Eternidade

Eternidade

sábado, 31 de outubro de 2015

Considerando a Fé






A fé é uma necessidade espiritual da qual não pode o espírito humano prescindir.

Da mesma forma que o corpo haure no ar e no pão os recursos de manutenção e preservação do patrimônio celular, o espírito necessita da fé que vitaliza e renova, dinamizando forças de difícil classificação que encorajam tonificando a organização física e psíquica na tarefa valorosa de progredir.

Alimento sutil, a fé é o tesouro de inapreciado valor que caracteriza os homens nobres a serviço da coletividade.

Graças a ela renova-se a face da Terra, consomem-se os abismos na voragem do realizar, modificam-se paisagens, alteram-se feições... com ela cessam agonias, retemperam-se ânimos, multiplicam-se luzeiros, erradicam-se males...

Estrela, clareia noites da alma.
Chama, aquece corações.
Pão, nutre esperanças.
Roteiro, conduz vidas...
Conhecê-la, guardando-a no íntimo, é tarefa que a todos nos devemos impor, no abençoado desiderato de nossa imortalidade intransferível.
"Se tivésseis fé" - disse o Senhor.






Seguro da existência de terras do horizonte do mar, Colombo avançou, intimorato, e descobriu a América, apesar de todos os opositores.

Cônscio do dever, Damião de Vesteur, jovem sacerdote belga, abandonou sua pátria e demandou Molokai, onde a lepra fizera seu reduto, e abriu novos horizontes à fraternidade, malgrado o cepticismo de todos.

Fascinada pelo amor fraternal, Florência Nightingale deixou as fantasias feminis e demandou a Crimeia, elaborando com a sua filantropia invulgar as bases a futura Cruz Vermelha Internacional, lutando contra todos...

Alexandre Yersin, pesquisando, entre sarcasmos e ironias, identificou o bacilo específico da preste, apesar das dificuldades enfrentadas.

Denis Papin, em Mundern, acompanhou desolado a destruição do seu barco, por todos considerarem impossível a aplicação da máquina a vapor de pistão para a navegação, mas não desistiu.

Jesus, ante a mulher sírio-fenícia, lecionou a grandeza da fé. E ante o cepticismo dos que o seguiam, levantou da sepultura Lázaro que dormia, para atender ao confiante apelo de Maria, irmã do cataléptico...





 
Não esperes que a fé te busque o país da alma, qual hóspede inesperado que chega, após viagem bem sucedida.

Examina a aflição que te alcança o domicílio mental e lança-te no intrincado meandro do estudo das causas, do culto da oração, meditando para discernir e discernindo para acertar.

A fé não se doa, não se transmite.

Chama divina arde em todas as almas, aguardando o combustível do esforço de cada um para agigantar-se e clarear por dentro como mensagem de Deus.

Mediante as lições do Espiritismo aprendes, através dos impositivos do raciocínio, que "fé legítima só o é aquela que pode enfrentar face a face a razão..."

Raciocina crendo, e, se te faltarem os tesouros do discernimento ideal, crê por amor e dá-te ao amor de nosso Pai que tudo nos dá, deixando-te arrastar pelos rios da bondade e do bem em favor de todos, transformando-te em lume e calor para as horas de sombra e frio, no imenso caminho por onde segues, até que duas alvas mãos, como asas angelicais, tomem as tuas mãos e pela libertação desencarnatória te conduzam aos infinitos limites de consciência livre, onde, feliz, constatarás em paz a resposta da fé, virtude libertadora.
 
 
 

por Joanna de Ângelis, livro: Lampadário Espírita
Médium: Divaldo Franco


sábado, 17 de outubro de 2015

O Reino Transitório e o Permanente



As notícias voavam céleres de bocas a ouvidos ansiosos, informando os acontecimentos que tinham lugar por toda a Galiléia.

Os viajantes, que atravessavam o Jordão na direção do Oriente, levavam as informações do que estava se sucedendo naquela região.

Ainda não havia sido silenciada a voz do Batista, e o Seu encanto atraía outras multidões esfaimadas de amor e de esperança, que Ele nutria com ternura como dantes jamais se vira igual.

Era Profeta, porém se situava acima dos profetas do passado; ensinava o amor, no entanto vivia-o em clima de harmonia; referia-se a Deus com respeito, entretanto comungava com Ele em doce convívio.

Jesus era o Messias esperado, que começara na humilde Galiléia, onde os corações eram mais afetuosos e os afazeres mais cativos: a pesca, o pastoreio, a agricultura... sem espaços mentais para as celeumas intermináveis em torno da Lei, a respeito da governança ignóbil disputada pelo romano desdenhoso e pelo Sinédrio arbitrário, todos porém, esmagando o povo, de que se utilizavam para explorar e afligir...

Aquela região, fresca e romanesca, tinha o seu espelho líquido onde o Sol diariamente se banhava entre os perfumes que se evolavam dos rosais silvestres misturados com as madressilvas miúdas que enxameavam na relva verdejante.

Oliveiras antigas desenhavam arabescos variados nos troncos retorcidos, enquanto as ondas se arrebentavam incessantemente entre seixos e conchas espalhados sobre a areia de tonalidade creme.

À orla do lago Genesaré, também conhecido como mar da Galiléia, as aldeias, habitadas por gentes simples, se multiplicavam entre as cidades de maior porte como Magdala, Dalmanuta, Cafarnaum... À noite, quando as lâmpadas de barro vermelho acendiam suas luzes, o poema da Natureza se apresentava em tonalidades bruxulenates e festivas contrastando com as estrelas alvinitentes que fulgiam no zimbório escuro e cheio de mistérios...

Naquelas regiões, entre as vozes humanas e as onomatopéias, o Cantor entoava o Seu hino à vida em poemas de inefável amor que arrebatava, enquanto Suas mãos caridosas limpavam as rudes penas que explodiam em pústulas virulentas, que afligiam os infelizes que dele se acercavam. O Seu querer alterava os acontecimentos e os fenômenos da misericórdia de Deus se tornava realidade, produzindo júbilo e encantamento.

Os anciãos, por quase todos desdenhados, sentiam-se apoiados no cajado da Sua palavra vigorosa; as crianças, bulhentas e pouco compreendidas, silenciavam enquanto eram atraídas pela luz dos Seus olhos, e os Espíritos perversos fugiam da Sua presença.

Mesmo aqueles que se haviam tornado Seus adversários, movidos pela inveja doentia e pela perversidade em que se compraziam, ao enfrentarem-no receavam o Seu poder, ante o qual se sentiam amesquinhados.

E Ele falava a respeito do reino dos céus em uma dimensão a que não estavam acostumados aqueles que o buscavam.

Não obstante, as criaturas humanas, afligidas pelas próprias infinitas necessidades, pensavam exclusivamente nas questiúnculas do dia-a-dia, nos problemas da sobrevivência física e do conjunto social.

Faltava-lhes amplitude mental e largueza de visão para penetrar nas propostas libertadoras que a Boa Nova lhes trazia.

Ele, no entanto, não se incomodava, ensinando sem cessar.

Naquela oportunidade, a multidão se fizera superior a qualquer expectativa, de tal forma que, reunida em alguns milhares, estavam a ponto de se pisarem uns aos outros, quando Ele começou a ensinar, despertando para as realidades profundas do ser espiritual.

- Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a descobrir-se nem oculto que não venha a conhecer-se.

Havia na voz enérgica uma ressonância de advertência a respeito da conduta que se deveria manter. A hipocrisia é morbo da alma que contamina e deixa sequelas devastadoras por onde passa, e se tornara característica predominante no comportamento dos fariseus, que se perdiam em discussões estéreis a proveito próprio, sem nenhuma consideração por quem quer que seja.

Todos os comportamentos hediondos, mesmo aqueles que ficam desconhecidos e são mascarados pelos processos perversos do poder transitório dos homens, tornam-se conhecidos e malsinam aqueles mesmos que se lhes entregaram. A vida é uma canção de luz, sempre renovadora e rica de realidades.

Prosseguindo, acentuou com a mesma energia:

- Por isso, tudo quanto tiverdes falado nas trevas ouvir-se-á em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido em lugares retirados, será proclamado sobre os telhados. Digo-vos: Meus amigos! Não temais aqueles que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer. Temei Àquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer.

O relacionamento humano e social exige lealdade de uns indivíduos para com os outros, de respeito e comportamento de cada qual, buscando-se sempre a própria melhor conduta e a imensa tolerância para com as defecções do próximo, porquanto aquele que erra fica assinalado em si mesmo a sua aflição, não necessitando de maior carga de punição.

Por isso mesmo, a maledicência, a calúnia, a informação malsã não têm lugar na convivência saudável, naquela que é inspirada pelo Evangelho, porquanto tudo se torna conhecido e desvelado.

Nesse sentido, a divulgação da verdade, não pode ser prejudicada pelos temores injustificados em torno das ocorrências punitivas aplicadas pelos homens, que são transitórios e não vão além das fronteiras do corpo. No entanto, Aquele que é o Poder e que acompanha o ser após o decesso celular, este sim, merece respeito e consideração, porquanto é Quem julga as condutas, encaminhando os infratores para as regiões de sombras e sofrimentos.

No silêncio que se faz natural, Ele se proclamou Filho de Deus, exigindo fidelidade a quantos desejassem segui-lo, declarando a sua convicção na Mensagem e na entrega total ao novo padrão de vida.

Definiu rumos do futuro e as vicissitudes que aguardam os idealistas e semeadores da esperança nos solos castigados pela canícula das paixões selvagens e perversas.

Também os animou com a promessa de que sempre e em qualquer situação os Espíritos sublimes inspirariam aos Seus seguidores, jamais os deixando a sós e sempre oferecendo-lhes os recursos de sabedoria e paz.

Pairava no ar uma dúlcida consolação que pulsava nos sentimentos emocionados.

Não obstante,  alguém, rompendo do silêncio natural, gritou:

- Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança!

Não poderia ser mais inusitada e absurda a solicitação, destituída de conteúdo nobre, porquanto as propostas diziam a respeito a outro reino, distante do mundo fugaz, e a criatura se encontrava encurralada no interesse mesquinho e imediato do poder e do prazer.

Conhecedor da alma humana e do labirinto pelo qual transita, o Mestre respondeu sem perturbar-se:

- Homem, quem me constitui juiz ou repartidor entre vós? Olhai, guardai-vos de toda a cobiça, porque mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.

Silenciou por um pouco e narrou, comovido, uma incomparável parábola:

- Havia um homem rico, cujas terras lhe deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer dizendo consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Depois continuou: Já sei o que vou fazer, deitarei abaixo os meus celeiros e construirei uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois direi à minha alma: Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém disse-lhe: - Insensato! Nesta mesma noite pedir-te-ei a alma: e o que acumulaste para quem será? - Assim acontecerá ao que entesoura para si e não é rico em relação a Deus.

Um sentido exclusivo tem a existência humana: a preparação para a sua imortalidade espiritual. Todos quantos transitam no carro físico, deixam-no e seguem com os valores amealhados emocionalmente, sejam quais forem.

A Vida estua além da dimensão do corpo carnal, exuberante e luminosa, aguardando todos que a enfrentarão.

amealhar para as necessidades humanas constitui um dever, porém repartir e multiplicar através da divisão em favor dos outros que padecem carência, é tornar-se rico de plenitude e de recursos que nunca se consomem, porque de sabor eterno.

Jesus não é juiz iníquo, nem severo julgador para impor aos outros o que devem fazer e a programação das leis já estabeleceu o que é indispensável a uma existência harmônica.

É o Embaixador de Deus, que veio despertar a consciência humana para a realidade imortal.

Ainda por muitos anos Ele será buscado para solucionar pendengas e paixões, atender a caprichos e resolver problemas, que são necessários para o crescimento individual do ser como na coletividade na qual se encontra. Não obstante, a Sua mensagem pairará soberanamente acima das dissidências e dos caprichos das criaturas e grupos, seitas e doutrinas, trabalhando pela fraternidade legítima e pela união de todas as pessoas que anelam pela felicidade total.

Mesmo desfigurados Seus ensinos, rejeitadas Suas lições, subestimados Seus conceitos pela presunção de alguns, Ele permanecerá como o grande divisor dos tempos, aguardando e inspirando.

(*) Lucas 12 - 1 a 21
Nota da Autora espiritual



Fonte: pelo Espírito Amélia Rodrigues e Divaldo Pereira Franco
livro: Até o Fim dos Tempos



 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Mensagem do Dia




A doutrina espírita é a 
medicação recuperativa das nossas  vidas.

Sua "substância ativa" é o Evangelho.

Sua "bula" é estritamente individual.

Para cada um haverá 
uma dosagem e forma de aplicação. 


do Seminário "Educando os Sentimentos",
definindo os rumos da alma e do coração!
por Leonardo Pereira
 

 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Terra espera; Arai!


A Terra Espera; Arai!
José Carlos da Silva Silveira


Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!
Erasto



No capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec - Os Trabalhadores da Última Hora -, destacamos uma mensagem, assinada pelo Espírito Erasto, de alto significado para o Movimento Espírita. Trata-se do texto intitulado Missão dos espíritas, que trazemos a estas páginas, para reflexão.

A mensagem em referência traça o programa a ser desenvolvido pelos espíritas, com vistas à divulgação do Espiritismo, ressaltando o momento presente de transformação moral do Planeta como oportunidade inigualável para a realização dessa tarefa. Erasto sintetiza-o usando de magnífica imagem, que expressa vibrante convocação: Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!

Esse programa de ação se desdobra em três aspectos. O primeiro deles se patenteia na expressão o arado está pronto.

O arado é aparelho usado para arar a terra, a fim de prepará-la para receber a semente. Em nossa tarefa de divulgação da Doutrina Espírita, o arado pode ser entendido como os instrumentos que possuímos, ou detemos, para agir. São os nossos conhecimentos, as nossas experiências, as nossas disponibilidades, às nossas aquisições intelectuais e morais, as nossas possibilidades materiais e sociais, enfim, todos os talentos de que dispomos, convidando-nos, incessantemente a servir.

O arado está pronto. Assim é porque a Doutrina Espírita vem, ao longo do tempo, educando-nos para compreender a vida sob um novo prisma: o do espírito. Sob esse enfoque, possuímos já condições de usar os nossos talentos tendo em vista o bem geral e não apenas os nossos interesses pessoais, enquadrando-nos, assim, dentro dos parâmetros definidos por Karde para o verdadeiro espírita - aquele que se reconhece pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Dessa forma, para a ação que nos compete, falta-nos tão-somente um elemento: o exercício da nossa vontade. Daí apressar-se Erasto a concitar: Mãos à obra!, recordando Jesus, quando afirmou: Ni8nguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino de Deus. (Kycasm 9:62.)

Com efeito, é preciso pôr mãos à obra:

Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.

Não vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. (Erasto, Missão dos Espíritas.)

O segundo aspecto do programa vem descrito pela expressão a terra espera.

De fato, a terra espera a semente, pois é nela que esta deve germinar. Consoante ensina Jesus, na Parábola do semeador, mesmo a terra improdutiva pode receber a semente. Compete, porém, ao agricultor, quando necessário, preparar previamente a terra, para que a semente aí lançada tenha condições de germinar e dar frutos. De igual sorte, a Humanidade anseia por ensinamentos que a despertem ou estimulem para o progresso moral. Principalmente nos dias atuais, em que o Planeta está prestes a entrar em novo estágio evolutivo, vê-se uma carência generalizada de espiritualidade. Os homens desejam novos rumos para a sua vida, embora muitas vezes não saibam o que fazer para descobri-los. Assemelham-se, em tudo, à terra, segundo descrito na Parábola do semeador, encontram-se na expectativa de algo novo que os possa guiar por caminhos menos íngremes na busca de horizontes espirituais mais amplos; entretanto, enfrentam dificuldades para a recepção dos ensinos superiores, por não serem, ainda, em grande parte, maduros para compreendê-los. Como proceder, então, para preparar a terra dos corações humanos de modo que se torne, de alguma forma, receptiva aos ensinos do Espiritismo? Erasto aponta o caminho a seguir, descerrando-nos o terceiro aspecto do seu programa de ação: "arai!". A propósito, explica:

Ide e pregai. (...) Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!


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A fé é a virtude que desloca montanhas (...). Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda (...).

Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé.

Assim, é preciso [i]ir e pregar,[/i] não medindo esforços para que a Doutrina Espírita seja devidamente compreendida por todos.

A tarefa não é fácil. Mas, se o arado está pronto, e se a terra espera, o que nos compete é arar, pois, só assim, colheremos:

Um arado promete serviço, disciplina, aflição e cansaço; no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, chegam semeaduras e colheitas, pães no prato e celeiros guarnecidos. (Emmanuel, Pão Nosso, ed. FEB, cap. 3)

Torna-se necessário, contudo, tomarmos as devidas precauções, a fim de que o trabalho atinja dos resultados propostos pelos Espíritos Superiores. Nesse contexto, urge atentar para o real sentido das palavras de Erasto, quando comanda: Ide e pregai.

Em verdade, esse chamamento não se circunscreve à tarefa da divulgação do Espiritismo por meio da palavra, sob quaisquer das suas modalidades. Esse ponto Erasto apresenta, com extrema nitidez, na parte final da sua mensagem, in verbis:

Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, o vosso caminho e segui a verdade.


Pergunta. - Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?

Resposta. - Reconhecê-lo-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-lo-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-lo-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-lo-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei, os que seguem Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição.


Vê-se, claramente, nas palavras acima reproduzidas, que a exemplificação dos ensinos espíritas é a real garantia da correta divulgação do Espiritismo. E isso se torna perfeitamente lógico quando se compreende o valor da força do exemplo no processo de atração dos Espíritos, em quaisquer graus evolutivos em que estagiem.

Isto posto, poderíamos, com base na mensagem sob estudo, relacionar algumas qualidades morais necessárias aos espíritas para o bom êxito do seu trabalho na divulgação do Espiritismo. São as seguintes: ter fé, ensinar e praticar a caridade; consolar os aflitos; amar o próximo; ter perseverança, abnegação e desinteresse pessoal; ser capaz de conquistar para o bem.

Evidentemente, a aquisição dessas qualidades não é trabalho de um dia, constituindo-se, de fato, em meta sublime a atingir, em nossas lutas evolutivas. Nada obstante, não se pode negar que, à medida que as vamos adquirindo, mais se nos enriquece a ação doutrinária, e mais se amplia a nossa convicção de que não estamos incluídos dentre aqueles que, chamados para o Espiritismo (...) se transviaram.

Por outro lado, a busca das qualidades em apreço fortalecerá a união dos espíritas, ampliando, pelos esforços de uma ação conjunta, as possibilidades de expansão do Espiritismo. É o que deflui das seguintes palavras do Espírito de Verdade, constantes na mensagem Os obreiros do Senhor, também inserida no capítulo XX de O Evangelho segundo o Espiritismo:


Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: "Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra", porquanto o Senhor lhes dirá: "Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra."


A precariedade, por ora, das nossas qualidades morais diante do grave compromisso assumido junto à Doutrina Espírita não afasta a possibilidade de sentirmos, desde já, a alegria e a paz advindas do cumprimento do nosso dever. Nesse sentido, encontramos belíssima página de Emmanuel - intitulada No Paraíso -, inserida na obra Pão Nosso, cap. 81. Na referida página, o abnegado benfeitor espiritual situa todo aquele que desperta para as verdades do espírito na posição do chamado bom ladrão, a quem Jesus promete a entrada imediata no paraíso. São dele as palavras seguintes:


Podemos apresentar-nos com volumosa bagagem de débitos do passado escuro, ante a verdade; mas desde o instante em que nos rendemos aos desígnios do Senhor, aceitando sinceramente o dever da própria regeneração, avançamos para região espiritual diferente, onde tudo jugo é suave e todo fardo é leve. Chegado a essa altura, o espírito endividado não permanecerá em falsa atitude beatífica, reconhecendo, acima de tudo, que, com Jesus, o sofrimento é retificação e as cruzes são claridades imortais.


Ainda, para finalizar esta reflexão em torno das considerações de Erasto, a respeito da missão dos espíritas, trazemos a lume outra instrução de Emmanuel bastante significativa para o entendimento deste assunto. Trata-se da mensagem Crê e Segue, contida também no livro Pão Nosso, cap. 180. Com toda a delicadeza do seu espírito de escol, leciona Emmanuel:


Se abraçaste, meu amigo, a tarefa espírita-cristã, em nome da fé sublimada, sedento de vida superior, recorda que o Mestre te enviou o coração renovado ao vasto campo do mundo para servi-Lo.

Não só ensinarás o bom caminho. Agirás de acordo com os princípios elevados que apregoas.

Ditarás diretrizes nobres para os outros, contudo, marcharás dentro delas, por tua vez.

Proclamarás a necessidade de bom ânimo, mas seguindo, estrada a fora, semeando alegrias e bênçãos, ainda mesmo quando incompreendido de todos.


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Ora e vigia.
Ama e espera.
Serve e renuncia.
Se não te dispões a aproveitar a lição do Mestre Divino, afeiçoando a própria vida aos seus ensinamentos a tua fé terá sido vã.

Ante o exposto, forçoso é convir na permanência do cumprimento do programa de ação delineado por Erasto, e que se alicerça na exemplificação da vivência espírita. Arai! - exorta o benfeitor espiritual -, porque a terra espera. Urge fazê-lo sem detença, porque o arado está pronto.

É pela perseverança no bem que atrairemos os nossos irmãos em humanidade para a excelência da proposta de vida que o Espiritismo descerra, preparando os seus corações para a germinação dos ensinos superiores, que frutificarão em alegria e paz, proporcionando, para eles e para nós, a colheita farta da felicidade sem mescla.


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Extraído da Revista Reformador   nº 2072, novembro/2001