Há alguns anos, quando iniciava meus estudos no Centro Espírita, conheci uma senhora médium, cujo comportamento me era estranho, apesar da sua simpatia e gentileza.
Nessa época, as Casas Espíritas não ofereciam tantas orientações através de cursos como oferecem hoje. Havia muitas palestras, explanações evangélicas apresentadas por estudiosos bastante competentes, mas cursos sistematizados eram poucos.
Mesmo os dirigentes de sessões eram pessoas simples, sem grandes conhecimentos da doutrina, trabalhavam mais na base do amor e do devotamento que lhes angariava muita inspiração e auxílio do plano espiritual.
Por isso, os trabalhos de assistência aos necessitados, eram notavelmente benéficos como são hoje; resultado da fé, da boa vontade e do prazer de servir que sempre estiveram presentes nos corações dos trabalhadores.
Essa senhora médium a qual me referi dizia coisas que eu, além de não entender, pois era ainda iniciante, também não podia aceitar.
Ao término da reunião, saíamos juntas até o ponto do bonde e eu ia prestando muita atenção em suas palavras e atitudes e cada vez mais ficava a ponderar: será que o que ela diz e faz é o certo?
Até que um dia minha surpresa chegou ao auge pelo fato dela pedir licença, interrompendo nossa conversa, para correr atrás de algo que me era invisível, cercando-o com os pés para não cair na sarjeta, erguendo-o e entregando para alguém também invisível.
Como esta cena se repetira várias vezes perguntei-lhe:
- O que está acontecendo, não consigo entender sua atitude?
E ela a sorrir me respondeu:
- Você é muito nova na doutrina, por isso não pode mesmo entender, acontece o seguinte: meu guia mediúnico quer que eu desenvolva a paciência e a humildade, por esse motivo, ele atira uma bolinha na calçada e eu devo apanhá-la antes que ela alcance a sarjeta para entregá-la de volta, faz isso muitas vezes seguidas.
Perguntei-lhe:
- Mas tem certeza que é seu guia mesmo? Pelo pouco que sei, penso que jamais um guia iria fazer seu aprendiz passar por situação tão ridícula.
A partir desse episódio, perdi a companhia dessa senhora que continuou simpática e gentil, mas sempre se desculpando por não me acompanhar até o ponto da nossa condução como fizera até então.
Com certeza esse espírito que se fazia passar por guia, me tinha na conta de alguém que pudesse alertá-la, mesmo sabendo tão pouco.
Por esse motivo, impedia de me acompanhar, para não perder a chance de dominá-la como vinha fazendo.
Não podemos e não devemos aceitar em hipótese alguma orientações, sugestões e muito menos imposições de espíritos ou de encarnados sem antes analisa-las como recomenda o bom senso.
Encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXI, item 6 e 7 a explicação desta recomendação de João: (Epístola I, cap. IV:I)
"Caríssimos, não acrediteis em todos os espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo".
Sabemos que todos os espíritos bons ou maus são de Deus, sendo Ele o Pai Criador de todos os seres.
O que João disse foi no sentido de nos alertar contra o perigo das falsas orientações dadas por espíritos que agem como verdadeiros inimigos do Senhor, visando o retardamento do progresso humano.
O médium que não estuda e não se evangeliza, mantém através de sua sensibilidade, portas inteiramente abertas para tais entidades.
E quantos deles (médiuns) são teleguiados quais robôs por espíritos desse nível, acreditando serem seus guias. Nem sempre podemos considera-los como perseguidores ou obsessores e sim espíritos levianos, zombeteiros que gostam de se divertir, vendo-nos em situações ridículas ou desempenhando papéis constrangedores como no caso citado.
São verdadeiros oponentes do bem e da verdade.
Em O Livro dos Espíritos, cap. IX: intitulada "Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo", item I, questão 458 Kardec pergunta: Que pensam de nós os espíritos que estão ao nosso redor e nos observam?
Resposta: Isso depende. Os espíritos levianos riem das pequenas traquinices que vos fazem, e zombam das vossas impaciências. Os espíritos sérios lamentam as vossas trapalhadas e tratam de vos ajudar.
Se esses espíritos que nos observam, encontram em nós a boa moral, o conhecimento que liberta e objetivos superiores, com certeza baterão em retirada indo a procura de quem aceite suas imposições e traquinices.
O Espiritismo nos oferece os meios de experimenta-los, ao indicar as características pelas quais se reconhecem os Bons Espíritos, características sempre morais e jamais materiais. (Ver em O Livro dos Médiuns, caps. 24 e seguintes).
Mesmo desconhecendo as leis que regem os fenômenos mediúnicos, não estamos inteiramente desamparados, porque também podemos nos guiar por estas palavras de Jesus: "Reconhece-se a árvore pelos seus frutos; uma árvore boa não pode dar maus frutos, e uma árvore má não pode dar bons frutos".
Devemos julgar os espíritos pela qualidade de suas obras, como a árvore pela qualidade de seus frutos.
O espírito que se apresenta como guia tem que agir como tal, isto é, sem nos constranger, porque deverá ser bom, superior em conhecimento, levando a sério sua tarefa de orientador.
Como a árvore boa só dá bons frutos, o guia também em matéria de conselhos e sugestões, visará sempre os bens espirituais e nunca os materiais.
O espírito que nos constrange, que interfere em nossa vida, aconselhando sobre vendas, compras, lucros financeiros, alimentando separações, inimizades etc., só poderá ser considerado como árvore má produzindo maus frutos.
Não existe nada melhor do que o estudo que prepara a mente para o raciocínio lógico sobre qualquer problema ou atividade.
Fonte: Fidelidade Espírita, novembro 2004, por Teddy Nilson
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