A propósito do dia de finados, é
interessante discorrer sobre questionamentos com os quais de vez em
quando somos colhidos por parte de conhecidos, curiosos ou interessados
em se iniciar nos assuntos relativos à espiritualidade.
De vez em quando alguém pergunta “por que
o espírita não vai ao cemitério” (no dia de finados, mais
especificamente). Cabe aqui, portanto, um esclarecimento útil.
Primeiro: nenhum espírita, em virtude de
ideologia religiosa, ou limitação de qualquer tipo imposta pela
doutrina, “não pode” ir ao cemitério em qualquer época. Efetivamente
conheço muitos, simpatizantes, ou espiritualistas convictos, que narram
de suas visitas a túmulos de parentes ou conhecidos.
Segundo: o que ocorre mais amiúde é que,
em detendo o espírita a tranquila convicção de que seu ente querido não
mais se demora por estas bandas, tendo demandado estâncias outras, mais
ricas, de vida, guarda a consciência clara de que tudo o que ficou na
sepultura foi a “roupagem gasta”, e não mais, portanto, a pessoa com
quem compartilhou experiências e afeto.
Terceiro: isto não implica em que o
espírita sincero condene ou critique o posicionamento dos demais
semelhantes que, de todo o coração, prestam com sinceridade as suas
homenagens aos seus afeiçoados que se anteciparam na viagem deste para o
outro lado da vida. Aliás, reza no próprio conhecimento da doutrina que
muitos desencarnados visitam, efetivamente, os cemitérios por ocasião
da data, em consideração às demonstração de amor com que ali são
distinguidos. E muitos outros ainda, afeitos aos costumes dentro dos
quais desenvolveram suas experiências na matéria, conferem ainda subida
importância a este gesto, ressentindo-se, de fato, daqueles que não o
prestem nas datas de molde a serem lembrados.
Vistas estas considerações, é sensata a
conclusão de que jamais cabe padrão algum de conduta no que toca ao
sagrado universo íntimo humano. Cada agrupamento familiar terreno é
único e peculiar, e ninguém melhor do que os seus componentes para
estarem inteirados do que atinge ou não atinge mais de perto a cada um; o
que convém ou o que não convém em matéria de sentimento e dedicação,
cujos estágios e características se multiplicam ao infinito
correspondente do número de habitantes do vasto universo humano.
Efetivamente, somos do lado de “lá” o que
fomos aqui. É dever comezinho não só do espírita, quanto de qualquer
pessoa que se diga civilizada, respeitar a diversidade dos caminhos
escolhidos que, destarte, haverão de conduzir a cada ser, no tempo
certo, ao mesmo ponto de encontro comum na intimidade das luzes divinas.
Questão de temperamento, de agrupamento humano, de fé e de hábitos, o
ir ou não ir ao cemitério, de vez que é na sinceridade do gesto, e não
no gesto em si, que se vislumbra a verdadeira homenagem aos
desencarnados, de forma que, amor pelos mesmos, podemos dirigir-lhes
tanto do recesso abençoado do nosso recanto de meditação no lar, quanto
do ambiente de qualquer templo religioso, ou ainda diariamente, no
movimento tumultuado das ruas, ou também no cemitério, a qualquer dia do
ano.
De forma que aqueles que partiram nos
amando de todo o coração haverão de valorizar e entender a nossa melhor
intenção ao seu respeito, seja de onde for que se irradie, colhendo-os
de pronto, pela linguagem instantânea do coração e do pensamento. Os que
foram afeitos aos hábitos costumeiros do dia de finados, na medida de
suas possibilidades espirituais após a transição lá estarão, junto à
sepultura física, colhendo com sincera afeição os votos de paz e as
preces que lhes estejam sendo dirigidas. Os provenientes dos lares
espiritualistas na Terra receberão as mesmas demonstrações de amor a
qualquer tempo, em qualquer data que faça emergir naqueles que ficaram
para trás no aprendizado físico as gratas lembranças com que são
evocados.
O importante é que espíritas e não
espíritas têm em comum, em relação aos seus amados que já se foram, à
qualquer época, a linguagem inconfundível do amor entre as almas.
Enxerguemos acima dos horizontes das limitações de visão humanas para
alcançarmos com clareza a compreensão de que é assunto individual a
forma como celebramos o nosso afeto para com os nossos entes queridos, e
que o fator da sinceridade e da intenção é o que de fato conta, na hora
da certeza de que nossas preces e votos de paz serão bem recebidos por
aqueles que prosseguem nos amando de igual forma na continuidade pura e
simples da vida, que a todos aguarda para além das portas da sepultura,
sob as bênçãos de Jesus.
Fonte: Mundo Maior
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