Eternidade

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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sentimento e Obsessão


"Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, 
vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração." 
(S. Mateus, cap. XIII, vv. 18 a 23.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XVII - item 5


Costuma-se relacionar obsessão com condutas viciosas como alcoolismo, tabagismo, sexolatria e outros vícios corporais. Entretanto, existe uma infinidade de conúbios obsessivos ainda não investigados que se operam em decorrência dos estados psicológicos e emocionais do ser humano.
Obsessão é uma interação de mentes que evolui no tempo através da sustentação de vínculos pela Lei de Sintonia, mantendo duas ou mais criaturas ligadas pelos seus interesses. Alterando ou deixando de existir tais interesses, a vinculação passa a ser circunstancial. Chamamo-la de pressão psíquica.

Que processos interiores experimenta a alma para que estabeleça um circuito de forças mentais dominadoras? Que estados psicológicos e emotivos servem de base na constrição mente a mente?

Analisemos, didaticamente, nesse terreno sutil, a sequência de interação mental mais frequente a partir da intenção obsessiva, nutrida por um Espírito desencarnado sobre as "brechas" oferecidas pelo encarnado.

Etapa um
. Existe a intenção do agente (obsessor).
. São acionados elementos de sintonia no receptor (obsidiado).

Etapa dois
. O agente invade os limites psicológicos e emocionais do receptor.
. Permissão do receptor.

Etapa três
. Produção de clichês induzidos.
. Assimilação de ideias intrusas e surgimento do conflito mental.

Etapa quatro
. Sugestões hipnóticas de manutenção.
. Enfraquecimento da vontade.

Etapa cinco
. Implantação de tecnologias
. Adesão intencional ao plano do agente indutor através do sentimento.

Etapa seis
. Evolução e sofisticação do domínio sobre o receptor.
. Dependência através de simbiose afetiva compartilhada.


Adotando a progressividade didática utilizada pelo senhor Allan Kardec no capítulo XXIII de O Livro dos Médiuns, assim se enquadram as etapas acima referidas:

1) Obsessão simples - estabelecimento da sintonia - etapas 1 a 3.
2) Fascinação - invasão dos limites alheios - etapas 4 e 5.
3) Subjugação - simbiose - etapa 6.


Na educação interior, certos comportamentos sujeitam-se à obsessão. Ao longo do tempo, os embates interiores causam em alguns discípulos espíritas a sensação de "fadiga na alma". Os esforços e vitórias parecem insignificantes e infrutíferos. Um nocivo sentimento de inutilidade toma conta da vida mental. Desponta a dúvida e com ela multiplicam-se as perguntas sobre a validade de perseverar. Não estará faltando algo? Melhorei de fato? Estarei sendo hipócrita?!

Nessa "hora psicológica" nascem muitas obsessões. Discípulos sinceros que sacrificaram longamente na conquista de si próprios estacionam em lamentação e descrença, desprezando as vitórias e fixando-se no derrotismo e na acomodação.

Um dos pontos educacionais da auto-aceitação consiste em valorizar os nossos esforços de reeducação espiritual - ponto crucial na conquista de condições psicológicas adequadas ao crescimento interior. Quando não valorizamos o que já podemos realizar, abrimos a frequência da vida interior para a descrença, o desânimo e a desmotivação, convidando os famanazes da maldade para que dilapidem os tesouros de nossa vida íntima.

Façamos agora, portanto, uma radiografia da exploração obsessiva sobre o sentimento de "menos valia" ou baixa auto-estima", valendo-nos das etapas supra enumeradas.


Etapa um
. O agente encontra campo vibratório para sua intenção constritora.
. A sensação de incapacidade é aceita pelo receptor, através de suas próprias crenças derrotistas programadas no inconsciente.

Etapa dois
. O agente penetra a vida psíquica do receptor e estimula o sentimento de indignidade já presente na "vítima".
. Adesão espontânea no clima da revolta em função das frustrações da vida.

Etapa três
. O agente trabalha com informações sobre as mazelas de seu alvo.
. São criadas as justificativas autodefensivas para a conduta invigilante.

Etapa quatro
. Sugestões hipnóticas de autodesvalorização através de ideias imaginárias do desprezo de outrem.
. Estado íntimo de insatisfação consigo próprio, levando à culpa e apatia ante os ideais superiores.

Etapa cinco
. Tecnologias avançadas para instalar a descrença - o sentimento básico para consumar uma queda moral.
. Estado íntimo de falência cujo nome é desânimo - a doença de quem desistiu.

Etapa seis
. Exploração do receptor nos programas de ataque e interferência na sociedade carnal. "Assalariado carnal".
. Total dependência em quadros de adoecimento psíquico.


O conceito de vigilância vai muito além de disciplinar os pensamentos. É no campo do sentimento que nasce esmagadora maioria das obsessões. A capacidade de "pensar livre" ou decidir por nós é "quase nula" no concerto universal. Vivemos em regime de contínuo intercâmbio e interdependência.

Nesse contexto fenomenológico da vida mental não será incoerente afirmar que todos respiramos, em maior ou menor grau, nas faixas da obsessão. A questão é saber se somos por ela dominados ou se a temos sob nosso controle. Sob essa ótica as obsessões são convites educativos contidos nas Leis Naturais para nosso aprimoramento.

Somente a oração ungida pelos sentimentos elevados, a intenção nobre e perseverante, seguidas da conduta reta, podem estabelecer um clima de autonomia psíquica desejável, que nos defenda da dominação dos interesses inferiores à nossa volta.

Essa autonomia interrompe o processo na "etapa dois", quando elabora no terreno dos sentimentos o auto-amor - reconhecimento de nossa pequenez, seguido da alegria de poder contar sempre com a manifestação da Divina Providência em favor de nossas vastas necessidades espirituais.

"Quem quer que escuta a palavra do reino e não lhe dá atenção, vem o espírito maligno e tira o que lhe fora semeado no coração."

Com sua habitual lucidez Jesus estabeleceu em Mateus, capítulo quinze, versículo dezenove: Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.

Só carregamos por fora o resultado do que temos por dentro.


por Ermance Dufaux e Wanderley S. de Oliveira
obra: Escutando Sentimentos 


 

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