quarta-feira, 27 de junho de 2018

Sob o amor do Cristo: A transformação de Maria de Magdala


As palavras amorosas do Mestre se alojaram em seu coração sensível 
como a boa semente quando encontra terra fértil

F. Altamir da Cunha


Jesus tem o poder de plantar na alma novos pensamentos; as facilidades e atrações mundanas, que antes proporcionavam prazer, transformam-se em acontecimentos entediantes. Alguns Espíritos se rebelam e relutam, tentando permanecer alheios ao compromisso com a mudança, porém, esta rebeldia nada mais é do que uma reação ao processo de transformação que se inicia em sua intimidade; outros, sem rebeldia, sentem-se vazios e melancólicos; os prazeres e a felicidade aparentes que antes lhes contagiavam perdem o sentido e são substituídos pelo desejo de conhecer o mundo novo e o amor diferente, aos quais Ele se referia.

Maria de Magdala, conforme relata Humberto de Campos, pela psicografia de F. Cândido Xavier em Boa Nova (FEB), foi um desses Espíritos; ouvira as pregações do Evangelho em local próximo à vila onde vivia entregue aos prazeres, e tomara-se de admiração pelo Mestre Jesus. Antes, porque dotada de juventude e formosura, imaginava-se feliz no mundo de fantasias, banhando-se com os melhores perfumes, embriagando-se com os melhores vinhos, vestindo-se com as melhores sedas e sendo desejada pelos homens mais ricos. Sentia-se, contudo, sequiosa e desalentada, mesmo usufruindo de todos esses prazeres.

O convite de Jesus à implantação do reino de Deus na terra e a uma forma diferente de amar despertara em Maria incomum curiosidade; desde então, fora possuída pelo desejo incontido de conhecer aquele carismático Galileu. Não entendia por que, mas as palavras amorosas do Mestre se alojaram em seu coração sensível como a boa semente quando encontra terra fértil.

Entretanto, como em todo processo de germinação, no qual a luta é imprescindível para vencer a resistência do solo, transformando a semente em planta tenra e depois árvore frondosa, Maria de Magdala a princípio lutou contra o medo e a insegurança. Tinha o coração sobrecarregado de culpa, porém não desistiu; lutou, venceu o medo, e sem mais considerar o preconceito de que era vítima, adentrou a casa de Simão Pedro; encorajada pelo sorriso do Mestre que parecia esperá-la, foi ao seu encontro. Nessa oportunidade aconteceu um dos mais belos diálogos, rico de espiritualidade e consolação, como relata Humberto de Campos:


– Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas, mas será que Deus me aceitaria?

– Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do reino e Deus te abençoou as alegrias! Acaso, poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai?

Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar-te o destino!

Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.


Para Maria, as palavras do Mestre foram verdadeiro refrigério para o seu coração sofrido; ela sentiu o imenso amor que irradiava daquele formoso Galileu, pois, somente quem ama de verdade pode manifestar tamanha compreensão. Entre os homens comuns observa-se, constantemente, a insensibilidade e a valorização do erro alheio, criando a oportunidade de punir e de fazer sofrer, como se ao impor a punição ao culpado se apagassem também suas próprias culpas. Com Jesus ela observou a imensa diferença: Ele não valorizou o erro, nem procurou um motivo para condená-la; valorizou, sim, seu arrependimento e o desejo sincero de transformar-se.

Ao dizer “Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do reino e Deus te abençoou as alegrias!”, o Mestre revelou-lhe que a sinceridade de seu propósito foi reconhecida por Deus; e a partir daquele momento o vazio interior causado pela fatuidade dos prazeres mundanos seria preenchido pela perene alegria que o amor verdadeiro proporciona.

Com certeza as palavras do Mestre elevaram a autoestima de Maria; ela agora compreendia que Deus é um Pai amoroso e que o amor é incompatível com a condenação ou o castigo.

Não só com Maria de Magdala, mas também com tantos outros Espíritos sofridos, Jesus demonstrou que o mais poderoso cinzel que utilizava para esculturar almas, sem sombra de dúvida, era seu imenso amor; jamais Ele falou de impossibilidade quanto ao trabalho maravilhoso de transformação do ser; sempre despertou a esperança aos que na condição de ruínas humanas o procuraram.

Maria de Magdala jamais esqueceria as palavras amorosas que acenderam em seu coração a sublime luz da esperança: “Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus.”

Sem dúvida, a esperança em Deus é a base indispensável aos que precisam renascer; não apenas através da reencarnação, mas, também, pela autotransformação (renovação íntima). No entanto, jamais acontecerá a autotransformação se não nos entregamos confiantes ao infinito amor de Deus. Tudo acontece como se fôssemos um recipiente cheio de impurezas, e o amor, tal como a água pura, à medida que ocupa lugar no recipiente vai eliminando as impurezas; chega o momento em que o recipiente não conterá mais impurezas; por isso, Jesus finalizou afirmando: “... o amor cobre a multidão dos pecados.”

Após esse inesquecível diálogo, Maria de Magdala se transformou e muito amou; não mais da forma que amou no passado, quando escravizada às ilusões do mundo, mas sim da forma que Jesus a amou. Tornou-se mãe dos filhos de outras mães; eram eles leprosos, abandonados, sofridos e estigmatizados no corpo e na alma.

Um dia, marcada pelas mesmas provações daqueles que ela cuidara, seu corpo extenuado, tombou no caminho que a conduziria à casa do caminho. Despertou no plano espiritual vendo Jesus a refletir uma beleza incomum, estendendo-lhe as mãos e dizendo: “Maria já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”

A exemplo de Maria de Magdala, nós todos, Espíritos em luta rumo à perfeição espiritual, podemos olhar para trás e constatar comportamentos infelizes que muito contrariaram as leis de amor que regem o Universo. No entanto, se sinceramente nos transformamos e passamos a amar, não valorizamos os efeitos dos nossos equívocos mais do que a infinita misericórdia de Deus, pois, através de Jesus, Ele nos dirá: “Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”



- XAVIER, Francisco Cândido. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. FEB.
Fonte: Revista Internacional de Espíritismo - junho/2018.

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