O Caminho da Iluminação
Rogério Coelho
"Brilhe a vossa luz".
Jesus. (Mt., 5:16.)
Jesus. (Mt., 5:16.)
"Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz
da Vida", afirmou¹ o Meigo e Singular Zagal Celeste.
Todos os Espíritos fomos criados simples e ignorantes², mas, sem embargo,
somos lucigênitos, pois, ao criar-nos, Deus implantou a Luz Divina na intimidade
de cada um de nós. A busca dessa dimensão divina é o fanal de nossa existência e,
sendo Jesus a Luz do Mundo, só tendo-O como Modelo e Guia é que lograremos localizar
o Reino dos Céus dentro de nós...
Uma lâmpada elétrica não ilumina apenas o interior do bulbo que a contém, mas
espraia-se à sua volta. Da mesma forma, a Luz Divina, ínsita em todos nós deverá
irradiar-se à nossa volta, vez que ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo
da cama e sim no velador. (Mt., 5:15.)
Tal como na lâmpada elétrica cuja luz interior espraia-se para o exterior, o
processo de iluminação do Espírito embora sendo interno, desdobra-se em consequências
externas, pois interage no campo social em que vivemos.
Como encontrar e trilhar o caminho da iluminação?
Com a resposta o confrade psicólogo Adenáuer Novaes³:
"(...) O caminho da iluminação, meta inalcançável numa única existência, não
implica tornar-se perfeito, mas descobrir e realizar a personalidade integral, oculta
no estreito conhecimento de si mesmo. Pressupõe atravessar obstáculos, enxergar
os próprios limites, agindo na Vida para transformar-se a cada momento. Nesse contexto,
os problemas não são atestados de fracassos, mas oportunidades preciosas de iluminação.
Iluminar-se é tornar-se dotado de luz, que brilha em si mesmo e em sua volta,
isto é, que não está escondida, e que, portanto extrapola os limites da consciência
pessoal. O brilho próprio, inerente a todos, naturalmente atrai a quantos se aproximem.
O brilho pessoal, sem que se deseje aparecer, atinge a quem interage com seu portador.
O processo de iluminação requer consciência de transformação, de desenvolvimento
da personalidade na direção das qualidades superiores do espírito. É um processo
interno com consequências externas.
O caminho na direção da iluminação se assemelha à jornada de um herói que anseia
encontrar seu tesouro oculto em algum lugar de si mesmo. Contará com auxílios diversos,
inclusive espiritual, porém terá que retornar sozinho a fim de instalar, paradoxalmente,
o reino interior no mundo externo. Todos temos uma jornada em busca de si mesmo,
em realizar sua própria Vida, na procura de sua singularidade. Ao cabo da jornada
retornamos a um novo início e, como numa espiral, encetamos novo destino, ao encontro,
desta feita, com Deus.
Para iniciar essa grande viagem interior é preciso primeiramente desfazermo-nos
da ilusão de nossa própria inferioridade, pois somos filhos de Deus, e como
tais, fadados à felicidade plena. Isto quer dizer que não devemos permitir a ideia
de que somos insignificantes perante a Vida. Não basta descobrir-se, mas ir em busca
do que se acredita que poderia ser, caso as circunstâncias fossem outras.
A caminhada do espírito na busca de si mesmo requer otimismo e confiança
no sucesso, bem como ausência de receio de estar só, pois o processo sempre
se dará com auxílios diversos que, muito embora presentes, nunca tomarão o lugar
do indivíduo. Nessa caminhada é preciso ter coragem, disciplina e
a certeza de que o processo é pessoal e intransferível. Ninguém crescerá por ninguém.
Outros, durante o processo de ascensão, se apresentarão nas mesmas circunstâncias
e deverão merecer nossa ajuda. Devemos ter compaixão e generosidade para
com os outros.
Deve o espírito não esquecer que o conformismo, a inércia e a acomodação surgirão
na caminhada, induzindo o desejo de conclusão imediata sem se chegar ao termo do
processo. Muitos param no meio sem forças e motivação para irem adiante. É preciso
ter determinação. O compromisso com os objetivos que se pretende atingir
é fundamental. É desejável a humildade para não se considerar vitorioso antes
do tempo. A felicidade de se perceber caminhando e aprendendo com a Vida, nos permite
sentir amor e paixão pelo que fazemos. É desejável se sentir apaixonado pela Vida,
pelas pessoas e por si mesmo.
A criatividade é outra marca durante a caminhada. Deve-se dar livre curso
à inspiração como instrumento de descoberta das saídas dos conflitos inerentes ao
processo.
Mesmo considerando que todo controle pode prejudicar a visão da totalidade, é
desejável que não se perca a organização e a ordem durante o processo
de caminhada.
A consciência não deve estar fora da jornada da alma na direção da iluminação.
Deve-se crer num certo poder pessoal para transformar as coisas, pois somos frutos
do desejo de Deus, portanto capazes de operar "milagres" na Vida. Essa certeza
de identidade com o Criador nos confere a sabedoria para discernir entre o que nos
convém ou não no processo. (Paulo. I Cor., 6:12.)
Na dimensão criativa incluímos nossa capacidade de estabelecer uma identidade
pessoal naquilo que fazemos. Criar, no nível humano, significa imprimir sua forma
singular de fazer e sentir as coisas da Vida. Todos podemos encontrar formas pessoais
de fazer as coisas sem exagerar pelo desejo exclusivo de ser apenas diferente dos
outros. Criar algo significa buscar o melhor que possa ser feito. É também saber
encontrar as saídas para os complexos problemas da Vida de uma maneira própria;
é usar a criatividade em todas as situações da Vida. Dentro da dimensão criativa
deve-se buscar desenvolver a intuição como ferramenta poderosa, não só na
solução de conflitos como também no próprio crescimento espiritual. Estar resolvido
nessa dimensão é buscar cada vez mais estabelecer conexão profunda com sua essência
divina interna, que, em nome de Deus, promove o encanto da Vida.
O desapego é exercício essencial na jornada de iluminação. À medida que
contatamos com nossa própria criatividade e autonomia, precisamos nos desligar das
exigências para com as pessoas e as situações da Vida. Os sentimentos de posse decorrentes
do medo de sermos abandonados por aqueles aos quais entregamos a responsabilidade
de nos fazer felizes, deturpam a natureza das relações afetivas e geram padrões
escravizantes. Ao desenvolvermos o desapego, amando com liberdade, poderemos cultivar
a alegria de viver em paz...
Somos todos caminhantes ao nos colocarmos em busca da realização interior, motivados
pelo desejo de encontrar o significado da própria existência. Nessa estrada, inexorável
e invariavelmente, nos depararemos com sombras ameaçadoras, representantes de nosso
passado [desta e de outras encarnações], das quais não devemos fugir ou nos proteger,
evitando-as. Elas são sinalizadoras de que é chegada a hora de questionar os valores
sobre os quais alicerçamos a nossa Vida até o momento. A crise é o início da jornada,
e deveremos estar dispostos a sacrificar certas características pessoais, pois daí
virá a reformulação dos aspectos da personalidade que perpetuam as repetições do
passado.
O caminho da iluminação é árduo e difícil para quem estabelece como paradigma
de Vida a matéria e tudo que lhe diga respeito. A percepção da Vida espiritual e
suas consequências, possibilita tornar a jornada menos penosa e sacrificial. Iluminação
no caminho é consciência de eternidade e de presença divina consigo.
A jornada longa não é uma via crucis, nem tampouco um mar de rosas; é
o caminho traçado por cada um, que lhe dará forma própria, de acordo com seus méritos
e seu passado. (Mateus, 16:27.)
Iluminar-se é ter confiança em si mesmo, é viver sem ressentimentos, sem vínculos
desnecessários, sem exigências às pessoas. É trilhar nos próprios passos a estrada
que a Vida oferece, procurando enxergar os outros como companheiros de viagem. É
compartilhar a própria Vida, colocando-a a serviço de Deus junto à Humanidade,
em favor de si e do próximo. A Vida é um dom de Deus que merece ser dividida com
as pessoas à nossa volta. O viver egoísta, isolado em si mesmo, não possibilita
a iluminação.
O caminho da iluminação pessoal leva-nos a compreender as verdades possíveis,
a falar pelo coração, a entender poeticamente a Vida e a agir com amorosidade. É
a paz que tanto almejamos e que ainda não percebemos que se situa tão perto de nós.
A fé não deve levar-nos a pensar que já ultrapassamos as várias fases da Vida.
Algumas etapas têm que ser vividas a fim de alcançarmos certos valores necessários
ao espírito feliz. Para entrar no caminho da iluminação não basta a fé, é preciso
o contato com a nossa natureza material, bem como viver os processos inerentes a
ela. Iluminar-se é estar resolvido nas várias dimensões da Vida. É aprender a lidar
com o que efetivamente não se tem, isto é, com a ausência de tudo, mesmo se tendo
alguma coisa, pois nada pertence ao ser humano que não esteja nele mesmo, que não
seja ele mesmo.
É preciso objetivar, isto é, ter objetivos na Vida além do desejo de solucionar
os problemas comuns. Não se determinar para uma única tarefa na Vida, mas para a
própria Vida como um todo. Buscar finalidades e objetivos para a Vida além de resolver
conflitos, por mais graves que sejam, isso é dar um passo a mais para se viver bem
e feliz.
Iniciar um processo de autoiluminação é espiritualizar o próprio olhar sobre
o mundo, colocando o amor na consciência, inundando a razão do sentimento de amorosidade.
Nossas idéias e raciocínios passam a ser dinamizados pelos sentimentos superiores
oriundos do espírito, dotado de amor e sabedoria. Nesse momento alcançaremos a prosperidade
e tranquilidade na Vida. Ser próspero é estar resolvido nas várias dimensões, e
isto ocorre quando atuamos no mundo com amor e sabedoria".
1 - Jesus. (Jo., 8:12.)
2 - Kardec, A. "O Livro dos Espíritos" - Questões 115 e 121
3 - Novaes, Adenáuer Marcos Ferraz de "Psicologia e Evangelho"
(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 2000)
_______________
Fonte: Portal do Espírito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário