Eternidade

Eternidade

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Simbiose Espiritual


À semelhança de uma planta trepadeira, que, enroscando-se ou agarrando-se a outra, passa a nutrir-se dela, participando, de contínuo, dos acontecimentos de sua existência, há entre encarnados e desencarnados um processo de associação similar.
 
  Quando, desavisadamente, agasalhamos anseios de natureza inferior, e continuamente mantemos na tela mental ideias de origem viciosa, irradiamos para o plano extrafísico da vida aquele desejo, estabelecendo uma verdadeira "varredura". Deste modo, encontramos Espíritos que simpatizam com o mesmo objetivo, e que, percebendo nossa "busca", aproximam-se de nós, estabelecendo a parceria.
 
  A quantidade de mentes desencarnadas, ávidas de sensações físicas, é muito grande. Espíritos ociosos, negligentes, baldos de fé e de conhecimentos sobre os princípios que orientam a vida, vivem perambulando entre os encarnados. Muitos tentam desesperadamente manter-se o mais possível ligados à vida material, da qual não encontram coragem para se separar; outros, carregaram para a vida além-túmulo os vícios a que se escravizaram na vida física, e que estão a reclamar satisfação. Alguns, inconformados pela decepção de não haverem encontrado o céu que esperavam, mas que nada fizeram por conquistar, tentam dominar as mentes fracas que se ajustem aos seus estados de moralidade desequilibrada. Com isto, procuram manter-se o mais próximo possível de um estado de vida material, numa espécie de desforço por sua decepção ao se verem frente a frente com a realidade que não esperavam.
 
  O simples fenômeno da morte não modifica o estado moral e intelectual de quem desencarna; mas, ao contrário, faz o desencarnado sentir-se exatamente como sempre foi quando vivo, razão por que a satisfação daqueles objetivos torna-se imperiosa para o Espírito inferior. Assim, na medida em que são alimentadas fixações que interessem a ambos os parceiros, fica estabelecido um vínculo, criando-se a dependência mútua em que se comprazem, e que acaba por transformar-se em "necessidade". Esta parceria em geral prolonga-se por tempo indeterminado, já que é estabelecida passiva e voluntariamente, embora sem que os parceiros percebam que são os próprios promotores daquela situação. O encarnado busca continuamente alimentar-se das forças inferiores do desencarnado, o qual encontra  nele a "ponte" para manter vivas as sensações físicas a que se escravizou.
 
  Muitas vezes o vínculo é tão forte, e alimenta-nos a insânia com tal intensidade, que a sua supressão repentina poderia provocar-nos a falência, quiçá a desencarnação. Esta simbiose, muito mais frequente do que se possa imaginar, é a causa, em grande proporção, dos sofrimentos na crosta planetária, onde o homem pouco afeito às atividades espirituais elevadas prefere ignorar a realidade que o aguarda e render-se aos doces embalos dos gozos materiais e paixões mundanas, atendendo, com esta atitude, o desejo do parceiro desencarnado, e transferindo-lhe as sensações por ele esperadas.
 
  Para chegar ao resultado desejado, o hóspede explora a invigilância do seu hospedeiro, não com a intenção de prejudicar, perseguir ou vingar, mas de alimentar seus anseios através dele, estimulando-lhe as fraquezas, que procura enaltecer exaltando-lhe a vaidade, e sugerindo-lhe um desculpismo complacente, sempre que a consciência, infalível guardiã, o advirta do erro e do perigo iminente.

 Para romper os grilhões que prendem um ao outro, hóspede e hospedeiro, ouçamos a Doutrina Espírita: ela nos ensina não haver outro meio de vencermos a influência de um Espírito inferior, senão nos tornando mais fortes do que ele. No "orai e vigiai", o Cristo sintetizou a solução: orando, haurimos forças para resistir à tentação de nos rendermos; vigiando, nos policiaremos preventivamente, para evitarmos chegar ao estado de dependência. A chave para solução do problema estará em manter-se a mente ocupada, com assuntos de elevado conteúdo moral e intelectual, através da leitura, da frequência a palestras, conferências e cursos e, paralelamente, em nos dedicarmos à prática do bem em todas as suas formas e expressões, o que, além de dirigir nosso pensamento para estados vibratórios mais elevados, também nos favorecerá com a assistência mais estreita dos bons Espíritos, que, sempre atentos às nossas necessidades, procurarão estimular-nos os esforços, amparando-nos nos momentos de vacilação e dúvida.






por Mauro Paiva Fonseca
Revista Reformador nº 2.077 - abril/2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário