; ensinava o amor, no entanto vivia-o em clima de harmonia; referia-se a Deus com respeito, entretanto comungava com Ele em doce convívio.
Jesus era o Messias esperado, que começara na humilde Galiléia, onde os corações eram mais afetuosos e os afazeres mais cativos: a pesca, o pastoreio, a agricultura... sem espaços mentais para as celeumas intermináveis em torno da Lei, a respeito da governança ignóbil disputada pelo romano desdenhoso e pelo Sinédrio arbitrário, todos porém, esmagando o povo, de que se utilizavam para explorar e afligir...
Aquela região, fresca e romanesca, tinha o seu espelho líquido onde o Sol diariamente se banhava entre os perfumes que se evolavam dos rosais silvestres misturados com as madressilvas miúdas que enxameavam na relva verdejante.
Oliveiras antigas desenhavam arabescos variados nos troncos retorcidos, enquanto as ondas se arrebentavam incessantemente entre seixos e conchas espalhados sobre a areia de tonalidade creme.
À orla do lago Genesaré, também conhecido como mar da Galiléia, as aldeias, habitadas por gentes simples, se multiplicavam entre as cidades de maior porte como Magdala, Dalmanuta, Cafarnaum... À noite, quando as lâmpadas de barro vermelho acendiam suas luzes, o poema da Natureza se apresentava em tonalidades bruxulenates e festivas contrastando com as estrelas alvinitentes que fulgiam no zimbório escuro e cheio de mistérios...
Naquelas regiões, entre as vozes humanas e as onomatopéias, o Cantor entoava o Seu hino à vida em poemas de inefável amor que arrebatava, enquanto Suas mãos caridosas limpavam as rudes penas que explodiam em pústulas virulentas, que afligiam os infelizes que dele se acercavam. O Seu querer alterava os acontecimentos e os fenômenos da misericórdia de Deus se tornava realidade, produzindo júbilo e encantamento.
Os anciãos, por quase todos desdenhados, sentiam-se apoiados no cajado da Sua palavra vigorosa; as crianças, bulhentas e pouco compreendidas, silenciavam enquanto eram atraídas pela luz dos Seus olhos, e os Espíritos perversos fugiam da Sua presença.
Mesmo aqueles que se haviam tornado Seus adversários, movidos pela inveja doentia e pela perversidade em que se compraziam, ao enfrentarem-no receavam o Seu poder, ante o qual se sentiam amesquinhados.
E Ele falava a respeito do reino dos céus em uma dimensão a que não estavam acostumados aqueles que o buscavam.
Não obstante, as criaturas humanas, afligidas pelas próprias infinitas necessidades, pensavam exclusivamente nas questiúnculas do dia-a-dia, nos problemas da sobrevivência física e do conjunto social.
Faltava-lhes amplitude mental e largueza de visão para penetrar nas propostas libertadoras que a Boa Nova lhes trazia.
Ele, no entanto, não se incomodava, ensinando sem cessar.
Naquela oportunidade, a multidão se fizera superior a qualquer expectativa, de tal forma que, reunida em alguns milhares, estavam a ponto de se pisarem uns aos outros, quando Ele começou a ensinar, despertando para as realidades profundas do ser espiritual.
- Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se.
Havia na voz enérgica uma ressonância de advertência a respeito da conduta que se deveria manter. A hipocrisia é morbo da alma que contamina e deixa sequelas devastadoras por onde passa, e se tornara característica predominante no comportamento dos fariseus, que se perdiam em discussões estéreis a proveito próprio, sem nenhuma consideração por quem quer que seja.
Todos os comportamentos hediondos, mesmo aqueles que ficam desconhecidos e são mascarados pelos processos perversos do poder transitório dos homens, tornam-se conhecidos e malsinam aqueles mesmos que se lhes entregaram. A vida é uma canção de luz, sempre renovadora e rica de realidades.
Prosseguindo, acentuou com a mesma energia:
- Por isso, tudo quanto tiverdes falado nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido em lugares retirados, será proclamado sobre os telhados. Digo-vos: Meus amigos! Não temais aqueles que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer. Temei Àquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer.
O relacionamento humano e social exige lealdade de uns indivíduos para com os outros, de respeito e comportamento de cada qual, buscando-se sempre a própria melhor conduta e a imensa tolerância para com as defecções do próximo, porquanto aquele que erra fica assinalado em si mesmo a sua aflição, não necessitando de maior carga de punição.
Por isso mesmo, a maledicência, a calúnia, a informação malsã não têm lugar na convivência saudável, naquela que é inspirada pelo Evangelho, porquanto tudo se torna conhecido e desvelado.
Nesse sentido, a divulgação da verdade, não pode ser prejudicada pelos temores injustificados em torno das ocorrências punitivas aplicadas pelos homens, que são transitórios e não vão além das fronteiras do corpo. No entanto, Aquele que é o Poder e que acompanha o ser após o decesso celular, este sim, merece respeito e consideração, porquanto é Quem julga as condutas, encaminhando os infratores para as regiões de sombras e sofrimentos.
No silêncio que se faz natural, Ele se proclamou Filho de Deus, exigindo fidelidade a quantos desejassem segui-lo, declarando a sua convicção na Mensagem e na entrega total ao novo padrão de vida.
Definiu rumos do futuro e as vicissitudes que aguardam os idealistas e semeadores da esperança nos solos castigados pela canícula das paixões selvagens e perversas.
Também os animou com a promessa de que sempre e em qualquer situação os Espíritos sublimes inspirariam aos Seus seguidores, jamais os deixando a sós e sempre oferecendo-lhes os recursos de sabedoria e paz.
Pairava no ar uma dúlcida consolação que pulsava nos sentimentos emocionados.
Não obstante, alguém, rompendo do silêncio natural, gritou:
- Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança!
Não poderia ser mais inusitada e absurda a solicitação, destituída de conteúdo nobre, porquanto as propostas diziam a respeito a outro reino, distante do mundo fugaz, e a criatura se encontrava encurralada no interesse mesquinho e imediato do poder e do prazer.
Conhecedor da alma humana e do labirinto pelo qual transita, o Mestre respondeu sem perturbar-se:
- Homem, quem me constitui juiz ou repartidor entre vós? Olhai, guardai-vos de toda a cobiça, porque mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.
Silenciou por um pouco e narrou, comovido, uma incomparável parábola:
- Havia um homem rico, cujas terras lhe deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer dizendo consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Depois continuou: Já sei o que vou fazer, deitarei abaixo os meus celeiros e construirei uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois direi à minha alma: Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém disse-lhe: - Insensato! Nesta mesma noite pedir-te-ei a alma: e o que acumulaste para quem será? - Assim acontecerá ao que entesoura para si e não é rico em relação a Deus.
Um sentido exclusivo tem a existência humana: a preparação para a sua imortalidade espiritual. Todos quantos transitam no carro físico, deixam-no e seguem com os valores amealhados emocionalmente, sejam quais forem.
A Vida estua além da dimensão do corpo carnal, exuberante e luminosa, aguardando todos que a enfrentarão.
amealhar para as necessidades humanas constitui um dever, porém repartir e multiplicar através da divisão em favor dos outros que padecem carência, é tornar-se rico de plenitude e de recursos que nunca se consomem, porque de sabor eterno.
Jesus não é juiz iníquo, nem severo julgador para impor aos outros o que devem fazer e a programação das leis já estabeleceu o que é indispensável a uma existência harmônica.
É o Embaixador de Deus, que veio despertar a consciência humana para a realidade imortal.
Ainda por muitos anos Ele será buscado para solucionar pendengas e paixões, atender a caprichos e resolver problemas, que são necessários para o crescimento individual do ser como na coletividade na qual se encontra. Não obstante, a Sua mensagem pairará soberanamente acima das dissidências e dos caprichos das criaturas e grupos, seitas e doutrinas, trabalhando pela fraternidade legítima e pela união de todas as pessoas que anelam pela felicidade total.
Mesmo desfigurados Seus ensinos, rejeitadas Suas lições, subestimados Seus conceitos pela presunção de alguns, Ele permanecerá como o grande divisor dos tempos, aguardando e inspirando.
(*) Lucas 12 - 1 a 21
Nota da Autora espiritual
Fonte: pelo Espírito Amélia Rodrigues e Divaldo Pereira Franco
livro: Até o Fim dos Tempos