Notre-Dame
Deus, em Sua Sabedoria, escolhe certos locais e momentos para demonstrar o quanto carecemos de alimento para a alma. Cheguei a Paris na primavera de 2014 e vi a natureza compartilhando o espaço com uma esplendorosa e secular arquitetura.
Apesar de todas as guerras em que os franceses se viram envolvidos, suas obras de arte foram sabiamente resguardadas. A capacidade de criar belas edificações associou-se a uma sabedoria em preservá-las. As esculturas espalhadas por toda Paris, para alegria de nossos olhos, eternizam homens e acontecimentos que deram significado à civilização humana. Sob a proteção da sua padroeira, Santa Genoveva, não faltam nessa cidade catedrais góticas, vitrais bizantinos, arcos e pilares greco-romanos, construções renascentistas e tudo mais que a arquitetura ofereceu às diversas civilizações.
Minha hospedagem foi no Quartier Latin, na Rue dés Écoles, onde estive vizinho da famosa Universidade de Paris-Sorbonne, cujo prestígio atrai estudantes de toda parte do mundo, em busca de cultura e conhecimento. Para citar apenas um dentre os renomados professores que passaram por aquela instituição, recordo do Nobel de Fisiologia e Medicina de 1919, o trabalhador espírita Charles Richet, notável por apresentar as potencialidades da alma na Academia de Ciências Francesa.Na primavera, Paris escurece próximo das 22 horas, e como do meu hotel até a Catedral de Notre-Dame bastava uma pequena caminhada, fui apreciá-la com certa frequência.
Sentado nos jardins que margeiam a Catedral, imaginei quantos acontecimentos históricos teria ela testemunhado desde o início de sua construção datada do ano de 1163.
Construída e reconstruída, desde o século XII até o XIX, Notre-Dame é admirada por sua história, pela beleza de seus ângulos, pelo som de seus múltiplos sinos ou, quem sabe, por insondáveis e particulares recordações.
As Igrejas foram testemunhas silenciosas da História da Humanidade; sob seus tetos aconteceram coisas boas e ruins. Seus rituais, tão a gosto das multidões, consolidaram as hierarquias do clero e o poder encontrou campo fértil para prosperar. Em contra-partida, a miséria humana recebeu alento, corações despedaçados foram atendidos, por mérito dos bons homens que não se perderam em suas abnegadas tarefas.
A história da França passa pela Catedral de Notre-Dame. Diariamente ela abre suas portas para uma interminável multidão. Seguindo na fila que se forma para seu acesso, caminhamos pelo mesmo local em que no século XIV, por ordem do papa Clemente V, foram queimados templários acusados de heresia. Já dentro da catedral, encontramos um majestoso interior, local onde no século XV foi coroado Henrique IV como rei da França; ou onde em 1804, ano do nascimento de Kardec, Napoleão recebeu do papa Pio VII a coroa de imperador dos franceses. A guerreira e médium Joana d'Arc, queimada viva como feiticeira na cidade de Rouen, teve em Notre-Dame, no século XV, o início do seu processo de reabilitação pela Igreja, concluído ali mesmo, no século XX, com sua beatificação.
Algumas vezes, sob o magnetismo da imponente Catedral, pensei: em qual pedaço da História eu poderia ter participado? O pensamento é livre e a certeza da reencarnação nos permite esses devaneios, agradáveis para a alma despreocupada.
Notre-Dame é uma história de reis, papas, fé, poder; também é a história da constante busca do homem por Deus. Uma procura cheia de tropeços, de erros, mas, sobretudo, da necessidade de que o ser humano sempre foi possuído, a de buscar seu Criador.
Do Père-Lachaise ao Cesak
Quando a vida me colocou diante dos companheiros de ideal espírita, foram muitos os benefícios que alcancei; entre eles, acendeu-se a minha fé, que andava muito largada. Desconfiava das religiões, de suas intenções, de seus líderes, até que li, admirado, os argumentos do Codificador, e eles atingiram diretamente a minha religiosidade. Animado, estudei, com meus novos companheiros, "O Livro dos Espíritos", e esse fez dobrar meu coração desassossegado, dando-me esperança de, no futuro, me tornar um homem de bem, expectativa que mantenho.
O Espiritismo, mostrando o homem imortal, explica não ser o cemitério uma última morada, mas na busca pelo espiritual não poderia deixar de visitar o Père-Lachaise. Foi com gratidão que lá cheguei com a ideia de reafirmar meu agradecimento àquele que me ensinara que os mortos estão vivos.
O dólmen (dol = mesa e men = pedra), com suas muitas e bem-tratadas flores, chama atenção dos visitantes, que se perguntam: quem será esse? Ah, dizem lendo o epitáfio e repetindo em voz alta: Allan Kardec, fundador da Filosofia Espírita. Suas máquinas fotográficas levam a recordação daquele inesquecível encontro.
Olhei com carinho a homenagem a Amélie Boudet, sua esposa, que viveu até o ano de 1883. Como são para nós ainda insondáveis os Desígnios de Deus. O que teria produzido Kardec se a vida lhe durasse mais 14 anos, pensei. A saúde precária devido ao excessivo trabalho me parece um motivo apenas material, portanto, incompleto: isso porque a medicina dos Espíritos poderia ter prolongado a sua vida, se essa fosse a real necessidade.
Pensei, alternativamente, que sua morte poderia ter-lhe sido um prêmio para que não passasse pelas misérias em que sucumbiu Paris em 1870. Foi o ano seguinte ao seu desenlace que as tropas de Bismarck isolaram a Capital da França, culminando com a queda de Napoleão III, o sobrinho de Napoleão Bonaparte, dando início à Terceira República. Nessa hipótese, Kardec desencarnara poupado de ver a sociedade parisiense no flagelo da fome, quando o zoológico desapareceu e os ratos tiveram tempos difíceis. Achei essa minha suposição muito fraca e, por isso, persisti com a dúvida.
Agradeci muito e segui caminhando pelo Père-Lachaise, sem maior interesse por tntos outros famosos, que, naquele local, deixaram um último registro de existência nesse planeta.
No dia seguinte, telefonei para a Claudia Bonmartin, uma brasileira que vive em Paris cumprindo, com zelo, sua missão. Fui ao Cesak, "Centre d'Études Spirites Allan Kardec", de Paris. Participei de um encontro muito agradável; éramos em torno de vinte pessoas, sendo alguns brasileiros que estudam ou trabalham e Paris. Esse grupo se reúne numa pequena e confortável sala na sobreloja do prédio cujo mapa da mina coloco ao final.
Foi um encontro muito fraterno, onde pude ver o esforço de espíritas que moram fora do Brasil. Todos têm uma missão a cumprir, a de manter a chama em solo parisiense desta mensagem: a alma é imortal. Jesus certamente os convocou para trabalharem na mesma cidade onde a Codificação nasceu. Alguns de seus antigos moradores do século XIX agora estão reencarnados em lutas diversas. Por guardarem no coração doces recordações do Espiritismo, reúnem condições de apreciá-lo se lhes aparecer a oportunidade. O Cesak estará lá, aguardando-os.
Devemos ter gratidão para com todos os que prepararam o caminho, dando ao próximo a oportunidade de receber esse alívio para a alma: a certeza de um amanhã, o esclarecimento das Leis de Causa e Efeito e o entendimento sobre a Justiça Divina.
A todos os irmãos que deixam de lado seu conforto para oferecer a chance do encontro com o Consolador, nossas sinceras preces de agradecimento.
Por favor, poderiam me informar se existe em Paris algum centro de tratamento espiritual? Muito agradecida.
ResponderExcluirUm abraço fraterno.