Eternidade

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sábado, 27 de maio de 2017

Fenômenos assombrosos em Watervliet


A variedade envolvendo a fenomenologia mediúnica tem sido motivo de assombro para todos os que se interessam pelo intercâmbio entre o mundo material e o espiritual. A diversidade dos talentos mediúnicos pode ser verificada mediante consulta aos mais diferentes relatos que compõem a literatura voltada para o tema, seja ou não de origem espírita.

Surpreendem-nos as levitações de religiosos católicos durante a Idade Média. Espantam-nos os relatos da execução de instrumentos musicais em pleno ar, distantes das mãos dos médiuns ou de qualquer pessoa, durante a fase experimental do Espiritualismo Moderno, na primeira metade do século XIX. Assombram-nos as materializações espirituais, realizadas em ambientes controlados, acompanhadas por cientistas, quando estes se interessaram pela investigação dos fenômenos mediúnicos, no século XIX e início do século XX. Enfim, o sem-número de médiuns e mediunidades, já catalogados ou não, instiga nossa sede de entender os mecanismos pelos quais se processam as relações interdimensionais.

Os acontecimentos envolvendo as irmãs Fox, ocorridos em Hydesville, localidade situada no estado de Nova Iorque, em solo norte-americano, constam entre os mais famosos de toda a literatura voltada para a mediunidade, não só pela forma como o intercâmbio mediúnico se deu, mas também pelo fato de ter envolvido expressivo número de pessoas, testemunhas oculares e auditivas de todo o processo. Aquele episódio foi para nós outros, os espíritas.

Aliás, é interessante notar que os registros históricos dão conta de que o estado de Nova Iorque, em meados do século XIX, experimentou significativo número de manifestações mediúnicas, em diversas pequenas cidades ali localizadas. A médium inglesa Emma Hardinge Britten (1823–1899), tendo vivido na época de tais fenômenos, aproveitou suas viagens e realizou um meticuloso trabalho de pesquisa que resultou na publicação, em 1870, do livro Modern american spiritualism. Nesse trabalho, ela reporta eventos anteriores aos ocorridos em Hydesville, mas que foram relativamente ofuscados em virtude da grandeza do ocorrido no seio da família Fox. Dentre os episódios parcialmente obscurecidos, um em especial desperta a nossa atenção: o que se deu no distrito de Watervliet, perto de Albany, vizinha de New Lebanon.

Em Watervliet, vivia um grupo que sofrera perseguições na Inglaterra por conta de suas crenças religiosas, em mais um dos diversos embates envolvendo religião naquela nação, a exemplo da Revolução Puritana de Oliver Cromwell (1599–1658). Esse grupo tinha conexões com os quakers, e eram conhecidos como shakers.  Assim que a perseguição se intensificou, os shakers migraram para a colônia inglesa Province of New York, que mais tarde originaria o estado de Nova Iorque. Foram para lá atraídos pela promessa de oportunidades e de relativa tolerância. Ali se instalaram e progrediram.

Apesar da imprecisão de datas, considerando a reserva com que o grupo tratava do assunto, procurando evitar excessiva exposição, sugerem os relatos que os primeiros fenômenos mediúnicos envolvendo os shakers se iniciaram em meados de 1837, ou seja, 11 anos antes do fato histórico ocorrido em Hydesville.

Ao que tudo indica, a mediunidade era pródiga entre os shakers, pois que, em vez de um ou outro médium manifestar a presença de um Espírito, durante os trabalhos religiosos era significativo o número de membros que entrava em transe mediúnico. O número relevante de médiuns em transe guardava relação direta com o número não menos significativo de Espíritos comunicantes. Os Espíritos manifestantes haviam pertencido a um grupo de nativos que habitavam aquela região à época da chegada dos conquistadores europeus.
A partir do relato da médium e escritora Emma Hardinge, o médico e escritor escocês Arthur Conan Doyle (1859–1930) nos apresenta fragmentos da história dos shakers, fornecendo-nos informações interessantíssimas. No relato de Conan Doyle, um detalhe se torna digno de nossa atenção: a forma como os Espíritos se anunciavam, quando pretendiam manifestar-se.

Contudo, para conhecer melhor tal detalhe, vale a pena recorrer ao texto fascinante do famoso escritor e pesquisador da mediunidade e do Espiritualismo, que nos fornecerá uma ideia mais exata sobre os acontecimentos envolvendo a mediunidade coletiva dos shakers.
Escreve Conan Doyle, no cap. 2 – Eward Irving: os shakers, p. 54:

[…] Os principais visitantes eram Espíritos de Peles Vermelhas, que vinham em grupos, como uma tribo. Um ou dois presbíteros deveriam estar na sala de baixo, aí batiam à porta e os índios pediam licença para entrar. Dada a licença, toda a tribo de Espíritos de índios invadia a casa e em poucos minutos por toda a parte ouvia-se o seu “Whoop! Whoop!” Os gritos de “whoop”, aliás, emanavam dos órgãos vocais dos próprios “shakers”. Mas, quando sob o controle dos índios, conversavam na língua destes, dançavam as suas danças e em tudo mostravam que estavam realmente tomados por Espíritos de Peles Vermelhas. (Grifo nosso.)

Pelo que pudemos observar, os Espíritos dos nativos pediam licença para adentrar o culto religioso shaker. Concedida a autorização, eles se aproximavam dos médiuns e os influenciavam de tal forma que os religiosos se comportavam à maneira dos nativos quando realizavam seus rituais religiosos.

Esse contato durou cerca de sete anos, até que a experiência mediúnica cessou, tendo os Espíritos, antecipadamente, anunciado o fim daqueles trabalhos.

Quatro anos depois do encerramento dos assombrosos fenômenos ocorridos em Watervliet, iniciaram-se os emblemáticos eventos em Hydesville, envolvendo a família Fox.  Ao saber do fato, o shaker Elder Evans organizou um grupo de correligionários e foram visitar as irmãs Fox. Segundo Conan Doyle, quando se reuniram com as meninas médiuns, os visitantes foram saudados por Espíritos, e surpresa: alguns desses Espíritos eram os nativos que haviam estado em Watervliet alguns anos antes.

Esses relatos são, de fato, instigantes, e nos convidam a aprofundar na pesquisa acerca da história da mediunidade. Principalmente, nos dão a oportunidade de relembrar os fenômenos coletivos de mediunidade que, embora raros, têm como acontecimento maior os episódios ocorridos no dia de Pentecostes, quando os apóstolos do Mestre Jesus começaram a falar em outras línguas. Obviamente, não se pode fazer um paralelo entre o ocorrido com os apóstolos e o que se deu entre os shakers, sobretudo no que se refere à mensagem decorrente dos fenômenos. Mas é inegável que a fenomenologia é a mesma: um transe mediúnico coletivo.

Enfim, quem quer que se interesse pelo estudo da mediunidade e do Espiritismo constatará pela simples observação que, com o passar do tempo, a manifestação mediúnica perdeu muito de suas características físicas, assumindo, cada vez mais, qualidades intelectuais. Assim, não é de se admirar que fenômenos semelhantes aos apresentados pelos shakers sejam cada vez menos comuns. Aliás, a “intelectualização” da mediunidade guarda sintonia com o desenvolvimento intelectual da Humanidade e, por consequência, dos médiuns. Apesar disto, não podemos deixar de nos surpreender com os acontecimentos daquele início de século, por nos terem permitido entrar em contato com  outras dimensões da vida, provando que o Espírito não somente sobrevive à morte do corpo físico, mas também é capaz de manifestar-se aos que ainda permanecem na retaguarda, encarnados na Terra.


FONTES:
DOYLE, Arthur Conan. História do espiritismo. São Paulo: Editora Pensamento.
OS ESPÍRITOS E OS SHAKERS. Mistérios do Desconhecido. Evocação dos Espíritos. Rio de Janeiro: Abril Livros Ltda, 1993.
DIAS, Haroldo Dutra. (Trad.). O novo testamento. 1. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Imagens da dor...



As imagens da dor que vês refletidas nos teus semelhantes são, inicialmente, para que te sintas compadecido do sofrimento alheio e te disponhas a auxiliar. 

Mas são também para que vejas as consequências do mal a quem delibera se entregar a ele. 

São imagens educativas, para que saibas que a Lei Divina não é omissa e que os seus infratores, mais cedo ou mais tarde, serão chamados à corrigenda. 

A criança paralítica, o cego de nascença, a tumoração que se exterioriza, o abandono, a fome, a miséria moral, a perturbação mental - imagens da dor refletindo-se no hoje as arbitrariedades do ontem. 

Compadece-te e ajuda. Mas, sobretudo, não faças o que eles, nossos irmãos, fizeram, para que não te suceda o mesmo ou pior. 



(Imagens da Dor, de Irmão José, no livro Vigiai e Orai, psicografado por Carlos A Baccelli)

sábado, 13 de maio de 2017

Terrorismo de Natureza Mediúnica




Sutilmente vai-se popularizando uma forma lamentável de revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter apocalíptico. 
Existe um atavismo no comportamento humano em torno do Deus temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o Espiritismo confirma através das suas excelentes propostas filosóficas e ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade. 
Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite em suas formulações esclarecedoras quaisquer tipos de superstições, que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos. 
Durante alguns milênios o medo fez parte da divulgação do Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas… 

O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação universal, portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, através da Lei de Causa e Efeito, quem somos, de onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e das amarguras humanas… De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme Ele os enunciou e os viveu, proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu Criador, sendo de simples e fácil formulação. 
Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais hoje estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos ameaçadores. 
De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudorrevelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte. 

Certamente existem personificações do Mal além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento. 

O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes do conhecimento exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a respeito da vida e de como comportar-se dignamente ante as situações dolorosas. 

As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando a névoa da ignorância que ainda permanece impedindo o discernimento de muitas pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal. 

Da mesma forma como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao animismo africanista, de diversos povos e às suas superstições. No passado, em pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam. 

O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda, rico de bênçãos e de oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis para o êxito em todos os cometimentos. 

A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação. 

A simples mudança mental para melhor proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver. 

Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da misericórdia divina. 

A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e de felicidade todos aqueles que se lhe acercam. 

Jamais a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos zombeteiros, levianos, críticos, contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas. 

Esses Espíritos burlões e pseudossábios devem ser esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e apavorantes com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem facilmente… 

O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto para essa onda de revelações atemorizantes, que se espalha como um bafio pestilencial, tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram desde o seu surgimento a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina. 

Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um método eficaz existe para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador.

Desse modo, utilizando-se da caridade como guia, da oração como instrumento de iluminação e do conhecimento como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de os tornar felizes. 

Vianna de Carvalho 
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no  dia 7 de dezembro de 2009, durante o XVII Congresso Espírita  Nacional, em Calpe, Espanha.)