Eternidade

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sábado, 25 de janeiro de 2014

ORFEU E A IMORTALIDADE DA ALMA



Orfeu e a Imortalidade da Alma

Narram os mitólogos que Orfeu, o poeta trácio, ganhara de Apolo, o deus das artes, uma lira, transformando-a em cítara, alterando de sete para nove cordas em homenagem às nove musas; e porque fora abençoado por Calíope (a voz bela), a musa da eloquência, retórica e da poesia épica, ele cantava lindamente e, também encantava. Quando entoava seu canto era capaz de acalmar as feras mais terríveis, de amansar os homens mais tirãnicos e até as copas da árvores se reclinavam para ouvi-lo.

Todavia, Orfeu se apaixonou por Eurídice, uma bela ninfa e se casou com ela. Entretanto, um dia o apicultor Aristeu tentou violar a esposa do cantor da Trácia, ao fugir, Eurídice pisou numa serpente, que a picou, causando-lhe a morte. Inconformado com a morte da esposa, o grande vate resolveu descer às trevas do Hades, para traze-la de volta.

Orfeu, com sua cítara e sua voz divina, encantou de tal forma o mundo subterrâneo que as entidades que sofriam no tártaro tiveram momentos de alívio. Comovidos por tamanha prova de amor, Plutão (o deus dos infernos) e Prosérpina (sua mulher) concordaram em devolver-lhe a esposa. Impuseram-lhe, todavia, uma condição extremamente difícil: ele seguiria à frente e ela lhe acompanharia os passos, mas, enquanto caminhassem pelas trevas infernais, ouvisse o que ouvisse, pensasse o que pensasse, Orfeu não poderia olhar para trás, enquanto o casal não transpusesse os limites do império das sombras. O poeta aceitou a imposição e estava quase alcançando a luz quando uma terrível dúvida lhe assaltou o espírito: e se não estivesse atrás dele a sua amada? E se os deuses do Hades o tivessem enganado? Mordido pela impaciência, pela incerteza, pela saudade, pela "carência", o cantor olhou para trás, transgredindo a ordem dos soberanos das trevas. Ao voltar-se, viu Eurídice, que se esvaiu para sempre numa sombra, "morrendo pela segunda vez..."; ainda tentou regressar mas o barqueiro Caronte não mais permitiu.

De volta à superfície, Orfeu decide contar tudo quanto havia visto na região do Hades fundando uma escola teológica que haveria de influenciar Pitágoras, Sócrates e Platão.

A escola dos órficos pregava os seguintes princípios:

a) no homem se hospeda um princípio divino, um espírito (...);

b) esse espírito não apenas preexiste ao corpo, mas também não morre com o corpo, estando destinado a reencarnar-se em corpos sucessivos, através de uma série de renascimentos (...);

c) com seus ritos e suas práticas, a "vida órfica" é a única em condições de pôr fim ao ciclo das reencarnações, libertando, assim, a alma do corpo;

d) para quem se purificou (os iniciados nos mistérios órficos) há um prêmio no além (da mesma forma que há punição para os não iniciados).

Em algumas tabuinhas órficas encontradas nos sepulcros de seguidores dessa seita, entre outras, podem-se ler estas palavras, que resumem o núcleo central da doutrina: "Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes, não havias sofrido. De homem, nasceste deus!"¹


| Análise

Orfeu representa um canto sobre a imortalidade, sua tragédia simboliza a inconformação do ser em relação à morte e sua luta para compreender o porquê da vida.

Esse mito, evidencia e fundamenta a crença dos gregos na imortalidade da alma. Quando Eurídice é picada pela serpente, sua psiquê é levada para o Hades, onde continua viva na companhia dos outros "mortos". Orfeu, ao se dirigir para as regiões inferiores, comprova que aqueles que estão vivos, os encarnados, podem falar com os chamados "mortos", os desencarnados. Destarte, sob essa perspectiva, bradar de maneira dogmática que a alma é mortal, que a vida acaba com a morte do corpo biológico, sem se colocar à disposição para pesquisar e analisar seriamente as coisas, sem usar o logos (o raciocínio) proposto por Platão, sem voltar-se para si no "conheça-te a ti mesmo" é permanecer no orgulho e na desconfiança sem jamais ter certeza.

Todavia, mergulhando no mundo e nas tradições helênicas, "vendo" com o raciocínio, o que se constata é que para os habitantes das ilhas do Egeu a imortalidade da alma, bem como sua interferência na vida humana e o seu retorno ao corpo físico, faziam parte das tradições mais sagradas dos gregos.


| O Espiritismo

O Espiritismo, como Terceira Revelação, através de metodologia própria, na chamada ciência Espírita, comprova mediante fatos aquilo que os gregos cultivavam em suas tradições. Desdobra, explica e completa esses ensinamentos. Não, o Espiritismo nada copiou das tradições helênicas, mas como a verdade é sempre a verdade, a Doutrina Espírita vem, agora que a humanidade está mais desenvolvida, explicar de maneira metódica e racional aquilo que estava na conta de "mistérios", vem ainda, colocar ao alcance de todos o que era reservado somente para os iniciados.

Com efeito, podemos constatar que as ideias de Orfeu influenciaram Pitágoras, Sócrates e Platão e estes dois últimos são considerados por Allan Kardec como os precursores do Cristianismo e do próprio Espiritismo.

Destarte, a filosofia Espírita, com as cinco obras básicas que a constituem, nos abre as asas da razão e nos permite voar nos céus da eternidade, entoando, junto aos poetas e filósofos mais ilustres da antiguidade, o canto da Imortalidade da Alma!

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¹ Giovanni Reale, História da Filosofia Antiga, vol. I, p. 18 e 19.

Fonte: Revista FidelidadESPÍRITA

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