Considerações iniciais
O trabalho voluntário na Casa Espírita, além de contribuir para o 
fortalecimento das forças do bem na humanidade, é uma oportunidade 
ímpar, disponibilizada à criatura humana para que, de forma consciente e
 mais constante, se encontre com nosso Pai celestial. Daí a importância 
de o voluntário, ao abraçar sua tarefa, estar plenamente cônscio da 
relevância de sua participação, certo de que, em sua atuação, contará 
com a companhia e assistência do Pai celestial através de sua corte de 
anjos.
Dessa forma o trabalhador voluntário da seara divina deve envidar todo 
seu esforço no sentido de honrar esses momentos, assentando sua força de
 trabalho em pilares que resistam às dificuldades naturais, existentes 
no terreno onde as sementes do Amor serão plantadas e regadas.
1º Pilar: Amor ao próximo, respeito humano
O trabalho voluntário na Casa Espírita exige contato permanente com 
criaturas humanas encarnadas e desencarnadas, situadas nas mais variadas
 faixas vibratórias de pensamento e comportamento, daí a necessidade de o
 voluntário ser portador de um aceitável grau de sensibilidade para que 
possa bem se relacionar com essas pessoas, a fim de não prejudicar os 
intentos divinos em favor delas. Ao lidar com criaturas humanas nunca 
esqueçamos que nem sempre estamos tratando com pessoas lógicas, mas sim,
 na maioria das vezes, com pessoas emocionais. 
É imprescindível que, no desempenho de 
sua tarefa, o voluntário guarde estrita vigilância ante as investidas 
provenientes do plano espiritual inferior, pois as mesmas encontram 
terreno fértil, para sua semeadura, no lodaçal do orgulho, da vaidade, 
do melindre, da sede de poder, da ignorância e da fragilidade emocional e
 moral das pessoas, bem como em outras imperfeições próprias da natureza
 humana.
Assim, tratar bem aqueles com quem nos 
relacionamos, estimulando-os para o trabalho que desempenham e/ou 
incentivando- os a superar as dificuldades da jornada, são exemplos que,
 sempre que possível, devem ser vivenciados pelo trabalhador espírita. 
Ademais, não custa nada lembrar que, sempre que a oportunidade apareça 
devemos habitualmente cumprimentar as pessoas, com naturalidade, ser 
compreensivos, ser solícitos, atenciosos, enfim, educados com o 
semelhante. Esses “pequenos” gestos muito contribuem para o ajuste da 
nossa sintonia com o plano espiritual superior que nos assiste.
2º Pilar: Fidelidade aos princípios espíritas
Em função da natureza do trabalho 
realizado na Casa Espírita, é fundamental que seu trabalhador voluntário
 não só tenha conhecimento doutrinário, mas também o abrace e nele tenha
 fé. Afirmamos que o trabalho espírita é diferente dos demais, porque 
não leva em consideração somente as necessidades de ordem material da 
criatura humana, mas, principalmente as mais imediatas. O trabalho sob a
 égide do Espiritismo também leva em consideração a vida espiritual das 
pessoas e seu retorno à carne em vidas futuras. Para que essa 
consciência se firme, de forma mais efetiva na conduta do voluntário, é 
necessário que saiba o que é reencarnação, quais os princípios que a 
regem e que a compreenda à luz do Espiritismo; que tenha conhecimento e 
acredite na comunicabilidade dos Espíritos, em como essa comunicação se 
processa e que efeitos provoca na vida da criatura humana; que tenha fé 
em Deus, em sua bondade, misericórdia e justiça, para melhor entender as
 desventuras com que se deparará ao longo do seu trabalho e que acredite
 na imortalidade da alma, para citar alguns requisitos básicos 
necessários a que se guarde fidelidade aos princípios doutrinários 
espíritas.
A falta de conhecimento do que seja o 
Espiritismo, dos recursos de que dispõe e dos princípios em que se 
assenta, indubitavelmente levará o voluntário espírita a desenvolver seu
 esforço de trabalho em direção contrária à que se recomenda a Doutrina 
Espírita, gerando assim sérios conflitos de identidade na Instituição. 
Um exemplo funesto dessa ausência de fé e fidelidade às recomendações do
 autêntico Espiritismo é a realização de práticas estranhas ou exóticas 
na Casa Espírita.
3º Pilar: Convivência fraterna e companheirismo
Jesus com seu exemplo nos ensinou que o 
trabalho na seara divina não dispensa a participação de ninguém que 
esteja imbuído de boa vontade e sintonizado com os propósitos divinos. 
Para cumprir sua missão entre nós, Ele se fez acompanhar de discípulos 
das mais variadas condições sociais e culturais, com destaque para os 
doze apóstolos que lhe eram mais próximos. Poderia, certamente, 
cumpri-la sozinho, mas em sua sabedoria optou por partilhá-la com seus 
irmãos de caminhada e de ideal. Assim deve ser na Casa Espírita, pois 
todos os que nela se encontram são irmãos que abraçam a mesma fé, 
dispostos a seguir as recomendações de vida eterna, trazidas pelo 
Cristo, uns espiritualmente mais amadurecidos que outros, mas todos 
desejosos de crescimento espiritual.
Diante dessa heterogeneidade evolutiva, é
 natural que em alguns momentos ocorram desencontros de opinião e 
comportamento, todavia, nesses momentos devemos nos lembrar de que 
viemos para unir pessoas e não para separá-las. Que o companheiro de 
espírito mais amadurecido na prática do bem se apresente junto ao mais 
fragilizado, não para confrontá-lo, mas para, juntos, trabalharem em 
favor da causa do Cristo, uma vez que os discípulos de Jesus são 
conhecidos por muito se amarem. Que nosso proceder no desempenho de 
nossa tarefa seja o de partilha, de companheirismo e de compreensão para
 com as limitações humanas. Dar asas ao destempero emocional, ao “disse 
me disse”, à soberba, à arrogância, à exaltação da personalidade, por 
exemplo, só serve para obstaculizar a efetivação dos propósitos do 
Espiritismo na humanidade. Os tempos são chegados e esse tempo é o da 
solidariedade e da fraternidade. Nós, os trabalhadores da última hora, 
já perdemos muito tempo com os braços cruzados, portanto, temos muito 
trabalho pela frente.
4º Pilar: Amor ao trabalho
No exercício de sua tarefa, o 
trabalhador voluntário da Casa Espírita deve estar imbuído do sentimento
 de amor ao que faz e não do da obrigação ou da prestação de um favor a 
alguém, seja encarnado, seja desencarnado. Não esqueçamos que Jesus 
espera de cada um de nós misericórdia (compaixão) para com a dor e o 
sofrimento alheio e gestos conscientes de amor ao próximo e não 
sacrifícios ou mesmo obrigações forçadas de qualquer ordem.
A alegria de poder contribuir para a 
felicidade daqueles que a Providência divina coloca em nosso caminho 
deve ser a motivação que nos leve a realizar o trabalho voluntário, 
principalmente na Casa Espírita. Isso exige que eduquemos nossos 
sentimentos e reavaliemos nossa postura ética (como estamos nos 
relacionando com nossos semelhantes, principalmente os mais próximos?), 
moral (que valores tomamos como referência para nossa conduta 
cotidiana?) e comportamental (nosso comportamento na vida está coerente 
com o que acreditamos e professamos, como espíritas que somos?). Meditar
 sobre esses três pontos e esforçar-se, o mais que possível, para 
vivenciar atitudes coerentes com a proposta divina, referente a cada um 
deles, é tarefa urgente e inadiável, haja vista a necessidade de 
adquirirmos o equilíbrio exigido para o trabalho na lida espírita. Sem 
esse equilíbrio, como enfrentaremos as dificuldades e incompreensões que
 fatalmente surgirão no decorrer da tarefa? É fundamental que saibamos, 
adequadamente, nos desviar das pedras que surgirem no caminho, 
contornando-as ou removendo-as, uma vez que, se elas ali permanecerem, 
poderão ser motivo de tropeço e até mesmo de queda daqueles que com elas
 se depararem.
5º Pilar: Presença
O trabalho espírita, devido às bases em que se assenta e coerente com os
 fins a que se propõe, em hipótese alguma deve promover a infelicidade 
de seus agentes. Por isso, quem se dispuser a trabalhar na seara 
espírita deve planejar bem seu tempo de modo a não se prejudicar na 
condução de suas outras atividades, fora do Centro, e também para que a 
tarefa da qual participa no Movimento Espírita não venha a sofrer nenhum
 tipo de prejuízo. É imperativo que haja tranquilidade e satisfação por 
parte do trabalhador voluntário, principalmente no desempenho de sua 
tarefa, e isso só será possível se, dentre outros fatores, houver, no 
mínimo, um equilíbrio razoável do binômio: trabalho assumido versus 
tempo disponível à sua realização. Para que esse equilíbrio se 
estabeleça e o encargo seja satisfatoriamente realizado, se faz 
necessário administrar bem a ocupação do tempo disponibilizado, uma vez 
que esse tempo, competentemente distribuído, mesmo sendo pouco, pode 
gerar frutos mais proveitosos do que os produzidos por alguém muito 
ocupado com realizações desnecessárias e assumindo atitudes 
incompatíveis com os propósitos da tarefa e com as finalidades do 
Espiritismo. Nesse quesito, a assiduidade e a responsabilidade são duas 
condições que não podem faltar. 
Conclusão
Aos que desejam participar do trabalho 
voluntário na Casa Espírita e aos que já estão nele integrados deixamos a
 seguinte mensagem de Francesco, il poverello de Assis:
Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.
Fonte: Revista Reformador - FEB - 2014 
 

