Jesus proferiu este ensinamento - Não vim destruir a lei - no início de seu messianato, quando, no Sermão da Montanha, após as bem-aventuranças, Ele informa ao povo que o ouvia, que não vinha destruir as Leis Mosaicas, porém, dar-lhe cumprimento, execução.
Explicando esta afirmativa de Jesus, Kardec nos traz, em O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo I -, que na Lei Mosaica há duas partes distintas a saber: a Lei de Deus, promulgada no Monte Sinai, contida nos dez mandamentos; e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés.
A Lei de Deus é de todos os tempos e de todos os povos e tem, por isso mesmo, caráter divino. Todas as outras são leis que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo de seu natural turbulento e indisciplinado. Para imprimir autoridade as suas leis, Moisés lhe atribuía origem divina, conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos.
Jesus não veio destruir a Lei de Deus, veio cumpri-la, desenvolve-la, dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens de sua época.
Por exemplo: em relação aos dois primeiros mandamentos da Lei de Deus, o primeiro, em que Deus se apresenta ao povo Hebreu e o segundo, em que Ele manda não pronunciar em vão o nome do senhor vosso Deus, Jesus nos apresenta Deus como um pai amoroso, sábio, misericordioso e bom, como na oração do Pai Nosso - onde nos apresenta Deus como um Pai, no Sermão da Montanha - "olhai as aves do céu, que não plantam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros, e Deus as alimenta"; na Parábola do Filho Pródigo - "Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou." e em outras tantas lições ao longo do Evangelho.
Em relação ao terceiro mandamento: "Lembrai-vos de santificar o dia de sábado", Jesus nos ensina: "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.", uma vez que o povo Judeu ainda tratava com muito rigor a necessidade de nada fazer no dia de sábado.
Em relação ao quarto mandamento: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe", Jesus ratifica o mandamento divino, determinando o seu cumprimento, conforme anotado no Evangelho de Mateus, capítulo 15, versículos 3 a 9. E amplia a noção de laços de família quando nos ensina: "Porque todo aquele que fizer a vontade do Pai, que está nos céus, este é meu irmão e minha irmã e minha mãe.", e os espíritos nos dizem que com esta lição, Jesus faz a distinção entre a família corporal e a família espiritual.
Quanto ao quinto mandamento - "Não mateis", Jesus nos ensina em Mateus, cap. 5, vv. 21 e 22: "Ouvistes o que foi dito aos antigos: não matarás; quem matar, será réu de julgamento. Pois eu vos digo: quem se encolerizar contra seu irmão, será réu de julgamento. Quem chamar seu irmão de patife, será réu perante o Sinédrio, e quem o chamar de tolo, será réu do inferno de fogo." Jesus amplia assim, extraordinariamente, a responsabilidade de nossos atos em relação ao nosso próximo.
Em relação aos sexto e nono mandamentos, "Não cometais adultério" e "Não desejeis a mulher do vosso próximo", respectivamente, Jesus nos ensina: "Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Pois eu vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça sobre uma mulher, já cometeu adultério em seu coração." (Mateus, cap. 5, vv. 27 e 28). Nos advertindo, assim, da responsabilidade que temos quanto aos nossos pensamentos.
Em relação aos sétimo e décimo mandamentos, "Não roubeis" e "Não cobiceis a casa do vosso próximo...", Jesus nos ensina que não devemos acumular riquezas na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e os ladrões assaltam e roubam, mas devemos ajuntar riquezas no céu.
E quanto ao oitavo mandamento: "Não presteis testemunho falso contra o vosso próximo.", Jesus nos ensina que nosso dizer deve ser "sim, se for sim; não se for não", nos alertando do valor da verdade.
Vemos, pelos exemplos citados, que Jesus vem ampliar o entendimento dos dez mandamentos recebidos de Deus por Moisés.
E, assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra.
por Marcos de Oliveira Vianna, do Centro Espírita Caminheiros do Bem.
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