Eternidade

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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Simplesmente Viver


Simplesmente Viver




Há alguns anos atrás, chegou por aqui um garoto, na verdade um espírito com ar de menino. Queria viver a vida. Continuar a viver a vida. Não importava se aqui ou lá, onde havia vivido por 21 anos.

Tinha ânsia por viver. Desejava conhecer o mundo, pegar a onda perfeita, sentir o amor verdadeiro, escrever a melhor música. Tinha tanta energia vital que era impossível contê-lo.

Coração de ouro, como chamam por aí, distribuía afeto e sorrisos por onde passava. Era dono de uma alegria indescritível. Para ele não existia mal tempo. Sempre fora assim.

Antes de retornar ao corpo físico, abraçou cada membro da comunidade em que vivia, dizendo até breve. Desejava cumprir a missão que lhe foi delegada e retornar brevemente.

Sabia que a vida não seria longa e felicitou-se, pois, desejava voltar aos seus. Porém, ao nascer, apaixonado pela vida, deslumbrou-se. Agora desejava ficar, não mais partir. Desdobrado procurava os mestres que o acompanhavam e solicitou ficar mais tempo. O que foi concedido.

Não deu grandes tropeços, mas acabou por se descuidar. A ânsia do viver o colocou em risco. Colocou o que mais amava em risco: a vida. Em um dia ensolarado, depois das altas ondas que pegou, saiu com os amigos que se excederam na bebida. E foi através de um acidente que retornou, reduzindo o tempo que havia conquistado.




 Ao acordar por aqui, desconheceu onde estava e os que o circundavam. Todos, sem exceção, desejavam abraçá-lo e dar as boas vindas.  Adorou tudo aquilo. A recepção o acolheu e o acalmou.

Ao poucos foi reconquistando a consciência, mas não conseguiu retornar a vida anterior. Preferiu se manter com a mesma aparência e vitalidade (difícil de perder quando se desencarna antes do tempo certo).

Desejava viver aventuras. Continuou a perseguir a melhor onda, a buscar o amor verdadeiro, a melhor música... Embora, assim como na terra, não se impedia das obrigações.

Aos poucos, voltou ao posto de instrutor. Era amado por seus alunos. Desenvolvia estudos diversos sobre a natureza humana, porém, desviou sua atenção para os desejos ainda escolhidos na vida material.

Passava tardes inteiras no jardim, a compor a letra perfeita, para conquistar o amor perfeito. Nos tempos livres, voltava ao abrigo do lar para construir a prancha perfeita, para a onda perfeita, num galpão improvisado.

O tempo passou e sua alegria foi dissipando-se pouco a pouco. Já não olhava mais com entusiasmo o trabalho ou as buscas pessoais. Era possível vê-lo pelos cantos, a sonhar acordado com o que não mais existia, com o que havia ficado para trás.

Ao mesmo tempo a culpa dilacerava seu coração, pois já não se considerava um espírito primitivo que sucumbe aos desejos materiais.  Como foi possível chegar a tal situação? Questionava-se insistentemente.

Diferente dos amigos que o circundavam com amor e compreensão, não se acolheu, não se cuidou. Sentia-se incapaz de perdoar a si mesmo. Então, a cada dia mais, foi se desequilibrando mais e mais, até o suplicio do desespero.

Nada foi possível fazer, pois esta era a sua escolha. Os espíritos amigos rezavam, enviando-lhe energias salutares.

Alguns poucos, recém-chegados, desaprovavam a conduta da não interferência direta. Não compreendiam como alguém tão especial, tão amoroso e benevolente com todos, poderia ser abandonado a própria sorte. Lembravam-se de todas as vezes que foram acolhidos e, até, carregados por ele.




 O mestre amigo que estivera ao seu lado dia após dia, tanto na vida material como agora, retirou-se do quarto onde ele estava a descansar por longos dias, em tratamento. Foi ter com os menos experientes, deixando-o aos cuidados de uma querida companheira de jornada.

Reuniu-os numa pequena sala, onde se sentaram em círculo. Não havia mais de dez membros ali reunidos, quando chegou. Pouco a pouco, outros foram chegando, e a sala precisou ser ampliada.

Não só os menos experientes queriam acompanhar a palestra. Na verdade, muitos queriam permanecer fortalecidos diante a tão difícil decisão de deixar o amado amigo escolher seu caminho.

Calmamente, adentrou a sala e, posicionando-se no grupo, iniciou uma prece. Solicitava ao Pai, em sua infinita misericórdia, que se ampliassem os corações e as mentes dos que estavam presentes, para que suas consciências e sua capacidade de sentir fossem ampliadas.

Isso porque sabia que coração e mente fechados não absorvem a graça do conhecer, do discernir, do compreender. Confiante que aconteceria o melhor naquele encontro, agradeceu ao Pai e começou:



 


- Queridos irmãos, vejo que ainda não compreendem a dádiva do livre arbítrio. Podem ter estudado e experimentado as funções primordiais a que este presente divino se propõe, mas parecem não compreender a presença constante do Pai ao lado daqueles aos quais Ele presenteou.     

O Ser Divino conhece cada um de seus filhos e o grau de sua evolução intelectual, moral e espiritual. Portanto, não tem dúvidas aos quais pode conceber maior desenvolvimento desta prática do escolher, do decidir sobre sua própria vida.

O que não o impede de estar constantemente ao lado de cada um deles, pois seu amor por todos eles O faz preocupar-Se com a integridade de cada um. Mantem-se presente, acolhendo, amparando, orientando e respeitando-lhes as escolhas.

O Pai confia que cada um de seus filhos está predestinado a salvação das enfermidades que mesmo buscou, por isso, permite que eles escolham os caminhos que desejam e precisam para aprender a traçar a trilha que os levam de volta ao Seu amor.

Aguarda ansioso pela alegria do filho que retorna, porque conhece o caminho e escolheu segui-lo, ao mesmo tempo que compreende que cada qual tem seu tempo para traçar a sua jornada.

Os que pensam ser a derrota do amigo que sucumbe ao leito negam a existência da misericórdia e sabedoria Divinas. Duvidam do amor do Pai diante de um dos seus filhos.

Deus confia em nosso jovem amigo. Confia que ele está preparado para ampliar suas responsabilidades. Para tanto, permite que ele escolha usar o livre arbítrio que conquistou.

Elevemos nossos pensamentos e emanemos energias salutares ao nosso amado irmão que está submerso em si mesmo, em busca de respostas para seus questionamentos. Em busca da luz do conhecimento que somente se ascende, quando procuramos o “interruptor” e escolhemos usá-lo.

Agradeçamos ao Pai por Seu amor, por Sua misericórdia e confiança em nós. Confiança que precisamos aprender a ter perante Ele, perante nós e perante o outro.




 Todos os presentes silenciaram-se em si mesmos para uma conversa íntima com o Criador. E assim, permaneceram por algum tempo. Quanto ao mestre amigo, saiu em silêncio, rumo ao quarto do jovem amigo e manteve-se a sua cabeceira, a auxiliá-lo.

Joaquim, um espírito amigo.


Fonte: CACEF - Casa de Caridade, Esperança e Fé


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