Você não pode entrar numa casa espírita e passar despercebido. Não pode ser um anônimo, um ilustre desconhecido.
A casa espírita, antes de ser um hospital que atenua nossos males e
dores; antes de ser uma oficina, que ocupa seus participantes,
tornando-os pessoas úteis e operantes no fazer; antes de ser uma legião
de assistência, que estimula a ação no bem – o ato espontâneo e
despretensioso – na relação com o outro; antes de ser uma escola de
almas, ensinando a viver, transformando, fazendo profilaxia, propiciando
crescimento, ensejando o autoconhecimento e a auto-estima, é, acima de
qualquer coisa, um lar, onde nos expressamos de modo familiar e com
respeito; um espaço de convivência em que partilhamos as horas amargas e
ditosas do dia a dia, entre a consolação e a iluminação da consciência.
Onde o amor de Jesus conduz, com suave serenidade e célere pacificação,
a verdade de Kardec.
Por tudo isso, tenhamos a mais plena atenção para com os que adentram
o portal do centro espírita, a fim de que sejam vistos, notados e
recepcionados. Tudo isso de maneira discreta, mas emocionada, como se
fossem pessoas de nosso bem querer. Podemos abordá-los, cumprimentá-los
com um aceno ou um aperto de mão, um sorriso leve nos lábios, com
simpatia e ternura. Podemos perguntar a eles se é a primeira vez que vêm
à casa espírita, se trazem dúvidas, por que vieram e por intermédio de
quem, se conhecem outra casa e, por meio desse prévio contato,
perguntar-lhes o nome e nos apresentarmos.
Em seguida, muitas atitudes poderemos tomar: atender suas
expectativas, dúvidas ou dificuldades, e encaminhá-los para esta ou
aquela reunião; apresentar-lhes o programa semanal da casa;
apresentar-lhes as dependências e os companheiros da casa; fornecer-lhes
dados sobre a filosofia espírita e, ainda, sobre a filosofia de
trabalho da casa. Podemos transmitir-lhes alegria e conforto,
convidando-os a sentarem-se, e estabelecer com eles um vínculo de
amizade. A iniciação nas hostes espíritas deve ser um momento
significativo, marcante, caloroso, afetuoso, de profunda e capital
importância, posto que encerra o avançar dos umbrais da felicidade.
Dizia Antoine de Saint’Exupery: “Você se torna eternamente responsável
por aquilo que você cativa”. Desse momento em diante, esses novos amigos
devem ser acolhidos, acompanhados, estimulados e orientados sempre que
possível, até que eles se firmem, se informem, desenvolvam outros
vínculos, conheçam outros companheiros, abracem uma tarefa, até
integrarem-se em definitivo na grande família espírita, que é o
movimento espírita.
Cada companheiro que cativamos na recepção de entrada do centro é
alguém que sempre divulgará uma imagem de excelência da Doutrina
Espírita. Por isso, é de extrema relevância amparar, consolar, conviver,
se emocionar, enternecer-se, ouvir com o fundo d’alma, olhar, perceber e
se ater a cada pessoa.
O relacionamento e o atendimento fraternos, bem como a comunicação
social espírita, começam na primeira vez que alguém chega à casa
espírita. Devemos investir todos os nossos talentos no companheiro
iniciante. Devemos, inclusive, encaminhá-lo às reuniões públicas, já que
a Doutrina Espírita tem por base o amor. Devemos transmitir a Doutrina
Espírita com esse amor, percebendo os interesses desse companheiro, suas
possibilidades, sua história de vida, sua compreensão anterior, o seu
desconhecimento do Espiritismo, entendendo as deturpações e deformações
que sofre pelo leigo.
Quem deverá recepcionar, atender fraternalmente, comunicar-se,
encaminhar, iniciar e acompanhar cada companheiro iniciante? Todos os
tarefeiros integrados na casa e imbuídos da filosofia de trabalho. Devem
ser conscientizados desses passos, e por eles sensibilizados, motivados
e trabalhados em seus sentimentos para cumprir, com qualidade, essa
magna tarefa. Devemos nos lembrar, também, que o companheiro mais
antigo, vez por outra, traz uma dúvida ou uma dor. Não podemos dar as
costas para o companheiro que trabalha na casa, e esquecê-lo; também ele
merece nossa atenção, e dela precisa. Se a Doutrina é de amor, o amor é
de todos para todos. Queremos encerrar firmando a baliza de Kardec:
“trabalho, solidariedade e tolerância”. Trabalhar com senso de
compromisso, comprometidos com a casa como um todo, com a filosofia
espírita que deve engendrar a filosofia da casa. Devemos ser solidários
nas possibilidades e nas dificuldades, usando a sensibilidade, a
percepção, o bom senso, estabelecendo uma relação de ajuda com os
companheiros, sem rótulos, sem preconceitos, sem hierarquias, onde um é o
ajudante e o outro o ajudado. Sejamos tolerantes nas diferenças e nas
semelhanças, fazendo cumprir os ditames doutrinários de amor e
instrução, entendendo que a melhor disciplina é a da consciência, de
dentro para fora, e não inversamente, e o melhor regulamento é um
contrato feito com todos os interessados, e que não deve ser vestido com
camisa de força, mas com flexibilidade, atendendo ao contexto da
situação, das pessoas, da atualidade, do entendimento evangélico.
Receber bem não é agradar, simplesmente; é servir, de coração e mente,
irmanados no propósito do bem.
*Escrito por Mozart da Cunha Leite - O autor é Presidente do 17o CRE/USEERJ
(Publicado no Dirigente Espírita no 64 de março/abril de 2001)
Fonte: Portal do Espírito
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