Congregados em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva do Mestre, comentando os sagrados textos.
Quando a palavra
divina terminou
a formosa
preleção, a
sogra de Pedro
indagou,
inquieta:
— Senhor, afinal
de contas, que
vem a ser a
nossa vida no
lar?
Contemplou-a
Ele,
significativamente,
demonstrando a
expectativa de
mais amplos
esclarecimentos,
e a matrona
acrescentou:
— Iniciamos a
tarefa entre
flores para
encontrarmos
depois pesada
colheita de
espinhos. No
começo é a
promessa de paz
e compreensão;
entretanto, logo
após, surgem
pedras e
dissabores...
Reparando que a
senhora galileia
se sensibilizara
até às lágrimas,
deu-se pressa
Jesus em
responder:
— O lar é a
escola das
almas, o templo
onde a sabedoria
divina nos
habilita, pouco
a pouco, ao
grande
entendimento da
Humanidade.
E, sorrindo,
perguntou:
— Que fazes
inicialmente às
lentilhas, antes
de servi-las à
refeição?
A interpelada
respondeu,
titubeante:
— Naturalmente,
Senhor, cabe-me
levá-las ao fogo
para que se
façam
suficientemente
cozidas. Depois,
devo
temperá-las,
tornando-as
agradáveis ao
sabor.
— Pretenderias,
também,
porventura,
servir pão cru à
mesa?
— De modo algum
— tornou a velha
humilde —; antes
de entregá-lo ao
consumo caseiro,
compete-me
guardá-lo ao
calor do forno.
Sem essa
medida...
O Divino Amigo
então
considerou:
— Há também um
banquete
festivo, na vida
celestial, onde
nossos
sentimentos
devem servir à
glória do Pai. O
lar, na maioria
das vezes, é o
cadinho santo ou
o forno
preparador. O
que nos parece
aflição ou
sofrimento
dentro dele é
recurso
espiritual. O
coração acordado
para a Vontade
do Senhor retira
as mais
luminosas
bênçãos de suas
lutas
renovadoras,
porque, somente
aí, de encontro
uns com os
outros,
examinando
aspirações e
tendências que
não são nossas,
observando
defeitos alheios
e suportando-os,
aprendemos a
desfazer as
próprias
imperfeições.
Nunca notou a
rapidez da
existência de um
homem? A vida
carnal é
idêntica à flor
da erva. Pela
manhã emite
perfume, à
noite,
desaparece... O
lar é um curso
ligeiro para a
fraternidade que
desfrutaremos na
vida eterna.
Sofrimentos e
conflitos
naturais, em seu
círculo, são
lições.
A sogra de Simão
escutou,
atenciosa, e
ponderou:
— Senhor, há
criaturas,
porém, que lutam
e sofrem; no
entanto, jamais
aprendem.
O Cristo pousou
na interlocutora
os olhos muito
lúcidos e tornou
a indagar:
— Que fazes das
lentilhas
endurecidas que
não cedem à ação
do fogo?
— Ah! sem
dúvida, atiro-as
ao monturo,
porque feririam
a boca do
comensal
descuidado e
confiante.
— Ocorre o mesmo
— terminou o
Mestre — com a
alma rebelde às
sugestões
edificantes do
lar. A luta
comum mantém a
fervura
benéfica;
todavia, quando
chega a morte, a
grande
selecionadora do
alimento
espiritual para
os celeiros de
Nosso Pai, os
corações que não
cederam ao calor
santificante,
mantendo-se na
mesma dureza,
dentro da qual
foram conduzidos
ao forno bendito
da carne, serão
lançados fora, a
fim de
permanecerem,
por tempo
indeterminado,
na condição de
adubo, entre os
detritos da
Natureza.
Do cap. 2 do
livro Jesus
no Lar, de
Neio Lúcio, obra
psicografada
pelo médium
Francisco
Cândido Xavier.
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