Eternidade

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sábado, 7 de novembro de 2015

Últimos e Primeiros





ÚLTIMOS E PRIMEIROS  (27)

Ev. Cap. XX – Item 2

(...) os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Mateus, 20:16.


No contexto do comportamento histórico-sociológico, o ser humano prefere utilizar-se dos primeiros lugares, aqueles que lhe podem oferecer maior destaque no conjunto em que se movimenta, com essa atitude agradando ao ego sempre necessitado de emulação para desempenhar a tarefa que lhe diz respeito.

Não raro, dominado pelas paixões derivadas da necessidade do prazer e da posse, que lhe parecem constituir metas únicas, transforma a existência num calvário de lutas intérminas, porquanto as ambições em crescendo não lhe facultam a paz nem o preenchimento interior, que são indispensáveis à vida feliz.

Educado para o triunfo na sociedade, mediante propostas hedonistas, a sua vitória deve ser disputada a qualquer preço, não importando as consequências que possam advir dessa filosofia utilitarista de efeitos perturbadores.

Atingido o patamar que constituía o objetivo central dos seus esforços e interesses, não se pode furtar ao vazio existencial ou ao continuado empenho para ter mais, tornar-se conhecido, dominador, como se os infortúnios, as enfermidades, a velhice e a morte não o pudessem atingir.

A existência física parece-lhe ser a saga de realizações externas, o acumular de louros e aplausos, num vaivém ininterrupto, cansativo e desgastante.

Os vitoriosos de um dia, no entanto, passam, como sucede com os indivíduos de todas as camadas nas diferentes luas que travam.

Essa conduta ilusória responde por transtornos psicológicos muito graves e danos espirituais de libertação penosa.

O mundo é educandário, oficina para atividades nobres e nunca uma ilha de sorrisos e plenitude, ou um palco de tragicomédias que deleitam apenas por um momento.

O Evangelho de Jesus é um repositório de ensinamentos convidando à mudança de entendimento da finalidade existencial.

Sem jamais combater a posse ou o prazer que se derivam dos esforços dignos e dos objetivos de serviço à Humanidade, Jesus sempre conclamou aqueles que O escutavam ao progresso mediante o trabalho, à dignidade por meio do auxílio recíproco, demonstrando, no entanto, a transitoriedade de todas as coisas ante a perenidade do Espírito.

Sendo possuidor de recursos incomparáveis, aplicou-os pelo bem dos outros, nunca se permitindo humilhar ou menosprezar os carentes, ou entregando-se ao desperdício, ao abuso do poder, à exploração de outrem.

Vivendo intensamente o mundo, este com suas imposições, às vezes, arbitrárias, deu curso à meta que trazia: a instalação do Reino de Deus nas mentes e nos corações humanos.

Não seja de estranhar a sua informação de que nesse Reino de justiça, os que se exaltam, se glorificam e desfrutam das comodidades e honradas terrestres, sempre nos primeiros lugares, serão os últimos, enquanto que aqueles que sofrem que jamais experimentaram as concessões terrestres, os tesouros da cobiça e do orgulho, serão os primeiros.

Paradoxalmente, os eleitos pelos homens, que deles esperam colher as migalhas que sobram nas suas mesas elegantes e fartas de poder transitório e prestígio, salvadas as exceções compreensíveis, acumulam os frutos da avareza, do crime silencioso e oculto, da traição, do suborno, da astúcia desenfreada. Eles próprios sabem da conduta que mantém, de como são interiormente e do seu desinteresse pelo progresso da sociedade e bem-estar do seu próximo. O egoísmo que neles predomina cega-os para a realidade existencial e para as mínimas expressões de compaixão e de misericórdia em favor dos deserdados da fortuna, os denominados párias sociais...

É natural que, após a embriaguez dos sentidos e o demorado letargo na glória, despertem para a realidade que difere do que lhes aprouve viver no mundo, anestesiando a razão e torcendo a óptica de observação do seu irmão situado economicamente em degrau mais baixo, quiçá pela sua indiferença ou perversidade.


À luz da Psicologia Profunda, o texto evangélico em epígrafe trabalha contra a sombra do poder-prazer, diluindo o ego ambicioso e perverso ante as claridades diamantinas do Subconsciente das suas altas responsabilidades de edificação da criatura humana.

A coragem de Jesus é incomparável, porquanto diante da alucinação dominante nos Seus dias, formulou a Parábola dos trabalhadores da última hora, enfrentando a presunção farisaica e o orgulho hebreu de considerar-se privilegiado por Deus, em face do seu comportamento monoteísta e das inúmeras Revelações de que a raça foi instrumento. Em contrapartida, eles não se davam conta de que a abundância de informações que esclarecem constitui pesada carga de responsabilidade moral para aqueles que lhe recebem o benefício.

Nasceu Jesus em Israel de forma que se cumprissem as profecias; no entanto, Ele não pertence a um povo, a uma raça, a uma época, sendo de todas as nações e de todos os tempos, sem compromisso específico com quaisquer que Lhe queiram disputar a dominação.

Ele asseverou com severidade que tinha outras ovelhas que não eram daquele rebanho, confirmando a Sua independência e total liberdade de ação em relação a todas as criaturas humanas.

Os profetas foram os primeiros a trazerem a notícia da vida espiritual, da Justiça Divina, das consequências dos atos morais em relação ao próprio ser. Cumpriram com as suas missões abrindo espaços luminosos para aqueles que viriam mais tarde. São considerados trabalhadores da primeira hora, na visão da Psicologia Profunda à Parábola do Mestre, por haverem suportado a invernia dos sentimentos e a canícula das paixões desequilibradas. Enfrentaram o solo áspero dos corações e não desistiram mesmo quando as dificuladades se lhes apresentavam quase impossíveis de superadas.

Logo depois, vieram os intelectuais, seus herdeiros, os mártires, os Pais da Igreja, os missionários do bem, os lutadores da solidariedade humana, que haviam haurido, nos ensinamentos recebidos, os exemplos e os estímulos para continuarem trabalhando a terra ingrata dos sentimentos terrestres, nessa luta incessante contra a sombra coletiva poderosa, mesmo que a contributo da própria vida, conforme ocorrera com o seu Mestre.

Por fim veio a Revelação Espírita, que faz desaguar no oceano do mundo espiritual todas as propostas da imortalidade, que é desvelada pela mediunidade, da Justiça Divina atestada pela reencarnação e confirmada pelos fatos e pela experiência da fé raciocinada e lógica.

Os tempos modificaram-se, mas as lutas, embora com aspectos diferentes, prosseguem terrificantes e de efeitos cruéis. As atrações do prazer estão multiplicadas pelos veículos da Informática, o abuso dos sentimentos torna-se quase hediondo, as facilidades para o vício e o desvio de rota multiplicam-se a cada instante, e o discípulo sincero da Boa–nova apresenta-se como um estranho no palco das excentricidades hodiernas.

Parece mesmo não haver lugar na sociedade para quem abraça a Doutrina de Jesus desvelada dos enigmas e libertada das mazelas e desvios que sofreu através dos séculos...

Sabendo, no entanto, que o tempo é escasso e as circunstâncias não são favoráveis, uma empatia superior domina o sentimento desse servidor devotado, impulsionando-o ao prosseguimento do esforço de autotransformação para melhor, superando as marcas do passado, as heranças primitivas e trabalhando com acendrado amor. Os seus objetivos centram-se no serviço do Bem e mesmo vivendo os condicionamentos do mundo, psicologicamente mantém-se em termos de consciência de si mesmo, administrando as funções da máquina física sem castrar-se ou fugir dos compromissos que lhe dizem respeito, não dependendo dos caprichos terrestres, porque vinculado emocionalmente à Vida sem limite.

Compreendendo o convite de Jesus para que sirva em quaisquer condições que apareçam, nunca desanima no serviço, reforçando as convicções espirituais quanto maiores testemunhos surjam pelo caminho iluminativo.

Sucede que muitos desses trabalhadores, ora engajados na renovação, retornaram ao proscênio terrestre para darem cumprimento aos deveres que ficaram interrompidos na retaguarda, em outras reencarnações fracassadas, quando, atraídos pelos ouropéis abandonaram a charrua, embriagando-se de prazeres e enlouquecendo mais tarde de remorso, quando então solicitaram a bênção do recomeço e da reparação... Repetem hoje as experiências malogradas anteriormente.

Sem qualquer desconsideração pelos diferentes credos religiosos e filosofias existentes, aos espíritas conscientes das suas responsabilidades – aqueles mesmos que se equivocaram e agora recomeçam em condições melhores – cabem neste momento graves compromissos que não podem nem devem ser postergados, quais sejam os de proclamar a Era Nova e demonstrar pela lógica e pelo bom senso, assim como através dos fatos da mediunidade dignificada, a existência do mundo causal, a anterioridade do Espírito ao corpo, os incomparáveis recursos saudáveis defluentes da conduta correta, dos pensamentos edificantes, da ação do bem ininterrupto.

Comprometido com os Imortais que têm a tarefa de apressar estas horas, o trabalhador convidado pela consciência lúcida do dever é estimulado a superar o ego e investir as suas melhores energias na vivência e divulgação da Mensagem evangélica sem jaça.

Simultaneamente, deverá preparar a sociedade terrestre para a reencarnação de milhões de missionários do bem e da caridade, que logo mais brilharão no mundo em sombras como estrelas polares apontando os novos rumos para a Humanidade cansada de gozo e prazer, sequiosa de paz e de renovação.

Nessa oportunidade que chega, espocarão as luzes da verdade desbastando as trevas teimosas da ignorância, os preconceitos doentios da vaidade, os prejuízos morais estabelecidos pelos gananciosos, e o amor triunfará dos caprichos da libido, expressando-se sem tormentos nem angústias, em formoso contributo para a felicidade geral.

É inevitável, portanto, que os últimos sejam os primeiros, e os primeiros sejam os últimos, conforme expressou Jesus na Sua delicada parábola.



do livro Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda
por Joanna de Ângelis e Divaldo Pereira Franco 

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