Eternidade

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sábado, 22 de dezembro de 2012

Perguntas que o Centro Espírita nos faz


No livro Dramas da Obsessão, psicografado pela médium Yvonne Pereira, o Espírito Bezerra de Menezes¹ afirma existirem centros espíritas que se assemelham mais a clubes, citando as características que os distanciam da condição de templos religiosos e escolas de aprimoramento do Espírito Imortal.

Ao mesmo tempo que nos alerta quanto às distorções que podem ocorrer no cotidiano de nossos centros, ressalta que cada templo espírita tem sua ambiência específica. Esta ambiência, nós sabemos, resulta dos pensamentos emitidos, do tônus mental e emocional de encarnados e desencarnados que atuam em suas dependências. 

Isso nos faz pensar que cada Centro Espírita tem suas próprias características, muitas delas comuns e outras diferentes em relação aos demais. Isso se dá, entre outras coisas, devido aos objetivos dos fundadores, às prioridades estabelecidas pelos dirigentes, à região onde está situado e ao que se estuda em suas reuniões.

Num exercício imaginativo, admitamos que o Centro Espírita em que atuamos tenha vida própria, exatamente como nos desenhos animados ou filmes de ficção. Ele por certo externaria suas preocupações, alegrias e decepções. É possível que num dado instante ele nos dirigisse algumas perguntas, procurando sensibilizar-nos, levando-nos a refletir sobre coisas para as quais nem sempre damos muita importância. Provavelmente perguntaria: 

  1. Você tem conseguido vir aqui com mais assiduidade?
  2. Você tem criticado menos os que trabalham, e se apresentado mais para o serviço?
  3. Para colaborar ou prosseguir colaborando, você faz questão de cargos?
  4. O Espiritismo não exige santidade de ninguém, mas pelo menos aqui você tem procurado educar seus pensamentos e impulsos, sem perder a espontaneidade e sem deixar de ser você mesmo?
  5. Você tem procurado se aproximar mais daqueles que aqui estão e que considera sejam frios, distantes, antipáticos, vaidosos, centralizadores, procurando conhece-los melhor?
  6. Além de um hospital e de uma escola, você já percebe que sou também uma oficina de trabalho e que existe algo que você pode fazer por aqui?
  7. Estou sempre com as portas abertas para recebe-lo, mas gostaria de saber por que você me procura. Obrigação? Prazer? Dedicação? Necessidade? Dependência? Desencargo de consciência? Amor?
  8. Você tem permitido aos companheiros e companheiras espíritas, conhece-lo melhor? Tem priorizado suas relações ou apenas o trabalho?
  9. Você imagina quanto custa por mês manter-me funcionando?
  10. Tenho dado de mim o que posso para oferecer-lhe um mínimo de conforto, um espaço de trabalho, estudo, confraternização e crescimento. Você tem percebido e valorizado o que lhe ofereço? 
  11. Você tem aberto espaço para outros se revezarem com você nas funções que ocupa, ou é mais um a alegar a ausência de colaboradores, sem preparar com alegria e desapego os que estão à sua volta e que por timidez ainda não se candidataram ao trabalho?
  12. Quando você vai a um outro centro procura observar as coisas boas para incorporá-las à minha rotina ou percebe apenas os erros, dando graças a Deus por eles não existirem aqui?
  13. Você colabora quando pode ou é daqueles que abandonam o lar, esquecendo-se dos compromissos familiares assumidos para se refugiar em minhas dependências?
  14. Quando alguém se afasta de mim você tenta entender as razões, ou censura e lamenta sem procurar saber os motivos reais que levaram a pessoa a se ausentar?
  15. Você já consegue perceber que eu não tenho que ser igual a nenhum outro centro e que nenhum outro tem que ser igual a mim? Já entende que podemos ser diferentes em alguns aspectos, embora sigamos as mesmas diretrizes que estão na Codificação Espírita?

Responder com sinceridade a essas perguntas pode ajudar-nos a nos situar melhor em nossa relação com o Centro Espírita onde atuamos. Embora se diga que é fácil ser espírita dentro do centro e que fora dele é que os testemunhos são importantes, entendemos que nele existem desafios que se renovam e que se forem gradativamente enfrentados e vencidos, mais facilmente lidaremos com aqueles que se apresentam na vida social. Eis alguns desses desafios:

  • ser democrático sem ser permissivo;
  • ser sincero sem ferir deliberadamente os sentimentos dos outros;
  • falar para as pessoas e não das pessoas;
  • conviver com as diferenças;
  • não pensar apenas na boa execução da própria tarefa, mas colaborar, dentro do possível, para que os outros companheiros encontrem êxito e satisfação no que fazem;
  • aceitar cargos e encargos, a fim de não sobrecarregar os outros, sabendo o quanto é difícil agradar a todos;
  • aprender a aceitar críticas;
  • reconhecer o valor dos companheiros;
  • aceitar a colaboração e direção alheias sem se sentir diminuído.

Cada instituição social possui uma cultura que lhe é própria, que a caracteriza diante das demais e nos permite compreender porque funciona dessa ou daquela maneira. O Centro Espírita, por não ser um templo religioso tradicional, tem aspectos distintos dos templos das demais religiões. Isto percebemos não apenas na arquitetura, mas principalmente na aplicação dos princípios doutrinários no seu cotidiano.

Apesar disso, encontramos aqueles que se assemelham, e muito, a templos de várias denominações religiosas, em virtude dos atavismos de alguns companheiros que, interpretando a Codificação de forma muito pessoal, justificam tais procedimentos baseados naquilo que julgam tenha sido dito por Allan Kardec.

Ao analisar as características dos centros espíritas, o confrade Cesar Perri² chegou a uma classificação de dez tipos de centros, baseada nas suas observações e vivências. Vamos reproduzi-la a seguir, condensando-a e correndo o risco de mutilar ou simplificar demais o pensamento do companheiro. Os que desejarem te-la na íntegra bastará consultarem o seu livro.


Tipo Personalista
Sociedade centrada na pessoa do dirigente/médium, onde dificilmente ocorre renovação na liderança, havendo dificuldades na constituição de equipes.

Tipo Curador
O foco é o atendimento a pessoas necessitadas de "cura". Há pouco ou quase nada de informação doutrinária.

Tipo Igreja Tradicional
O ambiente é frio, as reuniões são rotineiras e não há estímulo à criação de vínculo do freqüentador com a instituição.

Tipo Salvacionista
Predomina um ambiente pseudo-evangélico, marcado por muita ingenuidade. Há preocupação de doação para os carentes e paira nesse tipo de centro uma atmosfera de missionarismo.

Tipo Oráculo
Há valorização exclusiva das consultas e de opinião de Mentores espirituais, o estudo é acessório e o exercício da mediunidade é a atividade principal.

Tipo Repartição Pública
Neste tipo de centro há convênio de toda a espécie, as pessoas especializam-se em apresentar propostas, realizar relatórios e prestar contas: visão apenas administrativa.

Tipo Linha Auxiliar de Governos
Desejando atender o próximo, o centro se atrela aos poderes políticos constituídos, ficando como uma espécie de "braço ou ramificação" destes. Isso se torna ruim quando a Direção perde a autonomia, submetendo-se às diretrizes do poder público e não às diretrizes espíritas.

Tipo Assistencial
Entidade fundada com o objeto de fazer assistência social, especificamente com crianças órfãs. A ausência de base doutrinária dificulta a formação de equipes e a solução foi a criação de um Centro Espírita para gerir a obra.

Tipo Doutrinário
Centro que procura introduzir curso de orientação e educação da mediunidade e curso básico de Espiritismo, como etapa preliminar para a introdução de companheiros em reuniões mediúnicas. Nesses núcleos, há formação de equipes e expansão no número de freqüentadores. 

Tipo Escola/Assistência
Nesse tipo há implantação de curso básico de Espiritismo e, sucessivamente, de cursos sobre a obra de Kardec e autores clássicos do Espiritismo. Com o crescimento da procura por cursos e integração dos freqüentadores nos trabalhos assistenciais, o centro amplia sua integração com a comunidade onde se localiza.


O fato é que o Centro Espírita representa um investimento conjunto de encarnados e desencarnados, visando divulgar o Espiritismo e criar ambiente onde a igualdade, a liberdade e a fraternidade possam ser vividas sob a inspiração do Evangelho de Jesus.

Pense nas perguntas que diariamente o Centro Espírita que você freqüenta lhe faz. Antecipe-se a elas inquirindo-se sobre o envolvimento que já é capaz de ter.

Observe o comportamento alheio, mas não copie ninguém; verifique a sua disponibilidade e em que medida deseja se envolver. Decidido a fazer a sua parte faça-a da melhor maneira, mas não se esqueça de que outros desejam ajudá-lo e outros precisam da sua ajuda, experiência e estímulo, a fim de produzirem cada vez mais, e, sobretudo, melhor.

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¹ PEREIRA, Yvone A.  Dramas da Obsessão,
pelo Espírito Bezerra de Menezes. 8. ed. 
Rio de Janeiro: FEB 1994, Conclusão III,
p. 145-152.

² CARVALHO, Antonio Cesar Perri de.
Espiritismo e Modernidade. São Paulo: 
USE, 1996, p. 80-84.

Fonte: Reformador nº 2123, fevereiro/2006.

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