Eternidade

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Violência na Visão Espírita


— Não há no Espiritismo, em seu corpo de doutrina, rigorosamente, uma doutrina criminológica que possa explicar a origem da violência. É verdade, todavia, que as suas teses cardeais incidem fundamentalmente, inevitavelmente, sobre algumas teses da Criminologia e da Psicologia Social. Uma delas, por exemplo, é a do ato criminoso nato. A filosofia espírita afirma que a predisposição criminal, ou a disposição para o violento, vem do espírito e não das glândulas, ou de condição instintiva da criatura, o que revelaria uma condição de imperfeição do Criador”.

O que a ciência vê como uma deformação de ordem puramente constitucional ou como instinto primordial do homem, ou, ainda mesmo, como aprendizado ou herança eminentemente cultural, a ciência espírita compreende por outro prisma, porque leva em consideração, sobretudo, os “antecedentes espirituais”, isto é, o conjunto de disposições e tendências do espírito, e não, propriamente, as anomalias e deficiências da constituição somática ou da estrutura psíquica ou social do indivíduo.

O Espiritismo não deixa de conhecer as ações advindas das glândulas ou das pressões sociais e instintivas da criatura. Entretanto, o que ele defende é que nenhum desses fatores tem predominância absoluta porque a maior ou menor propensão para a violência depende, principalmente, do grau de atraso ou adiantamento do espírito.

O germe da criminalidade ou da violência está em relação com o estado moral do espírito. As anomalias corporais são instrumentos adequados aos espíritos em determinados tipos de reencarnação, ou seja, há uma evidente correspondência entre a constituição somática e as provas pelas quais a criatura deverá passar.

O Espiritismo, entretanto, não leva suas conclusões ao determinismo absoluto. Em primeiro lugar, porque toda a sua estrutura filosófica-moral parte da premissa da responsabilidade do indivíduo pelos seus próprios atos e, depois, porque a subordinação do indivíduo as influenciações do organismo e das condições sociais estão na dependência da evolução moral do mesmo.

A visão espírita do que seja o livre arbítrio e o determinismo é de fundamental importância para o que pretendemos explicar. Para o Espiritismo, eles são conceitos complementares, porque coexistem em relação ao grau de adiantamento ou não do espírito. Só existe livre-arbítrio quando também está presente a responsabilidade.

A Doutrina Espírita admite o determinismo, mas é importante lembrar que, em sua abordagem, encontraríamos um determinismo “divino”, que é a aquisição do estado de felicidade (uma fatalidade que foi “imposta” a todos nós), e um determinismo “relativo”, em que o espírito recebe suas sanções morais sobre a base de provas e expiações, através das reencarnações sucessivas.

O Espiritismo, no entanto, possui, como um dos seus alicerces doutrinários, o livre-arbítrio, quando podemos ver, na prática, criaturas que conseguem, na razão de seu desenvolvimento espiritual, vencer suas próprias inibições físicas e resistir às pressões do meio onde vivem, sem fugir das experiências do mundo e sem apelar para qualquer meio de fuga.

Sendo assim, a Doutrina Espírita entende o violento como um doente espiritual e não como produto do meio social nem como resultado de uma degenerescência hereditária e, muito menos ainda, como um ser criado com instinto destruidor, do qual ele não pode fugir. Se o indivíduo fosse fruto de seu meio, toda a sociedade bem organizada teria como produto homens de bem. Do mesmo modo, se admitíssemos a tese da hereditariedade, o grau de criminosos numa família oriunda de pais criminosos teria que ser mais elevada do que vemos normalmente.

A tese instintivista, que atribui ao homem um instinto de destrutividade (em que fatalmente o homem iria se destruir), vai de encontro à visão espírita de Deus, já que a presença desse instinto, assim compreendido, não é compatível com a percepção de um Pai de Bondade e Amor.

(...) A Agressividade, lembra-nos Joanna de Angelis, “reponta desde os primeiros dias de vida infantil e deve ser disciplinada pela educação, na sua nobre finalidade de corrigir e criar hábitos salutares.”

A mais importante terapêutica é a prevenção. Ela exige que todos os adultos busquem o exercício do amor, sob a inspiração da doutrina de Jesus, entendam que precisamos nos moralizar, para que possamos realmente educar as novas gerações e oferecer-lhes um ambiente mais sadio e humano.

Richard Simonetti nos lembra que “quando a contenção da violência deixar de ser um problema policial e se transformar em questão de disciplina do próprio indivíduo; quando a paz for produto não da imposição das leis humanas, mas da observação coletiva das leis divinas, então viveremos num mundo melhor.”

Na realidade, o que observamos nos dias atuais é a leviandade de muitos mestres e educadores imaturos, sem habilitação moral para tais propósitos, ou seja, para a educação de novos indivíduos que aportam na crosta terrestre, facilitando a disseminação da violência e da crença de que esta forma de agir é capaz de resolver os problemas da humanidade.

O homem renovado espiritualmente deverá investir contra a chaga da violência através de sua ação reestruturante da sociedade, buscando suprimir a injustiça social, lutando contra todas as situações que fomentam a miséria econômica e instigam o ambiente pernicioso que ora vige, combatendo, acima de tudo, o orgulho, o egoísmo e a indiferença presente no coração de cada um. Nessa visão, o homem entenderá que ninguém pode se omitir sabendo que todo tributo de amor, como a paciência e todo o fruto de luz, como saber, são valiosos tesouros para o futuro na aquisição da paz tão almejada.

Diz o mestre Jesus, em o Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a Terra”, numa alusão clara de que só aqueles que vencerem seus impulsos violentos, fazendo-se construtor da paz, terá a oportunidade de habitar a Terra em seu período de regeneração.”

Jaider Rodrigues e Roberto L.V. de Sousa

Trecho do trabalho dos Drs. Jaider Rodrigues e Roberto Lúcio Vieira de Souza, intitulado “Visão Psicológica da Violência”, publicado no Boletim Médico-Espírita n.° 10.

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