- I -
Alteridade, palavra que só agora começa a se tornar mais conhecida, principalmente nos meios espíritas.
De
 forma resumida podemos dizer que ela representa o respeito que devemos 
ter para com todos, além da disposição para aceitar e aprender com os 
que são e pensam diferente de nós. É também a construção da fraternidade
 apesar das divergências, respeitando-as e procurando aprender com as 
diferentes opiniões. Mas vivenciar o valor da alteridade não significa 
deixar de discutir, debater, questionar. A discussão, o debate e o 
questionamento são saudáveis quando se respeita o outro e a sua maneira 
de ser e de pensar.
A
 alteridade nos ajuda a abrir caminhos para uma compreensão mais elevada
 sobre tudo. É o mais importante mecanismo para o crescimento do homem 
como ser social, que pode levá-lo a interagir pacífica e beneficamente 
com tudo que o cerca. É, sem dúvida, o veículo capaz de conduzir a 
humanidade para a tão esperada nova era.
A
 postura alteritária nos leva a ver todos com bons olhos, lembrando as 
palavras de Jesus: “Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será 
luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará 
em trevas.” (Mateus 6:22 e 23)
A
 pessoa que vivencia a alteridade passa a ser mais fraterna em todos os 
sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir... E esse tipo de 
atitudes deixa o ser em paz consigo mesmo, com a humanidade, com a vida.
Aí
 você poderá contestar dizendo que isto torna a criatura alienada. Mas 
há grande diferença entre analisar – com vistas ao próprio aprendizado e
 também no intuito de ajudar, caso seja viável – e julgar ou criticar. 
As posturas de julgamento e crítica geralmente denotam uma idéia de 
superioridade, porque ao criticarmos o outro estamos querendo 
diminuí-lo, para que a nossa “grandeza” fique mais visível. Com tais 
atitudes, que têm como combustível o orgulho e a vaidade, estamos 
enviando uma vibração negativa ao objeto da nossa crítica, seja ele uma 
pessoa, uma instituição ou uma nação, já que as instituições e as nações
 são formadas por pessoas. Por exemplo, você vê alguém caminhando sobre a
 grama de uma praça para encurtar caminho e pensa: “Que criatura mais 
sem educação!”.
Nesse
 ato de criticar intimamente a atitude daquela pessoa, você está gerando
 uma vibração negativa, ou seja, “energia psíquica” de teor negativo. 
Parte dessa energia fica em você mesmo, seu gerador, e outra parte 
alcança a pessoa que pisou a grama para cortar caminho. Por outro lado, 
se registrar o ato errado, mas respeitando a diferença do outro não 
criticá-lo, estará fazendo um bem a si mesmo e deixando de fazer mal a 
outrem. Mas digamos que, agindo com alteridade e com afeto, você entende
 que deve falar-lhe, alertando-o para o erro que está cometendo, fá-lo-á
 então de forma a não humilhá-lo, encontrando a melhor maneira de ser, 
junto àquela pessoa, uma presença benéfica. Mas se esse alerta for 
inviável, poderá enviar-lhe uma vibração fraterna junto com a ideia de 
que não se deve pisar a grama, para que esse tipo de vibração, 
alcançando o alvo, possa induzi-lo a não mais praticar esse tipo de 
ações, atuar sobre ele como fator indutor.
- II - 
Desenvolvendo
 a alteridade, respeitando completamente a maneira de ser dos outros em 
seus erros, equívocos e até mesmo em suas maldades, lembrando que todos 
somos seres em diferentes faixas evolutivas, tornamo-nos mais leves, 
mais de bem com a vida, mais alegres e também mais saudáveis. E se 
entendermos e vivenciarmos verdadeiramente a alteridade e a afetividade,
 faremos uma prece pelos que estamos observando em erro e lhes 
direcionaremos vibrações positivas, indutoras de ações mais corretas.
Mas
 há um ponto importante a ser percebido em sua totalidade e de forma não
 distorcida. Diz respeito à crítica. Como o ser humano, ou grande parte 
da humanidade, tem a tendência de pular de um extremo para o outro, é 
bem provável que muitos, ao abraçarem as idéias da alteridade, caiam 
nesses extremos e passem a adotar a omissão ou a conivência como sendo 
posicionamentos alteritários.
Ocorre
 que exercer a faculdade da crítica faz parte do crescimento do ser 
humano. Só que há dois tipos de crítica, uma é saudável, a outra não.
Na
 crítica saudável observamos, analisamos, buscando entender os porquês, 
confrontando tudo com o que sabemos e o que entendemos que seja o melhor
 e o mais correto, sempre na intenção do aprendizado e visando 
roteirizar para nós próprios os melhores modelos. Podemos também 
realizar essas análises, visando de alguma forma colaborar para que 
sejam corrigidos ou minimizados os erros que vamos encontrando em nossas
 apreciações. Se acrescermos a esse tipo de crítica os valores da 
afetividade, havemos sempre de encontrar a melhor maneira de ajudar, de 
ser presenças benéficas onde estivermos, nem que essa ajuda se dê tão 
somente através de uma prece ou de uma vibração positiva. Isto equivale a
 uma atmosfera interna de boa vontade, de olhar tudo e a todos com bons 
olhos, a desenvolver uma vibração positiva. Isto é benéfico para quem 
age dessa forma, para os que o circundam e também interfere ou interage 
de forma positiva com as próprias circunstâncias.
Na
 crítica saudável podemos dialogar com tranquilidade, debater nossos 
pontos de vista, trocar ideias, estar abertos para aprender com os 
outros, enfim, participar ativamente das situações, sempre visando o bem
 geral.
No
 tipo de crítica não-saudável, desenvolvemos uma ambiência interna 
pesada, do contra, sempre dispostos a encontrar erros em torno de nós. 
Posturas assim são geradoras de energismo pesado, desagregador, além de 
fomentar orgulho e vaidade em quem as vivencia.
- III -
Outro
 dia, quando fazia a caminhada matinal, ao passar diante de um 
condomínio em construção, um homem – vigia noturno da obra – lia a 
Bíblia para uma mulher.
Meu
 primeiro impulso foi pensar: “Um evangélico querendo converter alguém, 
logo cedo”. Mas, lembrando-me da alteridade, mudei meu estado de 
espírito com relação àquela situação e iniciei um discurso de censura 
para comigo mesma. Logo em seguida, porém, recordei-me das lições que 
venho aprendendo com esta Agenda Mínima, enquanto a vou escrevendo. 
Então, ao invés da auto-censura, preferi “olhar” a cena com uma visão 
diferente, e fiquei comovida com o que vi: uma pessoa pobre, certamente 
sem instrução, ocupando-se em repassar a outrem os ensinamentos de 
Jesus, quando poderia estar comentando o crime da véspera que ainda 
circulava na mídia e na boca do povo.
Olhei-os
 então com outros olhos e enviei-lhes uma vibração afetuosa. Segui 
caminho, sentindo-me feliz, desse tipo de felicidade que sentimos quando
 olhamos o outro com afeto, com alteridade e com humildade.
Assim,
 por tudo que podemos observar em nós e em torno de nós, é possível 
perceber a importância da alteridade em todos os relacionamentos. Nos 
meios espíritas ela se torna uma postura de vanguarda, sinalizando um 
modelo de convívio para o novo tempo, o mundo de regeneração.
A
 afetividade e a alteridade também são importantes para a paz. Ver os 
outros com olhar alteritário minimiza quaisquer razões para a violência.
 Vê-los com olhar afetivo dilui as vibrações agressivas e desfaz 
impulsos violentos.
O escritor e palestrante espírita Alkíndar de Oliveira, pinçou algumas observações do espírito Ermance Dufaux, do livro Reforma Íntima sem Martírio, psicografado por Wanderley S. Oliveira, nas quais vale a pena refletir:
“Aprender a discordar sem gostar menos, de nossos companheiros.”
“Aceitar cada pessoa como é, procurando entender os “porquês” dos incômodos que sentimos com esse ou aquele coração.”
“Pensar sempre com bondade sobre quaisquer pessoas, em quaisquer situações.”
“Ajuizar, com isenção de ânimo, o valor das idéias alheias.”
“Onde
 houver duas ou mais pessoas reunidas... ali estará o conflito. Cabe a 
nós aprender a administrar os conflitos interpessoais e isto só será 
possível se tivermos alteridade.”
E que viva o amor, em todas as suas manifestações.
 

 
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