Se a noite o surpreendeu de coração ferido ou de cérebro azorragado por amargos arrependimentos, não se renda à dor que lhe parece irremediável... Enquanto a sombra se estende ao longo do caminho, e a ventania sopra, qual lamentoso grito de angústia, fite as estrelas que cintilam nas alturas e siga adiante, ao encontro do novo dia.
Não pode? Tremem-se-lhe os pés sob o fardo da aflição? Enrijeceram-se-lhe as fibras da alma e não consegue nutrir um novo sonho? Erga uma prece à Esperança, o gênio da luz que nos permite antever o porvir imenso. Recolha-se à oração e ela virá, doce e infatigável enfermeira, balsamizar-lhe as chagas interiores e sustentar-lhe as energias semimortas. Atenda-lhe o apelo carinhoso e prossiga sem desfalecimento. Não embote o entorpecente elixir da inércia ou o fel corrosivo do sofrimento.
Aceite as sugestões do gênio amigo e reflita... Sentirá no próprio coração dores maiores que a sua, os pavores dos grandes infelizes, as úlceras cancerosas de milhões que, até agora, você não conseguirá ver. Então, inefável consolo baixará do Céu sobre a sua dor, aquietando-lhe a ânsia. Inexpremíveis sentimentos desabrocharão em seu Espírito, e seus braços se abrirão para acolher as ignoradas mágoas dos seres mais humildes da Terra.
Nem todos sabem avaliar essa virtude celeste. Muitos a transformam em vinagre de impaciência ou em tortura mortal, convertendo-lhe a bênção em estilete da enfermidade. Felizes, porém, daqueles que lhe guardam a sublime claridade no imo do Espírito, porque verão a sabedoria do tempo, adquirindo com a vida a ciência da paz.
Espera! - diz a noite - o dia voltará.
Espera! - clama a semente - o fruto não tarda.
Espera! - anuncia a justiça - e tudo recomporei.
Bem-aventurados, pois, quantos no mundo sabem aprender, servir e esperar!
Ditado por Vianna de Carvalho / Chico Xavier (livro: Falando à Terra, cap. 40).
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