A mediunidade, desde quando o homem
surgiu na Terra, tem sido o canal pelo qual os Espíritos, sob a égide de
Jesus, vêm promovendo o progresso material, intelectual e espiritual da
Humanidade. No entanto, o portador de mediunidade nem sempre teve a
exata noção de sua natureza e importância, usando-a de forma espúria,
adulterando sua elevada finalidade, esquecendo-se do compromisso com ela
assumido antes de seu retorno à carne.
Compromisso é obrigação mais ou menos
solene assumida entre duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas. É
qualquer combinação, ajuste, acordo, convenção, tratado, promessa
formal, entre duas ou mais entidades. São raríssimos os momentos, e
talvez seja este um deles, em que meditamos sobre nosso compromisso
perante Deus, perante Jesus, perante nossa Vida Espiritual. O mais
natural é refletirmos sobre os compromissos de ordem social e econômica,
já que estamos no plano material, onde o corpo físico abafa
consideravelmente nossa consciência, levando-nos a esquecer do que
prometemos realizar.
Quando a nossa volta à carne é
programada no Mundo Espiritual, os mentores levam em conta o nosso
passado (curriculum vitae), a nossa expectativa de futuro, a nossa
capacidade de prova ou de expiação; buscam-se os encarnados que poderão
nos aceitar como filhos; alinhava-se apoio com Espíritos que
reencarnarão antes e outros depois do nosso retorno; programam-se os
fatos principais de nossa vida, que contribuirão para nosso progresso,
incluindo-se neles enfermidades, condição social, área de atuação na
sociedade, casamento, filhos etc. Como vemos, reencarnamos
demasiadamente compromissados.
Diante do acúmulo de nossos erros
passados e da nossa possibilidade de cooperar com o progresso do meio em
que viveremos, com base no princípio evangélico de que “o amor cobre a
multidão dos pecados”, recebemos, como ferramenta de apoio ao
cumprimento do programa estabelecido, a faculdade mediúnica. Eis forte
motivo para os médiuns não se considerarem missionários, escolhidos
pelos seus louros espirituais, conforme nos lembra o mentor de Chico
Xavier:
Os médiuns em sua
generalidade, não são missionários na acepção comum do termo; são almas
que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso
das Leis Divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e
ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. […]
Sem dúvida, é em razão dessa condição
espiritual que, na maioria das vezes, esquecemos o compromisso de
exercer a mediunidade com disciplina, trabalho e renúncia, pois
[…] Não se trata de
um empreendimento fácil ou de curto prazo, antes, de uma realização
prolongada, na qual são enfrentados os perigos que procedem da
inferioridade, que teima em permanecer, dominadora.2
O corpo físico tem a função abençoada de
abafar as reminiscências do nosso passado delituoso para que
construamos um futuro feliz, sem muita perturbação; no entanto, seus
instintos naturais, costumeiramente, nos levam a esquecer do compromisso
com a mediunidade, não a exercendo na sua plenitude ou de forma
nenhuma. Um exemplo desse fato é a confissão feita pelo abade Dégenettes
(Espírito) ao Codificador:
Quando eu estava na
Terra, trabalhava de corpo e alma para reconduzir os homens a Deus, mas
tinha apenas uma ideia muito fraca da importância desta grande lei, pela
qual todos os homens chegarão ao progresso. A matéria impõe graves
entraves, e nossos instintos muitas vezes paralisam os esforços de nossa
inteligência. Quando, pois, de minha audição, eu não sabia bem em que
pensar; mas vendo que a voz continuava a fazer-se ouvir, conclui por um
milagre. Apesar disso, considerava-me como um verdadeiro instrumento, e
tudo quanto obtive por esta intercessão me confirmava essa ideia. Pois
bem! De fato, eu tinha sido um instrumento; mas não havia milagre; eu
era um dos homens designados para trazer uma das primeiras pedras à
doutrina, fornecendo a prova das comunicações espirituais. 3 (Grifo
nosso).
O compromisso com a mediunidade
estabelece metas, renúncia, vida disciplinada, sem privilégios. Para nos
convencermos disso oferecemos ao leitor dois exemplos de consolidação
do compromisso mediúnico.
No primeiro encontro de Chico Xavier com Emmanuel, deu-se o seguinte diálogo:
– Está mesmo disposto a trabalharna mediunidade?
– Sim, se os bons Espíritos nãome abandonarem.
– Você não será desamparado, mas para isso é preciso que trabalhe, estude e se esforce no bem.
– O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso?
– Perfeitamente, desde que respeite os três pontos básicos para o serviço.
Diante do silêncio do desconhecido, Chico perguntou:
– Qual o primeiro ponto?
A resposta veio seca:
– Disciplina.
– E o segundo?
– Disciplina.
– E o terceiro?
– Disciplina, é claro.
Chico Xavier concordou. E o estranho aproveitou a deixa:
– Temos algo a realizar. Trinta livros para começar.4 (Grifo nosso).
O médium de Uberaba foi tão disciplinado em toda sua vida que não escreveu somente 30 livros, e sim mais de 400!
Após vários anos de fenômenos mediúnicos acontecendo com Divaldo Franco, somente em 1945 teve ele seu primeiro encontro consciente com Joanna de Ângelis.
Após vários anos de fenômenos mediúnicos acontecendo com Divaldo Franco, somente em 1945 teve ele seu primeiro encontro consciente com Joanna de Ângelis.
Eis o que dela ouviu:
– Eu tenho a tarefa
de caminhar ao teu lado nesta atual existência. Não te prometo regalias
ou facilidades. Não esperes de mim aquilo que o mundo mesmo pode te dar e
que obterás por esforço próprio, mas te afianço ser necessário que, na
tua fidelidade à palavra de Jesus, contes com a minha presença de amiga à
medida que eu possa contar contigo nas necessidades do nosso programa.5
Como vemos, o compromisso mediúnico exige disciplina, trabalho, estudo,
renúncia e atuação no bem, não tendo o médium nenhum privilégio, embora
não lhe falte o amparo dos bons Espíritos para que alcance seu
desiderato, que é o de atuar na Seara de Jesus. Se assim não proceder
será motivo de preocupação, sofrimento e perturbação para ele mesmo,
para os familiares e companheiros que com ele atuam na Casa Espírita.
REFERÊNCIAS:
1 XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 11 – Mensagem aos médiuns, it. 11.1 Vigiar para vencer.
2 FRANCO, Divaldo P. Médiuns e mediunidade. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. 1. ed. Niterói: Editora Arte e Cultura, 1990. cap. 30, p. 131.
3 KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 8, n. 8, ago. 1865. Abade Dégenettes, médium. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. Brasília: FEB, 2009.
4 MAIOR, Marcel S. As vidas de Chico Xavier. 2. ed. São Paulo: Editora Planeta, 2005. p. 44.
5 LANDI, Ana. Divaldo Franco: a trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos. 1. ed. São Paulo: Bella Editora, 2015. cap. 12 – Joanna, p. 115.
1 XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 11 – Mensagem aos médiuns, it. 11.1 Vigiar para vencer.
2 FRANCO, Divaldo P. Médiuns e mediunidade. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. 1. ed. Niterói: Editora Arte e Cultura, 1990. cap. 30, p. 131.
3 KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 8, n. 8, ago. 1865. Abade Dégenettes, médium. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. Brasília: FEB, 2009.
4 MAIOR, Marcel S. As vidas de Chico Xavier. 2. ed. São Paulo: Editora Planeta, 2005. p. 44.
5 LANDI, Ana. Divaldo Franco: a trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos. 1. ed. São Paulo: Bella Editora, 2015. cap. 12 – Joanna, p. 115.
Fonte: FEB
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