Eternidade

Eternidade

quarta-feira, 26 de março de 2014

O problema de agradar


O problema de agradar


"Se estivesse ainda agradando aos
homens, não seria servo do Cristo."
- Paulo.  (Gálatas, 1:10.)


Os sinceros discípulos do Evangelho devem estar muito preocupados com os deveres próprios e com a aprovação isolada e tranquila da consciência, nos trabalhos que foram chamados a executar, cada dia, aprendendo a prescindir das opiniões desarrazoadas do mundo.

A multidão não saberá dispensar carinho e admiração senão àqueles que lhe satisfazem as exigências e caprichos; nos conflitos que lhe assinalam a marcha, o aprendiz fiel de Jesus será um trabalhador diferente que, em seus impulsos instintivos, ela não poderá compreender.

Muita inexperiência e invigilância revelará o mensageiro da Boa Nova que manifeste inquietude, com relação aos pareceres do mundo a seu respeito; quando se encontre na prosperidade material, em que o Mestre lhe confere mais rigorosa mordomia, muitos vizinhos lhe perguntarão, maliciosos, pela causa dos êxitos sucessivos em que se envolve, e, quando penetra o campo da pobreza e da dificuldade, o povo lhe atribui as experiências difíceis a supostas defecções ante as sublimes ideias esposadas.

É indispensável trabalhar para os homens, como quem sabe que a obra integral pertence a Jesus-Cristo. O mundo compreenderá o esforço do servidor sincero, mas, em outra oportunidade, quando lho permita a ascensão evolutiva.

Em muitas ocasiões, os pareceres populares equivalem à gritaria das assembléias infantis, que não toleram os educadores mais altamente inspirados, nas linhas de ordem e elevação, trabalho e aproveitamento.

Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto, saiba operar sem a preocupação com os juízos errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto basta.


Emmanuel (Espírito) - Psicografia de Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

segunda-feira, 17 de março de 2014

Cordões energéticos




Existem realmente fundamentos para pensar desta forma.
Responsabilizamos alguém ou alguma energia ruim por coisas que, antes de tudo, são geradas ou iniciadas em nós próprios

E' comum, nos dias de hoje, as pessoas dizerem que estão "carregadas", com energias ruins em sua aura ou com o conhecido "mau olhado".
A procura por organizações que realizam trabalhos de limpeza cresce vertiginosamente e, de fato, o campo energético da grande maioria das pessoas está sendo invadido por múltiplas fontes de forças nocivas ao bem-estar.
Só lamento, nesse assunto, que isso venha sendo tratado, em muitos casos, como se a pessoa em si mesma nada tivesse a ver com aquilo que lhe acontece.
Tanto isso é verdade que essa procura por descarregos, exorcismos ou chame como desejar, quase sempre é feita liberando a pessoa de sua própria responsabilidade. E qual será a consequência disso? O trágico ciclo repetente das provas.

Sabe aquelas coisas que a gente sente e diz assim: "Não é a primeira vez que isso me acontece!" ? É o ciclo repetente, e vivê-lo é patinar no mesmo lugar; é não avançar em várias áreas da vida; é delegar ao outro o mal que nos acontece.

É muito fácil responsabilizar alguém ou alguma energia ruim por coisas que, antes de tudo, são geradas ou iniciadas em nós próprios. Difícil é assumir que na intimidade profunda de nosso ser estão as causas geradoras de tais infortúnios. Aliás, elas só podem ocorrer com consentimento de nosso ser. Por exemplo, os cordões energéticos. Muita gente procura a explicação para seus dissabores e aflições em presenças de espíritos do mal ou magias destrutivas. Tenho observado que, muito mais que tudo isso junto, os cordões energéticos que tecemos pesam contra nossa infelicidade.

E o que são cordões energéticos? São laços que criamos com pessoas que partilhamos afeto. Os cordões existem entre familiares, amigos, conhecidos e até com pessoas que passaram muito rapidamente pelas nossas vidas ou, também, com lugares e objetos. Esses cordões, quando são prejudiciais, adoecem as relações e causam prejuízos incalculáveis à saúde humana. A presença da mágoa, do ciúme, da ilusão, da inveja, da disputa, da posse, da superproteção e outras tantas atitudes na convivência prendem uma pessoa a outra, criando dependência, revanchismo, apego e muitas enfermidades energéticas e, posteriormente, doenças no corpo físico.

É comum entre mães e filhos que têm elos complicados, mesmo morando separados, um ter a doença do outro ou manifestar uma semelhança de situações desagradáveis, sem que saiba um o que está acontecendo com o outro. É a troca energética parasitária.

Não precisamos nem de espíritos, nem de magias para tornar nossa vida carregada, pesada. Os relacionamentos estão com elevado grau de toxicidade, causando danos muito maiores, seja pela dependência, seja pela traição ou outros comportamentos e emoções desgovernadas.

Minha tarefa consiste em orientar meus pacientes para que eles aprendam como transmutar esses cordões, descobrindo dentro de si mesmos o que os tornam cativos e retroalimentadores desse mau vínculo energético.

Cordões são sintomáticos, indícios de necessidades pessoais. Temos que investigar quais são os sentimentos que temos com aquela pessoa e descobrir por que estamos ligados a ela. Com técnicas próprias, procuro trabalhar a educação emocional que pode nos libertar dessas algemas enfermiças. É claro que tais técnicas só vão funcionar se também o paciente fizer a sua parte! Minha tarefa nesse sentido é orientar sobre o que e como fazer para se libertar dessas amarras e ter uma vida mais plena e leve.

Para quem desejar uma informação bem recente e mais completa sobre o assunto, leia o livro Quem Perdoa Liberta, do autor espiritual José Mário, Editora Dufaux (www.editoradufaux.com.br), no capítulo "Os Cordões Energéticos e a Depressão por Parasitismo", no qual são abordados, também, como os religiosos adoecem com uma espécie particular de depressão, em função destes cordões de energia.


"As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar os seus semelhantes. (Jung)


Fonte: Revista Cristã de Espiritismo

domingo, 16 de março de 2014

Evolução Espiritual


Pergunta: É necessário dor e sofrimento para que possamos evoluir?


Divaldo P. Franco: Não, a evolução faz-se através do amor. O amor é o link que nos vincula à divindade. Até mesmo a lei de Adoração, ação da dor, a dor ação, então a dor deve levar-nos a ação do bem, mas quando nós estamos diante da dor, poderemos recordar que estamos na Terra não para sofrer, mas para recuperar através do amor, nós nos recuperamos dos males que fizemos. 

Dizem os espíritos que se eu contraí um débito muito grave, eu tanto poderei pagá-lo de uma vez, através de uma expiação dolorosa ou pagá-lo através do bem que eu faça, porque a lei divina não é de cobrança, é de reparação das suas vibrações. Quando eu ajo mal, ondas vibratórias, desequilibradas circulam em torno de mim. Aquelas ondas do bem que eu vá realizando, vão diminuindo até anular [as ondas do mal].

O processo ideal para a evolução é o amor e quando nós não obedecemos as leis de amor, a dor instalasse-nos e somos convidados ao resgate.

sábado, 15 de março de 2014

Perguntas e Respostas...



Será racional assustarmo-nos com a aparição de um Espírito?

“Quem refletir deverá compreender que um Espírito, qualquer que seja, é menos perigoso do que um vivo. Demais, podendo os Espíritos, como podem, ir a toda parte, não se faz preciso que uma pessoa os veja para saber que alguns estão a seu lado. O Espírito que queira causar dano pode fazê-lo, e até com mais segurança, sem se dar a ver. Ele não é perigoso pelo fato de ser Espírito, mas, sim, pela influência que pode exercer sobre o homem, desviando-o do bem e impelindo-o ao mal.”


Allan Kardec. O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VI, item 100.

Luz do Espiritismo


Nossa vida mental



As almas ingressam nas responsabilidades que procuram para si mesmas.

Segundo talhamos o nosso perfil moral, angariamos os favores das oportunidades de serviço diante das Leis Universais.

Ninguém foge aos estigmas da viciação com que sulca a estrutura da própria vida. Paz significa vitória da mente sobre os seus próprios atributos.

Resguardemos, assim, a vida mental, na certeza de que o teor da nossa meditação condiciona a altura da nossa tranquilidade.

Nada ocorre conosco sem resultado específico..

Teimosia no erro — conta agravada.
Ausência de disciplina — débito permanente.
Remorso — aviso da consciência.
Reajustamento — estágio na enfermidade.

Multiformes ocorrências no mundo interior anunciam constantemente o clima de nossa escolha.

A tempestade é precedida dos indícios inequívocos que lhe configuram a extensão.

De igual modo, através da análise real de nós mesmos, encontramos o exato esboço das futuras experiências. À vista disso, ante a luz do Evangelho, ninguém desconhece a essência do destino que se lhe desdobra ao porvir.

A Justiça da Lei tem base na matemática. E quem possui parcelas determinadas pode ajuizar perfeitamente quanto à soma daquilo ou disso.

Entrega-te, pois, a novos haustos de esperança e supera as próprias limitações, atendendo aos apelos do amor que ecoam da Altura.

Reúne humildade e serviço, simplicidade e perdão, estudo e caridade, bondade e tolerância, no esforço de cada dia, e com semelhantes fragmentos de amor e luz levantarás o templo divino de tuas mais belas aspirações, diante da Eternidade.

André Luiz / Francisco Cândido Xavier

terça-feira, 11 de março de 2014

Mortes violentas e planejamento reencarnatório


Mortes violentas e 
planejamento reencarnatório

Inegavelmente, vivemos um período em que a violência se acentua, tomando conta, quase que integralmente, da mídia televisiva e escrita. São notícias diárias de sequestros, roubos, estupros, homicídios e mortes causadas por acidente de carro.


A violência é fruto da nossa imperfeição moral, da predominância dos instintos agressivos (adquiridos pelos Espíritos nas vivências evolutivas no reino animal), que a razão ainda não converteu em expressões de amor.


Neste período de transição planetária, vivenciamos o ápice das provas e expiações, de forma que a violência atinge índices alarmantes, praticada por Espíritos ainda primários, que não desenvolveram os sentimentos nobres, os quais, nesse processo de expurgo evolutivo (separar o joio do trigo, como ensinava Jesus), após a desencarnação, já não terão mais condições vibratórias de reencarnar no planeta Terra. Lembremos, ainda, a assertiva de Jesus: Os mansos herdarão a Terra.


Anote-se que a tônica deste artigo é abordar a incidência do planejamento reencarnatório nos casos de mortes violentas, isto é, a vítima teria que desencarnar dessa maneira? E o agressor, também teria assumido esse papel de algoz antes de reencarnar?


Alguns autores espíritas defendem a ideia de que a morte causada pela violência alheia não fazia parte do contexto reencarnatório, em virtude de que ninguém reencarna para o mal, portanto o agressor não havia planejado matar alguém, de tal sorte que a vítima desencarnaria em função do mau uso do livre arbítrio daquele (agressor).


Em que pese o nosso respeito por aqueles que nutrem esse tipo de ponto de vista, sabemos que as vítimas que desencarnam em razão da violência alheia estão inseridas, basicamente, em três tipos de situações:


1) Prova – a vítima vivencia uma situação de violência que gera a sua desencarnação, o que lhe trará um teste, um desafio para que ela exercite as virtudes no sentido de perdoar sinceramente o agressor (gera aprendizado, evolução – esse tipo de morte foi solicitado pela vítima antes de sua reencarnação). Lembremos que prova pressupõe avaliação, ou seja, colocar em teste as virtudes aprendidas. Caso vença moralmente a situação, podemos dizer que o Espírito alcançou determinada virtude.


2) Expiação – são as situações mais frequentes. A vítima foi a autora de violência em vidas anteriores que lesou alguém e, como não se liberou desse compromisso através do amor, sofre as consequências na atual existência. Expiar é reparar, quitar, harmonizar-se com as leis divinas.   


3) Missão – algumas almas nobres morrem de forma violenta, uma vez que seus exemplos de amor e tolerância geram antipatias nas pessoas mais embrutecidas. Menciono como exemplos os casos de Jesus e Gandhi. 
 

Notem que estamos abordando a questão das violências mais graves, que acabam gerando a nossa desencarnação, pois as violências menores que vivenciamos em nosso cotidiano, tais como calúnias, traições, indiferença e outras, normalmente são circunstâncias naturais da vida num mundo atrasado moralmente como o nosso, a estimular nosso aprendizado espiritual (veja questão nº 859 do Livro dos Espíritos). Jesus já nos orientava: “No mundo só tereis aflições”.


Dessa forma, à luz do Espiritismo e da justiça divina (a cada um segundo suas obras), temos a certeza de que a desencarnação violenta fazia parte de seu cronograma reencarnatório. 


Aliás, O Livro dos Espíritos, na questão nº 853-a, nos ensina que nós somente morreremos quando chegar a nossa hora, com exceção do suicídio, conforme acima exposto.
 

Não há acaso, mesmo nas hipóteses de “bala perdida” e erro médico. Não há desencarnação casual, produzida por falha de terceiros ou mau uso do livre arbítrio alheio. 


Caso não tenha chegado a hora de morrer, os benfeitores espirituais interferirão para evitar essa afronta às leis divinas, como inúmeros casos que conhecemos (veja o capítulo X - lei de liberdade - da 3º parte d´O Livro dos Espírito, no subcapítulo “fatalidade”).
   

A questão crucial diz respeito aos autores dessas violências graves. Concordo que ninguém reencarna com o compromisso de matar outra pessoa (veja questão nº 861 do Livro dos Espíritos). Quando, por exemplo, o agressor opta por assassinar alguém, ele o faz em virtude de sua inferioridade espiritual, ou quando atropela alguém por estar alcoolizado e/ou em excesso de velocidade, o faz em razão de sua imprudência, de forma que, em ambas as hipóteses, está usando indevidamente sua liberdade de escolha e ação, o que gerará compromissos expiatórios.


Consigne-se, ainda, que num mundo de provas e expiações, como a Terra, há muitos Espíritos na faixa evolutiva do primarismo, que se comprazem na violência e na imprudência, de forma que não faltará matéria-prima ou instrumentos para que se cumpram as leis divinas quando algum Espírito necessite desencarnar de forma violenta.


Assim sendo, quando a vítima reencarna com o compromisso de morrer violentamente, não haverá nesse momento algum Espírito predeterminado a matá-la, que assuma esse compromisso reencarnatório antes de nascer, mas haverá na Terra inúmeros Espíritos atrasados que, ao dar vazão à sua inferioridade (violência e/ou imprudência), ceifarão a vida daquela (vítima). Esses autores da violência funcionarão como instrumentos das leis divinas. Todavia, tal situação não os isentará das consequências morais e espirituais de suas ações, pois, repita-se, os agressores não estavam predeterminados a agirem dessa forma, poderiam ter elegido outro tipo de conduta, e foi Jesus quem nos ensinou que os escândalos eram necessários, mas ai de quem os causar. 
 

Para fixar o ensino, recordemos do recente e trágico caso da escola de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro. O assassino poderia ter deixado de agir daquela forma, pois ele não havia planejado aquilo na espiritualidade (antes de nascer), e se não tivesse adentrado na escola e efetuado os disparos com a arma de fogo, os menores que morreram naquela circunstância sobreviveriam, mas, mais adiante (dias, semanas ou meses – não há dia e hora certa para a desencarnação, mas um período provável), desencarnariam em outra situação violenta.


Poder-se-ia perguntar: Mas como o agressor identifica a pessoa que deve desencarnar? Aprendemos com o Espiritismo que o indivíduo que deve desencarnar de forma violenta, notadamente nos casos de expiação, tem uma vibração espiritual específica, que denuncia e reflete esse débito, de forma que o agressor, inconscientemente, identifica-se com aquele e promove-lhe a desencarnação. É essa particularidade vibracional que, da mesma forma, explica outros tipos de violência (estupro, roubos, sequestros,...), fazendo com que o autor do delito aja em desfavor daquele que deve vivenciar a situação traumática. 


É dessa maneira que compreendemos a justiça divina, mas convém enfatizar que a lei divina maior é a lei de amor, portanto, conforme assevera o apóstolo Simão Pedro, o amor cobre uma multidão de erros, de tal sorte que aquele que venha com o compromisso expiatório de desencarnar de forma violenta, poderá amenizar ou diluir integralmente esse débito com as leis divinas através do bem que realize em sua vida, que poderá libertá-lo de uma possível desencarnação violenta. Não nos esqueçamos de que Deus é amor.   


Fonte: O Consolador, por Alessandro Viana Vieira de Paula 

Não existe bala perdida


A síndrome da bala perdida

A "bala perdida" está atormentando a vida do carioca, sem que haja, das autoridades competentes, iniciativas eficazes, saneadoras ou preventivas, a esse ato de violência em nossa cidade. As próprias religiões tradicionais também não vêm a público trazer uma palavra de alento, muito menos de esclarecimento do porquê da "bala perdida". Restringem-se a medidas paliativas, ou seja, aquelas atuantes nos eleitos, não nas causas. 

Malgrado toda cultura acumulada, o homem, apesar de já ter enfrentado tantos desafios - ir à Lua, daqui a pouco vai a Marte, além de outros feitos notáveis nos vários setores da vida -, não consegue explicação para porfia bem menor, ocorrências comezinhas, se encaradas dentro de um entendimento espírita. 

A dor e o sofrimento das pessoas envolvidas em tais eventos são mais do que respeitáveis, são importantes para nós, tocam-nos profundamente a sensibilidade, porque a dor do próximo já não é só dele, é do espírita também. Dói muito vermos pessoas, irmãs queridas em humanidade, sofrerem tanto por ignorância espiritual. Resulta daí sabermos, pelo fato de buscarmos a verdade, que todo desespero é resultado da falta de conhecimento, da ausência de uma estruturação religiosa capacitada a trazer conforto, consolação e resignação nessas horas, principalmente. Esses assuntos, como suas explicações lógicas, acham-se na Doutrina Espírita, só nela, e são oferecidas aos seus profitentes. Quanto a serem compreendidas e praticadas, é outra coisa. 

Para o homem sem melhor conhecimento espiritual, a "bala perdida" decorre da atuação de forças cegas como o acaso, o azar, a má sorte ou então "coisas da fatalidade". Falta a essas pessoas uma concepção firme e racional de suas próprias condições de vida, apesar de alimentarem, muitas vezes, convicções espiritualistas e crença na imortalidade. 

Elas não sabem por que vivem, qual o objetivo, o sentido da vida, como se deve viver, que tipo de fé alimentar em Deus, e o que Dele aguardar. 

Fosse a vida uma só, entre o berço e o túmulo, e sendo a Justiça Divina perfeita e iniludível, a "bala perdida" ficaria incompreendida, seria ilógica, porque existe um vazio muito grande em se desejando conciliar "uma só existência" e a "Justiça de Deus" lacuna perfeitamente preenchida pelo Espiritismo e a reencarnação, esta, base fundamental de suas estruturas postulares. 

Explicações para fatos como "bala perdida", sem respaldo na Justiça Divina, é cair naquilo que disse Jesus: "...cego guiando cego, ambos cairão no fosso". Não há como desvincular a Justiça Divina de todos os acontecimentos aqui na Terra, como em toda a vida universal. Deus não desconhece o que se passou, passa-se e passará com suas criaturas no transcurso de suas existências, aqui ou lá. Assim sendo, o infrator da Lei de Amor experienciará sempre o resultado de suas ações, hoje ou amanhã, nesta vida ou noutra, pelos canais reencarnatórios. 

O que para os olhos e juízo do homem da Terra são terríveis coincidências, ainda mais quando o fato o atinge dolorosamente, na realidade vemos aí a dinâmica da Justiça Divina, cobrando o que se lhe é devido. Sem essa compreensão os atributos de Deus seriam um engodo... e não são. 

Colocasse o homem as vistas na vida espiritual, soubesse racionalmente da sua condição de espírito. imortal em processo de aperfeiçoamento moral, e cuja meta finalista é a perfeição, fatos como os da "bala perdida" não causariam tantos males nas pessoas envolvidas com ela, não provocariam tantas emoções em tantas pessoas. 

Não olvidemos onde se encontra o verdadeiro mal. Para a maioria absoluta, no fato em si, quando na verdade se encontra nas conseqüências. Se estas forem boas, o fato, apesar de toda aparência má, será bom. O inverso também é verdadeiro. O fato bom oferece, muitas vezes, conseqüências dolorosas, trágicas. Toda a aparência boa dele era enganosa. Quem não conhece casamentos suntuosos, por exemplo, com toda aparência de felicidade, que acabaram em tragédias lamentáveis? Jesus precisa ser muito estudado em suas anunciações. Duas delas, que se encaixam perfeitamente no evento "bala-perdida", são as seguintes: "Há necessidade do escândalo, mas ai do homem por quem o escândalo venha". (Mateus 5:29/ 30) e "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (Mateus 11:15). Quem compreende tais citações, correlacioná-las, compreenderá esta síndrome do carioca. 

Se Deus, que é todo previdência, providência e presciência além de todo poderoso em graus infinitos. permite que tais acontecimentos prevaleçam, é porque eles são necessários, visam o nosso progresso, o ajuste do faltoso com a Lei, e, conseqüentemente, a nossa felicidade, afirma-nos a lógica. 

André Luiz, no livro "O Espírito da Verdade", edição FEB, diz-nos que, "Antes de sermos bons ou maus para com os outros, somos bons ou maus para nós mesmos"; os Espíritos Nobres nos asseveram que. "colheremos de conformidade com o nosso plantio"; a voz popular fala na "lei do retorno" e também "aqui se faz aqui se paga"; Jesus assinalou, em Mateus 16:27 "(...) dará a cada um segundo as suas obras". Raciocinemos; não deterão essas afirmações uma verdade? 

Resumindo: a dor que fizemos, deliberadamente, o outro sofrer, é a dor que vamos suportar, na mesma intensidade, sem necessariamente ser dentro das mesmas circunstâncias. Nesta reencarnação ou noutra, não há como fugir, esquivar-se deste mecanismo da Lei de Ação e Reação, sempre acionada por Deus, e só Ele. 

Ter fé, acreditar, efetivamente, é uma carência nossa, entretanto, mais imprescindível é Saber. Nesses acontecimentos, pois, de "bala perdida", de perdidas elas não têm nada. Vão ao endereço certo, "nunca batem na porta errada". Se isto acontecesse, ter-se-ia a negação dos atributos divinos, Deus não seria o que é, "Inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas Quando o homem aprender essas verdades, será feliz, porque deixar-se-á conduzir pela Lei de Amor e Perdão vivenciada por Jesus.


Revista Espírita Allan Kardec, nº 39.
Fonte: Portal do Espírito, por Adésio Alves Machado

domingo, 9 de março de 2014

A Águia de Asas Partidas



 Ele possuía muitas riquezas. Tinha as arcas abarrotadas de ouro e gemas preciosas.

A juventude lhe sorria e os amigos sempre se faziam presentes nos banquetes.

Habituara-se a dormir em seu leito de ébano e marfim. Dormir e sonhar.

Em seus sonhos, misturava-se a realidade das tantas vitórias que lhe enriqueciam os dias. E um desejo de paz que ainda não fruía.

Ele amava as corridas de bigas e quadrigas. Recentemente comprara cavalos árabes, fogosos. E escravos o haviam adestrado durante dias.

Tudo apontava para a vitória nas próximas corridas no porto de Cesareia.

Mas os momentos de tristeza se faziam constantes.

A felicidade não era total. Faltava algo. Ao mesmo tempo, ele temia perder a felicidade que desfrutava.

Por isso, ouvindo falar daquele Homem singular que andava pelas estradas da Galileia, o procurou.

Bom mestre, que bem devo praticar para alcançar a vida eterna?

Desejava saber. Como desejava. A resposta veio sonora e clara:

Por que me chamas bom? Bom somente o Pai o é. À tua pergunta, respondo: "Cumpre os mandamentos, isto é, não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás teu pai e tua mãe."

Tudo isso tenho observado em minha mocidade. No entanto, sinto que não me basta. Surdas inquietações me atormentam. Labaredas de ansiedade me consomem. Falta-me algo!

Então - propõe-lhe a Luz - vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres. Vem, e segue-Me!

A ordem, a meiguice daquele Homem ecoava em seu Espírito. Ele era uma águia que desejava alcançar as alturas. E o Rabi lhe dizia como utilizar as asas para voar mais alto.

Pela mente em turbilhão do jovem, passam as cenas das glórias que conquistaria. Os amigos confiavam nele.

Tantos esperavam a sua vitória. Israel seria honrada com seu triunfo.

Sim, ele podia renunciar aos bens de família, mas ao tesouro da juventude, às riquezas da vaidade atendida, os caprichos sustentados...?

Seria necessário renunciar a tudo?

A águia desejava voar mas as asas estavam partidas...

Recorda-se o jovem que os amigos o esperam na cidade para um banquete previamente agendado. Num estremecimento, se ergue:

Não posso! - Murmura. Não posso agora. Perdoa-me.

E afastou-se a passos largos. Subindo a encosta, na curva do caminho, ele se deteve. Olhou para trás. Vacilou ainda uma vez.

A figura do Mestre se desenha na paisagem, aos raios do luar. A Luz parece chamá-lo uma vez mais.

Indecisa, a alma do moço parece um pêndulo oscilante. A águia ainda tenta alçar o voo. O peso do mundo a retém no solo.

Ele se decide. Com passos rápidos, quase a correr,  desaparece na noite.

Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas narram o episódio e dizem de como o jovem se retirou triste e pesaroso.

Nem poderia ser diferente: fora-lhe dada a oportunidade de se precipitar no oceano do amor e ele preferira as areias vãs do mundo.

*   *   *

O Divino Amigo nos chama, diariamente, para a conquista do reino de paz.

Alguns ainda somos como o moço rico. Deixamos para mais tarde, presos que ainda estamos a muitas questões e vaidades pessoais.

É bom analisar o que vale mais: a alegria efêmera do mundo ou a felicidade perene que tanto anelamos. Depois, é só optar.



Redação do Momento Espírita com base no cap. O  mancebo rico, do livro Primícias do Reino
do Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco

sábado, 8 de março de 2014

O PAPEL DA MULHER SEGUNDO O ESPIRITISMO


O PAPEL DA MULHER


Sendo delineada mais graciosamente que o homem, a mulher denota, naturalmente, uma alma mais delicada; é assim que nos meios semelhantes, em todos os mundos, a mãe será mais bonita que o pai, porquanto é a ela que a criança vê primeiro; é para o semblante angelical de uma jovem mulher que a criança volta incessantemente o olhar; é para a mãe que a criança enxuga as lágrimas e fixa o olhar ainda fraco e incerto. A criança tem, pois, uma intuição natural do belo.

A mulher, sobretudo, sabe fazer-se notar pela delicadeza de seus pensamentos, pela graça de seus gestos, pela pureza de suas palavras; tudo que dela vem deve harmonizar-se com sua pessoa, que Deus fez bela.

Seus longos cabelos, derramando-se em ondas sobre o colo, são a imagem da doçura e da facilidade com que sua cabeça, diante das provações, dobra-se sem se partir. Refletem a luz dos sóis, como a alma feminina deve refletir a mais pura luz de Deus. Jovens mulheres, deixai flutuar vossos cabelos, pois que Deus para isso os criou. Parecereis, ao mesmo tempo, mais naturais e graciosas.

A mulher deve ser simples no vestir: já saiu bela demais das mãos do Criador para ter necessidade de adereços. Que o branco e o azul se confundam sobre vossos ombros. Deixai também flutuar vossos vestidos; que se veja vossa roupagem estendendo-se para trás qual se fora extenso tapete de gaze, qual nuvem discreta a assinalar vossa presença.

Entretanto, para que servem os adereços, os vestidos, a beleza, os cabelos ondulantes ou flutuantes, amarrados ou presos, se o sorriso tão doce das mães e das amantes não brilharem em vossos lábios? Se vossos olhos não semearem a bondade, a caridade, a esperança nas lágrimas de alegria que deixam correr, nos lampejos a jorrarem desse braseiro de amor desconhecido?

Mulheres, não temais deslumbrar os homens pela beleza, pela graça e pela superioridade; mas que saibam eles, a fim de se vos tornarem dignos, que devem ser tão ricos de caráter quanto sois belas, tão sábios quanto sois boas, tão instruídos quanto sois ingênuas e simples. É necessário saberem que os devem merecer, que sois o prêmio da virtude e da honra, não dessa honra que se recobre de capa e de escudo, que brilh nas lutas e torneios, que pisa a fronte do inimigo que caiu. Não; mas da honra segundo Deus.

Homens, sede úteis; e quando os pobres abençoarem vosso nome, as mulheres serão em tudo semelhants a vós; então formareis um todo: sereis a cabeça e elas o coração; sereis o pensamento benfazejo e elas as mãos liberais. Uni-vos, pois, não apenas pelo amor, mas para o bem que podeis fazer a dois. Que esses bons pensamentos e ações, realizados por dois corações que se amam, sejam os elos dessa corrente de ouro e diamantes que chamamos casamento. Então, quando tais elos forem bastante numerosos, Deus vos chamará para junto dele e continuareis a reunir ainda novos elos, que se juntarão aos precedentes. Mas não se trata, como na Terra, de elos de metal pesado: no Céu eles serão de fogo e luz.


Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro/1858


O ESPIRITISMO E A MULHER



Encontram-se, em ambos os sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem outorgadas as mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe está reservado na difusão do novo Espiritualismo.

Malgrado às imperfeições inerentes a toda criatura humana, não pode a mulher, para quem a estuda imparcialmente, deixar de ser objeto de surpresa e algumas vezes de admiração. Não é unicamente em seus traços pessoais que se realizam, em a Natureza e na Arte, os tipos da beleza, da piedade e da caridade; no que se refere aos poderes íntimos, à intuição e adivinhação, sempre foi ela superior ao homem. Entre as filhas de Eva é que obteve a antiguidade as suas célebres videntes e sibilas. Esses maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a Igreja entendeu, na Idade Média, aviltar e suprimir, mediante os processos instaurados por feitiçaria. Hoje encontram eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se afirma a comunhão com a vida invisível.

Mais uma vez se revela a mulher em sua sublime função de mediadora que o é em toda a Natureza. Dela provém a vida; e ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados. E essa função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda a vem preencher no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são uma, ou antes, são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da existência.

 Mediadora também é a mulher no domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre a nova fé que surge e a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos primeiros tempos do Cristianismo, e ainda o é na época presente.

O Catolicismo não compreendeu a mulher, a quem tanto devia. Seus monges e padres, vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo.

A antiguidade pagã teve sobre nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos tempos védicos, ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a força, a grandeza épica das raças grega e céltica.

Porque, tal seja a mulher, tal é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho permanecia no gineceu sob a direção materna. E sabe-se o que foram as mães gregas, romanas e gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão educativa, era necessária a iniciação no grande mistério da vida e do destino, o conhecimento da lei das preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à vida do ser, que vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão comovedora.


 Essa benéfica influência da mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como uma doce claridade, foi destruída pela lenda bíblica da queda original.

Segundo as Escrituras, a mulher é responsável pela proscrição do homem; ela perde Adão e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do Eclesiastes a declara “uma coisa mais amarga que a morte”. O casamento mesmo parece um mal: “Que os que têm esposas sejam como se não as tivessem” – exclama Paulo.

Nesse ponto, como em tantos outros, a tradição e o espírito judaico prevaleceram, na Igreja, sobre modo de entender do Cristo, que foi sempre benévolo, compassivo, afetuoso para com a mulher. Em todas as circunstâncias a escuda ele com sua proteção; dirige-lhe suas mais tocantes parábolas. Estende-lhe sempre a mão, mesmo quando decaída. Por isso as mulheres reconhecidas lhe formam uma espécie de cortejo; muitas o acompanharão até a morte.

A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem para si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.

Uma reação, porém, já se vai operando. Sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque ao lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento feminista desconhece o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do destino que lhe está natural e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e inseparáveis.




O moderno Espiritualismo, graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade, encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço. Restitui a mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da Humanidade. Faz mais, reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.

A grande sensibilidade da mulher a constitui o médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos Espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra ela profundas alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo para ela, como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na suscetibilidade exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns, torna-se muitas vezes motivo de desagregação para os grupos.

Daí a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo que os poderes intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades inerentes à sua missão mediatriz.

O Materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece. Privada de sua função mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila. Uma nova geração, desiludida e céptica, surge do seio de uma sociedade em decadência.


Com o Espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de harmonia social, ao movimento geral das idéias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno Espiritualismo restabelece o mesmo critério dos Celtas, nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.

Pelo Espiritismo se subtrai a mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.

Cessa, desde então, a luta entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam e equilibram no amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.
Léon Denis


O ESPÍRITO DESENCARNADO



O transe da morte é sempre um estado de crise para qualquer indivíduo, variando conforme o adiantamento moral de cada um. Daí a passagem do estado da matéria para a vida espiritual acarretar uma espécie de perturbação mais ou menos longa, até que se quebrem todos os elos entre o Espírito e sua organização física.


Essa crise é um fenômeno natural. Pensemos na hipótese de alguém ter de mudar, abruptamente, do Nordeste brasileiro para um país europeu ou vice versa. A mudança repentina implicaria um distúrbio tal no indivíduo, que este levaria algum tempo para se descondicionar do ambiente anterior e se adaptar às novas e diferentes condições de vida. Que diremos, então, da morte em que o fenômeno de desagregação do corpo processa uma modificação muito mais violenta?
Além disso, vários fatores intervêm na situação do desencarnado logo após a morte: a idade em que ocorreu a desencarnação (jovem ou idoso?), o tipo de morte (natural ou violenta?), se era apegado ou desprendido dos bens materiais, se tinha bons hábitos ou vícios inveterados, se possuía idéias materialistas ou espiritualistas. Daí a necessidade do adormecimento do Espírito, logo após o desprendimento do corpo físico, para se refazer do transe da morte.

Antes, porém, que o Espírito adormeça, ocorre o interessante fenômeno de recordação da vida passada, em que um panorama desfila ante seus olhos. Tem-se notícia de que, em fração de segundo, o Espírito revê, minuciosamente, todos os fatos da vida terrena que acabou de deixar, cena após cena, desde a infância até a desencarnação, desde o incidente mais insignificante até o acontecimento mais importante.

Naquele momento, o Espírito é capaz de avaliar causas e consequências de todos os seus atos, sejam bons ou maus, como um registro para aproveitamento em vidas futuras. Só depois, sobrevêm o sono cujo tempo varia de Espírito para Espírito.

O juiz John Worth Edmonds, que era notável médium psicógrafo, falante e vidente, escreveu longa mensagem de seu amigo desencarnado, o juiz Peckam, a quem ele muito estimava. Nessa época ainda não era conhecido pelos psicólogos o fenômeno da visão panorâmica. Afirma, então, o Espírito Peckam: No momento da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda a minha existência.

Todas as cenas, todas as ações que eu praticara passaram ante meu olhar, como se houvessem gravado na minha mentalidade, em fórmulas luminosas. Nem um só dos meus amigos, desde a minha infância até a morte, faltou à chamada.

Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha mulher, apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água, mostrando uma energia, cuja natureza só agora compreendo. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Por seu turno, o Espírito que em vida se chamou Dr. Horace Abraham Ackley relata como se passaram os primeiros momentos após o seu despertamento no Mundo Espiritual:
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente.

Foi todo o meu passado que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Muitas pessoas indagam: Como é possível alguém que passa por incontáveis "mortes", experimenta o estado de erraticidade e reencarna várias vezes,
esquecer que existe o Mundo Espiritual? Explicam, então, os Espíritos codificadores que a situação de esquecimento ou perturbação nunca é definitiva.

Ela é transitória, e a lembrança, mais ou menos rápida, das vidas anteriores dependerá do grau de evolução de cada Espírito. C. W. Leadebeater, em “Auxiliares Invisíveis” comenta sobre o mal que os ensinamentos errôneos a respeito da condição do Espírito após a morte provocam na Humanidade, principalmente no mundo ocidental. Certas religiões assustam os seus adeptos, criando neles muita perturbação e surpresa quando chegam no Mundo Espiritual.

Conta ele o exemplo de um inglês que, em uma mensagem transmitida três dias depois de morto, narrou que, encontrando um grupo de Espíritos amigos, perguntou: Mas, se eu estou morto, onde é que estou? Se isto é o céu, não me parece grande coisa; se é o inferno, é melhor do que eu esperava!

Surpresa semelhante tem o Espírito Monsenhor Robert Hugh Benson. Relata ele, em “A Vida nos Mundos Invisíveis”, obra recebida pelo médium Anthony Borgia, que, durante todo o período que sucedeu a sua última desencarnação, nenhuma idéia lhe ocorrera sobre tribunal de julgamento ou juízo final como sugerira a religião ortodoxa. Esses conceitos e os de céu e inferno lhe pareceram totalmente impossíveis e, na realidade, fantasias absurdas.

Em “A Vida no Outro Mundo”, seu autor, Cairbar Schutel, combate a idéia de que nada existe após a morte e que se o Espírito não é imortal, (...) a vida é uma farsa que começa no berço e se acaba no túmulo. Como vimos anteriormente, os Espíritos levam consigo, para o Além-Túmulo, as qualidades boas ou más, todos os vícios e costumes e todos os conhecimentos e aptidões.

Os criminosos vêem-se mergulhados em profundas trevas e só ouvem os lamentos de suas vítimas. Os suicidas só têm, na mente, o seu ato tresloucado. Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, no capítulo intitulado Uma Paixão de Além-Túmulo, reporta-se ao suicídio, por amor, de um garoto de 12 anos de idade. Perguntado sobre sua situação, o jovem responde:

Meu corpo lá estava inerte e frio e eu planava em volta dele; chorava lágrimas quentes. Vocês se admiram das lágrimas de uma alma. Oh! Como são quentes e escaldantes! Sim, eu chorava, porque acabava de reconhecer a enormidade de meu erro e a grandeza de Deus! Entretanto, não tinha certeza de minha morte; pensava que meus olhos se fossem abrir.

O sofrimento dos Espíritos desencarnados é proporcional ao tipo de vida que levaram e ao maior ou menor apego que tenham à vida material. Durante a crise da morte, eles lutam para reter a vida corporal que lhes foge, e esse sentimento se prolongará por muito tempo.

Aqueles muito ligados à vida material erram pelas vizinhanças do lar e do local do trabalho; julgam-se ainda vivos e pretendem participar dos negócios de que se ocupavam quando encarnados. Os viciados e libertinos continuam a sentir enorme ansiedade e procuram a convivência de devassos que lhes saciem os apetites sexuais e os vícios. O avarento fica em estado de angústia, por não poder impedir que os herdeiros esbanjem a fortuna amealhada durante a vida terrena.

Em “Primeiras Impressões de Um Espírito”, mensagem transmitida pelo Espírito Delphine de Girardin à médium Sra. Gostel na Sociedade Espírita de Paris, consta, dentro da sua perspectiva, o seguinte: Falarei da estranha mudança que se opera no Espírito após a libertação. Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo?

A ausência das sensações primárias produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim dizer. Assim como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma, aliviada de repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois o espaço infinito, as maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessá-los, o sentimento da libertação que inunda, de súbito, a necessidade de lançar-se também, no espaço como pássaros que querem treinar suas asas, tais são as primeiras impressões que todos nós sentimos. (Revista Espírita, de Allan Kardec, novembro de 1860, n° 11)

Temos informações, através de várias mensagens, que, no Além, assim como no Aquém, existem vagabundos, saltimbancos e fanfarrões. Existem, da mesma maneira, aqueles que se propõem a auxiliar os companheiros atrasados e, ainda, os que preferem trabalhar pelo seu próprio aprimoramento. Sócrates e Platão disso já tinham conhecimento e afirmavam:

A alma impura, nesse estado,
encontra-se pesada, é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, segundo se diz, ao redor dos monumentos e dos túmulos, juntos dos quais foram vistos, às vezes fantasmas, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estar inteiramente puras, e que conservam alguma coisa de forma material, o que permite aos nossos olhos percebê-las.

Essas não são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses lugares, onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a errar, até que os apetites inerentes às suas respectivas formas materiais façam-nas devolver a um corpo. Então, elas retornam, sem dúvida aos mesmos costumes que, durante a vida anterior, eram de sua predileção. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec)

Como Deus não se compraz com o sofrimento eterno de seus filhos,
passada uma fase de depuração dos fluidos mais densos, sobrevêm ao Espírito o sono reparador a que estão sujeitos todos os recém-chegados ao Mundo Espiritual. Nesse momento, Espíritos amigos e familiares recolhem os recém-desencarnados e os levam para as diversas estações de repouso.

Ao despertar desse sono, que pode variar de horas a séculos, o Espírito desencarnado começa a perceber o que está em sua volta. Surpreende-se ao encontrar um ambiente muito semelhante ao da Terra. Por esse motivo, muitos pensam que ainda estão vivos.

E, só a partir de uma tomada de consciência da realidade em que se encontram, surgirão para eles novas oportunidades: estudos, tarefas, trabalho assistencial, tudo de acordo com o seu adiantamento espiritual, sua capacidade e suas necessidades. Comentando as palestras familiares que estabelece com o Além-Túmulo, Allan Kardec diz a respeito da desencarnação:

Extinguindo-se as forças vitais,
o Espírito se desprende do corpo no momento em que cessa a vida orgânica. Mas separação não é brusca ou instantânea. Por vezes começa antes da cessação completa da vida; nem sempre é completada no instante da morte. Sabemos que entre o Espírito e o corpo existe um liame semi-material, que constitui o primeiro envoltório. Este liame não se quebra subitamente. E, enquanto subsiste, fica o Espírito num estado de perturbação comparável ao que acompanha o despertar.

Ao entrar no mundo dos Espíritos é acolhido pelos amigos que o vêm receber, como se voltasse de penosa viagem. Se a travessia foi feliz, isto é, se o tempo de exílio foi empregado de maneira proveitosa para si e o elevou na hierarquia do mundo dos Espíritos, eles o felicitam. Ali reencontra os conhecidos, mistura-se aos que o amam e com ele simpatizam, e então começa, para ele, verdadeiramente, a sua nova existência. (Revista Espírita, abril de 1959, no 4, de Allan Kardec)

Na erraticidade,
o Espírito não adquire, imediatamente, o saber e a virtude; antes, conserva sua inteligência ou ignorância, idéias, concepções, ódios ou afeições. O que se abala com o desligamento do corpo é a memória, e a sua lucidez retornará segundo o nível moral do desencarnado e à medida que se apagam as impressões terrenas.

Se o Espírito errante tem bons propósitos, ele progride nos aspectos intelectual, moral e espiritual, podendo trazer-nos, mais tarde, as notícias das Colônias Espirituais onde estagiou, uma vez que, enquanto recebe tratamento no corpo perispiritual, o Espírito desencarnado se instrui.

Devido à diversidade de nossos caracteres, (“aptidões, sentimentos, vícios, virtudes e hábitos”)
as condições de vida no Além são de uma diversidade infinita, daí as diferenças no conteúdo das mensagens. Existem, também, Espíritos tão evoluídos e depurados (Espíritos puros ou perfeitos) sobre os quais a Terra não mais exerce atração. Estes habitam as regiões menos densas e só reencarnam para cumprir missões especiais, como aconteceu com Jesus, Buda e Confúcio, além de outros grandes missionários.

Todavia, há Espíritos que não se incorporam a nenhum movimento nobre; vivem na Terra da Liberdade que é uma região, segundo informam os Espíritos, próxima à crosta terrestre, onde os desencarnados se entregam a mais completa indisciplina. Cada um faz o que quer e age de acordo com o livre-arbítrio, sem quaisquer restrições morais.

A tônica de suas vidas é a liberalidade. Muitas vezes, reencarnam sem passar por estágios nas Colônias de recuperação e sem analisarem as vidas anteriores. Nos Mundos Espirituais superiores, os Espíritos continuam a agir dentro do seu livre-arbítrio, porém de acordo com padrões morais elevados.

Segundo Allan Kardec, ao tratar dos Possessos de Morzine: Sendo a Terra um mundo inferior, isto é, pouco adiantado, resulta que
a imensa maioria dos Espíritos que a povoam tanto no estado errante, quanto no de encarnados, deve compor-se de Espíritos imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do Mal na Terra.

 Ora, sendo a Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do Mal que torna os homens infelizes, pois se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. É um estado ainda não alcançado por nosso globo; e é para tal estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens de bem, quer da parte dos homens quer da dos Espíritos, são consequências deste estado de inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay (bahía botánica) dos mundos: aí se encontram a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação. (Revista espírita, de Allan Kardec, n2 12, dezembro de 1862 )

Assim, o fundamental para nós é saber que a Terra nada mais é que um pálido reflexo do Mundo Espiritual e que ambos se encontram na mesma faixa vibratória. Allan Kardec, em mensagem transmitida, após a sua morte, na residência de Miss Anne Blackwell, em Paris, em 14 de setembro de 1869, confirma os ensinamentos que em vida recebeu dos Espíritos em palestras familiares: “Sou tão feliz como nem podeis pensar, meus bons amigos, por vos encontrar reunidos. Estou entre vós, numa atmosfera simpática e benevolente, que agrada ao mesmo tempo o meu espírito e o meu coração. Há muito tempo que eu desejava ardentemente o estabelecimento de relações regulares entre a escola francesa e a escola americana”.
Os Espíritos conservam no Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos. Os Espíritos dos americanos mortos são ainda americanos, como os desencarnado que viveram na França são ainda franceses no Espaço. Daí as diferenças dos ensinos em alguns centros. Cada grupo de Espíritos, por sua própria natureza, por seu espírito nacional, apropria suas instruções ao caráter, ao gênio especial daqueles que o dirigem. (Revista Espírita, de Allan Kardec, na 6, junho de 1869)
Sendo assim, conclui-se que o processo da morte não é necessariamente doloroso, embora, muitas vezes, os que presenciem o desenlace de algum amigo ou parente observem a luta do moribundo para conservar o Espírito no corpo. Aos olhos físicos a impressão é de a pessoa estar sofrendo intensamente, mas essa se constitui, apenas, uma visão terrena, dos que ainda permanecem do lado de cá. A realidade é bem outra.

Lúcia Loureiro

A Casa do Espiritismo

Fonte: Harmonia Espiritual