PALESTRA DE HELOÍSA PIRES - O QUE É O ESPIRITISMO?
"Frequentei o Centro Espírita Cairbar Schutel, casa fundada por José
Herculano Pires, por mais de 20 anos. No centro, podíamos ouvir
palestras de excelentes oradores espíritas, como Heloísa Pires, filha de
Herculano, que nos brindava com seus conhecimentos nas reuniões das
sextas-feiras.
As palestras do
Centro Espírita Cairbar Schutel eram tão ricas em conteúdo, que decidi
gravá-las (em fitas K7 que ainda não digitalizei). São dezenas de fitas,
de áudio muito ruim, que estou transcrevendo aos poucos. Por se tratar
de conteúdos de terceiros, este material tem a finalidade exclusiva de
estudo, pesquisa e divulgação da doutrina espírita, e não pode ser
comercializado. A reprodução deve respeitar a integridade e
autenticidade do texto, e mencionar a fonte (palestrante e endereço do
site)."
Liz Bittar
PALESTRA PROFERIDA POR HELOÍSA PIRES EM 23.11.1988 NO CENTRO ESPÍRITA CAIRBAR SCHUTEL, EM SÃO PAULO
O QUE É O ESPIRITISMO?
Seria uma religião criada como várias religiões nos momentos de crise?
Seria apenas uma ciência que visa estudar o intercâmbio entre encarnados e desencarnados?
Ou seria uma filosofia, visando apenas consolar o homem, aliená-lo da
compreensão do meio ambiente, fazendo com que ele seja apenas um
indivíduo que reza, indiferente às necessidades transformadoras do
mundo, esperando um céu futuro?
Herculano Pires foi muito feliz ao dizer no livro O Espírito e o Tempo,
que o espiritismo é a síntese do processo do conhecimento.
O processo do conhecimento é o resultado da experiência do homem nos
vários campos –ciência, filosofia e religião, e inicia quando o homem
inicia sua caminhada sobre a terra, e vai continuar até que a terra
tenha um destino maior. O processo do conhecimento traz em si os campos
da ciência, filosofia e religião. Portanto, conseqüentemente, o
espiritismo - como síntese desse processo - traz em si os campos da
ciência, filosofia e religião.
Hoje,
o caminho do esclarecimento, da libertação do homem, do apego à
matéria, da escravidão à matéria, surge também através da ciência
oficial. Vários caminhos conduzindo o homem à compreensão da verdade, e à
libertação de um mundo difícil, porque para nós, espíritas, assim como
para a maioria dos físicos atuais, a terra não é o único mundo habitado.
Existem mundos luminosos e melhores por esse universo infinito, assim como mundos iguais à terra e mundos mais necessitados.
CIÊNCIA ESPÍRITA
Quando o espiritismo é ciência? O espiritismo é ciência quando trata,
por exemplo, do intercâmbio entre encarnados e desencarnados, é a
ciência espírita. Quando trata do corpo energético que o homem possui. A
ciência espírita aparece principalmente em “A Gênese”, de Allan Kardec e
no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
E quais os pontos de contato entre a ciência espírita e a ciência oficial?
Quando Kardec lançou a Gênese, o que ele disse, na época, pareciam
heresias científicas. Hoje, se considera heresia a palavra fluído, mas
até que os físicos apresentem uma palavra que melhor caracterize esse
estado especial de matéria, ficarei com a palavra fluído.
Kardec diz, em A Gênese, que a matéria só é compacta para os nossos
sentidos, de vez que ela é facilmente atravessada por espíritos e
fluídos espirituais.
Ciência espírita
e ciência oficial se dão as mãos a partir da descoberta da antimatéria.
Até a teoria da relatividade de Einstein, figurava na terra a filosofia
mecanicista de Newton.
Mas o que
vigora desde então, é a teoria da relatividade ou seja, o tempo é uma
ilusão, o tempo é uma convenção. A partir da descoberta da matéria,
ciência espírita e ciência oficial se dão as mãos, na compreensão de que
a matéria só é compacta para os nossos sentidos, uma vez que ela é
facilmente atravessável por fluidos espirituais, por radiações
especiais.
A ciência espírita no
item Uranografia de A Gênese de Allan Kardec, diz que tudo que existe de
material e semi material, nada mais é do que condensação de energia, ou
seja, lendo a Gênese, lendo os físicos atuais, temos a impressão de que
falam a mesma linguagem, provando a atualidade e insuperabilidade de
Kardec.
Kardec diz também que o
homem encarnado é corpo, perispírito e espírito. O mais importante para
nós espíritas é o espírito, centelha divina, cuja cor varia, mas para
nós essa centelha divina vem envolta por um corpo energético, e os
russos descobriram, estudando a antimatéria, e fotografaram através da
câmera Kirlian, esse corpo energético, ao qual deram ao nome de corpo
bioplásmico.
Novamente, ciência
espírita e ciência espiritual se dão as mãos na compreensão da
finalidade da existência do homem, da constituição do homem.
Dizem os russos que esse corpo energético varia de indivíduo para
indivíduo, e no mesmo indivíduo conforme as circunstâncias. Ele é tão
importante, que quando ele se afasta de forma que não se consegue ouvir
as pulsações biológicas deste corpo, do corpo que eles chamam de
bioplásmico, o corpo físico entra em decomposição.
Mas é exatamente isso que a ciência espírita falou há mais de cem anos.
O perispírito, se desligando do corpo físico, arrebentando o cordão
prateado, o corpo físico entra em decomposição.
E os pontos de contato continuam: dizem os russos que esse corpo
bioplásmico que é formado em parte de plasma físico e em parte de
matéria desconhecida. Dizem os espíritas: o perispírito é formado de
elementos materiais e semimateriais.
E eles dizem: varia de indivíduo para indivíduo, e no mesmo indivíduo
conforme as circunstâncias. Indivíduos em esforço de evolução,
indivíduos com pensamento de amor provocam a expansão desse corpo
bioplásmico além do corpo físico, e quando os indivíduos estão
mergulhados em pensamentos melhores, esse corpo é uma verdadeira fonte
luminosa e colorida.
Mas no mesmo
indivíduo, se ele passa a vibrar com pensamentos menores, com
pensamentos de vingança, ressentimentos e desânimo, esse corpo
bioplásmico como que se encolhe, e se esses maus pensamentos, esses
pensamentos de desequilíbrio forem uma constante, aparecem manchas no
corpo bioplásmico, que depois se expressam em doenças no corpo físico.
O que Kardec falou? A maioria das doenças tem a chave no perispírito. E
A Gênese faz um convite também, a pensarmos de forma melhor, porque
caso contrário, diz A Gênese, nos tornaremos latas de lixo, atraindo as
piores vibrações do Universo.
Ciência russa, profundamente religiosa, convida o homem ao
desenvolvimento espiritual e ao bem pensar. Ciência e religião espírita,
profundamente científica, fazem o mesmo convite.
É necessário nos condicionarmos a pensarmos de forma melhor.
Mas não paramos aí. A ciência oficial diz: “a maioria das doenças são
de fundo psicossomático”. A maioria das doenças são produtos da mente em
desequilíbrio.
Sarmington, médico
americano, diz: “Os cânceres todos nós os possuímos, mas só aparecem, só
eclodem em estados especiais”. Se pensamentos de alegria, de otimismo,
pensamentos de aceitação, capacidade de perdoar, aumentam a defesa
imunológica do indivíduo, e impedem o aparecimento de cânceres, diz
Sarmington, médico americano não espírita, pensamentos piores,
pensamentos de desânimo, rebeldia, incapacidade de perdoar provocam um
estado desagradável no organismo que permite o eclodir dos cânceres e de
outras doenças.
Ciência oficial e
ciência espírita se dão as mãos. Sarmington fez ainda um método de
relaxamento e iluminação interior, quando o indivíduo consegue atenuar
os próprios cânceres.
Sabemos, nós
espíritas, que o pensamento age, transforma, age sobre o próprio
indivíduo, age sobre os fluídos espirituais ao seu redor. O pensamento
plasma, constrói, modifica, e hoje a ciência oficial admite isso.
Os parapsicólogos admitem que o pensamento divide gotas d’água,
modifica a balança. Um outro espírito, esse desencarnado, denominado
André Luiz, escreveu através da psicografia de Chico Xavier, no livro
Evolução em Dois Mundos, exatamente tudo isso, que a ciência oficial
fala hoje. No item “Equilíbrio e Desequilíbrio da Mente”, ele lembra que
temos dentro de nós todo um laboratório para produzir tudo aquilo que
necessitamos: vitaminas, enzimas, produzir o equilíbrio do organismo
físico. Mas, diz André Luiz, se o indivíduo entra em pensamentos piores,
há o caos no laboratório, porque quem comanda esse laboratório é a
mente, e uma mente desequilibrada só pode dar ordens desequilibradas.
E com esse caos, a mente, por exemplo dá ordens loucas, e as células
reproduzem de forma louca, provocando cânceres. Sabemos também que os
complexos de culpa, dos indivíduos que agem errado, tendo dentro de si a
marca de Deus, e a noção da própria dignidade, ele provoca em si, pelo
simples fato de agir errado, um estado desagradável, que causa um
desequilíbrio no corpo físico.
Não é
Deus quem condena. A Inteligência Suprema não pode, de forma alguma,
assumir essa forma antropomórfica. A Inteligência Suprema é um conjunto
de leis de amor e de misericórdia, mas é o próprio indivíduo, que se
condena, cria seus males, quebra as defesas orgânicas, provoca os
desequilíbrios através dos complexos de culpa, da falta de respeito a si
mesmo, da intolerância e inflexibilidade em relação a si mesmo.
Quando Jesus, o mestre dos mestres, nos convidou ao perdão, ele sabia
que, como diz a ciência, a incapacidade de perdoar provoca o câncer e
pensamentos melhores, como provou a câmera Kirliam, provocam aquela
emanação luminosa.
Mas isso fica
mais claro quando Kardec diz que não existe um indivíduo no qual o
perispírito esteja fechado como em uma gaiola. Kardec, o codificador da
doutrina espírita, já disse há mais de cem anos que em todos, o
perispírito extrapola, com maior ou menor intensidade, variando de
indivíduo para indivíduo, num mesmo indivíduo conforme as
circunstâncias. E é esse extrapolar do perispírito que permite as
percepções extra físicas, hoje estudadas pelos parapsicólogos.
Se não somos apenas corpo físico, se possuímos esse corpo energético,
que os egípcios chamavam de ka¹, que o Apóstolo Paulo chama de corpo
espiritual, que aparece com outros nomes em outras doutrinas
espiritualistas, se esse corpo energético não está fechado no corpo
físico e extrapola, e permite percepções extrafísicas além dos sentidos
físicos, permitindo vermos além dos olhos do corpo físico, e sentirmos o
mundo à nossa volta dependendo de maior ou menor condicionamento,
indivíduos mais intuitivos que percebem mais o mundo à sua volta,
indivíduos menos intuitivos, mais grosseiros, mais ligados à matéria, se
tudo isso existe, temos que desenvolver todas essas capacidades, e o
homem do futuro será um homem que se dominará interiormente, dominará o
mundo à sua volta, não será como nós um indivíduo frágil, dominado pela
carne, pelas sensações exteriores, pelas necessidades biológicas.
O homem do futuro, desenvolvendo sua paranormalidade, será um homem que
terá equilíbrio físico através do equilíbrio psíquico. O homem do
futuro pode ser melhor compreendido através da figura de Jesus de
Nazaré, agindo sobre a matéria, agindo sobre o mundo à sua volta, agindo
sobre si mesmo e agindo sobre o seu próximo, através de nossa emissão
mental, através dos processos telepáticos.
Mas aí a ciência espírita lembra, como a parapsicologia, que a nossa
ação é maior, porque nós agimos sobre mentes físicas e extrafísicas. Um
grande número de parapsicólogos admite essa teoria.
Louise Rhine por exemplo, nos “Canais Ocultos do Espírito”, lembra que
existem o que os parapsicólogos chamam de “fenômenos Tetha”: há a
possibilidade de mentes extrafísicas agirem sobre o mundo físico,
provocando vários fenômenos. Existe a possibilidade também de mentes
extrafísicas agirem sobre as nossas mentes físicas, ou como querem os
espíritas, mentes desencarnadas agirem sobre mentes encarnadas.
E nesse caso, como nos convoca o Mestre de Lyon, precisamos entender
como acontece o fenômeno. Precisamos aprender a distinguir os nossos
próprios pensamentos de pensamentos exteriores, pensamentos de mentes
extras físicas.
Precisamos nos
condicionar a vibrar num teor mais elevado para nos ligarmos apenas
àquelas mentes que vibram no mesmo teor. Precisamos manter o nível
vibratório melhor, para conseguirmos o nosso equilíbrio físico, e para
nos tornarmos elementos indutores ao progresso, realizando a nossa
finalidade no planeta terra, nos transformando para melhor, mas
auxiliando o planeta nessa transformação, não sendo apenas indivíduos
rezadores, mas sendo indivíduos transformadores, tornando a vida no
planeta terra uma vida de melhor qualidade, fazendo com que o planeta
seja um planeta mais fácil, um planeta de paz, de justiça e de amor.
Essa é a nossa finalidade; não cruzarmos os braços aceitando um suposto
sofrimento que exterminaria supostas provas do passado, não é essa a
finalidade. A finalidade é atenuarmos o carma negativo do passado,
exaltando, desenvolvendo o carma positivo, temos um carma positivo,
temos obras boas realizadas no passado. Viemos para essa encarnação para
fazermos com que o nosso carma negativo seja exterminado, e que o carma
positivo se expresse em facilidades, em vitórias, em alegria.
Para isso precisamos dominar o nosso inconsciente, extirpando complexos
de culpa, transformando vícios em virtudes, e nos condicionando a
sintonia com aquelas mentes físicas ou extra físicas que vibram em
melhores condições em qualquer ponto do universo infinito. Isso é
loucura? Não. Quem lê os físicos atuais vê que hoje a física quebra mil
barreiras; que, graças à teoria da relatividade, sabemos, como afirma
Kardec em “A Gênese”, que o tempo é uma ilusão, que o tempo não existe,
que o tempo é uma convenção do planeta terra, que, mesmo no planeta, ele
varia de lugar para lugar.
Sabemos
que o espaço depende do referencial; que, como diz Einstein, se o
indivíduo está num barranco, vê à distância o comprimento de um trem de
uma forma, se está dentro do trem vê de outra forma, depende do
referencial.
Sabemos, como diz
Kafka, que não estamos fechados num quadradinho de fé, num mundo
estanque, estagnado, mas num mundo onde a vibração é uma constante, num
mundo dinâmico e luminoso, e sabemos, como nos convocam os russos, à
semelhança de Jesus de Nazaré e à semelhança da doutrina espírita, que o
nosso pensamento pode agir como uma fonte luminosa, melhorando o mundo à
nossa volta, melhorando a nós mesmos, a nossa qualidade de vida, e
melhorando a qualidade de vida do planeta terra.
Melhores, mais fortes, com maior capacidade de amar, conseguiremos
transformar este planeta difícil num planeta melhor, e agora está
chegando a hora, porque o esclarecimento não vem apenas pelos
espiritualistas, pelos religiosos, mas vem também através dos físicos
que se espiritualizam a cada dia, e que afirmam que os místicos estavam
certos, e vem também através de Jung e de outros vultos mais fortes,
quando Jung no “Segredo da Flor de Ouro”, pede que compreendamos como a
Verdade surge em todos os tempos, sobretudo através dos grandes
místicos.
A convocação é alegria, a
convocação e auxílio ao próximo, a convocação é o desenvolvimento da
capacidade de amar, conscientes da nossa força interior. O nosso
pensamento luminoso age sobre o mundo à nossa volta, intensifica o
crescimento das flores, como provaram os místicos em todos os tempos.
Corrige os nossos defeitos físicos, como provam as experiências atuais,
como prova Djuna (?), aquela russa que, impondo as mãos auxilia o seu
próximo, e consegue o seu reequilíbrio físico.
Um mundo novo, um mundo vibrante, um mundo onde o homem é o grande
transformador, o existente atuante, o mundo apresentado pelos místicos,
pelos religiosos de todos os tempos, mas reapresentado hoje pela física
atual, por biólogos, parapsicólogos, físicos, americanos, alemães,
russos, na convocação a que o homem desenvolva uma cosmovisão, uma visão
maior, e não fique apenas mergulhado, amarrado ao basco da terra.
É importante compreender a lei do carma na visão espírita: Cheios de
ranços do passado, ainda fixados num Deus terrível, criamos um Deus
rancoroso - nós criamos, o Deus é outro - mas criamos um velho de barbas
brancas que condena. No tempo e no espaço tentamos educar através do
temor. Não conseguimos nada. O mundo realmente está incrivelmente
necessitado. Esse Deus seria aquele indivíduo rancoroso que castiga cada
um. Viríamos nessa encarnação carregados de carma negativo e deveríamos
sofrer para extirpar nosso carma. Tudo errado. Não é doutrina espírita.
O Livro dos Espíritos diz, em Leis Morais, num item maravilhoso:
Fatalidade. “Fatal, só nascimento e morte. Se uma telha cair na sua
cabeça não diga “estava escrito”. Provavelmente ela foi mal colocada.”
Viemos para modificar o mundo à nossa volta.
Essa história de cruzarmos os braços, achando que viemos para sofrer e
que carregamos carma negativo do passado, essa história é omissão, essa
história é comodismo. Essa história é fatalismo.
O homem é o construtor do seu destino. Ele traz uma pré-programação.
Mas fatalidade, diz o Livro dos Espíritos, só nascimento e morte.
Em outra resposta, Kardec diz. Nós podemos modificar as situações? E os
espíritos respondem: Só o relaxado permanece no mesmo ponto.
Em outra pergunta Kardec diz: Por que os indivíduos nascem mortos? E os espíritos respondem: Pode ser um defeito da matéria.
Quem explica melhor essas idéias é o nosso querido Herculano Pires no
livro O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte. Primeira edição Paidéia,
página 35, porque como diz Chico Xavier, Herculano Pires foi o metro que
melhor mediu Kardec.
Herculano diz
assim: Quando vemos um menino com um defeito na perna, os espíritas
dizem: O que ele fez na outra encarnação? E alguns de nós já pensamos:
Oba, que bom, eu fui melhor que ele, porque eu não tenho defeito nenhum
na perna. O que acontece é que o indivíduo plasma o que ele acha que
merece. Talvez esse menino com o defeito na perna tenha se condenado a
um destino mais difícil do que nós. Muitas vezes nós, na nossa
flexibilidade maior, podemos pensar, ah eu fiz isso mas eu vou corrigir
de outra forma. Ou então até na inconsciência dos amorais ainda não
sofremos nada.
À medida que o ser se
conscientiza dos seus erros, ele escolhe como vai pagá-los. A não ser
que na inconsciência daqueles que se desequilibraram, ele esteja num
estado tão terrível que venha numa encarnação compulsória, carregado
como uma criança necessitada, para uma encarnação que, aparentemente
mais difícil, é mais fácil do que o estado em que ele se encontrava no
mundo espiritual. Aí nascem as crianças da Casa André Luis, que não se
sabe se são mais ou menos devedores do que nós. Às vezes, diz o Livro
dos Espíritos, o indivíduo que tem uma encarnação mais fácil, é até um
mais covarde.
Então, a doutrina espírita ensina: “Não julgueis. Não julgueis para não serdes julgados.”
Também, não vamos ser fatalistas. Se não houvesse a possibilidade de
facilitar a vida na Terra, Jesus de Nazaré estaria profundamente errado
quando veio libertar os indivíduos do carma negativo.
Ele não viria libertar o cego da cegueira, o paralítico da paralisia, e
não viria consolar, alimentar espiritualmente os deserdados da terra. A
prova da vivência, da existência de Jesus sobre a terra, é de que a
finalidade é libertar da dor.
As
conquistas do homem nesse sentido, e nós vemos em três séculos de
cirurgia, são no sentido de libertar o homem do planeta terra da dor,
felizmente. A dor não existe como lei em Leis Morais. Existe a Lei do
Progresso, Justiça, Amor, Igualdade, Liberdade, Destruição e Adoração.
Destruição dos seres uns para os outros, dizendo que a destruição vale
nos estágios inferiores do ser. A dor faz parte dos planetas difíceis,
mas cabe ao homem dominá-la e extirpá-la da face da terra.
Estaríamos aptos a já termos realizado isso. Infelizmente, por nosso
egoísmo e nosso orgulho, aumentamos a dor do planeta. Através da
anestesia começamos a dominar a dor física. Através da psicologia e da
psiquiatria, a dor moral. Cabe ao homem organizar melhor o planeta,
através do espiritismo e das várias doutrinas espiritualistas. E o homem
aos poucos, já deveria estar apto a fazer isso.
Ah, mas como progrediremos? E quem disse que a dor é tão eficiente?
Nunca se sofreu tanto como na terra, as várias guerras, as várias
epidemias, e qual o estágio do homem? Muito mais eficiente do que a dor é
o esclarecimento, que surge agora também através da ciência oficial. A
compreensão e assimilação do homem, da Verdade Eterna, da sua
finalidade, como da existência da sua grandeza espiritual. Jesus disse:
Sois Deuses e sois luzes – só quando o homem se conscientizar da sua
grandeza espiritual, do universo maravilhoso à sua volta, do Deus de
amor que nos perdoa sempre e nos ampara sempre, aí o homem conseguirá,
compreendendo a grandeza da dignidade humana, ele se envergonhará das
suas fraquezas.
No Novo Testamento
Jesus fala: Sois Deuses e sois luzes. Sois o sal da terra. Se o sal
perdesse o sabor, com que se há de salgar? E fala mais: Podeis fazer o
que eu faço, e muito mais.
Podeis
fazer o que eu faço, e muito mais. E é nesse sentido que nós nos
desenvolveremos, paranormais. Se Djuna, a grande russa, cura o próximo
com a imposição de mãos, se Jesus, através do seu pensamento indutor ao
progresso, libertava os indivíduos dos males físicos e males morais,
este é o nosso destino. Quando o realizaremos? Quando o desejarmos,
realmente.
Quando aprendermos a usar
os nossos pensamentos. Os monges tibetanos se desenvolvem no sentido de
secar o braço, paralisar o fígado, provocar um calor tão intenso que
queima o próprio corpo físico. Eles dominam a matéria. É exatamente isso
que vamos conseguir. Mas vamos perder horas meditando? Não, nós vamos
conseguir dominando o nosso egoísmo e o nosso orgulho através do
trabalho em benefício do próximo.
O
espiritismo não dispensa as conquistas do homem. Nós nos utilizamos do
tratamento médico, da veterinária, da psiquiatria, da psicologia.
Herculano Pires diz que, um indivíduo que está com dor nos olhos, e fica
só tomando passe sem ver o que é, do ponto de vista físico, não unindo o
tratamento físico ao tratamento espiritual, é um inconsciente, porque
pode ser um glaucoma, ou pode ser um problema maior. Então a convocação é
fortificarmos o nosso espírito, mas respeitando as leis da matéria.
É da interação corpo e espírito que o indivíduo se desenvolve. Mas
também é inconsciente um indivíduo que só se alimenta, e vive colérico,
enraivecido, não sabe dominar os próprios pensamentos, respeitando as
leis da matéria, utilizando os meios que a terra nos oferece; a boa
nutrição, a boa música, tudo aquilo que nos auxilia.
Nos ligando ao plano espiritual superior, nós conseguiremos um
organismo mais equilibrado dentro das limitações do planejamento do
passado e dentro das limitações estabelecidas pelo nosso próprio
inconsciente. Então, muitas vezes o indivíduo conscientemente quer
vencer, mas inconscientemente ele está dizendo “eu não valho nada, eu
mereço sofrer, eu agi errado, eu magoei meu próximo, eu mereço o pior”.
Pronto! Não adiantou nada. Ele tem que fazer uma auto-doutrinação, se
educar para a vitória, para a felicidade. Felicidade relativa, do
planeta terra, mas muito melhor do que infelicidade, que a angústia do
homem do século XX, que se entrega ao álcool, à droga, porque não
aprendeu o pensamento libertador.
Quando o homem compreender que Deus o criou para a felicidade, que ele é
digno, apesar dos erros do passado, de ser feliz no presente, e que
vale muito mais ser feliz atuando numa ação transformadora, é muito mais
útil para ele e para a sociedade, do que um homem mergulhado em
complexos de culpa, gemendo, culpando-se, lesando-se, destruindo-se, em
nome de erros do passado, e que vale muito mais esse homem atuante, à
semelhança de Madre Teresa de Calcutá, à semelhança de Irmã Dulce,
apesar de seus problemas cármicos, de Chico Xavier, do que um homem
sofredor e amargurado, com uma resignação paralisante. Isso não resolve
nada.
De que vale muito mais um
homem que cria, que constrói creches e que trabalha em orfanatos, do que
um homem que passa os dias orando, Senhor, Senhor, eu sou culpado, no
passado agi errado. Não adianta nada, isso de nada vale.
É como diz Paulo: Se eu falar a língua dos homens e dos anjos e não
tiver caridade, eu nada sei. Se eu entregar o meu corpo para ser
queimado, e não tiver caridade, eu nada sou. E se eu entregar todo o meu
dinheiro aos pobres, e não tiver caridade, isso de nada vale.
Então, é essa caridade que se expressa em amor ao próximo, que só
amamos o próximo quando amamos a nós mesmos, que só podemos amar se nos
valorizarmos e respeitarmos, e o erro das várias doutrinas
espiritualistas, sobretudo nós no tempo e no Espaço, que ensinamos ao
nosso irmão, que éramos desgraçados, que devíamos sofrer, que devíamos
amarrar silícios na cintura, que não tínhamos direito a felicidade, e
não aprendemos a nos amar. Nem a nos respeitar, porque éramos indivíduos
terríveis, destinados ao pior, tendo que andar de cabeça baixa olhando a
terra. E depois, com o crescimento da doutrina da Verdade Eterna, nós
compreendemos que somos indivíduos dignos, deuses de luzes, que devemos
caminhar de cabeça erguida olhando as estrelas, que o nosso erro fazia
parte da nossa ignorância, e que, de certa forma, foi permitido por
Deus, embora tivéssemos nos excedido.
Mas não importa; se erramos, vamos consertar. Através do trabalho e do
amor. Mas que o nosso destino maior é nos desenvolver caminhando para
mundos melhores e ajudando o desenvolvimento da terra. E dizendo todos
os dias a nós mesmos: sois Deuses e luzes, portanto destinados à
felicidade.
À medida que pensarmos
desta forma, nós nos libertaremos de toda a nossa parte escura. E o
homem, sentindo a confiança que cada um deposita no outro, e em si
mesmo, nas nossas potencialidades, responderá a essa confiança,
crescendo espiritualmente.
A terra
está difícil, e nós no passado ajudamos a torná-la um mundo difícil, mas
agora, coma mesma força, e com o mesmo empenho, eu farei da terra um
mundo mais fácil. Começando pelo esclarecimento meu, pensamentos
indutores ao progresso, a maturidade do povo, que começará a escolher
melhor os seus dirigentes, que cumprirá seus deveres, exigirá seus
direitos, que não se julgará condenado a um massacre, que não será uma
massa morta obedecendo líderes inconscientes.
O momento difícil, o momento terrível, vai passar; tudo passa.
Atravessamos momentos piores em outras encarnações. E o momento difícil
hoje será o momento menos difícil amanhã, e pode sê-lo agora, se nós nos
ligarmos a Irmãos Mais Velhos, de qualquer ponto do universo.
Não adianta nada, no momento difícil, começar a reclamar, fechar a cara
e xingar. Vem a doença. E aí o momento vai ficar duplamente difícil.
Todos aqueles problemas em potencial, que poderiam se manter como tal
eclodem, se criarmos um estado desagradável. Vamos treinar. Nem sempre é
fácil, mas é indispensável treinar um estado especial de vibração,
confiança, otimismo, certeza da vitória. Pensamentos melhores. O auxílio
da boa música, de um bom livro, de um bom filme, tudo bom ajuda.
Porque, realmente, se num momento difícil nós escolhermos um livro
difícil, ou escolhermos um filme infeliz, aí o momento ficará mais
difícil.
Sintonia vibratória.
Ligação com mundos mentais que estão esparsos pelo universo. O
pensamento não conhece distâncias e para o pensamento não existem
barreiras. Quem diz é o grande sábio russo Vassili: o pensamento é uma
energia desconhecida que nada consegue deter; nem barreiras elétricas
nem eletro magnéticas. Portanto, que nosso pensamento parta luminoso,
ligando-se a pensamentos do mesmo teor que venham nos enriquecer, em
alegria, em esperança, em otimismo. Em capacidade de amar. E vamos
dissipar a idéia de que somos profundos devedores do passado; Deus não é
cobrador. Deus é amor. Não é tampouco um velho de barbas brancas com um
livro de contas, estabelecendo o que vamos passar, com todas as
correções. Deus é misericórdia, é atenuação de provas, é amor. É só
estabelecermos a sintonia necessária, para modificarmos os problemas da
face da terra.
Einstein disse: “Eu
creio em Deus, Deus existe”, e o interessante é que ele não acreditava
na sobrevivência da alma, mas ele acreditava em Deus. E os físicos
atuais admitem uma inteligência organizadora, porque realmente o caos
não cria nada. Existe uma organização no aparente caos da terra; o
nascimento, o desenvolvimento do ser, a morte, o desenvolvimento das
plantas, o ciclo das águas, o movimento dos átomos que não se chocam, e
principalmente, o relacionamento da matéria com a antimatéria, que
deveria causar uma explosão, de elétrons positivos com negativos, e que
convivem em harmonia, porque existe uma inteligência organizadora,
existe uma harmonia em todo o universo, e só pode ser fruto de uma
organização, se não aconteceria o caos.
E a filosofia existencial espiritualista espírita traz essa compreensão
de Deus, inteligência suprema do universo, causa primária de todas as
coisas, que Herculano Pires explica num livro sublime – Concepção
Existencial de Deus. E ele encerra na contracapa assim: ninguém julga o
ser no aqui ou no além. É o próprio ser que se julga e se condena. Deus é
amor. E atenua sempre as nossas provas. E dentro do livro ele diz:
Criamos um Deus terrível, imaginamos que Deus nos teria nos colocado num
aquário, onde os seus capatazes estariam de chicote a mão para nos
castigar. Não é nada disso. Deus é amor. E A Gênese, de Allan Kardec,
diz que se os homens agissem sob as leis de Deus, seriam felizes sobre a
terra, e evitariam os males mais amargos. E diz ainda: a maioria dos
males é criação do homem. A guerra, a fome, o desespero, a dor.
Quando organizarmos melhor a terra, extirparemos esses males criados
por nós, e que devem ser extirpados pelo homem, então teremos dominado
as dores físicas, teremos exterminado os problemas físicos através do
desenvolvimento mental, e aí evoluiremos, dentro das leis, do amor, do
trabalho, do progresso, da liberdade, da igualdade e adoração. Será um
desenvolvimento tranqüilo e feliz, porque embora a dor seja o último
recurso, o recurso que o espírito rebelde exige para ele mesmo, à medida
que crescermos entenderemos que a dor é o pior recurso, o pior método
didático, só usado por aqueles que não conhecem outros métodos, mas que a
Lei Maior é de amor, de progresso e de trabalho, e através dessas leis
nós nos desenvolveremos para uma terra melhor, mais justa e mais feliz.
Heloísa Pires
Palestra proferida em 23.11.1988 no Centro Espírita Cairbar Schutel em São Paulo
Palestra proferida em 23.11.1988 no Centro Espírita Cairbar Schutel em São Paulo
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Fonte: O que os Espíritos Dizem - http://oqueosespiritosdizem.com.br
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