Eternidade

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domingo, 14 de setembro de 2014

A filosofia da dor, segundo o Espiritismo



Estudando-se atentamente a transformação progressiva das espécies em nosso planeta, vê-se claramente que um dos mais altos objetivos da Vida é o desenvolvimento da sensibilidade, faculdade primordial do espírito.

É pela sensibilidade que o princípio anímico se põe em relação com o Universo, pois, sem ela, impossível seria qualquer adiantamento intelectual e moral.

Nos corpos minerais, tal faculdade é mínima e manifesta-se em fenômenos muito simples, quais a compressão, a dilatação e as mudanças de estado, determinadas por variações térmicas, etc.

Nos espécimes vegetais a reação às influências externas já se faz notar de forma mais acentuada. Delas dependem a germinação, o crescimento, a floração, a frutificação e o amadurecimento dos frutos, etc.

Subindo um pouco mais na escala evolutiva, vamos encontrar, nos primeiros degraus do reino animal, uma variedade enorme de animálculos, esboços rudimentares da vida orgânica, bem mais sensíveis, naturalmente, nos quais, entretanto, a dor é ainda quase nula. Certas espécies inferiores, por exemplo, quando mutiladas, continuam a viver e a funcionar, sendo que seus membros, arrancados, rebrotam, como no vegetal. Outras há que, reduzidas a fragmentos, cada pedaço reproduz um ser semelhante ao primitivo.

À medida que o ser se vai tornando mais elevado, que seu organismo se torna mais complexo, principalmente seu sistema nervoso, mais se torna ele apto a perceber sensações e, quanto mais estas crescem, mais aumenta sua dor física.

Destarte, os vermes que servem de alimento às avezinhas não sofrem senão a milésima parte do que estas sofrem, quando são apanhadas por gaviões que lhes rasgam as carnes palpitantes; as aves, por sua vez, estão muito longe de sentir aquilo que sentem os cães, quando repreendidos, maltratados ou abandonados por aqueles a quem se afeiçoaram.

A observação diuturna dos fatos nos mostra que os animais superiores não só demonstram maior intensidade de sofrimento físico, como também uma dor moral incipiente, indício certo e seguro de que o sentimento e a inteligência estão a desabrochar neles. Mais um passo e ei-los adentrando as lindes do reino hominal.

Não podendo escapar à Lei que preside à Evolução, o homem, igualmente, quanto mais se adianta, mais chora, e quanto mais ama, mais sofre.

Mais chora e mais sofre porque, possuindo sensibilidade mais perfeita, não só está mais apto a sentir as feridas do próprio coração, como também porque, interessando-se por seus irmãos, partilha as dores e aflições que os atingem.

A Vida, porém, sempre repara os danos que causa e, na luta que o homem empreende para eliminar o sofrimento do mundo, cresce em inteligência e vê aumentadas suas forças morais.

Benditas sejam, pois essas lágrimas e esse sofrimento, pois são os fatores de sua ascensão.

Sim, essa maior capacidade de sofrer, consequência que é da maior capacidade de amar, constitui o preço de sua perfectibilidade, o que vale dizer, é o meio pelo qual há de chegar a Deus, fonte perene das alegrias mais puras e das mais inefáveis delícias.

O sofrimento é, pois, uma necessidade (temporária) à formação de nossa consciência espiritual e, tal como nosso planeta, que, com o decorrer dos séculos, saiu do caos, da desordem dos elementos, e caminha para a harmonia, também a Humanidade que o habita, através das existências sucessivas, sairá da ignorância, deixará o mal e vencerá a dor, para saborear, como mérito de seus próprios esforços, um estado de paz e de felicidade que compensará fartamente todos os sacrifícios feitos e todas as vicissitudes suportadas para obtê-lo.


por Rodolfo Calligaris
Extraído da Revista Reformador, de janeiro/1970

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