Eternidade

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Tarefa de Allan Kardec


Gigantesca pela sua complexidade e difícil, graças aos muitos problemas, a tarefa de Allan Kardec, em plena metade do século XIX.
Exatamente no momento em que as mentes mais esclarecidas se libertavam da imposição dogmática, dando início à era da investigação racional com as armas frias da pesquisa científica, quando os postulados religiosos padeciam a pública desmoralização cultural dos seus aranzéis metafísicos, ele se permitiu adentrar pelos dédalos das dúvidas, a fim de aplicar os recursos da época na constatação da experiência imortalista.
Munido de uma inteligência invulgar e profunda acuidade racional, caracterizado por um senso de observação pouco comum, agiu com isenção emocional no exame dos fenômenos mediúnicos, deles retirando a vasta documentação filosófica que integra o Espiritismo.
Atuando sem pressa, e meticulosamente, não se permitiu influenciar por pessoas, ideias preconcebidas ou fatos isolados.
Em todos os momentos, esteve sempre munido de vigilância estóica, a fim de permanecer indene às agressões de adversários e aos encômios de amigos.
Trabalhando sistemática e ordeiramente, a pouco e pouco, do fenômeno mediúnico puro e simples arrancou a Doutrina Espírita, formulando questões momentosas, genéricas e específicas, sobre as várias e incontáveis inquietações em que se aturdia o espírito humano, recebendo significativas e sábias respostas, que transcorridos mais de cento e vinte anos [em 1977] permanecem atuais, nada se lhes podendo retirar ou acrescer.
Como é certo que os abençoados Mensageiros do Mundo Espiritual sempre deram esclarecimentos pouco comuns, face à estrutura e profundidade dos conceitos emitidos, não menos notáveis são os assuntos propostos que fomentaram e inspiraram os diálogos que permanecem insuperáveis.
Respondendo à crítica honesta com a lógica dos fatos, Kardec desmitificou a mediunidade, estabelecendo uma perfeita metodologia para o seu exercício, oferecendo instruções de segurança, ao mesmo tempo em que analisava os seus problemas e dificuldades com um critério absolutamente justo e seguro.
Situou muito bem, e distintas, as posições do médium e dos Espíritos, as diferenças entre opiniões isoladas e a universalidade do ensinamento espírita, não se arrogando quaisquer  situações de relevo ou chefia, antes pautando a conduta em plano de nobreza invulgar, especialmente se considerarmos a época em que a presunção, a fatuidade e o orgulho descabido mais se exaltavam.
Cordial e acessível, não se fez vulgar nem comum a pretexto de uma popularidade que, afinal, nunca lhe interessou.
Sabendo, exatamente, qual a missão que lhe cumpria desempenhar, ateve-se ao ministério com reta austeridade, envidando todos os esforços até a consunção das forças para o seu desempenho.
Soube repelir com elevação de propósitos a mordacidade dos frívolos e a perseguição gratuita da ignorância, sem deixar-se espezinhar pela mesquinhez de combates e balbúrdias dos precipitados.
Manteve-se sóbrio no opinar e meditativo no exame das ruidosas ocorrências do campo das afirmações sem base. Tudo caldeou, confrontou e aferiu até que brilhasse no diamante da verdade o enfoque puro, em forma de lição libertadora de consciências.
Sem jactância, não se arreceava corrigir o que fosse necessário, e embora não se fizesse portador da última palvra, denunciava o erro onde este se encontrasse, mantendo-se digno, sem descer, porém, à disputa injustificável ou ao palavrório insensato.
Não era fácil o empreendimento!
Num campo eivado de superstições, crendices e lendas, qual o que se referia aos Espíritos desencarnados - por uns considerados deuses, anjos, demônios; por outros temidos ou envoltos nas confusas práticas da magia e do absurdo, e ainda desacreditados e sempre confundidos por certa estirpe de pensadores presunçosos que se tinham em tal posição cultural que lhes parecia humilhação qualquer envolvimento com eles -, Allan Kardec demonstrou por processo claro e científico tratar-se simplesmente das almas dos homens que viveram na Terra, cada um prosseguindo conforme suas aquisições morais.
Desmitificou a morte, fechada em enigmas e cercada pelo conceito do sobrenatural, perdida no fantasioso e no absurdo, provando que morrer é somente mudar a forma de viver sem transformação intrínseca por parte daquele que se transfere de um para outro plano vibratório.
Provou à saciedade a paranormalidade dos fenômenos, retirando das fantasias e do medo quanto dizia respeito à Vida Espiritual, comprovando que o inabitual é normal, jamais sobrenatural ou fantástico...
Corrigiu o conceito em torno do "culto aos mortos", cercado que vivia esse culto por excentricidades e liturgias totalmente vãs, fundamentando as instruções libertadoras na informação correta dos próprios mortos, sempre vivos além da cortina carnal...
Antecipou, através do exame dos fatos e das informações, incontáveis labores da Ciência, que os vem confirmando no suceder das décadas, havendo oferecido à Doutrina Espírita uma estrutura firme, científica, no contexto das suas afirmações.
Quando a fenomenologia medianímica, exuberante e farta, atraiu a atenção de sábios outros de várias especialidades científicas, estes, após demorados e respeitáveis trabalhos, apresentaram os seus relatórios sem nada acrescentar aos resultados publicados pelo gênio de Lyon, cuja probidade intelectual e científica o guindou à condição de verdadeiro criador da técnica metapsíquica de investigação, a princípio, e parapsicológica, depois.
Por essas e outras considerações o Espiritismo veio e ficou, dirimindo dúvidas e tornando-se guia seguro no báratro da vida hodierna, em favor de uma existência sadia e útil entre os homens, livre e ditosa no além-túmulo.
Ainda permanece incompreendido e sofre combate o insigne Codificador. Isto, porém, em nada o diminui ou desmerece. Pelo contrário, só o agiganta...
No momento em que variam as técnicas das "Ciências da alma", no estudo da personalidade humana dos problemas que lhe são correlatos, o Espiritismo conforme a Codificação Kardequiana, é a resposta clara e insofismável para as aflições que se abatem sobre o homem, dando cumprimento à promessa de Jesus quanto ao Consolador, de que este, em vindo à Terra não somente Lhe recordaria as lições, como também esclareceria, confortaria e conduziria o ser através dos tempos...

- Vianna de Carvalho -
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 4-6-1977, em Paris, França. Transcrita de Reformador de dezembro de 1977, p. 368-369.)

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