Eternidade

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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Implacáveis Tecelões



"(...) A cada um será dado segundo as suas obras". - Jesus. (Mt., 16:27.)


Joanna de Ângelis nos ensina¹:

          "(...) O ser integral é viajante da Eternidade realizando o seu progresso etapa-a-etapa... Desde sua criação experimenta as incessantes transformações que o fazem desabrochar, arrebentando a masmorra em que se encarcera e crescendo na busca da sua destinação eterna - a perfeição relativa - que ainda não lhe é dado vislumbrar por falta de recursos e aptidões que lhe capacitem o entendimento em profundidade.



Cada realização conseguida se lhe insculpe de forma irrecusável nas tecelagens mais delicadas da organização sutil, que é o perispírito, o veículo modelador que lhe programa os futuros comportamentos para o processo de adiantamento moral no campo da matéria. Constituído de energia específica e plasmática, esse corpo intermediário encarrega-se de registrar todas as ocorrências morais e mentais que deverão consubstanciar a futura forma, o mecanismo de recuperação, o instrumento de conversão de valores que são necessários, tendo em vista a própria depuração.

Face à conduta durante a existência física, de certo modo vão sendo delineados os processos para a libertação pelo veículo da morte, cuja ocorrência é muito mais grave do que pode parecer ao observador menos cuidadoso.

Morre-se ou desencarna-se conforme se vive. Os pensamentos e os atos são implacáveis tecelões que se responsabilizam pelo deslinde final que liberta o Espírito do corpo. Desse modo, a ocorrência terminal, encarregada de produzir a desencarnação, é resultado de todo o processo vivido durante o estágio orgânico. Cada qual experimenta o curso libertador de acordo com o procedimento mantido enquanto encarnado, o que se lhe transforma em futuros programas existenciais.

Uma morte violenta não apenas produz grande perturbação, como também poderá responder pelo difícil porvindouro processo de renascimento corporal.

O suicídio, largamente programado, produz-lhe fundos traumas, elaborando uma próxima reencarnação que se lhe torna muito sofrida, desde a gestação com numerosas complicações antes e durante o parto, isto quando não é malograda por insucessos dolorosos. O enforcamento, por exemplo, elabora um renascimento sob a constrição do cordão umbilical em grave asfixia; o envenenamento estabelece o recomeço sob lesões cerebrais irrecuperáveis resultantes da anóxia; o afogamento gera ruptura da placenta antes do parto; o despedaçamento do corpo, porque se atirou das alturas ou sob veículos pesados, ou mutilações propositais, programa retorno sob posição inadequada, com impossibilidade de liberação, ou dá lugar a deformações congênitas, tais como desestruturação do conjunto orgânico e outras anomalias graves...

A forma angustiante do renascimento não impede, antes se vincula à existência que se fará assinalar pelos efeitos danosos do autocídio, que é sempre um mecanismo vergonhoso e cruel para o Espírito que força ausentar-se da matéria. Ninguém, portanto, se evade impunemente dos deveres, sem que não volte a encontrá-los mais complexos e exigentes para serem solucionados. São as condutas suicidas que respondem pelos processos degenerativos a que são submetidos muitos indivíduos que passam na Terra, a arrostar as consequências dessa insânia, dessa rebeldia contra as Soberanas Leis.

O ato desastroso, mediante o qual o infrator deseja fugir da consciência, mais se lhe fixa, impondo repetição do fenômeno da morte para aprender como respeitar os impositivos da Vida. Por outro lado, quando a partida da Terra se dá por acidentes que produzem grande pavor, esses podem comprometer o futuro retorno à matéria através de sofrimento cáustico que, por sua vez, se refletirá como aflições incessantes durante a jornada porvindoura, apresentando dores e conflitos inquietantes.


A criatura humana está sempre a semear e a colher dentro de um fatalismo de que não se pode evadir, porquanto o mesmo constitui o meio salutar e único para o desenvolvimento de todos os valores que se lhe encontram ínsitos".

Nossos atos vão, pois, insculpindo nas malhas sutis do perispírito o nosso mapa cármico. Melhor será colori-lo com as tintas suaves e delicadas da humildade e da modéstia e com todo o "dégradé" de cores constituído pelos imarcescíveis tesouros das virtudes...

Jesus disse que uma árvore seria conhecida pelos seus frutos. Ampliando tais conceitos, afirma Luís²:



"(...) É assim, meus irmãos, que deveis julgar; são as obras que deveis examinar. Se os que se dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é, se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.

Desconfiai, porém, das palavras melifluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus que oram nas praças públicas, vestidos de longas túnicas. Desconfiai dos que pretendem ter o monopólio da verdade! Não, não, o Cristo não está entre esses, porquanto os que Ele envia para propagar a Sua santa doutrina e regenerar o Seu povo serão, acima de tudo, seguindo-Lhe o exemplo, brandos e humildes de coração; os que hajam, com os exemplos e conselhos que prodigalizem, de salvar a Humanidade, que corre para a perdição e pervaga por caminhos tortuosos, serão essencialmente modestos e humildes. De tudo o que revele um átomo de orgulho, fugi, como de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo em que toca. Lembrai-vos de que cada criatura traz na fronte, mas principalmente nos atos, o cunho da sua grandeza ou da sua inferioridade".


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¹  Divaldo Franco. Dias Gloriosos. Salvador: Leal, 1999, cap. 16.
²  Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XXI, item 8.


Fonte: O Médium, espiritismo para você, nº 694, nov./dez.2013.
Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora, por Rogério Coelho

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