Dissemos que a doutrina secreta
achava-se no fundo de todas as religiões e nos livros sagrados de todos os
povos. De onde veio ela? Qual a sua origem? Quais os homens que a conceberam e
fizeram depois a sua descrição? As mais antigas escrituras são
as que resplandecem nos céus. Esses mundos estelares que, através das noites
calmas, deixam cair serenas claridades, constituem as escrituras eternas e
divinas de que fala Dupuis. Os homens têm-nas, sem dúvida, consultado
antes de escrever; mas os primeiros livros em que se encontra exposta a grande
doutrina são os Vedas.
É o molde em que se formou a
religião primitiva da Índia, religião inteiramente patriarcal, simples
e pura, com uma existência desprovida de paixões, passando vida tranquila e
forte ao contacto da natureza esplêndida do Oriente. Os
hinos védicos igualam em grandeza e elevação moral a tudo o que, no decorrer
dos tempos, o sentimento poético engendrou de mais belo. Celebram Agni, o fogo,
símbolo do Eterno Masculino ou Espírito Criador; Sorna, o licor do sacrifício,
símbolo do Eterno Feminino, Alma do Mundo, substância etérea.
Em sua união perfeita, esses
dois princípios essenciais do Universo constituem o Ser Supremo, Zians ou Deus.
O Ser Supremo imola-se a si próprio e divide-se para produzir a
vida universal. Assim, o mundo e os seres saídos de Deus voltam a Deus por uma
evolução constante. Daí a teoria da queda e da reascensão das almas que se encontra
no Oriente.
Ao sacrifício do fogo resume-se
todo o culto védico. Ao levantar do dia, o chefe de família, pai e
sacerdote ao mesmo tempo, acendia a chama sagrada no altar da Terra, e, assim,
para o céu azul, subia alegre a prece, a invocação de todos à Força
Única e viva, que está coberta pelo véu transparente da Natureza.
Enquanto se cumpre o
sacrifício, dizem os Vedas, os Assuras ou Espíritos superiores e os
Pitris ou almas dos antepassados cercam os assistentes e se associam às suas
preces. Portanto, a crença nos Espíritos remonta às primeiras idades do
mundo. Os Vedas afirmam a Imortalidade da alma e a reencarnação: “Há uma parte
Imortal do homem que é aquela, o Agni, que cumpre aquecer com teus raios,
inflamar com teus fogos.
De onde nasceu a alma? Umas
vêm para nós e daqui partem, outras partem e tornam a voltar.” Os
Vedas são monoteístas; as alegorias que se encontram em cada página apenas
dissimulam a imagem da grande Causa primária, cujo nome, cercado de santo
respeito, não podia, sob pena de morte, ser pronunciado. As
divindades secundárias ou devas personificam os auxiliares inferiores do Ser
Supremo, as forças vivas da Natureza e as qualidades morais.
Do ensino dos Vedas decorria
toda a organização da sociedade primitiva, o respeito à mulher, o culto
dos antepassados, o poder eletivo e patriarcal. Os homens viviam felizes, livres
e em paz. Durante a época védica, na vasta solidão dos bosques, nas margens dos
rios e lagos, anacoretas ou rishis passavam os dias no retiro. Intérpretes
da ciência oculta, da doutrina secreta dos Vedas, eles possuíam já esses
misteriosos poderes, transmitidos de século em século, de que gozam ainda os
faquires e os jogues. Dessa confraria de solitários saiu o pensamento inovador,
o primeiro impulso que fez do Bramanlsmo a mais colossal das teocracias.
Krishna, educado pelos ascetas
no seio das florestas de cedros que coroam os píncaros nevoentos do Himalaia,
foi o inspirador das crenças dos hindus. Essa grande figura aparece na
História como o primeiro dos reformadores religiosos, dos missionários divinos.
Renovou as doutrinas védicas, apoiando se sobre as idéias da Trindade, da
imortalidade da alma e de seus renascimentos sucessivos. Selada
a obra com o seu próprio sangue, deixou a Terra, legando à Índia essa concepção
do Universo e da Vida, esse ideal superior em que ela tem vivido durante
milhares de anos.
Sob nomes diversos, pelo mundo
espalhou-se essa doutrina com todas as migrações de homens, de que foi origem a
região da Índia. Essa terra sagrada não é somente a mãe dos povos e das
civilizações, é também o foco das maiores inspirações religiosas.
Krishna, rodeado por um certo número de discípulos, ia de cidade em cidade
espalhar os seus ensinos:
“O corpo, dizia ele, envoltório da alma que ai
faz sua morada, é uma coisa finita; porém, a alma que o habita é invisível,
imponderável e eterna. O destino da alma depois da morte constitui o mistério
dos renascimentos. Assim como as profundezas do céu se abrem aos raios dos
astros, assim também os recônditos da vida se esclarecem à luz desta verdade. Quando
o corpo entra em dissolução, se a pureza é que o domina, a alma voa para as
regiões desses seres puros que têm o conhecimento do Altíssimo. Mas, se é dominado
pela paixão, a alma vem de novo habitar entre aqueles que estão presos às
coisas da Terra”.
Quando os sofistas pediam que
explicasse a natureza de Deus, respondia-lhes: “Só o infinito e o espaço podem
compreender o infinito. Somente Deus pode compreender a Deus.” Dizia ainda:
“Nada do que existe pode perecer, porque tudo está contido em Deus. Visto isso,
não é alvitre sábio chorarem-se os vivos ou os mortos, pois
nunca todos nós cessaremos de subsistir além da vida presente.”
O fim elevado da vida é
arrancar a alma aos turbilhões do desejo. Consegue-se isso pela
reflexão, austeridade, pelo desprendimento de todas as coisas terrenas, pelo
sacrifício do eu, pela isenção do cativeiro egoísta da personalidade. A
Ignorância é o mal soberano de que decorrem o sofrimento e a miséria; o
principal meio para se melhorar a vida no presente e no futuro é adquirir-se o “Conhecimento”.
O Budismo esotérico ou vulgar,
repelido de todos os lados da Índia no século 6º, após lutas sangrentas
provocadas pelos brâmanes, sofreu vicissitudes diversas e numerosas
transformações. Um dos seus ramos ou Igreja, a do Sul, em algumas das suas
interpretações, parece inclinar-se para o ateísmo e materialismo. A do
Tibé conservou-se deísta e espiritualista. O Budismo também se tornou a
religião do império mais vasto do mundo: a China.
Entretanto, os
principais ensinamentos do Buddha foram conservados nos Sutras. Sábios,
herdeiros da ciência e dos poderes dos antigos ascetas, possuem também, dizem,
a doutrina secreta na sua integridade. Esses estabeleceram suas
moradas longe das multidões humanas, sobre os planaltos das montanhas, de onde
os campos da Índia apenas se divisam vagos e longínquos como num sonho. É na
atmosfera pura e calma das solidões que habitam os Mãhãtmas.
Compilado
do livro Depois da Morte de Leon Denis
Fonte: Harmonia Espiritual
“Assim, a alma,
obscurecida pela matéria e pela ignorância, é novamente atraída para o corpo de
seres Irracionais. Todo renascimento, feliz ou desgraçado, é conseqüência das
obras praticadas nas vidas anteriores. Há, porém, um mistério maior ainda. Para
atingir a perfeição, cumpre conquistar a ciência da Unidade, que está acima de todos
os conhecimentos; é preciso elevar-se ao Ser divino, que
está acima da alma e da Inteligência”.
“Esse Ser divino está também em
cada um de nós: Trazes em ti próprio um amigo sublime que não conheces, pois
Deus reside no interior de todo homem, porém poucos sabem achá-lo. Aquele
que faz o sacrifício de seus desejos e de suas obras ao Ser de que procedem os
princípios de todas as coisas, obtém por tal sacrifício a perfeição,
porque, quem acha em si mesmo sua felicidade, sua alegria, e também sua luz, é
um com Deus. Ora, fica sabendo, a alma que encontrou Deus está livre do
renascimento e da morte, da velhice e da dor, e bebe a água da imortalidade.”
Krishna falava na sua missão e
da sua própria natureza em termos sobre os quais convém meditar. Dirigindo-se
aos seus discípulos, dizia: “Tanto eu como vós temos tido vários
nascimentos. Os meus só de mim são conhecidos, porém vós nem mesmo os vossos
conheceis. Posto que, por minha natureza, eu não esteja sujeito a nascer e
a morrer, todas as vezes que no mundo declina a virtude, e que o vício e a
injustiça a superam, torno-me então visível; assim me mostro, de idade em idade, para
salvação do justo, para castigo do mau, e para restabelecimento da verdade. Revelei-vos
os grandes segredos. Não os digais senão àqueles que os podem compreender. Sois
os meus eleitos: vedes o alvo, a multidão só descortina uma ponta do caminho.”
Por essas palavras a doutrina
secreta estava fundada. Apesar das alterações sucessivas que teve de suportar, ela
ficará sendo a fonte da vida em que, na sombra e no silêncio, se inspiram todos
os grandes pensadores da antigüidade. A moral de Krishna também era muito pura:
“Os males com que afligimos o próximo perseguem-nos, assim como a sombra segue
o corpo. — As obras Inspiradas pelo amor dos nossos semelhantes são as
que mais pesarão na balança celeste.
Se convives com os bons, teus
exemplos serão Inúteis; não receeis habitar entre os maus para os reconduzir ao
bem. O homem virtuoso é semelhante a uma árvore gigantesca, cuja sombra
benéfica permite frescura e vida às plantas que a cercam.” Sua linguagem
elevava-se ao sublime quando falava da abnegação e do sacrifício: “O
homem de bem deve cair aos golpes dos maus como o sândalo que, ao ser abatido,
perfuma o machado que o fere.”
Sobre a comunicação dos
Espíritos: “Muito tempo antes de se despojarem de seu envoltório mortal, as
almas que só praticaram o bem adquirem a faculdade de conversar com as almas
que as precederam na vida espiritual.” É isto o que, ainda em nossos
dias, afirmam os brâmanes pela doutrina dos Pitris, mesmo porque, em
todos os tempos, a evocação dos mortos tem sido uma das formas da sua liturgia. Tais
são os principais pontos dos ensinos de Krishna, que se encontram nos livros
sagrados conservados ainda nos santuários do sul do Indostão.
A princípio, a organização
social da Índia foi calcada pelos brâmanes sobre suas concepções religiosas. Dividiram
a sociedade em três classes, segundo o sistema ternário; mas, pouco a pouco,
tal organização degenerou em privilégios sacerdotais e aristocráticos. A
hereditariedade Impôs os seus limites estreitos e rígidos às aspirações de
todos. A mulher, livre e honrada nos tempos védicos, tornou-se escrava, e dos
filhos só soube fazer escravos, igualmente. A sociedade condensou-se num molde
implacável, a decadência da Índia foi a sua conseqüência inevitável.
Petrificado em suas castas e
seus dogmas, esse país teve um sono letárgico, imagem da morte, que nem mesmo
foi perturbado pelo tumulto das invasões estrangeiras!
Acordará ainda? Só o futuro poderá dizê-lo. Os brâmanes, depois de terem
estabelecido a ordem e constituído a sociedade, perderam a Índia por excesso de
compressão. Assim também, despiram toda a autoridade moral da doutrina de
Krishna, envolvendo-a em formas grosseiras e materiais.
Se considerarmos o Bramanismo
somente pelo lado exterior e vulgar, por suas prescrições pueris, cerimonial
pomposo, ritos complicados, tábulas e imagens de que é tão pródigo, seremos
levados a nele não ver mais que um acervo de superstições. Seria, porém, erro
julgá-lo unicamente pelas suas aparências exteriores. No
Bramanismo, como em todas as religiões antigas, cumpre distinguir duas coisas.
Uma é o culto e o ensino
vulgar, repletos de ficções que cativam o povo, auxiliando a conduzi-lo pelas
vias da submissão. A esta ordem de idéias liga-se o dogma da metempsicose ou
renascimento das almas culpadas em Corpos de animais, Insetos ou plantas,
espantalho destinado a atemorizar os fracos, sistema hábil Imitado pelo
Catolicismo quando concebeu os mitos de Satanás, do inferno e dos suplícios
eternos.
A outra é o ensino secreto, a
grande tradição esotérica que fornece sobre a alma e seus destinos, e sobre a
causa Universal, as mais puras e elevadas reflexões. Para
conseguir isso, é necessário penetrar-se nos mistérios dos pagodes, folhear os
manuscritos que estes encerram e interrogar os brâmanes sábios.
Cerca de seiscentos anos antes
da era Cristã, um filho de rei, Çãkyamuni ou o Buddha, foi acometido de
profunda tristeza e Imensa piedade pelos sofrimentos dos homens. A
corrupção invadira a Índia, logo depois de alteradas as tradições religiosas,
e, em seguida, vieram os abusos da teocracia ávida do poder.
Renunciando às grandezas, à vida
faustosa o Buddha deixa o seu palácio e embrenha-se na floresta silenciosa. Após
longos anos de meditação, reaparece para levar ao mundo asiático senão uma crença
nova, ao menos uma outra expressão da Lei. Segundo o Budismo, está no
desejo a causa do mal, da dor, da morte e do renascimento. É o desejo, é a
paixão que nos prende às formas materiais, e que desperta em nós mil
necessidades sem cessar reverdecentes e nunca saciadas tornando-se assim,
outros tantos tiranos.
O Conhecimento compreende
a ciência da natureza visível e invisível, o estudo do homem e dos princípios
das coisas. Estes são absolutos e eternos. O mundo, saído por sua própria
atividade de um estado uniforme, está numa evolução continua. Os seres,
descidos do Grande-Todo a fim de operarem o problema da Perfeição, Inseparável
do estado de liberdade e, por conseguinte, do movimento e do progresso, tendem
sempre a voltar ao Bem perfeito. Não penetram no mundo da forma
senão para trabalharem no complemento da sua obra de aperfeiçoamento e
elevação.
Podem realizar isso pela
Ciência, ou Upanishad, e completá-lo pelo Amor, ou Purana. A
Ciência e o Amor são dois fatores essenciais do Universo. Enquanto não adquire
o amor, o ser está condenado a prosseguir na série das reencarnações
terrestres. Sob a Influência de tal doutrina, o instinto egoísta vê
estreitar-se pouco a pouco o seu círculo de ação.
O ser aprende a abraçar num
mesmo amor tudo o que vive e respira; e isto nada mais é que um dos degraus da
sua evolução, pois esta deve conduzi-lo a só amar o eterno princípio de
que emana todo o amor, e para onde todo ele deve necessariamente voltar. Esse
estado é o do Nirvana.
Essa expressão, diversamente
comentada, tem causado muitos equívocos. Em conformidade com a doutrina secreta
do Budismo, o Nirvana não é, como ensina a Igreja do Sul e o Grã-Sacerdote
do Ceilão, a perda da individualidade e o esvaecimento do ser no nada, mas sim
a conquista, pela alma, da perfeição, e a libertação definitiva das
transmigrações e dos renascimentos no seio das humanidades.
Cada qual executa o seu próprio
destino. A vida presente, com suas alegrias e dores, não é senão a
conseqüência das boas ou más ações operadas livremente pelo ser nas existências
anteriores. O presente explica-se pelo passado, não só para o mundo tomado
em seu conjunto, como também para cada um dos seres que o compõem. Designa-se
por Carma toda a soma de méritos ou de deméritos adquiridos pelo ser. O
Carma é para este, em todos os Instantes da sua evolução, o ponto de partida do
futuro, o motor de toda a justiça distributiva.
“Em Buddha, uno-me à dor de
todos os meus irmãos, e entretanto sorrio e sinto-me contente porque vejo que a
liberdade existe. Sabei, ó vós que sofreis; mostro-vos a verdade; tudo o que
somos é resultante do que fomos no passado. Tudo é fundado sobre nossos
pensamentos; tudo é obra dos próprios pensamentos. Se as palavras e ações de um
homem obedecem a um pensamento puro, a liberdade segue-o como uma sombra. O ódio
jamais foi apaziguado pelo ódio, pois não é vencido senão pelo amor. Assim como
a chuva passa através de uma casa mal coberta, assim a paixão atravessa um
espírito pouco refletido. Pela reflexão, moderação e domínio de si
próprio, o homem transforma-se numa rocha que nenhuma tempestade pode abater. O
homem colhe aquilo que semeou. Eis a doutrina do Carma.”
A maior parte das religiões
recomenda-nos fazer o bem em vista de uma recompensa de além-túmulo. Está aí
um móbil egoísta e mercenário que não se encontra do mesmo modo no Budismo. É
necessário praticar o bem, diz Léon de Rosny, porque o bem é o fim supremo da
Natureza. É conformando-se às exigências dessa lei que se adquire a única
satisfação verdadeira, a mais bela que pode apreciar o ser desprendido dos
entraves da forma e das atrações do desejo, causas contínuas de decepção e de
sofrimento.
A compaixão do Budismo, sua
caridade, estende-se a todos os seres. Segundo ele, todos são destinados ao
Nirvana. E, por seres, devem entender-se os animais, os vegetais e mesmo
os corpos inorgânicos. Todas as formas da vida se encadeiam, de acordo com a lei
grandiosa da evolução e do transformismo.
Em parte alguma do Universo
deixa de existir vida. A morte não é senão uma ilusão, um dos agentes da vida que exige
um renovamento continuo e transformações incessantes. O
inferno, para os iniciados na doutrina, não é outra coisa senão o remorso e a
ausência do amor. O purgatório está em toda parte onde se encontra a forma e
onde evoluciona a matéria. Está em nosso globo, ao mesmo tempo que nas
profundezas do firmamento estrelado. O Buddha e seus discípulos praticavam o
Diana, ou a contemplação, o êxtase. Durante esse estado, o Espírito
destaca-se e comunica-se com as almas que deixaram a Terra.
Seus fiéis adeptos compõem,
hoje, a terça parte da população do globo; mas, em todos os meios onde ele se
espalhou, do Ural ao Japão, foram veladas e alteradas as tradições primitivas. Nele, como
em qualquer outra doutrina, as formas materiais do culto abafaram as altas
aspirações do pensamento. Os ritos, as cerimônias supersticiosas, as fórmulas vãs, as oferendas,
as preces sonoras, substituíram o ensino moral e a prática das virtudes.
Possuindo segredos que lhes
permitem desafiar a dor e a morte, passam os dias na meditação, esperando
a hora problemática em que o estado moral da Humanidade torne possível a
divulgação dos seus poderes extraordinários. Como, porém, nenhum fato
bastante autêntico tem vindo até hoje confirmar essas citações, ainda fica por
provar a existência dos Mãhãtmas.
Há vinte anos que grandes
esforços foram empregados para espalhar a doutrina búdica no Ocidente. A raça
latina, porém, ávida de movimento, de luz e liberdade, parece pouco disposta a
assimilar-se a essa religião de renunciamento, de que os povos orientais
fizeram uma doutrina de aniquilamento voluntário e de prostração intelectual. O
Budismo, na Europa, apenas tem permanecido no domínio de alguns homens de
letras, que honram o esoterismo tibetano. Este, em certos pontos, abre ao
Espírito humano, perspectivas estranhas.
A teoria dos dias e das noites
de Brahma — Manvantara e Pralaya — que é uma renovação das antigas religiões da
Índia, parece que está em muita contradição com a idéia do Nirvana. De qualquer
modo, esses períodos imensos de difusão e concentração, durante
os quais a grande causa primordial absorve todos os seres, permanece só,
imóvel, adormecida sobre os mundos dissolvidos, atraem o pensamento
numa espécie de vertigem.
A teoria dos sete princípios
constitutivos do homem e dos sete planetas, sobre os quais corre a roda da vida
num movimento ascensional, também constitui pontos originais e sujeitos a
exame. Uma coisa domina este ensino: é a lei de caridade proclamada
pelo Buddha — um dos mais poderosos apelos ao bem que tem ecoado neste mundo;
mas, segundo a expressão de Léon de Rosny, “essa lei calma e pura, porque
nada traz em seu apoio, ficou Ininteligível para a maioria dos homens, visto
lhes revoltar os apetites e não prometer a espécie de salário que querem
ganhar”.
O Budismo, apesar das suas
manchas e sombras, nem por Isso deixa de ser uma das maiores concepções
religiosas das que têm aparecido neste mundo, uma doutrina toda de
amor e igualdade, uma reação poderosa contra a distinção de castas que foi
estabelecida pelos brâmanes, doutrina que, em certos pontos, oferece
analogias importantes com o Evangelho de Jesus de Nazaré.
Fonte: Harmonia Espiritual
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